quinta-feira, 30 de novembro de 2006

Papa missionário corre riscos

A visita do Papa à Turquia corre sérios riscos, difíceis de analisar sem paixão e clubismo. Ao analisarmos um caso das relações internacionais e principalmente entre religiões, nada adianta utilizarmos o nosso ponto de vista, convindo vestir o casaco das outras partes e tentar perceber os seus pontos de vista, os interesses em jogo, os complexos existentes e os traumas mal cicatrizados.
Sugere-se a leitura dos textos aqui colocados com os títulos «Relações internacionais entre o amor e o ódio» e «Relações internacionais são interesseiras».Já foram noticiadas as reacções hostis por parte da Al-Qaeda. Há uma lógica perfeita nessa reacção, pelo que não se reveste de imprevisibilidade. Quando o Vaticano planeou esta visita, certamente, não deixou de ponderar as ameaças e as hipóteses mais graves e de tomar medidas para evitar a concretização das piores intenções.
Isto significa que o Papa foi corajoso ao enfrentar os perigos previsíveis. Também os governantes turcos que se encontraram com o Papa, têm consciência dos custos internos e no meio do Islão que essa condescendência representa.Isto não pode ser analisado sem ter presente que a visita se desenrola em ambiente de conflito de civilizações, de religiões e numa área geográfica que é palco de conflitos armados muito violentos.
Do ponto de vista cristão, o Papa está com boas intenções ecuménicas. Mas, do ponto de vista dos islamistas, é lógico que seja considerado inimigo da sua fé.
Oxalá que o regresso ao Vaticano decorra com serenidade e a alegria de um dever cumprido, e que tenha ficado o gosto por uma maior harmonia entre as regiões do Médio Oriente, entre as civilizações que ali se tocam e entre as duas principais religiões, com raízes comuns e um passado de lutas.
É desejável que os Deuses das duas religiões dialoguem e inspirem os seus seguidores.

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quarta-feira, 29 de novembro de 2006

Chefes alertam para perigo das restrições militares

A carta que as chefias militares escreveram
2006/11/29 14:36

Responsáveis querem alertar para os perigos das restrições militares

Tendo em atenção «os poucos trabalhos preparatórios conhecidos e alguns discursos vindos a público», os chefes militares deduzem que «as medidas restritivas recentemente desenhadas para os militares partem do falso pressuposto de os militares se encontrarem em igualdade de condições com os funcionários civis e de as Forças Armadas estarem em idêntico plano funcional ao dos restantes serviços da Administração Pública», lê-se na carta.
Não questionando «a sujeição dos militares ao esforço de contenção exigido a todos os cidadãos pela gravíssima crise que o país atravessa», o CEMGFA adverte que «entre os militares e os funcionários civis não existe identidade alguma», exceptuando o facto de serem todos servidores do mesmo Estado.
«A condição militar», escreve Mendes Cabeçadas, «traduz-se num complexo de deveres e direitos interligados numa simbiose indissociável».
A carta do CEMGFA enumera algumas das especificidades da condição militar que «não têm qualquer correspondência no âmbito da Administração Pública civil»: deveres de isenção política, partidária e sindical; ausência de direito à greve; restrições a direitos de reunião, manifestação, associação, petição colectiva, liberdade de expressão e capacidade eleitoral passiva.
Além destas limitações, refere a carta, a condição militar implica a «permanente disponibilidade para lutar em defesa da Pátria, se necessário com o sacrifício da vida», bem como a «sujeição a um duro regime disciplinar, com penas privativas da liberdade», entre outras.
Os chefes militares, através da carta de Mendes Cabeçadas a Severiano Teixeira, lembram que é a própria lei que estabelece a «consagração de especiais direitos, compensações e regalias, designadamente nos campos da segurança social, assistência, remunerações, cobertura de riscos, carreiras e formação».
Por isso, escreve o Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas, «não se afigura sustentável, com o atractível argumento da igualdade de sacrifícios exigidos a todos os cidadãos, cercear os escassos benefícios concedidos aos militares».
«A apreensão das chefias militares aumenta com a percepção que têm do clima de perturbação que existe no meio militar, começando pelas medidas respeitantes aos descontos dos subsistemas de saúde que, aliás, por razões que se desconhecem, são mais gravosas que as previstas para as forças de segurança», refere a carta.
Mendes Cabeçadas lembra que já em Março alertara o ministro «para o clima de insatisfação e mesmo de frustração que se estava a gerar no meio militar, não se dispensando as chefias militares de esforços para minimizar o impacto negativo desses sentimentos e conter quaisquer medidas contestatárias».

NOTA: Esta carta vem mostrar que se estava dentro da razão quando aqui foram colocados os textos seguintes:
- Em 22 Nov, «Condições dos militares»
- Em 24 Nov, «Militares perderam pontos?»

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Relações internacionais entre Amor e Medo

É frequente ler-se em textos com pretensões éticas que os comportamentos das pessoas são condicionados pela poderosa influência de dois pólos opostos – o Amor e o Medo. Quando preponderante a influência do Amor, há amizade, compreensão, abertura, confiança, generosidade, e as pessoas vivem em harmonia, bom entendimento, diálogo e felicidade. Pelo contrário, se a força dominante vem do lado do medo, tem preponderância a desconfiança, o ódio, a inveja, o desejo de vingança, etc. e, nessas condições, a vida é um martírio permanente, um desassossego e ansiedade que impedem a felicidade.

E, como os Estados são, na sua essência, pessoas, estão forçosamente condicionados por aqueles dois pólos. Quando se destaca o bom entendimento e a confiança, há paz, desenvolvimento com cooperação e ajuda mútua. Pelo contrário, quando impera o medo e a desconfiança, o tom das relações torna-se confuso e ruidoso, sendo a tensão de tal forma alta que pode estalar o conflito aberto a qualquer momento.

Vem isto a propósito de dois títulos convergentes no Diário de Notícias de 28 de Novembro: «O medo recíproco nas relações internacionais» do Professor Adriano Moreira e «Rússia ainda desconfiada» de Patrícia Viegas. O aparecimento destes títulos pode resultar numa chamada de atenção dos estrategas ou pode apenas constituir um augúrio realista da evolução do actual estado do mundo, à beira do abismo.

Oxalá os actores que actualmente se encontram em cena no palco global, compreendam que o bom entendimento é benéfico para toda a população mundial, que bem precisa de ser bem governada em paz e desenvolvimento.

NOTA: Sobre este tema ler o artigo aqui colocado em 11 de Novembro: «Relações internacionais são interesseiras»

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terça-feira, 28 de novembro de 2006

Os polícias querem ter direito a greve

Este título de uma notícia nos jornais de 28 de Novembro surpreendeu-me, não porque tenha algo contra tal desejo dos guardiões da ordem pública a quem o povo muito deve, mas porque, na minha ingenuidade infantil (apesar de cabelos brancos e rugas), estava convicto de que eles já tinham tal direito.

Esse convencimento formou-se quando, há poucos meses, os governantes, ao reduzirem aos policias e familiares os apoios de saúde e outras «regalias» que vinham usufruindo, usavam o argumento de que os funcionários públicos são todos iguais em direitos e a tendência era a de igualar as condições de todos os cidadãos, pelo que os polícias tinham que alinhar com os restantes funcionários.

Embora tivessem surgido vozes a explicar que os polícias não são cidadãos iguais aos outros e que têm restrições de direitos, liberdades e garantias, as quais são compensadas pelas tais «regalias», os governantes, como detentores do poder, não hesitaram em manter a decisão.

Nestas condições, como ainda penso que os governantes são coerentes e actuam com racionalidade, lógica e de forma consequente, fiquei convicto que o polícias e militares, tal como qualquer funcionário público, incluindo os juízes (que até se intitulam órgão de soberania), passaram a ter direito de se manifestarem publicamente e de fazerem greve. Só assim se compreende a igualdade.

Afinal, estava enganado! Mais uma desilusão a convencer-me de que, em questões políticas, a lógica não passa de uma batata.

Sobre este tema, já em Abril p.p. foi publicada nos jornais a seguinte carta

Polícia é Funcionário Público?
(Publicada em 25 de Abril de 2006, p. 17)

Em plenas férias da Páscoa, é oportuno reflectir sobre quem é funcionário público. Há alguns meses, surgiu a ideia socialista e teórica de igualar todos os funcionários públicos, acabar com as regalias dos polícias quanto à passagem à reforma e ao apoio de saúde, reduzir as férias dos tribunais, etc. Teria sido muito eficiente e justo se não houvesse circunstâncias diferentes. Por exemplo, em dias em que as polícias estão em força nas estradas para garantir mais segurança a quem vai e vem de férias e nas cidades para dar segurança às casas pontualmente desabitadas e aos turistas que nos visitam, pergunta-se: quantos juizes estão activos, quantos professores estão no exercício das suas funções didácticas, quantos funcionários das Finanças estão nos seus postos de trabalho, etc. Por outro lado, quantos destes funcionários são abatidos violentamente no exercício das suas funções, durante o ano?

Para enfatizar esta reflexão, não podemos ignorar que mais de metade dos deputados da AR anteciparam a ida para férias na quarta-feira santa a ponto de inviabilizarem a votação prevista de nova legislação, dando um péssimo exemplo ao País. E o que é inconcebivelmente grave é que alguns, antes de se ausentarem, assinaram a folha de presenças.

Sem dúvida que devemos ter mais consideração pelos agentes policiais e bombeiros e recompensar a sua disponibilidade permanente e os riscos a que a sua actividade os obriga, e o que isso representa para os seus familiares. Constitui um erro insensatamente crasso considerá-los em situação semelhante à dos vulgares funcionários públicos.
A. João Soares

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segunda-feira, 27 de novembro de 2006

Dê atenção às razões do coração

Não resisto à tentação de colocar aqui esta história recebida por e-mail e que acho muito interessante.
VOCÊ LEMBRA DAQUELA TOCANTE HISTÓRIA DO LIVRO: O PEQUENO PRÍNCIPE?
® SUSAN ANDREWS
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Bom, existe uma história mais tocante ainda que aconteceu de fato com o criador do Pequeno Príncipe, o escritor francês Antoine de St. Exupéry.

Poucas pessoas sabem que ele lutou na Guerra Civil Espanhola, quando foi capturado pelo inimigo e levado ao cárcere para ser executado no dia seguinte.Nervoso, ele procurou em sua bolsa um cigarro, e achou um, mas suas mãos estavam tremendo tanto que ele não podia nem mesmo levá-lo à boca. Procurou fósforos, mas não tinha, porque os soldados haviam tirado todos os fósforos de sua bolsa. Ele olhou então para o carcereiro e disse: "Por favor, usted tiene fosforo?". O carcereiro olhou para ele e chegou perto para acender seu cigarro. Naquela fracção de segundo, seus olhos se encontraram, e St. Exupéry sorriu.

Depois ele disse que não sabia por que sorriu, mas pode ser que quando se chega perto de outro ser humano seja difícil não sorrir. Naquele instante, uma chama pulou no espaço entre o coração dos dois homens e gerou um sorriso no rosto do carcereiro também. Ele acendeu o cigarro de St. Exupéry e ficou perto, olhando directamente em seus olhos, e continuou sorrindo. St. Exupéry também continuou sorrindo para ele, vendo-o agora como pessoa, e não como carcereiro.
Parece que o carcereiro também começou a olhar St. Exupéry como pessoa, porque lhe perguntou: "Você tem filhos?". "Sim", St. Exupéry respondeu, e tirou da bolsa fotos de seus filhos. O carcereiro mostrou fotos de seus filhos também, e contou todos os seus planos e esperanças para o futuro deles. Os olhos de St. Exupéry se encheram de lágrimas quando disse que não tinha mais planos, porque ele jamais os veria de novo. Os olhos do carcereiro se encheram de lágrimas também. E de repente, sem nenhuma palavra, ele abriu a cela e guiou St. Exupéry para fora do cárcere, através das sinuosas ruas, para fora da cidade, e o libertou.

Sem nenhuma palavra, o carcereiro deu meia-volta e retornou por onde veio. St. Exupéry disse: "Minha vida foi salva por um sorriso do coração". O que foi aquela "chama" que pulou entre o coração desses dois homens? Isso tem sido tema de intensa pesquisa actualmente, na medida em que os cientistas estão se dando conta de que o coração não é meramente uma bomba mecânica, mas um sofisticado sistema para receber e processar informações. De fato, o coração envia mais mensagens ao cérebro que o cérebro envia ao coração! Como disse o filósofo francês Blaise Pascal: "O coração tem razões que a própria razão desconhece". Estados emocionais negativos, como raiva ou frustração, geram ondaselectromagnéticas totalmente caóticas do coração, como se estivéssemos pisando no acelerador e no breque simultaneamente. Esse estado de batimentos desordenados é chamado de "incoerência cardíaca" e está ligado a doença cardíaca, envelhecimento precoce, câncer e morte prematura.

Em estados de amor ou gratidão, nosso batimento cardíaco torna-se "coerente". Isso diminui a secreção dos hormónios do estresse, reduz a depressão, hipertensão e insónia, melhora o sistema imune e aumenta a clareza mental. Essa é uma das razões pelas quais tem sido provado que as emoções positivas estão associadas à boa saúde física e mental - e à longevidade. Essa irradiação coerente do coração - essa "chama" de genuína afeição - pode afectar pessoas a uma distância de até 5 metros! Logo, na próxima vez em que você estiver numa situação difícil, respire profundamente, lembre-se de St. Exupéry e do Pequeno Príncipe e irradie a energia de seu coração. Como o Pequeno Príncipe nos lembrou, "somente com o coração podemos ver com clareza".

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Que rumo para a juventude ?

Os jovens de hoje serão os líderes de amanhã
As opiniões dos idosos em relação aos jovens sempre foram de crítica impiedosa, demonstrando dificuldade em compreender a insatisfação dos futuros adultos e a sua ânsia por fazerem reformas para criarem um mundo mais adequado as seus ideais de felicidade. Hoje, além desse problema de gerações, aprece um bem mais grave que se relaciona com a ausência de ideais em vários níveis etários. Deixou de haver teorizadores da ciência política, da ética profissional, da arte do relacionamento com as outras pessoas no emprego, no prédio, no bairro, nos lugares públicos, etc. O que mais se evidencia é o egoísmo, a ganância, a ostentação do carro, do telemóvel, do calçado e roupas de marca, do local de férias. Para se distinguir nisso, todas as negociatas, corrupção, tráficos, etc. são válidos. Os fins desculpam os meios.

Parece não haver grandes dúvidas de que estamos a atravessar um período crítico e, possivelmente, a entrar numa era de destruição de todos os valores da vida da humanidade. A comunicação social deixou de ser um instrumento de instrução e de apelo aos bons comportamentos, para ir ao encontro dos mais baixos instintos, aliciando para o facilitismo, realçando pessoas menos válidas moralmente, que depois são seguidas como modelos a imitar.No meu post «O Mundo Amanhã» em A VOZ DO POVO em 7 de Outubro alertava para a importância dos blogues no futuro das sociedades, mas é preciso que sejam bem aproveitadas as suas potencialidades. Na troca de e-mails, tenho inserido sempre para um apelo suave, sem forçar, ao que a alma humana tem de melhor, mas infelizmente, pouco eco tenho recebido. Dá a impressão que a quase totalidade das pessoas trocam e-mails apenas para se deleitarem com as imagens e o som dos anexos, não tirando benefício da oportunidade de reflexão sobre a essência da vida em sociedade.

Isto mostra que os jovens estouvados já não são apenas os adolescentes mas muitos adultos, pais desses jovens. Os jovens já não têm na sua proximidade alguém que os esclareça e os ensine a encarar a vida com maturidade. Basta reparar nas notícias das inúmeras famílias que estão falidas devido ao mau uso de cartões de crédito, de compras a prestações, de consumismo exagerado sem controlo. E agora, com a proximidade do Natal, o caos acentua-se para não ficar atrás dos colegas e dos vizinhos, sendo um deitar dinheiro à rua sem qualquer senso.Penso que os utilizadores de blogues e os que trocam e-mails, devem ir destilando umas gotas de bom senso. Talvez algumas sementes caiam em terreno fértil e se propaguem as boas ideias. Temos que alimentar a esperança e irmos exercendo a melhor influência à nossa volta, chamando as pessoas à reflexão realista sobre o mundo de amanhã.

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domingo, 26 de novembro de 2006

Dúvidas e certezas - Divagações

Seria interessante «jogar» em verso com o colega blogger Mário Margaride, sobre este tema por ele abordado ontem em «a Voz do Povo», mas para isso não me ajuda o «engenho e arte» citado pelo épico da viagem de Vasco da Gama. O tema é interessante e assediante para qualquer mortal, mesmo que desprovido de vocação literária e filosófica e amarrado ao pragmatismo das frases no positivismo das realidades palpáveis.

As certezas ou as verdades são ponto de equilíbrio, quase ficção e virtualidade, dependentes de preconceitos, posições ideológicas ou religiosas que, tal como as bicicletas, apenas se aguentam em situações especiais e precárias.

Galileu Galilei (1564-1642) foi condenado à fogueira por defender precocemente uma certeza que contrariava a certeza «politicamente correcta» na época. Os detentores da verdade ou das certezas são defensores acérrimos da situação vigente e opostos a qualquer mudança, alteração ou reforma. São os criadores e protectores do pântano e da putrefacção das águas paradas. Quem diz só ter certezas e não saber o que são dúvidas ou mente ou tem o cérebro árido, conformado, sem inovação, criatividade e arte, isto é, sem vida. Mas tão perigosos como esses são aqueles que acordam pela manhã com a «ideia milagrosa» que «de certeza» vai ser a solução ideal para o problema, não admitindo críticas nem reflexões sobre outras hipóteses de solução, avançando em linha recta para baterem com a cabeça no muro ou despenharem-se no precipício. A convicção de nunca ter dúvidas é tão nefasta como a ilusão de estar na posse total da verdade, da certeza, principalmente quando essa posse é exclusiva deles.

Se a certeza pode ser inibidora da mudança, da acção e da progressão ou pode levar à precipitação imponderada, a dúvida, por outro lado, conduz a movimento reflectido, ponderado, na busca de soluções que a reduzam à expressão mais simples. O cientista, o sábio não sabem o que são certezas. A dúvida é a mola que impulsiona o cientista, o gestor, o governante para a investigação, com vista à persistente aproximação da certeza e da verdade, o que se processa por etapas sucessivas, sem nunca terminar. A permanente angústia da incerteza é produtiva, é o motor que faz avançar na estrada da vida porque há a esperança de, para lá da curva, poder estar a solução que se espera e deseja.

Na preparação da decisão, esta raramente assenta, do ponto de vista filosófico, numa certeza, mas sim na hipótese que, de entre todas as possíveis, apresenta um saldo mais positivo no balanço de vantagens e inconvenientes. Isto significa que a decisão abrange um grau de dúvidas, por vezes elevado, aceitando um risco de erro maior ou menor, pelo que quem não tiver coragem para aceitar o risco, acaba por cair na paralisia da indecisão, acolhendo a «certeza» da situação vigente e recusando a mudança.

Parece, pois, poder concluir-se que entre a certeza e a dúvida, será mais salutar preferir esta, definir os seus contornos e investigar no sentido de lhe reduzir as dimensões, na busca de um caminho que aproxime da certeza, do ideal, do objectivo desejado como alvo da acção.

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sábado, 25 de novembro de 2006

É preciso planear e programar

São vulgares as críticas à crise e, o que é muito grave, as culpas são geralmente atribuídas exclusivamente aos maus governos, sem se cuidar analisar que, de uma forma geral, todos temos uma parcela das culpas do estado em que o País se encontra. Os governantes deviam realmente ser mais eficientes, mas temos de aceitar que são pessoas saídas do seio da sociedade nacional, com as suas virtudes e defeitos. Até podemos dar-lhes o benefício de os considerarmos bem intencionados, pelo menos pela razão de quererem continuar a merecer os votos dos eleitores em eleições futuras. Quando, orientados por amor pátrio, analisamos a sua actuação a nossa referência é sempre o ideal, a perfeição absoluta do que resulta a abundância de críticas negativas, muitas vezes injustas. É certo que é necessário e conveniente não perder de vista o ideal, a excelência e os melhores valores, mas não devemos dramatizar.

Não estou a lamber as botas aos políticos, mas quero apontar um caso concreto em que sai bastante enfatizada a falta de jeito dos portugueses, em geral, para o planeamento e a programação de actividades simples ou complexas, sendo preferidas as decisões de momento, talvez por capricho momentâneo. Em Cascais, na Avenida da República, junto à rotunda, no cruzamento com a Av. 25 de Abril, está em fase avançada a construção de um grande empreendimento habitacional. No início do Verão foi ajardinada uma área junto à avenida, com quase um hectare, com várias centenas de árvores e arbustos de espécies variadas, e uma complexa quadrícula de tubos para rega gota-a-gota automática. Apesar do Verão, o resultado estava a ser muito prometedor. Mas, há dias, inesperadamente, constatou-se que arrancaram toda a vegetação que estava pujante e retiraram as centenas de metros de tubos, porque naquele espaço começaram a ser depositadas grandes quantidades de terra proveniente das escavações para a piscina e de deslocação de outros desaterros. Como foi possível terem feito tanta despesa com a construção do jardim e a sua cuidada manutenção, para tão curto espaço de tempo? Se tivesse havido um planeamento (previsâo) e esmerada programação, não se caía em tal desperdício, pois não era difícil prever a quantidade de terra, com respectivo «coeficiente de empolamento» e o local que ela iria ocupar, nas várias fases da obra. Quem paga vão ser os compradores das fracções, cujos preços vão reflectir os custos evitáveis provenientes de erros, incompetências, desleixos ou faltas de previsão.

O caso, infelizmente, não é único. Observadores atentos encontram, a cada passo na ruas das cidades, casos de decisões ocasionais desinseridas de um plano, originando hesitações e recuos, como por exemplo as valas que são abertas pouco tempo depois de terem sido fechadas, devido a erros e esquecimentos e principalmente a falta de coordenação entre os vários utilizadores dos espaços públicos (água, esgotos, electricidade, telefone, gás, etc).

Há mais de um ano, ao construírem a rotunda na Avenida Nossa Senhora do Rosário junto à Praça de Touros, em Cascais, parecia que estavam a criar uma miniatura do redondel no meio da rua, tal era a altura do muro circular. Depois de este estar rebocado e pintado, destruíram-no por forma a reconstruírem-no com apenas 40 centímetros de altura. Quem foi responsabilizado pelo erro? Quem pagou os custos inerentes? Certamente, foram os dinheiros provenientes dos munícipes, pagos em contribuições, licenças, coimas, etc. e que deviam ser destinados ao benefício colectivo.

Assim, com pessoas que não planeiam nem programam, nem orçamentam com realismo, nem organizam racionalmente, nem exigem responsabilidades, não há políticos que consigam fazer o milagre de desenvolver este nosso País. Temos de ser todos e cada um de nós a puxar o carro para o mesmo lado, a começar, pela educação infantil em casa e pelo ensino nas escolas, para que toda a gente aprenda a gerir a sua vida e as suas actividades profissionais.

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sexta-feira, 24 de novembro de 2006

Militares perderam pontos ?


O ministro da Defesa, ao dizer que o universo militar conta com cerca de 40 000 efectivos e não são iniciativas como a do Rossio que levarão o Governo a desviar-se "do seu rumo" deu força as «poucos» militares que ontem se passearam. A percentagem de participantes no chamado passeio do descontentamento, pode ser considerada diminuta e não significativa para o Sr ministro, mas representa um estado de espírito que não pode ser negligenciado, numa profissão em que, anacronicamente nesta democracia não é permitida a greve nem a manifestação e que este simples passeio foi precedido de proibições e palavras ameaçadoras de todos os níveis do Governo. Com este passeio, os militares ganharam pontos, nomeadamente pela presença de uma dezena de oficiais generais na reserva e reforma, entidades que, por tradição, se mantinham obedientes, coniventes e cúmplices com o Poder.

O ministro, com as suas palavras, veio confirmar que os governantes não reagem pela razão, pelo bom senso e pelo patriotismo, mas só quando pressionados por pressão significativa, representativa.
Convém que os militares raciocinem bem nesta ideia. Têm sido bastante prejudicados em relação a professores e a juizes, por não lhes serem permitidos os direitos constitucionais gerais. Até os juizes que se consideram um órgão de soberania podem fazer greve e, por isso, têm sido beneficiados. Pelo contrário, os militares continuam a ser obrigados a cumprir a sua parte da «condição militar» mas vêm-se privados fraudulentamente das compensações a ela relativas. Dizia um responsável pelo passeio que há 41 diplomas legais desprezados pelo Governo. Quem é que não cumpre a lei? O Governo ou os que passearam no Rossio? A lei é ou não para ser cumprida por todos? Os militares precisam de se manifestar em força para convencerem da sua razão o Sr Ministro.

Já se fala em processos disciplinares aos militares que passaram pelo Rossio fardados. Não é desonra serem punidos por este «crime», antes pelo contrário. O ministro instiga a uma pressão dos militares mais significativa e representativa para corrigir «o seu rumo» errado. Colaborem com ele, aceitando o desafio.

Um cenário possível pode passar pela punição dos participantes no passeio e pelos que, sem estarem presentes, os apoiaram moralmente. Até poderão ser demitidos! Isso enquadra-se na lógica do governo de impor unilateralmente uma obsoleta condição militar sem as compensações até agora existentes. É uma lógica consequente da vontade de eliminar completamente as Foras Armadas. Agora demite estes, no próximo passeio demite outros até que chegará ao último. Perguntar-se-á quem irá ser mandado para as missões de «ostentação de poder» na Bósnia, no Kosovo, no Afeganistão, no Líbano, no Iraque, no Congo, nos PALOPs, etc. Mas isso, para o Governo não é problema insolúvel. Serão escolhidos de entre os ‘jotas’ dos Partidos, mais habilidosos e com perspectivas de carreira política, indo ser bem remunerados, com as máximas compensações pelo seu sacrifício e com a promessa de depois serem assessores, deputados, secretários de Estado, etc. Esta solução terá a vantagem de virmos a ter políticos de carreira conhecedores das realidades da vida. Portanto, não há situação dramática, existindo sempre soluções possíveis num rumo politicamente lógico e coerente!

Só que é pena que toda esta embrulhada assente em contradições de governantes, exigindo que os militares sejam escravos disciplinados, obedientes, coniventes, cúmplices do poder e abúlicos, tratados como a escória dos funcionários públicos, com incomparavelmente mais deveres e obrigações, e pela sua parte, o Governo recuse cumprir as suas obrigações legais no tocante às compensações referentes à condição militar. Esta só pode ser actuante se ambas as partes tiverem comportamento legal. Como dizia o primeiro-ministro a liberdade está na lei, que é igual para todos, mas não devia esquecer-se que esse todos inclui os políticos que nos governam. Os portugueses estão interessados em que o Estado seja «pessoa de bem».

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quinta-feira, 23 de novembro de 2006

Indecisão e irreflexão, extremos a evitar


A vida das pessoas, das empresas e das instituições públicas é feita de decisões consecutivas. Desde o momento de sair da cama até ao momento de deitar estamos em cada momento a tomar decisões, nem que seja decidir seguir a rotina habitual e pôr de lado alterações.

Quanto mais importantes forem as consequências de uma decisão mais cuidadosa deve ser a sua preparação, desde uma simples reflexão até a estudos com investigação de dados sobre o problema, mais ou menos demorada. O adiamento de uma decisão com o pretexto de analisar todos os dados e de ponderar todas as pistas e alternativas pode resultar em indecisão com prejuízos de oportunidade e de ausência dos benefícios da adopção da solução considerada melhor. Tudo na vida tem vantagens e inconvenientes e há sempre quem, por razões nem sempre confessadas, defenda uma solução que no seu todo não é a melhor. Por isso, o responsável pela decisão a tomar deve, após a análise ser considerada concludente, proceder à escolha da solução a adoptar sem se prender com mais oposições.

É esse ponto de vista que defende Jorge Sampaio em relação à urgência da adaptação da UE ao «processo de mudanças que o mundo vive», sem o que se agrava a «crise de resultados e de confiança». Segundo ele, é preciso ultrapassar "o impasse constitucional", "é urgente pôr termo ao período de reflexão", que, "de resto, até agora nem sequer deu grandes frutos ou mesmo pistas".
Este dedo apontado aos inconvenientes da indecisão aparece no artigo do DN de hoje com o título «Sampaio diz que basta de reflexão na EU»

Mas, o outro extremo a evitar é a irreflexão. É imperioso que se encontre o ponto de equilíbrio entre estes dois extremos, a fim de não se desperdiçar tempo e recursos em paragens, recuos e zigue-zagues nas actividades. Um exemplo de aparente irreflexão ressalta do caso da tão falada TLEBS, que tanta polémica tem levantado mesmo nos círculos mais evoluídos da intelectualidade nacional e a que os diários de hoje dedicam alguns títulos de que cito:

-TLEBS, por João Morgado Fernandes, DN, 061123, onde se lê que «a coisa é tão monstruosa quanto parece». E que «outro monstro que é a burocracia central do Estado, coadjuvado por outra praga da nossa administração que é a irresponsabilidade generalizada». «A tal da TLEBS vem, de resto, a contracorrente da tendência para uma certa estabilização no ensino».
- O Monstro está entre nós, JN, 061123, Última página.
- Governo admite recuar nos novos termos gramaticais, Pedro Sousa Tavares, DN 061123.

São referidos interesses das editoras dos manuais escolares e de elementos ligados aos «estudos» que geraram este monstro de sete crânios ocos. Parece, segundo os comentadores, que não é fácil atribuir responsabilidades por esta aventura «abstrusa», mas da qual não pode ser ilibado o respectivo ministério, o qual, sucumbiu às pressões daqueles interesses, mas já está aberto a voltar a trás. Este recuo não é novo; a irreflexão já é nossa visitante habitual: SCUDs, aumento da electricidade, «decisões» na saúde, etc.

Por achar curioso, transcrevo um e-mail que recebi de um professor que leva a TLEBS muito a sério:


O Sr. João Soares é ignorante deste assunto! Lamento! O Graça Moura escreve pouco mais do que parvoíces. Lamento ter de dizer isto assim. Já estou a ensinar a TLEBS aos meus alunos, sem maior dificuldade do que antes.

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quarta-feira, 22 de novembro de 2006

Condições dos militares !

Os políticos parecem preocupados com a possível manifestação dos militares na rua, no que estão apoiados por generais que, normalmente, ou não se pronunciam ou se comportam como porta-vozes do poder. Hoje, para serem generais é indispensável a aprovação e confirmação do Governo, o que exige deles uma atitude adequada quer antes da promoção, para a obter, quer depois como acto de gratidão. Escrevo isto recordando a atitude do Almirante CEMGFA quando de umas manifestações num ano recente, veio à TV papaguear as palavras ouvidas pouco antes ao ministro Luís Amado, sem ter uma palavra de compreensão e conforto para os militares que era suposto representar e defender. Ficou bem claro que lhe era mais conveniente representar e defender o ministro. Um dos argumentos utilizados na altura para condenar a manifestação era o de que os militares estavam sujeitos à «condição militar».

Esta condição, por um lado, impõe restrições aos direitos, liberdades e garantias que tornam os militares cidadãos de segunda, com muitas limitações e muitos deveres entre os quais o de disponibilidade permanente, que criam dificuldades aos próprios e aos seus familiares. Por outro lado, ao longo do tempo, os governos de um País que se preza de ter abolido a escravatura, há muitos anos, decidiram compensar os servidores da Pátria nas Forças Armadas por forma a que os sacrifícios a que por aquela condição estão sujeitos pudessem ser suportados sem demasiado desconforto. Estas compensações têm sido retiradas com a alegação de que são privilégios e regalias diferentes dos funcionários públicos, como se qualquer funcionário esteja sujeito a algo parecido com a referida condição militar.

Segundo esta, os militares não podem ter sindicato, atendendo que os seus chefes os defendem melhor do que qualquer sindicato!, o que ficou atrás referido como irreal, virtual, falso. Por isso, a lógica conduz a que a condição militar seja considerada inexistente, visto que a parte compensatória foi unilateralmente eliminada, e que os militares possam manifestar-se, exigir o pagamento de horas extraordinárias, seguro de vida, negociação das condições de risco de cada missão, etc. Claro que um exército, à imagem da função pública não pode ser eficiente. Mas, então, recriem-se as condições para que o seja e deixem de se verificar as actuais tristes condições dos militares.

P.S.: Transcreve-se uma carta envida aos jornais sobre este tema

Militares ou escravos?
(Publicada no Diário de Notícias 15 de Agosto de 2005)

Nos jornais de hoje (11 de Agosto) vem em destaque que «Governo retira regalias a militares». Parece que os militares usufruíam de regalias não justificadas à semelhança dos políticos. Pretende-se colocá-los em condições semelhantes à função pública. Mas tal semelhança seria falsa, pois os militares não são funcionários públicos vulgares, tendo um estatuto de disponibilidade permanente, para qualquer missão quanto a risco ou a local geográfico. Por exemplo, em 10 de Agosto de 1959, mais de duzentos militares foram mobilizados para em 12 (dois dias depois) embarcarem para a Guiné, onde estiveram mais de dois anos, correndo riscos diversos, longe das famílias, sem direito a qualquer tipo de licença. Um deles deixou a mulher grávida e só veio a conhecer a filha, quase com dois anos, no momento do desembarque.

Serviço de escala de 24 horas seguido da formatura para a instrução do dia seguinte; instrução nocturna; exercícios de fogos reais e outras situações de risco; marcha para outra unidade ou centro de instrução sem aviso prévio, etc; restrições aos direitos de cidadania. Tudo isto era, de certo modo, compensado pelas agora denominadas «regalias».

É previsível que agora, com uma geração de militares mais esclarecida e aberta ao ambiente circundante, não queiram ser tidos como escravos gratuitos e, por isso, não assinem qualquer contrato sem primeiro verem a sua adequação à legislação da função pública, pedindo parecer aos respectivos sindicatos, e sem analisarem as compensações concretas e claramente definidas dos esforços que não se integrem na função pública geral. Depois de entrarem em funções, terem como referência mais a legislação da função pública do que a militar e recusarem prolongamentos do horário, serviço extraordinário, missões de risco, mudanças de local de trabalho, sem previamente negociarem as adequadas compensações. Se o Governo quer considerá-los semelhantes aos funcionários públicos, não deve exigir-lhes riscos que estes não correm: serviço na carreira de tiro, exercícios de fogos reais, actividade física com perigo de acidente, trabalho nocturno, etc. Para cada serviço deste género deve haver uma compensação adequada. Por outro lado, há que reivindicar «regalias» semelhantes às dos juizes, professores, incluindo direito à greve, e, porque não, semelhantes às dos deputados, gestores e directores de institutos e empresas públicos.

Os militares responderão a estas palavras, dizendo que, dessa forma, as unidades ficarão inoperacionais e os comandantes não poderão cumprir a missão que receberam. Sem dúvida. Devem, por isso, evitar chegar a essa situação, esclarecendo, desde já, os políticos de que os militares não podem ser reduzidos a funcionários públicos e não podem ser considerados escravos gratuitos. A disponibilidade permanente para qualquer missão em defesa dos altos ideais patrióticos tem forçosamente de ser compensada. Não se querem «regalias»; quer-se a justa compreensão do seu sacrifício e condições compensatórias dignificantes.
A. João Soares

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terça-feira, 21 de novembro de 2006

TLEBS. intelectuais discordam

Logo que os jornais começaram a enfatizar a TLEBS (Terminologia Linguistica para os Ensinos Básico e Secundário), tive a percepção de mais uma calinada de alto quilate e escrevi aos jornais uma carta em 4 de Outubro, de tom bastante irónico (a ironia é a melhor arma para situações graves), que foi publicada no Público em 23 e depois inserida no Blogue A Voz do Povo. Pessoas de indiscutível valor intelectual e cultural e com conhecimento do ensino da língua portuguesa têm vindo a dar a cara contra mais este «pontapé na gramática». Ontem, foi entregue à Ministra da Educação Maria de Lurdes Rodrigues um abaixo-assinado em cuja lista de assinaturas constam nomes como José Saramago, escritor, Maria Alzira Seixo e Manuel Gusmão, professores catedráticos de Literatura e Teoria da Literatura e Eduardo Prado Coelho, professor associado de Literatura.

Entretanto alguns professores, conscientes da importância da disciplina-conivência-cumplicidade, para a sua avaliação e repercussão na carreira, insurgem-se contra os críticos e opositores à TLEBS, por vezes de forma arrogante, insólita desrespeitosa dos outros, considerando-se os únicos detentores da sensatez e da verdade, mas sem demonstrarem qualquer laivo da necessidade, utilidade ou vantagem de tal inovação inqualificável que cai como um remendo gritante num tecido que dele não carece.

A ministra e os seus assessores aceitaram uma proposta, que ficou e vai ficar muito cara ao Estado, que é «incorrecta, abstrusa e inadaptável a certos níveis etários», como diz o abaixo assinado, confirmando mais uma vez que os políticos nacionais sofrem de uma doença grave, traduzida em complexos, preconceitos e insegurança, com receio de serem considerados incultos e ignorantes, o que os leva a não recusar qualquer imposição insólita e esquisita desde que tenha algum cariz intelectual. Há vários casos desse sentimento de insegurança e inferioridade:

O túnel d Belas, na CREL (cintura rodoviária exterior de Lisboa), aumentou o custo da construção daquela via em cerca de três milhões de contos (moeda da época), para preservar umas pegadas de dinossáurio que não são visitáveis, de que ninguém fala e que possivelmente serão erodidas pelo tempo sem delas ser retirado qualquer benefício cultural.

A pedreira do Galinha, na Serra de Aire, foi comprada pelo Estado por cerca de 500 mil contos para evitar o seu desaparecimento, mas, como não têm recebido cuidados de conservação, é duvidoso que possam vir a ser visitadas, e entretanto as condições atmosféricas encarregam-se da sua erosão.

A barragem de Foz Coa, após 20 milhões de contos de despesa, foi interrompida a fim de serem preservadas gravuras paleolíticas que, segundo técnicos, podiam ter sido conservadas sem prejuízo da barragem, numa altura em que já havia consciência da importância da água e da energia hídrica (não poluente e barata). O benefício da decisão foi nulo.

A barragem de Alqueva podia ter sido construída algumas décadas mais cedo se os governos não se tivessem submetido às pressões de «intelectuais bem informados e intencionados».

A barragem do Baixo Sabor continua nas gavetas devido a esta doença dos políticos.
A energia eólica podia há muito estar a cobrir grande parte dos gastos de energia do País, poupando petróleo e aliviando a balança comercial e a poluição, se não tivesse havido cedências aos «defensores dos passarinhos» que corriam o risco de colisão com as pás das hélices dos geradores.

A estrada para o Algarve também podia ter entrado e funcionamento décadas mais cedo. Etc. etc. etc.

E a energia nuclear, há-de vir a ser a solução para o abastecimento de electricidade do País, mas muitas décadas depois da data lógica e racional.

Agora, na sequência destes exemplos, o complexo de incultura e ignorância surge no ministério da Educação, com a TLEBS, merecendo a contestação de pessoas notáveis pelo seu nível cultural e intelectual, de indiscutível valor. E contra eles levantam-se vozes que nada explicam sobre a necessidade, utilidade e vantagem da inovação, denunciando apenas o seu interesse pessoal, por o trabalho ser bem pago, e por professores que consideram perigoso para a sua avaliação discordar de S. Exa a Ministra.

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Medicina preventiva ou certidão de óbito

Do Mirante oferece aos seus amigos esta carta que foca um tema de actualidade que merece a maior atenção.

Medicina preventiva ou certidão de óbito?
(Publicada no jornal Expresso como «carta da semana» em 18 de Novembro de 2006, pág. 42)

Segundo notícias dos diários, as consultas passam a ser marcadas segundo a sua urgência. «O novo sistema obrigará os hospitais a terem um médico responsável pela triagem dos casos que chegam dos centros de saúde, dando prioridade aos mais urgentes... No novo modelo, os atendimentos serão feitos de acordo com a urgência do tratamento. Os médicos do centro de saúde definem a prioridade e transmitem-na ao hospital». À primeira vista, é uma medida lógica, pois entre um doente grave e um ligeiro, aquele deverá ser atendido em primeiro lugar.

Mas, com este critério, o menos grave terá de esperar que o seu caso se agrave, talvez até se tornar irremediável e mesmo venha a ser chamado depois de ter falecido. Para onde vai a medicina preventiva e as campanhas de sensibilização? Tenho ouvido dos médicos que vale mais prevenir do que remediar, que uma doença detectada no início é facilmente curável, mas se só for tratada em estado adiantado, pode ser fatal. Enfim, conceitos que temos de esquecer, no Serviço Nacional de Saúde. Mais uma contradição do sistema que nos rege!

Com este critério, apenas os ricos podem recorrer a médicos e clínicas privadas para a medicina preventiva, para fazerem exames de despiste de cancros e outras doenças que devem ser tratadas quando recentes, evitando que se tornem graves e incuráveis. Os pobres, que têm como único recurso o Serviço Nacional, não podem ser tratados enquanto não estiverem em estado grave e sujeitam-se a que as famílias sejam avisadas da ida à consulta ou à cirurgia, uns meses ou anos depois do óbito.

Parece incrível, mas isto vem confirmar que há uma estratégia oculta para combater o envelhecimento da população que, como alguém dizia, poderá passar pela eutanásia e chegar ao genocídio dos reformados doentes para chegar ao holocausto de todos os reformados. Isso, realmente constituiria um alívio para as finanças do Estado que parece ser a maior preocupação da acção governativa.
A. João Soares

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Generosidade dos bem sucedidos para a justiça social

Cavaco Silva apela à generosidade dos bem sucedidos em benefício dos mais carecidos, o que embora nada traga de novo às doutrinas sociais, é bom que seja dito com frequência a fim de acordar as consciências adormecidas. Tenho referido com certa insistência que os bem sucedidos que viram o seu esforço, dedicação a um objectivo positivo e perseverança no bom caminho, devem ser apontados como um exemplo a seguir e serem objecto de notoriedade. Os outros são quase sempre arrastados pelos vícios da inveja e da calúnia, procurando diminuir o mérito dos melhores em vez de procurarem aproveitar os métodos mais validos para ultrapassar dificuldades e avançar para o sucesso. A inveja é um dos piores defeitos da nossa sociedade, que origina a procura da igualdade rasando por baixo, em vez de estimular a subida meritória dos mais fracos.

Mas, os que tiveram êxito, servindo-se bem das oportunidades que a sociedade lhes facilitou, têm um dever moral de devolver a essa sociedade um pouco dos frutos do seu êxito. Acabam por beneficiar dos benefícios que distribuírem pelos sus trabalhadores, clientes e população circundante. Há casos muito positivos a merecerem destaque como, por exemplo, a Delta em Campo Maior, onde existe um espírito generalizado de família. A melhoria que as empresas difundiram na população acaba por beneficiar as empresas, incluindo o volume da facturação.

No entanto, infelizmente, é mais frequente o comportamento oposto, com uma louca busca insaciável do lucro por qualquer meio, o que acaba por ser uma patologia que não torna ninguém feliz. Tem sido muito falado o caso da EDP, que se gabou de ter avultados lucros no exercício do último ano, distribuindo chorudos dividendos aos accionistas e que, espantosamente, vem alegar ter suportado grandes prejuízos e, para os cobrir, ter de fazer aumentos brutais no preço da electricidade! Outro caso vem da banca que tem aumentado os custos da sua actividade, para aumentar de forma impensável os seus lucros, de que se gaba despudoradamente. Assim, abusando da sua posição de poder próximo do monopólio ou da concertação com a concorrência, qualquer grande empresa pode obter lucros fabulosos.

Ainda bem que o Presidente Cavaco difunde os bons princípios do capitalismo de inclusão e aponte as vantagens da filantropia que pode trazer vantagens competitivas, além de melhorar a equidade social.

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segunda-feira, 20 de novembro de 2006

Harmonia entre homens e mulheres

Exponho aqui as linhas de um comentário a um post sobre Guerra de sexos.

Tentando raciocinar sobre este tema, verifico que não há verdadeiramente guerra de sexos. Ou, se há, ela situa-se na intimidade dos lares, de alguns lares. Há poucas décadas floresceu o feminismo, com aspectos muito folclóricos de queima de soutiens na rua e outros gestos simbolizando libertação. Mas, nos dias de hoje, a mulher ocupa lugares indiscriminados ao lado do homem, havendo, inclusivamente mais estudantes universitárias do que rapazes seus colegas. Até profissões tradicionalmente reservadas exclusivamente a homens estão a ser invadidas por mulheres, como as Forças Armadas a polícia e a GNR.

Há diferenças entre as pessoas conforme o sexo, por exemplo, na Fórmula 1 não há mulheres, mas há que aceitar as diferenças físicas e fisiológicas. E também há que ponderar os inconvenientes que o trabalho das mulheres acarreta para a educação dos filhos. A crise de valores que a sociedade está a atravessar é em parte atribuível à ausência da mulher no acompanhamento das crianças nos primeiros tempos de vida. Mas já está a tornar-se curial alguns homens fazerem de ama seca.

De uma forma geral, na maioria dos casos, os homens e as mulheres aceitam-se como iguais e uns e outros acatam a chefia do sexo oposto. Há características diferentes que devem ser aproveitadas para a felicidade e alegria no trabalho de todos e para a eficiência da execução das respectivas tarefas. Há tarefas mais ajustadas a um e tarefas mais adequadas a outro, e isso deve ser tido em conta nas organizações que se pretendem modernas e eficazes.

Fui treinado para planear e organizar estruturas encarregadas de acções muito complexas em que colaboram sectores complementares e convergentes de características diferenciadas. E posso concluir que nada é complicado se atendermos às especificações próprias e se forem atribuídas a cada um as tarefas que lhe forem mais adequadas. Não vá o sapateiro além da chinela! Também nas actividades económicas de qualquer sector pode haver participação de homens e mulheres em actividades convergentes sem, por questões de género, haver atritos especiais. O que interessa mais numa estrutura económica é a preparação técnica de cada um, tendo por base a educação e o respeito por valores éticos essenciais e o espírito de colaboração para um objectivo comum, aceitando as diferenças, sem atender a sexos.

Vivamos em harmonia com respeito pelos outros, e tudo correrá bem. A felicidade não será ensombrada quando há boa vontade e convergência de esforços.

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Procura da felicidade - cortar com a rotina

Insiro aqui aquilo que escrevi como comentário a um post num blogue que continha umas reflexões que são estímulos para a procura da Felicidade.

É indispensável parar qualquer actividade, ou criar um intervalo suficiente para fugir à rotina, pensar na racionalidade daquilo que estamos a fazer, perguntar o quê? para quê? Porquê? Como? Onde? Como?

A rotina enfraquece a actividade cerebral, afasta o espírito do controlo do corpo, das mãos e dos pés, etc. É preciso analisar o passado com os seus sucessos e fracassos, a fim de retirar lições para uma melhor gestão do presente e abrir pistas para o futuro, mas não devemos ficar agarrados a ele, nem para continuar a festejar os êxitos nem para prolongar o sofrimento dos erros. O passado passou e já não merece muita atenção.

Temos que ser felizes e acertar hoje, agora. Não somos felizes com aquilo que sonhámos mas não alcançámos, não somos felizes com aquilo que não temos. A felicidade depende apenas daquilo de que agora dispomos, mesmo que seja pouco, mesmo que seja apenas o sol, a paisagem, as flores... Se não formos capazes de sentir prazer com aquilo que temos à nossa volta, à nossa vista, ao nosso alcance, à nossa disposição, então não somos felizes.
A felicidade não depende do exterior mas da nossa forma de ver e sentir, de nós próprios. Há pobres que vivem alegres e satisfeitos com o pouco que têm, mas há ricos a quem nada falta mas que nunca se sentem felizes, porque lá por dentro não estão satisfeitos com a vida, querendo aquilo que não têm e por que anseiam. Não quer isto dizer que devamos cristalizar naquilo que somos e temos, pois um pouco de ambição ajuda a melhorar a vida, a ambição de ser melhor, mais generoso, mais humano, mais perfeito, mais comunicativo, mais colaborante, mais produtivo, etc.

Recordemos a história do sultão, doente sem ninguém atinar com a cura do seu mal. Um curandeiro de fama internacional aconselhou-o a vestir a camisa ainda quente de homem que seja feliz. Os servidores foram à procura de um tal homem. Depois de muitos dias de caminhadas, em vão, por montes e vales, ouviram um camponês longe cantar que era feliz. Pensaram ter encontrado o remédio que procuravam, dirigiram-se para o local de onde vinha o canto e acabaram por encontrar um cavador sem camisa. Não havia solução. A felicidade não precisa de camisa, nem de riqueza nem de valores materiais.

Sem nunca nos considerarmos vencidos pelas fracassos, temos de continuar a luta pelo êxito, realçando a importância dos valores, de um sistema de verdadeiros Valores.

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País rico ou País em crise ?

Estamos num País de fantasia, de ficção, de «faz de conta».
Se olharmos para uns aspectos vemos que estamos numa crise profunda sem motivos para esperança ou optimismo. Mas se olharmos para outras faces do poliedro, ficamos orgulhosos do País rico e cheio de potencialidades em que temos a bênção de viver. Repare-se que temos a árvore de Natal mais alta da Europa, temos as ruas muito iluminadas durante mais de um mês, temos a ponte mais comprida da Europa, Temos mais estádios de futebol do que clubes de categoria internacional. Vamos ter um novo aeroporto a quase dez léguas da capital e que fica sem capacidade para se desenvolver no futuro. Vamos ter o TGV, para não ficarmos atrás de países como a Alemanha, a França e a Espanha (três grandes do continente Europeu), Temos mais telemóveis per capita do que outro país da Europa, temos um invejável índice de quantidade de carros de luxo (gama alta e topo de gama).

Afinal o que se passa connosco???

Estaremos em crise moral e de senso? Estaremos a raciocinar certo sobre as nossas vidas? Está a ser feito algo para distribuir mais justamente a riqueza nacional?
Estará o ensino a preparar as crianças para serem adultos esclarecidos e responsáveis?Ao olhar para as realidades que chegam ao nosso conhecimento pelos mais diversos meios ficamos com tantas dúvidas sobre o nosso País que começamos a compreender a inclinação para o suicídio, cujos indícios foram pormenorizadamente arrolados num post de Alexandra Caracol, no seu interessante blogue, em 1 de Novembro.

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Diplomacia emperrada

Num texto no Blogue A Voz do Povo, Víctor Simões alerta para o pouco cuidado que as embaixadas e seus serviços dedicam à protecção da defesa dos nossos emigrantes, aqueles cujas remessas representavam, há poucos anos, uma grande fatia do nosso PIB e um factor muito considerável do equilíbrio da nossa balança de pagamentos. Cita concretamente o caso de António Marques, ex-trabalhador temporário na Suíça, que foi vítima de negligência médica que o incapacitou definitivamente para o trabalho, foi reformado por esse motivo e também forçado a sair da Suíça por ser trabalhador sazonal, como o próprio conta no JN de 19-11-2006 na pág. 5, e refere também o caso dos trabalhadores na Holanda que apresentou uma sombra negra no bom nome de Portugal e da sua diplomacia.

Os nossos emigrantes merecem e precisam ser apoiados. É necessário que os serviços do Estado melhorem a sua eficiência e, para isso, é indispensável chamar a atenção para o que está mal. Já é tempo de acabar com a diplomacia do copo e do croquete. As actividades dos diplomatas que lhes ocupam mais tempo são as festarolas, aqui e ali, de copo numa mão e o croquete na outra. Recorde-se, por exemplo, a tardia e pouco eficiente acção da nossa embaixada no SE asiático por altura do tsunami.

Mas, quando os casos são cobertos pela comunicação social, tudo muda de figura. Os actores gostam de ser aplaudidos e das luzes da ribalta. Uma jornalista foi evacuada do Iraque, no início da guerra, em avião especial, uma jornalista que foi apanhado com droga num País do Golfo Pérsico, originou movimentações singulares por parte do ministro dos Negócios estrangeiros, com nítida ingerência no funcionamento da Justiça daquele Estado. É útil ao País, é um serviço público denunciar aquilo que está mal, na esperança de que a diplomacia se lubrifique e deixe de estar emperrada.

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domingo, 19 de novembro de 2006

O poder da construção civil

O poder dos construtores civis

Apesar de o país se encontrar em crise económica e financeira e apesar de haver muita casa desabitada, continuam as construções de edifícios de apartamentos, em demonstração da capacidade financeira por parte dos construtores civis. As obras públicas podem ter desacelerado, mas não faltam actividades dependentes quer do Governo quer das autarquias, que vão muito além das decorativas rotundas.

Hoje, ninguém duvida do imenso poder detido pelas empresas de construção, nomeadamente o poder de influência sobre autarcas e governantes. E a experiência diz que quem tem poder costuma abusar dele, principalmente quando ele é utilizado sem condicionamentos responsabilizantes por parte de qualquer autoridade institucional. Há muitas obras, aparentemente sumptuárias e inúteis que parece terem sido decididas por pressão de construtores e investidores do ramo. A Expo 98, o Euro 2004 com todos os seus estádios, alguns encontrando-se às moscas e em progressiva degradação, o Porto Capital da Cultura com a Casa da Música acabada muito tempo depois e, agora, será Guimarães a próxima Capital da Cultura.

Mas esse discutível destino do nosso dinheiro não é o maior mal. Pior é a irresponsabilidade e impunidade com que deixam de ser cumpridos prazos e com que se entrega uma obra com deficiências graves. Quanto a atrasos impunes, são bem conhecidos os casos do Metro do Terreiro do Paço, da Casa da Música, do Túnel do Rossio. E, paralelamente ao desrespeito dos prazos de construção, há o desprezo pelo orçamento contratado, chegando os custos finais a valores múltiplos daquele.
Quanto à falta de qualidade das construções há muitos exemplos de deficiências em estradas e auto-estradas novas, infiltrações no metropolitano, fissuras em pontes, etc. A deficiência mais recente foi sentida no Porto com «chuva» dentro da estação do Metro da Trindade.

Existe uma promiscuidade suspeita e inconveniente entre as empresas de construção e os políticos (governantes e autarcas) o que, dada a impunidade e irresponsabilidade das irregularidades publicamente conhecidas, acaba por levantar dúvidas sobre a eficiência do funcionamento da Justiça. Convém perder o hábito de pensar que o povo não vê e não avalia, pois ele cada vez vê melhor e só não se manifesta devido a uma contenção tradicional em vias de desvanecimento.

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Religião (in)felicidade

Como tem sido aqui dada oportunidade de podermos aumentar a nossa capacidade de reflexão acerca de assuntos religiosos, julgo interessante trazer o artigo do padre Anselmo Borges que foca «o perigo patológico das religiões». É um tema já por mim abordado em tópicos e em troca de e-mails. Vale a pena meditar sobre as razões da «invenção» do Inferno com as suas chamas e horrores, bem como do «Apocalipse»; e sobre as alegrias sádicas dos «bons» ao imaginarem o sofrimento dos «maus» a cumprir as penas do Inferno. Em vez do livre-arbítrio e da liberdade responsável, na procura de felicidade total, muitas pessoas têm na religião algemas, restrições e temores de castigo eterno que tornam a sua vida numa angústia permanente. Sendo Deus Amor e generosidade paternal, podem ser considerados blasfemos aqueles que defendem a condenação e a exclusão dos «ímpios».

Sugiro a leitura dos livros sob o título «CONVERSAS COM DEUS» (3 volumes), de NealeDonald Walsch, editora Sinais de Fogo.


Religião e (in)felicidade

Anselmo Borges, Padre e professor de Filosofia, DN 061112

Sobre o inferno escreveu Tomás de Aquino: "Aos bem-aventurados não se deve tirar nada que pertença à perfeição da sua bem-aventurança. Ora, cada coisa conhece-se melhor pela comparação com o seu contrário. E, por isso, para que os santos tenham mais satisfação na bem-aventurança e dêem por ela abundantes graças a Deus, concede-se-lhes que contemplem com toda a nitidez as penas dos ímpios."

Muito antes, Tertuliano, Padre da Igreja, tinha escrito: "Que espectáculo grandioso! Exultarei, contemplando como tantos e tão grandes reis, dos quais se dizia que foram recebidos no céu, gemem nas trevas profundas. A visão de tais espectáculos, a possibilidade de que te alegrarás com tais coisas - que pretor ou cônsul ou questor ou sacerdote poderá oferecê-la, por muita generosidade que tenha?"

Não duvido de que subjacente a estes textos se encontra a ideia de que um dia será feita justiça. A injustiça é intolerável. Mas, sub-reptícia e inconscientemente, aninha-se neles muito sadismo. A crença no inferno foi uma das polícias mais eficazes de todos os tempos. No entanto, o inferno não faz parte do Credo cristão e só pode pregá-lo quem nunca meditou no mistério insondável da liberdade humana, mergulhada nos condicionamentos da temporalidade. Aliás, mesmo do ponto de vista conceptual, o que é que pode querer dizer uma condenação eterna? Às acusações de que deste modo se está a abrir caminho à irresponsabilidade e ao vale-tudo deve responder-se que o amor não banaliza, mas responsabiliza, devendo acrescentar-se que Deus só levará à plenitude as possibilidades concretizadas pelo ser humano no tempo.

Não constitui nenhum exercício de masoquismo lembrar que, desgraçadamente, para um número indeterminável de homens e mulheres, a religião, cujo núcleo é a salvação e a felicidade plena, em vez de ser o espaço da alegria, da expansão e da vida, foi, de facto, o espaço da tristeza, da humilhação e da morte.

Penso, por exemplo, em todos aqueles que foram e são vítimas de ódios e guerras cruéis e sanguinárias com base na religião. O horror, pura e simplesmente! Penso, claro, nas vítimas da Inquisição e em todos quantos, em todas as religiões, foram e são vítimas de censura, condenação e exclusão por motivos teológicos. Pergunto-me frequentemente como é que houve e há quem se arrogue o direito e até o dever de "definir" quem e o que é Deus e a partir daí condenar e excluir.

A história da missionação é uma história de generosidade sem nome, mas também se não pode esquecer ter tantas vezes servido interesses imperiais e assim contribuído para arrasar culturas.

Penso na história das relações entre as religiões e a sexualidade e nas vidas sexuais envenenadas e nos celibatos eclesiásticos obrigatórios e nos seus dramas e desgraças. Penso em certo tipo de confissão auricular que poderá ter ferido os direitos humanos.

Penso nas mulheres cujos direitos em igualdade com os homens as religiões de modo geral não reconhecem e sobretudo nas acusações de bruxaria que as levaram à fogueira.

O mais pernicioso foram e são ideias teológicas mesquinhas e ridículas. Também por isso, nomeadamente Buda, Confúcio, Sócrates e Jesus, figuras determinantes para a Humanidade e de cuja profunda religiosidade ninguém pode duvidar, foram considerados ateus. Sócrates concretamente bebeu a cicuta, acusado de ateísmo, e Jesus morreu na cruz, acusado de blasfémia.

Estes factos obrigam a ter constantemente presentes, com temor e tremor, os perigos patológicos das religiões. Talvez nunca se tenha meditado suficientemente na grandeza heróica daqueles que preferiram o ateísmo a ficar presos de um deus que humilha, escraviza e anula o Homem.

No entanto, o Homem é por natureza religioso, no sentido de estar constitutivamente aberto à questão de Deus enquanto questão. Essa abertura, independentemente da resposta, positiva ou negativa, que se lhe dê, é que é o fundamento último da dignidade humana. Precisamente porque é abertura ao infinito.

A religião enquanto fé no Deus infinito e pessoal foi mediadora da tomada de consciência da infinita dignidade de ser Homem. Esta é a intuição e a parte de verdade da tese de Feuerbach ao querer reduzir a teologia a antropologia.

Esta reflexão tem na sua génese a carta de uma colega a confessar-me a experiência traumatizante do pavor do inferno na infância, que a levou ao abandono da prática religiosa. Não deixou, porém, a fé na mensagem de que Deus é Amor, continuando a acreditar nos valores cristãos e a tentar praticá-los.

Como tem sido aqui dada oportunidade de podermos aumentar a nossa capacidade de reflexão acerca de assuntos religiosos, julgo interessante trazer o artigo do padre Anselmo Borges que foca «o perigo patológico das religiões». É um tema já por mim abordado em tópicos e em troca de e-mails. Vale a pena meditar sobre as razões da «invenção» do Inferno com as suas chamas e horrores, bem como do «Apocalipse»; e sobre as alegrias sádicas dos «bons» ao imaginarem o sofrimento dos «maus» a cumprir as penas do Inferno. Em vez do livre-arbítrio e da liberdade responsável, na procura de felicidade total, muitas pessoas têm na religião algemas, restrições e temores de castigo eterno que tornam a sua vida numa angústia permanente. Sendo Deus Amor e generosidade paternal, podem ser considerados blasfemos aqueles que defendem a condenação e a exclusão dos «ímpios».

Sugiro a leitura dos livros sob o título «CONVERSAS COM DEUS» (3 volumes), de NealeDonald Walsch, editora Sinais de Fogo.

Religião e (in)felicidade

Anselmo Borges, Padre e professor de Filosofia, DN 061112

Sobre o inferno escreveu Tomás de Aquino: "Aos bem-aventurados não se deve tirar nada que pertença à perfeição da sua bem-aventurança. Ora, cada coisa conhece-se melhor pela comparação com o seu contrário. E, por isso, para que os santos tenham mais satisfação na bem-aventurança e dêem por ela abundantes graças a Deus, concede-se-lhes que contemplem com toda a nitidez as penas dos ímpios."

Muito antes, Tertuliano, Padre da Igreja, tinha escrito: "Que espectáculo grandioso! Exultarei, contemplando como tantos e tão grandes reis, dos quais se dizia que foram recebidos no céu, gemem nas trevas profundas. A visão de tais espectáculos, a possibilidade de que te alegrarás com tais coisas - que pretor ou cônsul ou questor ou sacerdote poderá oferecê-la, por muita generosidade que tenha?"

Não duvido de que subjacente a estes textos se encontra a ideia de que um dia será feita justiça. A injustiça é intolerável. Mas, sub-reptícia e inconscientemente, aninha-se neles muito sadismo. A crença no inferno foi uma das polícias mais eficazes de todos os tempos. No entanto, o inferno não faz parte do Credo cristão e só pode pregá-lo quem nunca meditou no mistério insondável da liberdade humana, mergulhada nos condicionamentos da temporalidade. Aliás, mesmo do ponto de vista conceptual, o que é que pode querer dizer uma condenação eterna? Às acusações de que deste modo se está a abrir caminho à irresponsabilidade e ao vale-tudo deve responder-se que o amor não banaliza, mas responsabiliza, devendo acrescentar-se que Deus só levará à plenitude as possibilidades concretizadas pelo ser humano no tempo.

Não constitui nenhum exercício de masoquismo lembrar que, desgraçadamente, para um número indeterminável de homens e mulheres, a religião, cujo núcleo é a salvação e a felicidade plena, em vez de ser o espaço da alegria, da expansão e da vida, foi, de facto, o espaço da tristeza, da humilhação e da morte.

Penso, por exemplo, em todos aqueles que foram e são vítimas de ódios e guerras cruéis e sanguinárias com base na religião. O horror, pura e simplesmente! Penso, claro, nas vítimas da Inquisição e em todos quantos, em todas as religiões, foram e são vítimas de censura, condenação e exclusão por motivos teológicos. Pergunto-me frequentemente como é que houve e há quem se arrogue o direito e até o dever de "definir" quem e o que é Deus e a partir daí condenar e excluir.

A história da missionação é uma história de generosidade sem nome, mas também se não pode esquecer ter tantas vezes servido interesses imperiais e assim contribuído para arrasar culturas.

Penso na história das relações entre as religiões e a sexualidade e nas vidas sexuais envenenadas e nos celibatos eclesiásticos obrigatórios e nos seus dramas e desgraças. Penso em certo tipo de confissão auricular que poderá ter ferido os direitos humanos.

Penso nas mulheres cujos direitos em igualdade com os homens as religiões de modo geral não reconhecem e sobretudo nas acusações de bruxaria que as levaram à fogueira.

O mais pernicioso foram e são ideias teológicas mesquinhas e ridículas. Também por isso, nomeadamente Buda, Confúcio, Sócrates e Jesus, figuras determinantes para a Humanidade e de cuja profunda religiosidade ninguém pode duvidar, foram considerados ateus. Sócrates concretamente bebeu a cicuta, acusado de ateísmo, e Jesus morreu na cruz, acusado de blasfémia.

Estes factos obrigam a ter constantemente presentes, com temor e tremor, os perigos patológicos das religiões. Talvez nunca se tenha meditado suficientemente na grandeza heróica daqueles que preferiram o ateísmo a ficar presos de um deus que humilha, escraviza e anula o Homem.

No entanto, o Homem é por natureza religioso, no sentido de estar constitutivamente aberto à questão de Deus enquanto questão. Essa abertura, independentemente da resposta, positiva ou negativa, que se lhe dê, é que é o fundamento último da dignidade humana. Precisamente porque é abertura ao infinito.

A religião enquanto fé no Deus infinito e pessoal foi mediadora da tomada de consciência da infinita dignidade de ser Homem. Esta é a intuição e a parte de verdade da tese de Feuerbach ao querer reduzir a teologia a antropologia.

Esta reflexão tem na sua génese a carta de uma colega a confessar-me a experiência traumatizante do pavor do inferno na infância, que a levou ao abandono da prática religiosa. Não deixou, porém, a fé na mensagem de que Deus é Amor, continuando a acreditar nos valores cristãos e a tentar praticá-los.

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Prestigiar o patriotismo

Na tentativa de satisfazer um insistente pedido do amigo Mário Relvas, que muito me honra mas que temo não ser capaz de satisfazer com um mínimo de qualidade, vou procurar alinhar algumas palavras sobre a ideia que tenho dos Comandos e da sua mística patriótica. Não disponho de elementos de consulta, pelo que me limitarei a decifrar aquilo que o tempo sedimentou na poeira da minha já frágil memória.

Os Comandos foram criados em época de reorganização do Exército a fim de este potenciar a sua capacidade para enfrentar a situação vigente e as previsíveis. Já nessa altura, existia no Exército um corpo especial – o Corpo do Estado Maior – cuja principal função era o estudo, planeamento, organização e controlo, com vista ao total apoio da acção de comando dos generais. Tratava-se de um conjunto de oficiais vocacionado para funções ligadas ao pensamento e reflexão e às decisões estratégicas e de táctica de unidades de escalão médio e alto, enquanto os Comandos são um corpo destinado à acção, às operações difíceis e complexas que exigem uma especial preparação física, técnica e psicológica que permita a excelência na execução e eficácia nos resultados. Enfim, trata-se de fazer frente a situações para as quais não é aconselhável o emprego de vulgares tropas de infantaria.

Desde a sua criação, os militares comandos são movidos por uma mística do culto de valores em que predomina um acrisolado patriotismo, o desprezo pelo perigo, a sintonia com a missão e a perfeita integração na equipa a que pertencem. Numa época em que impera o interesse material e egoísta, merece realce esta classe de portugueses que defende e alimenta valores morais, nacionais, de justiça e bom senso, muito superiores ao materialismo corriqueiro que impera à sua volta.

Se o Corpo do Estado Maior foi extinto, possivelmente por ter sido considerado preferível ministrar melhores conhecimentos à generalidade dos oficiais para as funções relacionadas com a preparação da decisão, já o mesmo não aconteceu com os Comandos, o que pode ser interpretado como o reconhecimento de que a sua função operacional especialmente qualificada não pode ser dispensada nem vulgarizada. O papel dos comandos é fundamental, quer pela preparação psicológica dos combatentes, quer pela capacidade serena e sensata dos seus líderes, quer pela preparação operacional que permite acções imediatas, de execução rápida e de adequação no uso da força.

Os portugueses, temos muitas razões para admirar os Comandos pelo muito que fizeram na guerra no Ultramar, pela sua acção de contenção nos tempos conturbados de 1974 e 1975, e pelas missões mais recentes em vários pontos do Mundo, sendo de esperar deles total disponibilidade e eficiência em qualquer momento futuro. Depois de esboçar estas palavras, tive oportunidade de conversar com dois comandos, um cabo que chefiou uma equipa de instrução em Penude, Lamego, e um soldado que esteve na Amadora, ambos já longe da idade das ilusões e dos entusiasmos, relembram com calor os tempos passados e os colegas, na maioria transmontanos como eles, de forma que fiquei com a certeza de que a Associação de Comandos, constitui uma força com que se deve contar sempre, pela sua capacidade de mobilização de vontades e de liderança de um grande conjunto coeso de portugueses.

Os seguidores dos «mandamentos» dos Comandos e do grito «Mama Sume» estão de parabéns pela sua organização associativa, pelas actividades culturais que desenvolvem regularmente e, agora, pela utilização da Internet com vista à manutenção de laços de saudade e solidariedade, em perfeita conexão e espírito de corpo. Exorto-vos a nunca esmorecerem, para bem de Portugal.

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Chover no molhado

Chover no Molhado. Uma visão sobre a maldade humana

Têm surgido vários textos denominando a acção dos Americanos como terrorismo e aplicando o mesmo termo a outras acções dos dirigentes de outros países com predominância na vida internacional ou até na vida interna das Nações. Realmente, sem sermos visionários nem pessimistas, temos de aceitar que o ser humano é cruel e profundamente egoísta. Só a educação e a interiorização de valores éticos ou, por outro lado, o medo à autoridade policial e judicial, nos ajudam a controlar e dominar os piores instintos animais. Não me condenem por estas frases, porque uma prova disto está na Bíblia ao referir a morte de Abel pelo seu irmão Caim. Aliás, o Antigo Testamento, dá-nos um retrato de como a humanidade é má.

Por isso, ao condenarmos os governantes das potências de mais poder, estamos a fazer julgamentos demasiado pretensiosos, caindo em erros iguais ao do julgamento com condenação à morte por enforcamento de Saddam Hussein. Mesmo o mais humilde vilão se transforma num tirano quando lhe metem a vara na mão, como diz o ditado.

Com base neste pressuposto, é redundante perder tempo a repetir que os poderosos abusam do poder sem olhar a meios. Um exercício mais interessante seria procurar compreender o que se passa no mundo, tendo por cenário o conjunto dos instintos e interesses humanos, mais maus do que bons, e tentar prever como se irão desenrolar as crises que estão a esboçar-se. Por exemplo: O que irá passar-se em Cuba? O que virá a acontecer na América Latina, estando a subir ao poder líderes que não gostam da América? O Brasil poderá transformar-se em grande potência, apesar da oposição dos EUA? Como se processará a ascensão da China a segunda ou primeira potência mundial e qual será a atitude dos actuais manda-chuvas? O que se passará na Coreia do Norte nos próximos anos? E no Irão? E na Somália? E na África dos Grandes Lagos? E dentro das nossa fronteiras? Como evoluirá a nossa economia, a balança comercial, a dívida pública, o desemprego, a fome e a exclusão, os últimos furos do cinto?

Se procurarmos compreender a dinâmica dos interesses dos poderosos e as suas manobras aplicadas aos diversos sectores da actividade dos povos, temos imensas possibilidades de desenvolvermos lindos raciocínios realistas, sem perder tempo a fazer chover no molhado, com reiteração de acusações de fenómenos que são considerados naturais dentro das características da humanidade desde os tempos mais remotos. O poder vicia e atrai o abuso.

Haja quem descubra forma de controlar a sua utilização por forma a não permitir que ele se transforme em terrorismo subtil e mascarado ou explícito. A violência, quer sob o aspecto da propaganda, da acção psicológica, dos ataques suicidas, ou dos bombardeamentos aéreos ou dos bloqueios económicos, é sempre indesejável, principalmente porque as vítimas raramente são os causadores do sofrimento, mas quase sempre pessoas inocentes que sofrem os abusos do poder interno e do externo.

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Relações internacionais são interesseiras

A propósito do «post» «Chover no Molhado», parece oportuno relembrar alguns conceitos básicos que ajudam a compreender as realidades das relações internacionais.
Um Estado bem governado, mais do que uma empresa bem gerida, conduz os seus destinos baseado num cenário coerente de objectivos e interesses nacionais servidos por estratégias adequadas em que se inscrevem as decisões da vida corrente. Isto explica que as posições internacionais dos países melhor estruturados não sofram alterações muito visíveis quando mudam, democraticamente, os governantes.

Ao observarmos aquilo que se passa no Mundo, nomeadamente, as ingerências na vida interna de Estados de menor capacidade, devemos procurar compreender os interesses vitais ou importantes que estão em jogo. De um Estado com uma economia desenvolvida é de esperar que procure garantir as fontes de matérias primas, principalmente o petróleo, para o funcionamento da sua indústria e outros sectores económicos e, também, os mercados que serão destino dos seus produtos acabados. Olhando para os acontecimentos dos anos mais recentes, vemos que as localizações dos conflitos, armados ou simplesmente económicos, coincidem com as fontes dos principais recursos estratégicos. O centro do continente africano tem vivido à margem de grandes conflitos.

Interrogamo-nos qual a importância atribuída às pessoas que acabam por ser as principais vítimas inocentes desta dinâmica do poder. Numa visão simplista, há os exemplos de Abel e Caim, há a dicotomia de nós e os outros. Toda a actividade governativa dum País desenvolvido deve ser orientada para o aumento da qualidade de vida, bem-estar, comodidade, riqueza, felicidade, dos seus concidadãos. Quanto aos outros, os dos países de onde se retiram os preciosos recursos económicos, espera-se que os seus governantes se preocupem com as suas condições de vida. Só que esses governantes, pela sua falta de preparação técnica e ética, e pela sua falta de força dialogante, pouco podem fazer perante a potencialidade gananciosa e exploradora dos grandes.

A natureza humana não é, na essência, diferente da que se verifica nos animais, em que os fracos são dominados pelo líder da alcateia, da manada, que é sempre o mais forte e poderoso. Nos humanos, quer individualmente quer entre os Estados, o mais poderoso, que dispõe de mais eficientes meios de poder e coacção, domina os outros que ficam constrangidos e condicionados a colaborar com os seus interesses. Contra isto pouco pode ser feito com eficácia e em beneficio dos mais desprotegidos. «Ai dos vencidos», ai dos pobres e dos desprovidos. Nem as organizações mundiais como a ONU e as suas diversas agências têm feito sobressair acções de generosidade com eficiência sustentada no sentido de ser criada maior equidade global. Por isso, todos e cada um devemos levantar a voz contra as situações gritantes de que haja conhecimento, mesmo que pareça estarmos a clamar no deserto.

Não há razões para serem alimentadas vãs esperanças nas mudanças de líderes estatais, das quais poderão sair alterações internas significativas, mas no relacionamento internacional apenas serão possíveis pequenas variações, porque eles não irão afastar-se dos objectivos e interesses nacionais e das directrizes estratégicas fundamentais, já consolidadas pela história e pela tradição.

Se não enquadrarmos os fenómenos internacionais nesta quadrícula, nada resulta de criticas avulsas a governantes menos dotados intelectualmente e férteis em gafes hilariantes, porque eles não estão sós e agem sob controlo de órgãos democraticamente eleitos. Refiro-me a Estados democraticamente organizados e mundialmente reconhecidos como tal.

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Acerca da TLEBS

Acerca da TLEBS, coloquei aqui um texto em 4 de Outubro. Parecia que estava a adivinhar a polémica que tal assunto iria levantar. Vasco Graça Moura cuja opinião neste caso merece respeito, vem a terreiro mais uma vez a alertar as dificuldades que advirão desta inovação que deve ter nascido de uma ideia angélica surgida na cabeça aérea de intelectualóides que vivem nas nuvens e que já se esqueceram daquilo que se passa nas realidades terrenas.

Quem tiver familiares a estudar e quiser dar-lhes uma ajuda nos estudos de português, ou desiste dessa ideia ou terá muito trabalho para empinar uma quantidade de palavrões que nem sequer se encontram nos melhores dicionários. Esses intelectualóides, na sua ânsia patológica de darem nas vistas nem sequer tiveram o cuidado de utilizar palavras da língua portuguesa que era suposto deverem defender!


Ainda a TLEBS

Vasco Graça Moura, Escritor
Diário de Notícias de 061115

Das complexidades inadmissíveis da nova terminologia linguística para os estudantes do ensino básico e secundário (TLEBS) já se tem falado com mais ou menos pormenor. Da dificuldade de adaptação dos professores à nova terminologia, bem como ao seu manuseio, e da impossibilidade prática de os alunos a compreenderem, também já se falou, antevendo-se as piores catástrofes. Da preparação de manuais que a apliquem tem-se falado menos.

Todavia, há mais de um ano que o Ministério da Educação comunicou às escolas dever a TLEBS constituir uma referência no tocante às práticas lectivas, à concepção de manuais e aos documentos produzidos em matéria de ensino e divulgação da língua portuguesa.

A estratégia irresponsável de quem, no ministério, paraninfa tão zelosamente estas bizarras inovações está à vista: se a TLEBS começar a ser consagrada nos manuais, as coisas tornam-se irreversíveis porque os editores de livros escolares não quererão, depois, ver desperdiçado o investimento que fizeram...

Entretanto - e este ponto põe mesmo em questão as próprias políticas do ministério em matéria de contenção do dispêndio das famílias com manuais escolares - os pais, esses, lá voltarão a desembolsar mais dinheiro de ano para ano, porque os manuais anteriores deixam de servir!

Ora, sendo, proclamadamente, progressiva a implantação da TLEBS nas práticas lectivas, na concepção dos manuais e nos documentos produzidos na matéria, isto quer dizer que esse fluxo derrancante das economias familiares não parará tão cedo...

Também não se tem falado de outros aspectos que se afiguram da maior relevância. O primeiro respeita, precisamente, ao papel dos responsáveis pela educação fora da escola. Numa área como a da aprendizagem da língua materna, em que a família tem um papel extremamente importante e em que muitos pais colaboram regular e validamente com os filhos ajudando-os a estudar, vai tornar-se inviável que o façam. Se, mesmo para os professores mais preparados (e, a avaliar pela generalidade dos resultados do ensino do português, eles não serão muitos...), a adaptação se vai tornar dificílima, para os pais, então, a gramática portuguesa tornar-se-á uma espécie de sânscrito ou de chinês.

O que me parece ser o grande equívoco da TLEBS é que ela confunde o plano científico (não interessa se discutível ou indiscutível) da compreensão e descrição das funções das várias categorias gramaticais com o plano prático e didáctico da designação delas. Ora a manutenção de uma terminologia mais ou menos tradicional não inviabiliza de todo a questão científica. Se se está habituado a falar em "complementos circunstanciais", por exemplo, a análise científica não impõe que se passe a chamar-lhes "modificadores", mesmo que conclua que o são. Outras ciências, como a pedagogia, a didáctica ou a sociologia educativa podem perfeitamente concluir que a inovação é nociva e desajustada, por muito científica que se proclame...

Por outro lado, no tocante à aprendizagem de línguas estrangeiras, nomeadamente do inglês logo no básico e, depois, ao longo do secundário, que é uma das bandeiras da política educativa do Governo, está à vista a confusão que acabará por se gerar, ao longo dos curricula escolares, com o recurso simultâneo a nomenclaturas gramaticais completamente diferentes... Tudo com os resultados brilhantes que também se antevêem... A menos que se espere que os jovens vão aprendendo outras línguas sem tocarem nas gramáticas respectivas.

E, depois, considere-se a cooperação com os PALOP. Em África, onde o português é uma língua veicular, as estruturas do ensino são frágeis, os professores são poucos, a preparação pedagógica é deficiente, os livros são difíceis de obter e, muitas vezes, os instrumentos imprescindíveis de trabalho nesta matéria são aproveitamentos de materiais que já não são utilizados em Portugal. E onde, conforme as áreas da latinofonia ou da anglofonia, há uma grande concorrência de outras línguas europeias com a nossa.

Já se pensou na trapalhada sem nome que a TLEBS ali vai gerar? Na confusão indescritível em que professores e alunos africanos vão ser lançados? Nos custos editoriais desnecessários em que as autoridades desses países terão de incorrer? As coisas anunciam-se de tal modo perturbantes que se acabará por desejar que, a bem da língua, a cooperação quanto ao ensino do português em África seja confiá-lo a professores brasileiros...

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Bloco de Esquerda contra o aborto?

Bloco de Esquerda contra o aborto?

Foi-me entregue numa rua de Lisboa o n.º 2 da publicação «Lisboa é Gente» do BE, em que consta informação de uma forma rápida e muito objectiva das propostas já aprovadas e dos objectivos do Bloco com vista a melhorar a qualidade de vida da população lisbonense.

Esta actividade partidária é muito louvável porque é missão dos governantes quer a nível central quer nas autarquias, cuidar das condições de vida das populações. Nesta pequena publicação, além das medidas que afectam directamente a população constam outras que estão com ela relacionadas de forma indirecta, como, por exemplo, a «recuperação da zona verde de Campolide», a «estrutura ecológica de Lisboa», o «clube de tiro fora de Monsanto».

Com este cuidado, muito credor de elogios, na defesa da vida da gente de Lisboa, na defesa da vegetação dos espaços verdes, na defesa dos animais lesados pelo «clube de tiro», tudo inserido numa filosofia ecológica positiva, mão podem restar dúvidas de que o BE será, iniludivelmente contra o aborto, defendendo assim o direito à vida de seres humanos embrionários, indefesos e carentes de protecção de verdadeiros defensores da vida, como o BE demonstra ser, através desta publicação, contra acções indignas de mulheres sem inteligência, ignorantes e desleixadas que não souberam utilizar os diversos métodos anti-concepcionais que se encontram à sua disposição, desde a pílula clássica à pílula do dia seguinte, passando pelo esterilete intra-uterino, o método do calendário, das temperaturas, de Ogino-Knaus, do preservativo masculino e feminino, do creme espermicida, etc

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Emergência planetária

Alterações climáticas

O ambiente está a ficar demasiado doente. Temos de o preservar ao máximo para não morrer.
Não podemos demorar um dia mais. Temos que começar hoje, agora, a pensar muito a sério no futuro dos nossos netos.
Se continuamos distraídos, eles poderão ser a última geração da humanidade. Última ou penúltima... O fim aproxima-se sem dar tempo a adaptações dos seres vivos às novas condições climáticas,
Há que ter muito cuidado a partir deste momento. Reproduzo Artigo do Jornal de Notícias de hoje que considero muito interessnte

Emergência planetária

David Pontes, Director adjunto, JN, 081119

Uma coisa é darem-nos números, estatísticas, previsões. Outra coisa é saber que os pássaros estão, desde há anos, a chegar mais cedo de África, que as plantas estão a alterar os seus ritmos de floração.

Uma coisa é tentar encontrar uma razão para um clima que padece de estranhos humores, outra coisa é avistar icebergues ao largo da Nova Zelândia, ou ver o glaciar de Gangotri, na Índia, a esboroar-se.

Mas seja através da ciência, seja através da observação directa, acumulam-se os sinais que nos dizem que o aquecimento global está a modificar o planeta. E não é para melhor. Podemos continuar a ignorá-los, podemos só pensar neles quando as nossas praias começarem a ser submergidas pela subida das águas, mas nunca mais poderemos é dizer que não fomos avisados.

Numa demonstração de que há quem leva a sério o problema provocado pela emissão de gases que alteram o clima, anteontem, em Nairobi, sob a égide das Nações Unidas, foi tomada a importante decisão de reavaliar o Protocolo de Quioto já em 2008. Nessa altura, os países industrializados deverão acordar reduzir para metade as emissões de gases com efeito de estufa. Mas continua a faltar à mesa deste acordo um parceiro essencial, os Estados Unidos. Era bom que os democratas, pelo menos neste capítulo, mostrassem que são diferentes dos republicanos.

A batalha decisiva não se trava só na América . É urgente que todos nós, cidadãos, habitantes de um planeta em risco, obriguemos os nossos poderes políticos a tomar medidas dolorosas, mas necessárias, para que possamos todos respirar com um pouco mais de alívio. Exijamos que os próximos programas eleitorais, que tão pouca utilidade parece terem, sirvam ao menos para firmar esse compromisso com o nosso futuro.

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