domingo, 30 de novembro de 2008

Auto-estradas, uma moda de afirmação política

Hoje, em notícia do DN, é salientado que «Portugal é dos países com mais auto-estradas na Europa».

Somos o País com maior número de km por habitante e por área e estamos entre os países que mais investiram desde 1990, enfim podemos «gabar-nos» de sermos campeões mundiais em extensão e crescimento da rede de auto-estradas. No entanto os dados da União Europeia e OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico) mostram que se investe pouco em manutenção.

Há poucos dias, em entrevista na SIC Notícias, o economista Manuel Jacinto Nunes advertia para a existência de auto-estradas sem um movimento que as justifique, podendo em seu lugar haver IC ou IP e chamava a atenção para os custos que em breve surgirão com a manutenção, para evitar profusão de buracos. Os custos dessa indispensável manutenção irão ser avultados e não deixarão de repetir-se com persistência.

Como refere a notícia, para José Manuel Viegas, especialista em transportes, é difícil explicar como é que um país com problemas em tantos sectores tem necessidade de construir tantas auto-estradas. Lembra que há outras soluções de mobilidade mais baratas como as adoptadas em Espanha, onde as autovias, com menores exigências em termos de construção e traçado, coexistem com as autopistas.

Dos dados constantes da notícia, e como realça Avelino de Jesus, pode concluir-se que Portugal, ao mesmo tempo que tem muitas auto-estradas, também tem estradas a menos e muito pouco investimentos na conservação das que temos,. Dados da OCDE mostram que em 2005 Portugal foi o quarto país que mais investiu em novas vias (1985 milhões de euros) mas, nos gastos com manutenção, caiu para 10.º lugar, com 177 milhões de euros.

A construção de auto-estradas, do TGV e do novo aeroporto de Lisboa, é uma moda de afirmação política, estimulada pelas grandes empresas de construção civil, à semelhança da recente moda de as autarquias construírem rotundas em cada cruzamento, mesmo que delas não adviesse qualquer utilidade, como já aqui foi referido no post «utilidade das rotundas» em 27 de Janeiro de 2007.

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No Natal, e sempre, seja amigo do ambiente

Não precisa de encómios, este texto do DN de hoje que aqui publico para poder ser lido sempre que os visitantes o desejarem. O ambiente deve ser uma preocupação permanente, mas é mais esquecido nesta época em que as atenções são presas pelo que é imediato e efémero.

Este Natal ofereça uma prenda ao ambiente
Bruno Abreu

Natal ecológico. Fazer as suas próprias bolas de Natal e plantar um pinheiro podem parecer ideias um pouco trabalhosas e um bocado difíceis de concretizar. Mas pense que assim vai ter um Natal mais genuíno e que no fim poderá dar outra prenda aos seus: um ambiente mais protegido e equilibrado

A imaginação pode ser o seu maior aliado para um Natal sustentável

Parece difícil, mas para ter um Natal amigo do ambiente só precisa de duas coisas: imaginação e vontade. O resto é o mais fácil. Basta seguir o conjunto de ideias que lhe damos e, no final, vai ver que teve uma quadra mais sustentável e que ofereceu um presente a si e ao mundo, contribuindo para um ambiente mais protegido e equilibrado.

O pinheiro tornou-se o centro da celebração do Natal, o que fez surgir a questão: natural ou artificial? Em princípio, nem um nem outro. Mas como as crianças não passam sem o pinheiro a luzir, opte por um natural. No entanto, atenção: certifique-se de que foi criado com o propósito de ser utilizado nesta época. Se possível, compre um que venha com raízes e plante-o num vaso com terra adequada. Não se esqueça de o regar.

Passadas as festas, plante-o num jardim ou numa floresta perto de si. Se não quiser comprar um pinheiro, entre em contacto com a sua autarquia. Por esta altura, muitas câmaras municipais oferecem os pinheiros que recolhem nas limpezas das matas, cortados com a devida autorização. Lembre-se que existem espécies de animais e plantas em extinção, e o azevinho é uma delas. Não compre azevinho verdadeiro, há imitações que podem ser usadas por muitos anos, ou então use a sua criatividade.

Na decoração da sua árvore de Natal evite embarcar em modas: Escolha enfeites que possam ser usados muitos anos. Em alternativa, pode sempre fazer as suas próprias decorações, reutilizando certos materiais. Basta a imaginação.

Aproveite para fazer as decorações com as crianças. Assim passa tempo com elas e pode incutir-lhes o espírito de protecção ambiental. Escolha lâmpadas de LED: duram muito e não gastam quase nada. Há ainda as compras. Seja para comprar presentes ou apenas para ir buscar o bacalhau para a ceia, opte pelos transportes públicos ou partilhe o veículo com um familiar ou amigo. Poupa no combustível, no ambiente e, se estiver indeciso, tem sempre alguém a quem pedir um conselho.

Nos presentes, tenha muita atenção ao que compra: cuidado com as substâncias perigosas. Tente saber por familiares ou amigos do que precisa a pessoa a quem vai dar o presente. Caso não saiba mesmo o que dar, ofereça um cheque-prenda. Assim tem a certeza de que vai dar a prenda certa.

Depois do Natal, guarde o papel de embrulho para reutilizar noutras ocasiões. Muitas embalagens, caixas e papéis dos presentes podem ser usados pelas crianças para fazerem máscaras, porta-lápis, capas, etc. Não os deite fora. Mas, se não precisar mesmo deles, separe as embalagens - papel, plástico e metal - e coloque-as no ecoponto. Para as limpezas depois da festa, use produtos biodegradáveis ou então recargas.

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sábado, 29 de novembro de 2008

Ex-combatente deficiente em greve de fome

João Gonçalves era um jovem válido, escorreito, com perspectivas de organizar uma actividade produtiva para garantir uma vida digna á sua família, mas o Governo decidiu mobilizá-lo para a guerra e veio de lá deficiente. Seria de esperar que o Estado, como pessoa de bem que ele julgava que fosse, lhe garantisse, no mínimo, os tratamentos médicos e medicamentosos e uma pensão que lhe permitisse ir sobrevivendo. Mas, como ele, há muitos e alguns em piores circunstâncias dada a gravidade da deficiência.

Com a generosidade com que arriscou a vida pela Pátria em África, não hesitou em agora aceitar ser presidente da delegação de Viseu da Associação de Deficientes das Forças Armadas (ADFA), o que muito o tem traumatizado ao enfrentar o sofrimento dos seus camaradas e perante a insensibilidade dos políticos e a desonestidade governamental com que os deficientes estão a ser tratados desde há poucos anos.

Para os 800 militares deficientes do distrito de Viseu que combateram em África, Timor e Índia e que têm visto reduzidos os seus direitos ao apoio estatal, da sua entidade patronal quando foram acidentados, a situação agravou-se com o encerramento do Hospital Militar de Coimbra, o que obriga os deficientes a recorrerem às unidades de saúde militar de Lisboa e do Porto, com o respectivo agravamento de custos.

O João Gonçalves anda "há anos a lutar pelos direitos dos militares que serviram a Pátria e que hoje têm uma mão cheia de nada". O ex-combatente está "indignado com as últimas leis aprovadas pelo Governo que nos retirou os poucos direitos que tínhamos". Chegou a uma situação de desespero que o levou a iniciar ontem uma greve de fome que promete ir até "às últimas consequências. Se for preciso morrer, que seja, mas não aguento mais tanto sofrimento. Todos os dias vêm aqui ex-militares pedir ajuda que não podemos dar". Para quem arriscou a vida na guerra colonial, esta decisão é para levar a sério. E é de esperar que outros decidam juntar-se a ele. Quanto maior for o número de mártires assumidos, maior será a probabilidade de a Comunicação Social interna e externa fazer eco das injustiças de que estão a ser vítimas e de os governantes sentirem a gravidae desta situação.

Eles já não acreditam no lema «HONRAI A PÁTRIA QUE A PÁTRIA VOS CONTEMPLA» com que lhes encheram, os ouvidos na sua preparação para a guerra. Eles sentem na pele que as recentes alterações introduzidas na lei que regulamenta a assistência na saúde aos militares das Forças Armadas fizeram com que os militares deixem de ser assistidos nos hospitais civis. "Antes, os ex-combatentes e antigos militares podiam ir ao hospital da sua área de residência porque eram abrangidos pela assistência de saúde a que os militares têm direito. Neste momento, só temos direito a essa assistência nos hospitais militares de Porto e Lisboa porque entretanto encerrou o de Coimbra". O monetarismo do actual Governo esqueceu compromissos perante aqueles que tudo arriscaram por Portugal. É uma questão de HONRA que está longe de ser compreendida pelos governantes.

Outra reivindicação prende-se com a actualização das pensões dos deficientes das Forças Armadas que "deixou de ser igual ao salário mínimo para passar a ser idêntico ao indexante de apoio social". Na prática "a pensão baixou-nos de 426 para 407 euros" revela o presidente. Como é possível compreender esta ingratidão e insensibilidade dos representantes do Estado?

João Gonçalves promete "ficar na delegação de Viseu da ADFA até morrer ou até que nos encontrem uma solução justa para o nosso problema", afirma. E será lógico que os seus camaradas não o deixem sozinho nesta prova de humanidade e de solidariedade e se juntem a ele numa manifestação de camaradagem, dignidade e sensibilidade, pondo à prova as qualidades que evidenciaram durante a guerra a que o Governo os obrigou.

Ver notícia aqui.

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Corrupção e tráfico de influência

Depois da polémica levantada pelas propostas do engenheiro João Cravinho no sentido do combate à corrupção, do tráfico de influências e do enriquecimento ilegítimo, surgem hoje estas notícias: «PS procura promiscuidades entre política e negócios» e «PS quer mais rigor na passagem de políticos para a chefia de empresas».

Como as referidas propostas apenas levantaram polémica e ocasionaram o «degredo» do autor para um «tacho dourado» na Êuropa e nada de positivo resolveram, há motivo para duvidar da sinceridade das intenções destas novas medidas. Mas a esperança será a última coisa a morrer! Por isso, aqui ficam estes links para os mais interessados, hoje ou quando desejarem.

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sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Dois casos exemplares

Numa data em que o pessimismo corrói o psíquico dos portugueses, é oportuno realçar casos exemplares que, embora sejam raros, nos devem encher de esperança num futuro melhor, pois há entre nós boas sementes para tornar a seara produtiva e rentável.

Em vez de dizer mal de forma destrutiva, devemos criticar de forma positiva apontando o que está mal e, a seguir, indicar pistas para soluções, na certeza de que, um dia, alguma delas virá a germinar, mesmo que o terreno não pareça fértil. Um grito de alerta que desvie as atenções daquilo que parece errado para aquilo que vemos ser exemplar e dever ser seguido ou, até, superado, será positivo, um serviço público. È nesse sentido que hoje aqui trazemos dois casos, a juntar a vários já citados neste espaço, como, por exemplo, «Sucesso de jovem cientista português».

O primeiro caso é motivo da notícia «Manual de Matemática ganha medalha de ouro». Trata-se de um livro para o primeiro ano do ensino básico, da autoria de três professores do Agrupamento de Escolas de Águas Santas, na Maia que, durante a Feira do Livro de Frankfurt, Alemanha, foi premiado com a medalha de ouro num concurso europeu onde foram avaliados 17 manuais escolares. Este galardão foi atribuído pela European Education Publishers Group (EEPG) para distinguir os melhores editores, autores e designers gráficos da Europa, tendo por objectivo promover a excelência e qualidade nas publicações voltadas para o ensino.

Os autores, professores Alberta Rocha, Carla do Lago e Manuel Linhares, trabalham juntos há seis anos e é esta a primeira vez que recebem um prémio internacional pelas suas obras. Foram os vencedores deste concurso internacional, o que é motivo de orgulho para os portugueses. Merecem parabéns e este realce que estamos a dar-lhes.

O segundo caso consta do mesmo jornal e vem na notícia «Empresária desde os sete anos anda a ganhar dinheiro na Net». Benedita Simas, com pouco mais de 40 anos, tem uma multifacetada história de empresária e empreendedora que iniciou quando apenas contava sete anos, ao vender às colegas da escola chupa-chupas de caramelo, que confeccionava em casa.

Depois, no secundário, vendia pulseiras e brincos feitos com missangas. Mais tarde, na faculdade, deixou de ter as colegas como mercado e foi modelo publicitário. "Ganhava rios de dinheiro" a anunciar coisas tão inocentes como panelas.

E, apesar dessa ocupação empresarial, não deixava de se aplicar ao estudo, ao ponto de acabar o liceu com 18,5 valores, o que levou a família e amigos a pressionarem-na a seguir medicina, o que ela não decidiu por não querer demorar nove anos a estudar e foi para Psicologia.

Hoj, dedica-se a publicidade e pagamentos na Internet e deixa como conselho aos jovens "O importante é não ter medo de errar, de saltar no escuro e experimentar coisas novas".

Já há tempos aqui referi o caso de um jovem sueco que, ainda adolescente, se dedicou a fazer trabalhos de informática para pequenas empresas e privados, obtendo êxito que o levou, com estudantes amigos, a criar filiais noutras cidades e, depois, nas capitais da Holanda e da Grã-Bretanha, tornando-se multinacional.

Entre nós falta capacidade de iniciativa, de análise do grau de risco, do culto da matemática e da contabilidade, o que não é propício para haver muitos casos deste género. Por isso, o meu aplauso a Benedita Simas.

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Quem? O quê? Como? Para quê?

Nau sem bússola, nem leme, nem timoneiro. Como pode chegar a bom porto? Como pode ser eficiente? O texto que se transcreve refere uma situação incrível. Não é desejável que existam outras situações semelhantes. E isto acontece, apesar da existência de centenas de assessores nos gabinetes ministeriais e de os deputados serem mais do que muitos e terem colaboradores altamente remunerados.

Não é despiciendo afirmar que isto se passa num sector fundamental para a vida dos cidadãos, para a sua sensação de segurança. E a Justiça bem merece mais atenção para reduzir e evitar a descrença que o povo nela tem

Governo só sabe legislar sob pressão

A nova lei orgânica da Polícia Judiciária foi aprovada em Agosto, mas até ao momento continua por regulamentar. A Associação Sindical dos Investigadores da PJ diz que o Governo só sabe legislar sob pressão, realçando que neste momento a incerteza é grande, porque ninguém sabe que função vai desempenhar no futuro.

O presidente da Associação Sindical dos Investigadores da PJ, Carlos Anjos, realça que a Judiciária está em gestão corrente.

«Só o director nacional é que está nomeado, os outros estão em gestão corrente, os adjuntos caíram, necessitam de nova nomeação, mas não pode acontecer sem a lei orgânica estar regulamentada. Vivemos na incerteza de como vai ser a casa», salienta.

Carlos Anjos lembra também que ninguém sabe se com a regulamentação vai manter as mesmas investigações e que as mudanças podem trazer prejuízos para o apuramento da verdade.

«Estamos a investigar factos hoje sem saber se amanhã vamos estar nas mesmas secções a fazer as mesmas coisas ou outras completamente diferentes», assegura.

A Associação Sindical dos Inspectores da PJ diz que mais vale uma lei mal regulamentada do que a actual situação e conclui que o Governo só sabe legislar quando está sob pressão.

No sentido de perceber quando é que o Governo vai aprovar a regulamentação da lei orgânica da Polícia Judiciária, a TSF procura agora um contacto com o Ministério da Justiça.

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Como Fernando Pessoa via Portugal

Um texto de Fernando Pessoa extraído do site com a sua obra , que nos dá uma explicação da razão de os nossos políticos serem como são. Creio que o problema é muito complexo e haverá mais factores na definição do estado em que nos encontramos. Mas isso não tira interesse ao texto que se segue.

Há três espécies de Portugal, dentro do mesmo Portugal
Fernando Pessoa

Há três espécies de Portugal, dentro do mesmo Portugal; ou, se se preferir, há três espécies de português. Um começou com a nacionalidade:

É o português típico, que forma o fundo da nação e o da sua expansão numérica, trabalhando obscura e modestamente em Portugal e por toda a parte de todas as partes do Mundo. Este português encontra-se, desde 1578, divorciado de todos os governos e abandonado por todos. Existe porque existe, e é por isso que a nação existe também.

Outro é o português que o não é. Começou com a invasão mental estrangeira, que data, com verdade possível, do tempo do Marquês de Pombal. Esta invasão agravou-se com o Constitucionalismo, e tornou-se completa com a República. Este português (que é o que forma grande parte das classes médias superiores, certa parte do povo, e quase toda a gente das classes dirigentes) é o que governa o país. Está completamente divorciado do país que governa. É, por sua vontade, parisiense e moderno. Contra sua vontade, é estúpido.

Há um terceiro português, que começou a existir quando Portugal, por alturas de El-Rei D. Dinis, começou, de Nação, a esboçar-se Império. Esse português fez as Descobertas, criou a civilização transoceânica moderna, e depois foi-se embora. Foi-se embora em Alcácer Quibir, mas deixou alguns parentes, que têm estado sempre, e continuam estando, à espera dele. Como o último verdadeiro Rei de Portugal foi aquele D. Sebastião que caiu em Alcácer Quibir, e presumivelmente ali morreu, é no símbolo do regresso de El-Rei D. Sebastião que os portugueses da saudade imperial projectam a sua fé de que a famí1ia se não extinguisse.

Estes três tipos do português têm uma mentalidade comum, pois são todos portugueses mas o uso que fazem dessa mentalidade diferencia-os entre si. O português, no seu fundo psíquico, define-se, com razoável aproximação, por três característicos:
(1) o predomínio da imaginação sobre a inteligência;
(2) o predomínio da emoção sobre a paixão;
(3) a adaptabilidade instintiva.
-Pelo primeiro característico distingue-se, por contraste, do ego antigo, com quem se parece muito na rapidez da adaptação e na consequente inconstância e mobilidade.
-Pelo segundo característico distingue-se, por contraste, do espanhol médio, com quem se parece na intensidade e tipo do sentimento.
-Pelo terceiro distingue-se do alemão médio; parece-se com ele na adaptabilidade, mas a do alemão é racional e firme, a do português instintiva e instável.

A cada um destes tipos de português corresponde um tipo de literatura.

O português do primeiro tipo é exactamente isto, pois é ele o português normal e típico.

O português do tipo oficial é a mesma coisa com água; a imaginação continuará a predominar sobre a inteligência, mas não existe; a emoção continua a predominar sobre a paixão, mas não tem força para predominar sobre coisa nenhuma; a adaptabilidade mantém-se, mas é puramente superficial — de assimilador, o português, neste caso, torna-se simplesmente mimético.

O português do tipo imperial absorve a inteligência com a imaginação — a imaginação é tão forte que, por assim dizer, integra a inteligência em si, formando uma espécie de nova qualidade mental. Daí os Descobrimentos, que são um emprego intelectual, até prático, da imaginação. Daí a falta de grande literatura nesse tempo (pois Camões, conquanto grande, não está, nas letras, à altura em que estão nos feitos o Infante D. Henrique e o imperador Afonso de Albuquerque, criadores respectivamente do mundo moderno e do imperialismo moderno) (?). E esta nova espécie de mentalidade influi nas outras duas qualidades mentais do português: por influência dela a adaptabilidade torna-se activa, em vez de passiva, e o que era habilidade para fazer tudo torna-se habilidade para ser tudo.
s.d.

Sobre Portugal - Introdução ao Problema Nacional. Fernando Pessoa (Recolha de textos de Maria Isabel Rocheta e Maria Paula Morão. Introdução organizada por Joel Serrão.) Lisboa: Ática, 1979.

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quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Assessores não pesam no erário???!!!

Casualmente encontrei esta carta que, apesar de ter sido publicada há 28 meses, mantém actualidade não só nas autarquias mas principalmente nos gabinetes do Governo onde continuam a nascer decisões controversas que obrigam a recuos, apesar da quantidade de assessores que por lá enxameiam.

Assessores benéficos para o erário público
(Publicada no Destak em 26 de Julho de 2006, p. 15)

O cronista do Jornal de Arganil de 6 de Julho, Carlos Gordalina, de quem sou amigo, apresentou uma versão da sociedade actual, ironicamente, situada entre os «parlapatões», políticos, e os «pacóvios», os vulgares cidadãos. A forma como defende esta teoria parece inatacável e, na minha qualidade de «pacóvio», faço o meu acto de contrição por ter expressado algumas opiniões sobre a quantidade exagerada de assessores governamentais e autárquicos e as somas monstruosas que os dinheiros públicos gastam com eles. Eu estava enganado, mas agora confesso-me esclarecido pelas palavras elucidativas de edis da Câmara Municipal de Lisboa.

Maria José Nogueira Pinto diz que o assessor tem de merecer a confiança política do seu chefe e, por isso, tem de ser nomeado por escolha deste e não por concurso público. Sobre isto fiquei esclarecido!

Entretanto Fontão de Carvalho diz que apenas tem 18 assessores e que muitos estão em regime de recibo verde pelos quais são pagos 21% de IVA e 20% de IRS. Também fiquei esclarecido que quantos mais assessores houver, quanto maiores forem as suas remunerações, mais os cofres públicos são beneficiados por ser maior o quantitativo de IVA e IRS, até porque este acabará, no cômputo final, numa taxa muito superior aos 20%.

Estes dados vindos a público na imprensa de 13 de Julho constituíram um grande alívio para a minha condição de «pacóvio» e, proponho ao referido cronista que retoque a sua teoria de forma a ter em consideração várias gradações de «pacóvios». Depois das palavras dos «parlapatões», às vezes fica-se mais esclarecido!

Agora compreendo as razões de os «boys» estarem todos empregados, muito bem empregados, a ganhar currículo para altos voos e compreendo também que cada vez haja muito mais «boys» e quanto maiores forem os seus «salários» mais benefício resulta para a gestão dos dinheiros que pagamos em impostos e contribuições!!!.

E sendo «pacóvio» mas não me considerando estúpido, concluo também que, com tanta gente, qualquer problema, mesmo que de «lana caprina», demorará mais tempo a ser resolvido, para dar oportunidade a que vários assessores o ponderem devidamente e o mantenham mais tempo «debaixo de olho». No fim, maior irresponsabilidade haverá nas decisões superiores que afectam todos nós.

Cuidado, senhores «parlapatões», os «pacóvios» não são cegos, surdos e mudos e mantêm alguma capacidade de observar e raciocinar que expressam, enquanto não for abolida a liberdade de opinião e de expressão.

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Ideologias em processo de revisão?

Estamos habituados a pensar a politica sob um aspecto dicotómico, com duas visões diferentes e até opostas das relações entre o Estado e os cidadãos.

Numa dessas visões há o Estado paternal que pretende zelar em pormenor (saúde, habitação, emprego, alimentação, ensino, ócio, etc.) pelos interesses dos cidadãos, como se estes não passassem da menoridade, fossem crianças indefesas que precisam da mão do pai e da asa da mãe para poderem sobreviver. Esta visão edénica, mas castradora da livre iniciativa, opinião e gostos, da sociedade e do Estado, quando foi posta em prática teve de criar uma pesada estrutura de planeamento e controlo que se foi tornando cada vez mais volumosa e pesada, arrogante e autoritária de que resultou uma «nomenklatura» no topo que abusava na utilização de benefícios e regalias desmesuradas.

Na visão oposta, o Estado sobrestima as capacidades dos cidadãos, defendendo a sua liberdade de decisão, a livre iniciativa e concorrência, o salve-se quem puder. Segundo essa óptica, os pobres e desprotegidos encontram-se nessa situação porque não trabalharam mais, não produziram, não mereceram. Nada tem de humano e desconhece a compreensão e a caridade.

A natureza e a vida não funcionam a preto e branco, como estas visões sugerem, e não pode ser cingida à opção entre dois extremos que, se tecnicamente, pudessem ter explicação, na prática não fazem face à pluralidade das situações, as áreas cinzentas, a que as populações estão sujeitas.

Se o Estado paternal fracassou, o Estado da livre economia está agora à porta da agonia, com uma crise global que, para ser resolvida, está a levar os Estados da livre concorrência a usar os fundos dos contribuintes para suprir erros de desonestidade e crimes de poderosos que obtiveram fortuna à custa da população em geral (criando-lhe necessidades através de campanhas de marketing e hábitos de consumo e de recurso a crédito fácil que a explorava) e vão agora beneficiar do pouco que ainda resta aos mais desfavorecidos com as dificuldades que os asfixiam.

Nenhum dos extremos é moral e humano e os pensadores mais lúcidos estão agora a reflectir sobre a forma de estruturar um sistema eficaz de governar os povos. Não é por acaso que nos aparecem notícias como as que passo a referir, deixando links para os mais interessados poderem aprofundar a sua reflexão.

1. O "novo ciclo" da esquerda está em marcha
O Fórum sobre «Democracia e Serviços Públicos», organizado por Manuel Alegre terá a presença de pessoas dos vários quadrantes realizar-se-á na Aula Magna da Universidade de Lisboa e começa às 11 da manhã do dia 14, com um debate sobre economia.

2. Seguro estuda avanço contra Sócrates
Começaram as movimentações para o próximo congresso dos socialistas (Janeiro ou Fevereiro de 2009), e António José Seguro está a ponderar uma iniciativa própria para o próximo congresso do PS, com uma moção alternativa à de José Sócrates ou mesmo uma candidatura a secretário-geral.

3. PS: Seguro defende que responsáveis pela regulação devem ser eleitos pelos deputados
António José Seguro participou quarta-feira à noite, juntamente com o social-democrata Pedro Passos Coelho, num debate sobre as funções do Estado no século XXI, que encheu o auditório da Escola Superior de Gestão de Santarém. Seguro defendeu a eleição dos responsáveis pela regulação das actividades económicas e financeiras, nomeadamente na concorrência, através de voto secreto de todos os deputados, acabando com as nomeações por compadrio como a recente de Manuel Sebastião

4. Portas contra "República do Bloco Central"
Também no CDS estarão a surgir ideias de renovação constantes no Documento de Orientação Política. Neste documento, o "combate político" dos dois principais partidos (PS e PSD) é classificado como uma "crispação inútil e meramente adjectiva".

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Imunidade, irresponsabilidade

Tendo relido uma carta publicada em A Capital em 21 de Abril de 2005, p. 9, achei interessante trazê-la aqui para reflexão sobre temas actuais Como se referia a um caso dessa data, substituí essas linhas por referências mais recentes.

Constitui um princípio incontroverso que em democracia não há ninguém acima da lei, não há classes dominantes como havia nas aristocracias absolutistas. Porém, apesar de este conceito ser aceite e afirmado por todos, ele não é real em todas as circunstâncias e sofre atropelos em países em que era esperada maior democraticidade e modernidade, mas em que a classe política de grau mais elevado é ciosa da sua imunidade, impunidade e, por conseguinte, irresponsabilidade.

Todavia, surgem exemplos positivos em países que, por vezes, somos tentados a qualificar no grupo de menos civilizados, mas que dão lições de civismo. Na Coreia do Sul, em Outubro de 1995, o ex-Presidente Chun Doo Hwan, depois de anos antes ter sido obrigado a devolver ao Estado 3,3 milhões de dólares que familiares tinham recebido como suborno de firmas americanas, foi condenado à morte, apesar de ter chorado na televisão a pedir desculpas. Na mesma data, o também ex-Presidente Roh Tae-woo recebeu a pena de 22 anos e meio de cadeia. Ambos tinham desempenhado as funções com muita eficiência no tocante ao impulso para o desenvolvimento do seu País, mas tendo sucumbido à tentação da corrupção.

Nos dias mais recentes, surgiu a notícia de um antigo ministro alemão ter sido punido com ano e meio de prisão por abuso de confiança no âmbito de financiamentos ilegais. No Ruanda, o Supremo Tribunal inicia o julgamento de ex-Presidente após o genocídio de 1944. No Equador, o Congresso Nacional (Parlamento) destituiu o Supremo Tribunal de Justiça. Este caso constitui uma lição para Portugal em que o sistema de Justiça, é um órgão de Poder não democrático por não ser eleito, nem directa nem indirectamente, pelos cidadãos e por não prestar contas a nenhum órgão eleito democraticamente. Os seus erros (impunes) têm originado que o Estado tenha sido obrigado por sentença de tribunais internacionais a pagar pesadas indemnizações com o dinheiro dos contribuintes.

Em comparação com a pequena amostra citada de casos estrangeiros, no nosso País, acima do escalão Câmara Municipal, impera a impunidade total, apesar de os políticos, quer em campanhas eleitorais quer em debates parlamentares, se mimosearem com acusações e insinuações suficientemente explícitas. Alguns casos recentes: Quem pagou os custos da insistência não plenamente justificada do aeroporto na Ota? e da sua desistência com pagamentos à região do Oeste? E os custos das hesitações quanto ao aeroporto em Alcochete? E da ponte Chelas-Barreiro cuja ideia foi solenemente inaugurada com palanque, governantes, autarcas e outras figuras, em Chelas e cobertura das televisões, durante o governo de Guterres?. E da decisão e dúvidas da construção do TGV entre pontos nacionais? E os custos dos avanços e recuos na avaliação de professores com prejuízos na eficiência da formação dos alunos?

É frequente ouvir-se os políticos atirar críticas graves a instituições da Justiça e a instituições dependentes dos poderes democráticos, sem consequências visíveis, constituindo desrespeito que acaba por alastrar à população em geral, gerando um clima de indisciplina social em que ninguém respeita ninguém e todos desconfiam de todos, mesmo de conselheiros do Estado!. Sendo a Democracia difícil de aprender e de praticar, estes casos impunes desacreditam-na antes mesmo de ela se impor, mesmo que precariamente, nos espíritos das pessoas. Convém pôr em prática a regra de que em Democracia ninguém está acima da lei e que esta é geral e obrigatória. E que os responsáveis por cargos públicos devem orientar os seus procedimentos com sentido de Estado e pelos interesses nacionais em que se insere o desenvolvimento sócio-económico do Pais e o aumento do bem-estar dos cidadãos, detentores da soberania.

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quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Um cadete do Exército Argentino

REFLEXÕES CASTRENSES:
-Por Pedro Rafael Mercado, da Reserva do Exército Argentino.

O facto aconteceu no Colégio Militar da Nação. A Ministra da Defesa, Nilda Garré, encontrava-se a presidir à projecção de um filme-debate que pretende coroar a mudança cultural que prega, do seu Ministério para as Forças Armadas. Nesse sentido, vem trabalhando activamente Martin Grass, um ex(?)-dirigente montonero, que conduz actualmente o sector educacional da área castrense.

Terminada a projecção da película "Desobediência", um filme tendencioso que narra situações de guerra, onde soldados e graduados se negam a obedecer a ordens presumidamente imorais. O objectivo é: aprofundar a lavagem cerebral dos jovens Cadetes. O filme termina e um silêncio sepulcral instala-se no salão.
Tentando romper o gelo, com um sorriso irónico no rosto, a Dra. Garré toma a palavra e pergunta: Aqui não se aplaude, como nos cinemas?

Um Oficial pede a palavra e expressa, com atitude, com respeito e com muita convicção o que todos pensam: que independente do conteúdo, aquele não era o âmbito adequado para passar aquela película; que os Cadetes estavam-se formando na disciplina para operar na forma de uma guerra regular e que a película nada indicava nesse sentido. Definitivamente: não servia para nada.

A Ministra ainda não acabara de absorver essa bofetada intelectual, quando um simples Cadete faz uso da palavra, resumindo o sentimento generalizado:

-"Se estes são os valores que se pretendem impor para o novo Exército, eu peço baixa imediatamente".

E o salão explodiu num aplauso geral, que punha em evidência a magnitude do fracasso da política oficial, seguida pelos neo-montoneros. Queriam mudar a alma do soldado... e o espírito castrense permanecia inalterado. Dominando os seus nervos, Nilda Garré, já sem o sorriso inicial, interrogava-se como era aquilo de que no ambiente castrense não se costumava aplaudir.

É de esperar que os actuais Altos Comandos do Exército Argentino tenham anotado esta lição da história. E na hora de formular estratégias, não deixem de lado a sensibilidade, a coragem e o valor dos quadros médios da instituição, que menos comprometidos com as intenções do poder, parecem estar mais perto das verdadeiras soluções.

A Dra Nilda Garré é Min da Defesa desde 2005. Abrs Landeiro

NOTA: Por cá, também há ministros que pretendem governar CONTRA os agentes dependentes dos seus ministérios e não COM eles, sem perceberem os valores éticos e profissionais dos especialistas com quem estão a tratar. Temos, através de notícias dos jornais, visto isto no âmbito da Educação, da Saúde, da Justiça, da Defesa, da Administração Interna, etc.
Nenhum artífice evidenciará competência se não souber e quiser trabalhar COM as ferramentas de que dispõe. E os recursos humanos, principalmente os mais qualificados, não se compadecem com amadorismos.

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terça-feira, 25 de novembro de 2008

Carta aberta à ministra da Educação

Senhora Ministra da Educação

Começando pelo cumprir do mais elementar dever de apresentar as minhas desculpas por, sem que Vª. Excia me conheça, e só a conhecendo eu pela T.V., vir usar deste meio para lhe apresentar dois problemas que creio pertinentes, ouso justificar-me com o facto de ser um cidadão votante, já aposentado, sem ser do seu Ministério, pai de docentes, avô de discentes e também casado com uma docente aposentada.

Serei, provavelmente, algo presunçoso ao julgar-me em posição de poder focar os assuntos que irei expor. Creio, porém, que quarenta e quatro anos de serviço público, todos eles (à excepção do período de menos de um ano e pouco do serviço militar) face a face com algum semelhante meu, perante o qual representava o Estado, e sempre na difícil tarefa de, sob alguma forma, procurar compor litígios jurídicos em que com outrem estivesse envolvido, me terão dado alguma experiência da vida que, com a referida presunção, ouso colocar à disposição de Vª. Excia.

Assim, e passando ao que interessa, uma coisa, de todas as vezes que a vi ou ouvi, me impressionou profundamente. Foi ela o ar de cansaço e de quase tristeza que Vª. Excia manifesta e uma muito particular crispação no expor das suas razões, sugerindo uma aparente convicção de que quem à sua frente se encontra pertence à “espécie inimiga”, sempre à espera de a poder rasteirar.

Ora Vª. Excia tem, ninguém duvidará, uma mais que espinhosa missão de argumentar simultaneamente com professores e seus sindicatos, com pais e sua confederação e com alunos e suas associações e, ainda, com órgãos executivos das escolas e se conselho, cada um com seus interesses e suas dúvidas, cada um a desconfiar possivelmente de todos os outros. Não é preciso raciocinar muito para adivinhar um ambiente de “cortar à faca” com o ar carregado de electricidade. E em qualquer reunião, naturalmente, cada um exibindo o rosto mais lúgubre que imaginar se possa. Será uma verdadeira velada fúnebre.

Aqui surge, então, a minha primeira ideia. Será, por certo, necessário um grande esforço para o conseguir, mas um sorriso aberto, descontraído, inculcando a convicção de que todos têm as melhores das intenções, e até pode ser verdade, e de que tudo vai correr às mil maravilhas é desarmante. Creia-me, Senhora Ministra, poucas vezes consegui, na vida, ver as outras partes, face a um sorriso aberto “de orelha a orelha”, aguentarem afiveladas as máscaras que traziam.

Segundo ponto, Senhora Ministra, e mais atrevido, pois não é crível que o ignore quem, na sua vida anterior atingiu os patamares que Vª. Excia atingiu, não o podendo também eu desconhecer: se é facto que a progressão automática numa carreira com responsabilidades é o pior dos males na administração pública, uma classificação do servidor do Estado, que se impõe para efeitos de progressão na dita carreira, pode ser também uma arma letal, e digo-o com toda a consciência. Uma classificação dentro, por exemplo, de uma secretaria, não terá, em princípio, efeitos secundários. Simples juízo sobre produtividade ou perfeição no trabalho, pode envergonhar quem não alcance determinadas bitolas mas tenderá a ficar dentro de portas, A classificação, porém, de um docente, como a de um magistrado, de um médico, de um notário (quando era servidor do Estado) e de outros profissionais que, na sua actividade, só poderão ser credíveis e só poderão ser respeitados se tiverem impoluta a sua reputação, qualquer nódoa nesta corresponderá a uma morte, digo e repito, morte funcional. Quem respeitará um juiz, um médico ou um professor, ou respeitaria um notário, sabendo-o mal classificado? Quem irá ou iria procurar os seus serviços se tiver a faculdade de escolher?

Quererá isto dizer que o seu trabalho não deverá ser classificado? Nem por sombras. Mais que quaisquer outros deverão ser julgados, mas pelos reflexos práticos que a sua classificação terá perante os destinatários dos seus serviços, esta classificação deverá ser programada e executada “com pinças”, tendo toda a filosofia dessa classificação de ser pensada por todos sem excepção, em conjunto, sem ideias feitas e com a maior calma e reflexão.

De resto, e pelo menos desde Copérnico e de Galileu, quem poderá garantir que uma solução é a única?

Tudo querer fazer numa legislatura, e isto já nem será com a Senhora Ministra, só induz a convicção de que o apressado tem consciência plena de que, no momento do apuro de contas, o seu destino será a rua, o que o obriga a andar depressa para tentar um lugarzinho na História.

Mas quem sabe se, numa manhã de sexta-feira, com ou sem nevoeiro, não irá surgir, ainda este mês, qual D. Sebastião, alguma novidade que possa devolver às nossas escolas aquele mínimo de calma que os seus alunos justificam.

E desculpe, uma vez mais, Vª. Excia toda a mais que evidenciada presunção.

deste humilde votante que, até aqui, o foi
João Mateus

NOTA; Caro João Mateus, não tenho palavras para traduzir o prazer da leitura de um texto em estilo tão eloquente e bem estruturado. Mas quero salientar um ponto: embora não seja dito de forma muito clara, está subentendido que todas as negociações e reuniões entre as partes em «conflito» não deixarão, certamente, de ter permanentemente presente os objectivos da acção de todas e de cada uma das entidades abrangidas como agentes da formação das crianças de hoje, cidadãoas de amanhã.
A obsessão estatística dos resultados escolares oculta esses objectivos que devem ser orientados para criar um corpo sólido de cientistas, gestores, técnicos, etc. preparado para garantir o desenvolvimento do futuro País e o bem-estar da população. Nunca será demais chamar a atenção para os reais objectivos do ensino. A propósito da tristeza e crispação, julgo que a educação das crianças deve ser feita com alegria, entusiasmo, e olhos postos na aprendizagem de coisas enriquecedoras propiciadoras de uma vida cheia de sucessos.

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segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Um tema para meditar

O filósofo romano Séneca (4 aC - 65) deixou-nos, entre muitas preciosidaes sobre a criatura humana, o seguinte pensamento:

A maldade bebe a maior parte do veneno que produz

Todos conhecemos casos em que os espíritos obcecados em fazer mal a outros nunca conseguem adquirir a paz interior que lhes permita sentir-se felizes. A sua fixação na maldade envenena-lhes o raciocínio (se ainda o têm) e entram numa espiral que os destrói.

Quando, hoje, dei com este pensamento, recordei uma série disparatada comentário9s impróprios e provocadores ocorrida no início deste ano no blog A Voz do Povo e nos meus. Ocasionaram um post de alerta naquele blog em 13 de Março e outro no dia seguinte nos meus blogs, que podem ser consultados.

O indivíduo que provocou esse mal-estar, voltou a querer complicar a vida dos bloguistas, por razões que se desconhecem, mas que se vão descortinando, com a insistência das suas estranhas manifestações.

Será bom para a estabilidade mental que, se conseguir, pense um pouco na frase de Séneca e se contenha nos seus ódios e iras.

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domingo, 23 de novembro de 2008

Reacção de um País

Fruto fatal dos anos que se vão acumulando, surgem-me, cada vez mais, de supetão, no ecrã da memória, frases vindas dos tempos da juventude, daqueles saudosos tempos em que éramos obrigados a saber de tudo um pouco, ao contrário dos dias de agora, em que a NET lá está para nos informar, se nos informar, e com a condição, apenas, de sabermos o que é que lhe queremos perguntar…

Foi assim que, por estes dias, me veio à superfície uma velha “lei”que dizia que causas idênticas, em condições idênticas, produziam, ou tendiam a produzir, idênticas consequências, só que sendo, realmente, uma mais que remota recordação, não terá sido sem um porquê que ela me surgiu do baú das recordações.

Trouxe-a à tona, na verdade, o “facto” do momento, a vitória de Obama nos “States”, e surgiu a ligar dois momentos e dois locais diferentes. Sendo um dos factos, necessariamente, essa vitória é o outro uma vitória muito semelhante em Portugal: a de Sócrates na sequência do desgoverno que o antecedera..

E não será uma possível semelhança de ideais políticos entre ambos que me leva a olhá-los em conjunto. O que me move nessa ligação é a circunstância de, numa como na outra, e sem querer retirar mérito a qualquer dos vencedores, o factor mais relevante dessas vitórias, que não podiam deixar de acontecer, ter sido a acção ou a inacção dos verdadeiros vencidos, e digo assim porque, nos Estados Unidos, quem realmente foi vencido foi todo um demasiado longo governo de Bush Jr., e não o candidato à eleição que soube perder com a maior dignidade.

Seja qual for a soma das virtudes dos vencedores, a verdade é que as suas vitórias nunca poderiam ter sido tão expressivas se os seus antecessores não tivessem sido quem foram, particularmente no caso de Obama que, há meio ano, ninguém ousaria antever Presidente….dos Estados Unidos.

Santana Lopes soube unir a vontade de um País no sentido de o mandar embora, tal como Bush conseguiu unir aos democratas a parcela dos americanos que tradicionalmente não acreditam que haja político que justifique a maçada de ir votar e que, desta vez, entenderam que se impunha fazê-lo, e até mesmo uma fatia dos tradicionais republicanos, já farta de um governo absolutamente autista e desejosa de algo de novo, virado para os interesses do povo, que não para meros mitos da economia.

Será que este gesto higiénico que põe fim a uma política desastrada para a América e para o Mundo virá transformar tudo num Éden? Obviamente que apagar quanto de mau se fez no seu país com as políticas aí seguidas e, no resto do Mundo, com as políticas aí induzidas, seria uma obra impossível para oito anos de mandato que sejam. Basta olhar para os danos ambientais causados pelo aquecimento global, em boa medida resultantes da cegueira bushiana nessa matéria, vetada que foi pelo capitalismo selvagem, a que sempre esteve vendido, qualquer medida que pudesse aumentar as despesas ou diminuir os lucros dos detentores do capital.

Mas, por muito verdadeiro que tudo isto seja, o que não deixa dúvidas é que algo tinha de mudar e sem ser para que tudo continue na mesma.
Estará, porém, Obama à altura da tarefa que o espera? Será que as maiorias que, entre nós, se denominam maiorias absolutas e, lá, residem na convergência política da Presidência e das duas Câmaras não são portadoras de graves riscos para uma sã democracia? Restarão dúvidas de que o ter “a faca e o queijo na mão”, sendo essencial para a realização de um programa coerente, pode ser também o “caldo de cultura” ideal para o posso, quero e mando gerador de todos os abusos? Abstraindo da generalização que encerra, não teria um fundo de razão o geógrafo e pensador anarquista francês Elisé Reclus ao afirmar que “é uma lei da natureza que toda a árvore dá o seu fruto natural, que todo o governo floresce e frutifica em caprichos, tirania, usura, infâmias, morticínios e desgraças”, desde que o deixem, acrescento eu?

Do poder absoluto de mandar, da necessidade íntima de mostrar esse poder aos insubmissos, da convicção de que se é dono exclusivo da verdade e da razão, do esquecimento de que o poder de que num determinado contexto se dispõe não é de origem divina mas provém de um mandato popular, concedido com base na confiança em promessas mil de dedicação à defesa dos interesses do mandante, não estarão, neste momento, entre nós, pais, professores, estudantes a sofrer consequências que não se sabe aonde poderão chegar? Não estará também a massa anónima dos contribuintes a perguntar a si própria se o seu dinheiro não irá servir para “indemnizar” especuladores mergulhados em mais que duvidosos investimentos da alto risco, escondidos atrás de pequenos depositantes e aforradores, esses sim a justificar a protecção do Estado?

Questões importantes, por certo, mas que muito longe nos levariam…

Para já, certo é apenas que, lá como cá, foi pronunciada uma sentença popular que condenou um estilo de exercício do poder a que urgia pôr fim. Do resto, só o tempo permitirá julgar, não se podendo, porém esquecer que, cá, o novo veredicto se aproxima a passos largos.

De momento, só nos resta ao “God bless America”, de Irving Berlin, acrescentar um “God bless the World” e, à cautela, ir “fazendo figas” para que se não venha a, por desmedido orgulho, gerar por aqui alguma nova “reacção” de contornos desconhecidos que possa redundar no divórcio entre o eleitorado e a classe política, sempre passível de consequências dramáticas de que a História regista exemplos, e que possa tornar baldados quantos sacrifícios nos foram e estão a ser exigidos em nome da correcção do “défice orçamental”.

João Mateus

NOTA: Caro João Mateus, do alto da tua quase vetusta idade e do muito saber fermentado na experiência de uma profissão consolidada em contactos diversificados, pareces um oráculo, deixando em aberto muitos temas para reflectir e definir dúvidas que buscam respostas assentes em sérias análises.
Obrigado por mais esta douta colaboração para este modesto espaço que fica à espera de mais textos com o teu habitual timbre.

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Democracia não significa apenas eleições

A partir da 01:00 de hoje ouviram-se vários tiros e explosões de granadas em Bissau, próximo da zona da residência do presidente "Nino" Vieira, com pequenos intervalos. Ver aqui e aqui .

Soube-se depois que a residência do Presidente da Guiné-Bissau foi cercada e atacada por dezenas de soldados fortemente armados, alguns com lança-"rockets", que se confrontaram com a segurança de "Nino" Vieira. Fonte da Lusa referiu que "Nino" Vieira "está bem, mas em parte incerta".

Mais tarde soube-se que as forças de segurança ao serviço do Presidente da Guiné-Bissau conseguiram "suster o ataque" contra a residência de "Nino" Vieira e a situação estava "sob controlo", tendo havido um segurança morto.

Nenhuma autoridade guineense, civil ou militar, nem as estações de rádio forneceram qualquer informação sobre os acontecimentos.

Pouco depois de se ouvirem os primeiros tiros, os bares e discotecas de Bissau começaram a encerrar e as pessoas regressaram a casa. Alguns militares foram vistos nas ruas a "mandar as pessoas para casa".

A situação parece estar normalizada, mas o movimento se viaturas está controlado.

A DEMOCRACIA é um regime político que, na realidade, não deve confinar-se a eleições periódicas. Se os governantes não governam para o povo, no sentido de procurar melhorar as condições de vida, se os políticos ignoram as mais simples regras democráticas e usam de autoritarismo, arrogância, teimosia, na imposição de condições inaceitáveis, se apenas procuram conquistar o poder e aguentar-se nele por qualquer meio, se o seu principal objectivo é conseguir fortuna pessoal, em vez de verdadeira democracia, não será democracia mas, sim, uma DITADURA a termo certo, com tentações de golpes que a tornem permanente.

Há uma semana, realizaram-se eleições legislativas na Guiné-Bissau, que decorreram normalmente e foram ganhas com maioria absoluta pelo Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC).

Segundo os resultados provisórios, o PAIGC elegeu 67 deputados, o Partido Renovação Social (PRS), do ex-presidente Kumba Ialá, ficou em segundo lugar com 28 deputados e o Partido Republicano da Independência para o Desenvolvimento (PRID) em terceiro ao conseguir três deputados.

O Partido da Nova Democracia e a Aliança Democrática elegeram um deputado cada.
Sexta-feira, Kumba Ialá foi impedido de sair do país e a Procuradoria-Geral da República anunciou que "Nino" Vieira tinha apresentado uma queixa-crime contra o líder do PRS, que durante a campanha eleitoral acusou o chefe de Estado de estar ligado ao tráfico de droga.

Também a democracia das Honduras, a poucos dias das eleições primárias, foi abalada prelo assassinato do vice-presidente do Parlamento das Honduras, Mario Fernando Hernandez, e do candidato a deputado Marcos Collier que o acompanhava, levado a cabo por homens encapuzados em San Pedro Sula, no norte do país. Hernandez e Collier pertenciam à facção do actual presidente do Parlamento, Roberto Micheletti, no seio do Partido Liberal (PL, conservador), que devia organizar eleições primárias a 30 de Novembro.

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sábado, 22 de novembro de 2008

Sobre o perfil de um ex-ministro

Neste espaço, evito defesas ou acusações de pessoas ou forças políticas, e procuro circunscrever as apreciações aos conceitos aplicáveis a casos reais. Defendo o respeito por valores e princípios e pelos interesses nacionais e repudio contradições ou actos que pareçam negativos.

Dentro desta orientação, transcrevo uma parte do artigo do DN de hoje «Uma explicação curiosa», por encontrar nela algo de muito estranho e porque, possivelmente, se poderá aplicar, de uma forma ou de outra, a outros políticos governantes ou com aspirações a sê-lo.

«Dias Loureiro, na entrevista a Judite de Sousa (já que o PS não o quer no Parlamento), disse coisas pouco habituais num homem experiente, ex-ministro, gestor de sucesso. Sobretudo, repetiu "não sei", "não sabia", "acreditei", "era o que me diziam", "não achava nada".

Esclareceu ainda que no BPN "não havia reuniões" (supõe-se que da Administração do banco) e que Oliveira e Costa "falava (despachava?) individualmente" com cada colaborador. O mais que a sua atenção conseguiu foi "ouvir vozes", um "bruáaa", detectar "ali um certo mal-estar", o que até o levou em Abril de 2001 a referir isso mesmo a um elemento do Banco de Portugal.»

Sobre o mesmo assunto o artigo do JN «Dias Loureiro: "Nunca cometi qualquer crime"», diz que o ex-administrador da Sociedade Lusa de Negócios (SLN), ex-detentora do BPN, nunca teve conhecimento de alegadas fraudes e que sempre confiou em Oliveira e Costa. E declarou, na Grande Entrevista da RTP1, "nunca fiz nada que possa constituir crime. Estou de consciência tranquila". E referiu-se a Oliveira e Costa como um "homem brilhante, inteligente e trabalhador incansável", acrescentando que não acredita que este tenha agido em benefício pessoal. Porém, perante os primeiros rumores que punham em causa a gestão do grupo reuniu-se com o vice-governador do Banco de Portugal para que este "estivesse atento" ao BPN. Não porque desconfiasse de alguma coisa, mas para estar mais tranquilo (!).

O título do artigo do JN «BPN: Miguel Beleza tratou de encontro entre Dias Loureiro e António Marta mas não confirma a sua realização» dispensa explicações. Mas, segundo notícias mais recentes, António Marta do BdP nega que tenha havido tais contactos.

Um administrador que afirma claramente "não sei", "não sabia", "acreditei", "era o que me diziam", "não achava nada", como justifica o salário e as benesses que estava a usufruir por estar a desempenhar nominalmente tal cargo? Onde está a sua moralidade? Como se pode compreender que uma pessoa com o seu currículo oficial e com o cargo por que estava a ser pago, tenha alertado o Banco de Portugal, sem nada de concreto saber e apenas baseado em "ouvir vozes", um "bruáaa", detectar "ali um certo mal-estar"?

O mais curioso é que desempenha as funções de conselheiro de Estado para que foi convidado e, questionado sobre se vai manter-se nelas, limitou-se a afirmar que "o lugar está sempre à disposição do presidente da República". Quer dizer que ele, vivendo alheado, indiferente e guiando-se apenas por rumores e vozes, sem procurar merecer o dinheiro que ganha, sente que não tem obrigação ética de pedir a exoneração do cargo político que desempenha, remunerado por todos os contribuintes?


Trata-se de um perfil curioso, que poderá não ser único no panorama nacional em que ele se insere ou inseriu.

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sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Portugueses são dos mais infelizes da Europa

A felicidade é algo de muito subjectivo, também expressa pelos termos alegria, júbilo ou contentamento e, por isso difícil de medir e comparar. Trata-se de um sentimento humano de bem-estar, euforia, empolgação, paz interna, sendo o seu oposto a tristeza. Os sentimentos, de uma forma genérica, são informações que seres biológicos são capazes de sentir nas situações que vivem.

Segundo o artigo do DN, «
Só búlgaros e letões são mais infelizes que os portugueses». Dada a subjectividade do tema, esta conclusão não é um palpite, mas resulta de um inquérito sobre a qualidade de vida dos europeus A felicidade média da população da UE - calculada a partir das respostas de 35 mil cidadãos europeus em idade adulta, de 31 países europeus - ronda os 7,5 pontos, na escala de um a dez. Os portugueses nas respostas ao inquérito situaram-se na cauda da Europa dos 15 onde a media é de 6,9 pontos. Mais infelizes, depois dos portugueses, apenas os letões e os búlgaros. Os três países no topo da lista da felicidade da EU são Dinamarca, Suécia e Finlândia.

O inquérito agora divulgado por uma Agência da UE está integrado num estudo da Fundação Europeia para a Melhoria das Condições de Vida e de Trabalho (Eurofound), ontem divulgado.
O estudo evidencia, como é do sentimento geral, que indivíduos com ordenados elevados, emprego seguro e um nível elevado de educação são os que se dizem mais felizes na vida. Pelo contrário, as pessoas que não podem pagar pelas necessidades básicas, não podem deixar de se considerar infelizes.

Para poder chegar a conclusões numéricas, o inquérito foi realizado em 31 países em toda a Europa entre Setembro de 2007 e Fevereiro de 2008 e abrangeu aspectos como qualidade de vida, atitude face ao futuro, condições de vida e de experiência de vida, grupos sociais e demográficos, idade, rendimentos, relações familiares e saúde (acesso, distância a hospitais e a médicos, seu custo, atrasos), e outros.

Daqui se conclui que o rectângulo lusitano constitui um óptimo desafio para os governantes e demais políticos mostrarem o que valem na consecução do objectivo de elevar a posição de Portugal entre os seus parceiros europeus. É certo que os sentimentos pertencem ao mais íntimo das pessoas, mas tais sentimentos, como mostra o referido estudo, dependem de muitos factores cuja melhoria está ao alcance de governantes e autarcas. Os portugueses devem observar mais os actos do que as palavras dos seus eleitos, a fim de concluírem do seu grau de desempenho das funções que lhes foram delegadas. As árvores avaliam-se pela quantidade e qualidade dos seus frutos, e é assim que os cidadãos devem olhar para os eleitos.

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quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Ex-governante a contas com a Justiça

Segundo a notícia do JN online «Oliveira e Costa já está no Tribunal de Instrução Criminal» , o ex-banqueiro e ex-presidente do BPN, suspeito de vários actos delituosos, saiu de uma das suas casas, no centro de Lisboa, pela porta da garagem, ao início da noite, escoltado por quatro agentes da autoridade em direcção ao Tribunal Central de Instrução Criminal onde será submetido a um primeiro interrogatório judicial. Foi detido após buscas feitas pelo Ministério Público, Inspecção Tributária e pela Guarda Fiscal às suas residências.

O antigo banqueiro, que dirigiu o BPN entre 1998 e 2008, foi constituído arguido, por suspeitas de burla, branqueamento de capitais e fraude fiscal. Em Fevereiro último demitiu-se, invocando razões de saúde, das funções de presidente do grupo Sociedade Lusa de Negócios/BPN que exercia desde 1998.

Este caso suscita dois tipos de comentário:

O primeiro é que ser governante ou ex-governante não é garantia de seriedade, honestidade, carácter, patriotismo, etc. Esta conclusão responde em grande parte ao espanto do Sr. Presidente da República em relação ao desinteresse dos jovens pela política. Esta não atrai pessoas que prezam os valores e princípios éticos.

O segundo comentário é positivo pois contraria o sentimento negativo reinante entre os portugueses de que em Portugal só são chamados aos tribunais os que não usam gravata! Há quem diga que o Dr. Vale Azevedo é uma excepção, havendo piores à solta. Agora este sentimento poderá ser revisto, a não ser que o crime prescreva, ou haja falta de provas, ou se houver condenação esta seja com pena suspensa como um caso recente, com um político de autarquia. O futuro dirá.

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quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Contas partidárias sob suspeita

O presidente da Entidade das Contas e dos Financiamentos Políticos (ECFP) (que é o braço técnico do Tribunal Constitucional para a fiscalização das contas políticas) demitiu-se, em ruptura com o presidente do Tribunal Constitucional (TC) de quem dependia directamente.

Parece que tal atitude assenta na falta de solidariedade do presidente do TC relacionada com entendimentos diferentes das leis do financiamento. O comunicado do TC, diz que «considera cessadas as funções que o sr. dr. José Miguel Fernandes vinha exercendo como presidente da ECFP» sem nada esclarecer sobre os motivos da demissão, que ficaram por explicar, mas devem ser significativos dado que o presidente da ECFP estava a pouco mais de dois meses do termo do seu mandato (final de Janeiro de 2009).

Segundo a notícia do DN, crise na fiscalização das contas partidárias, «o primeiro sinal de algo não ia bem surgiu quando os dois organismos tiveram entendimentos diferentes sobre as contas da candidatura presidencial de Mário Soares (2006). Se o entendimento da ECFP «tivesse vingado, a irregularidade da candidatura seria punível com pena de um a três anos de prisão».

Enfim, embora muito se fale de democracia e na consequente transparência de procedimentos e subordinação à lei, que deve ser geral e obrigatória, há muita coisa na vida dos partidos que é oculta a sete chaves dos cidadãos contribuintes e eleitores, sendo retirada a estes informação sobre a forma como os seus eleitos desempenham o papel de que foram mandatados pelo povo soberano.

Afinal, as irregularidades lesivas do interesse colectivo nacional, não são privilégio dos suspeitos do «apito dourado», da «operação furacão», dos «no name boys», etc. É desejável que os políticos se comportem com exemplaridade, para merecerem a confiança dos seus eleitores e para darem exemplo a todos os cidadãos de comportamento impoluto. Com irregularidades (mesmo que não sejam reais, basta a suspeita), de nada vale o Presidente da República dizer que é preciso os jovens estarem mais interessados pela política. É que os mais válidos do ponto de vista intelectual, cultural e de culto de valores morais, não vêm nela nada de atractivo. De entre as reformas gerais da vida do País, a das mentalidades e dos comportamentos dos políticos, é essencial e não pode ser postergada.

Como seria bom que os políticos portugueses usassem da seriedade, franqueza e transparência de que deu exemplo Isaura Gomes, presidente da câmara de S. Vicente (Cabo Verde), referida no post Mais uma lição do dito «Terceiro Mundo».

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2.º Aniversário

Este blogue completa hoje dois anos de existência. Nasceu de uma tentativa, por curiosidade, depois de cerca de 3 meses a colaborar em A Voz do Povo, para onde fora convidado por Víctor Simões. Sem conhecimentos suficientes de informática, os erros sucederam-se, os acidentes de percurso não faltaram, mas não desisti, fui coleccionando experiência. O maior acidente ocorreu, ao segundo mês e só foi ultrapassado com a valiosa ajuda do amigo Leão Pelado e, por seu intermédio, da dica de um engenheiro informático indiano a trabalhar na Califórnia para a Microsoft, na criação de programas para novos chipes. A generosa ajuda de Leão Pelado prolongou-se e mantém-se, pelo que tenho para com ele uma grande dívida de gratidão. Também recebi dicas de outros amigos virtuais a quem estou agradecido.

Mas a existência de um blogue não depende apenas de técnica, mas também dos visitantes e principalmente dos comentadores que constituem um estímulo ao ajudarem a melhor esclarecer o tema do artigo, com achegas adequadas. Também estou grato aos visitantes que me enviaram material que me inspirou e sugeriu novos artigos. Por isso, neste momento de reflexão sobre o percurso realizado, agradeço a todos a sua colaboração nesta obra que desejo ser um contributo útil para se pensar com mais profundidade em tudo o que possa tornar melhor a imagem de Portugal, com mais bem-estar para todos os cidadãos. A vida dos nossos descendentes merece que, agora, façamos tudo quanto possamos em seu benefício real. Para isso não podemos esquecer o respeito por valores enformadores de uma sociedade mais humana, mais justa e mais potenciadora de felicidade.

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terça-feira, 18 de novembro de 2008

O PM e um ministro com berbequim!!!

A vergonha de não ter vergonha na cara
Por João Miguel Tavares, Jornalista - jmtavares@dn.pt

Há quatro anos, o administrador do Banco de Portugal Manuel Sebastião foi procurador do administrador do Banco Espírito Santo Manuel Pinho na compra de um prédio em Lisboa. Esse prédio era propriedade do Banco Espírito Santo, tendo Manuel Sebastião servido de intermediário numa compra entre o BES e um administrador do BES. Manda a boa prática que um administrador de um banco não se envolva em negócios pessoais com o próprio banco que administra. E manda a lei que o Banco de Portugal supervisione o funcionamento do Banco Espírito Santo.

Manuel Sebastião viria mais tarde a adquirir um apartamento nesse prédio, entretanto remodelado. Em Março deste ano, o ministro da Economia Manuel Pinho nomeou Manuel Sebastião presidente da Autoridade da Concorrência. A lei exige que a Autoridade da Concorrência seja um "regulador independente". A possibilidade de ela entrar em conflito com o Governo é elevada, sendo no mínimo discutível que um ministro nomeie um amigo pessoal - e seu inquilino - para desempenhar tal cargo. Certamente por achar que não havia nada para esclarecer neste caso, o Partido Socialista chumbou, na sexta-feira, a audição a Manuel Pinho e Manuel Sebastião no Parlamento, pedida pelo CDS-PP.

Estes são os factos. Confrontado com eles, o que é que o primeiro-ministro de Portugal decidiu comunicar ao País? Que não encontra no que foi publicado "nada que seja contra a lei". O que até é bem capaz de ser mentira, mas admitamos que possa ser verdade. Só que José Sócrates não ficou por aí. E acrescentou também não ter encontrado "nada que seja criticável do ponto de vista ético". Ora, isto são declarações absolutamente vergonhosas, e só mesmo por vivermos num país onde a mentira na política é aceite com uma espantosa tolerância é que um primeiro-ministro pode dizer uma barbaridade destas e sair de mansinho.

Se José Sócrates encontrasse um dos seus ministros a tentar arrombar um cofre com um berbequim diria aos jornais que ele estava só a apertar um parafuso. Afinal, também no caso da sua licenciatura o primeiro-ministro não viu nada de eticamente duvidoso nem de moralmente reprovável. Ora, o que me faz impressão não é que esta gente que manda em nós atraia a trafulhice como o pólen atrai as abelhas - isso faz parte da natureza humana e é potenciado por quem frequenta os corredores do poder. O que me faz impressão é o desplante com que se é apanhado com a boca na botija e se finge que se andava só à procura das hermesetas. É a escola Fátima Felgueiras, que mesmo condenada a três anos e meio de prisão dava pulinhos de alegria como se tivesse sido absolvida. Nesta triste terra, parece não haver limites para a falta de vergonha.

NOTA: A esta transcriçã0, julgo oportuno esclarecer o Sr jornalista João Miguel Tavares que Manuel Sebastião é considerado pelo ministro como a pessoa em Portugal melhor preparada para o desempenho de tão difícil cargo, porque estudou na mesma universidade em que se formou Barack Obama.
Está a perceber? Ou quer meter explicador?

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Magalhães. É difícil acreditar!

Segundo notícia do JN de hoje, «no passado dia 12 de Novembro, o primeiro-ministro deslocou-se a Ponte de Lima para inaugurar duas escolas e entregar Magalhães aos 185 alunos da Escola do Freixo e 74 aos alunos de Refóios. A distribuição foi feita pelo próprio José Sócrates e os miúdos não esconderam a sua alegria.»

Porém, inacreditavelmente, ontem veio a saber-se que, depois da comunicação social ter registado o momento e os governantes se terem ido embora, os alunos tiveram que devolver os computadores que tinham recebido.

Custa-me a acreditar, porque, a ser verdade, a cerimónia de entrega dos «notebooks» da Intel não passaria de uma farsa teatral, uma palhaçada, com fins de propaganda. O PM, com toda a sua sabedoria e lucidez de espírito, não cairia em tal acto de logro perante a Comunicação Social e, através dela, perante o povo português.

Mas já há tempos veio uma outra notícia também estranha em que é difícil acreditar. Numa cimeira ibero-americana em País da América Central, em que era suposto analisar e adoptar medidas de alto relevo internacional para benefício dos povos ali representados, apareceu alguém que, em vez de fazer uma comunicação de alto pendor estratégico, fez propaganda do «notebook» da Intel a que foi posta a alcunha de «Magalhães», em estilo de autêntico vendedor da banha de cobra da Feira da Ladra. Resta saber se aos assuntos de alto interesse para os presentes foi dado igual tempo e ênfase. Terá sido verdade??? Terão os órgãos da Comunicação Social inventado estes casos?

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O nosso PM é um prodígio

Pronto!
Agora é que fiquei convencido de que o homem é mesmo engenheiro. E prodigioso!

Fenómeno - José Sócrates acompanhou com três anos de idade as presidenciais norte-americanas. Bebés assim só em Vilar de Maçada.

As palavras são do primeiro-ministro José Sócrates na extensa entrevista que concedeu no último fim-de-semana:
'Sou, digamos assim, da geração Kennedy. Essa eleição representou já um momento histórico. Lembro-me do debate que houve na América quando, pela primeira vez, um católico se candidatou a presidente. O próprio Kennedy teve de vincar bem que nunca receberia ordens do Papa enquanto presidente dos EUA. Lembro-me bem do que isso significou.'

Nos meios socialistas, e não só, estas palavras causaram espanto ou perplexidade. O caso não é para menos: se a biografia oficial está correcta, José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa nasceu no dia 6 de Setembro de 1957 em Vilar de Maçada, concelho de Alijó, distrito de Vila Real. E John F. Kennedy foi eleito presidente dos EUA em Novembro de 1960, com uma vantagem de 112 881 votos sobre o republicano Richard Nixon. Isto é, nesse tempo José Sócrates tinha três anos de idade.

Perante estes factos, há quem entenda que o primeiro-ministro é um sobredotado. Mas há quem tenha outra explicação para este facto extraordinário. A certidão de nascimento pode ter sido adulterada por alguém ou o registo ter sido feito mais tarde e Sócrates ser mais velho do que pensa.

António Ribeiro Ferreira, correioindiscreto@correiomanha.pt
Recebido por e-mail

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Falsos intelectuais

Dois artigos do DN de hoje dão uma ideia da inutilidade das análises de pretensos intelectuais que lançam poeira para os olhos dos seres humanos, através de livros e de artigos de revistas especializadas que parecem não passar de sinais exteriores de intelectualidade balofa.

O professor universitário Adriano Moreira refere o número de Novembro de 2007 do Asia-Europe Journal que sendo dedicado a vários aspectos do tema corrente do globalismo, aborda a Europa como exemplo de referência para uma sociedade aberta global, a Ásia a ressurgir e a China a impor-se no Comércio Internacional.

Porém, curiosamente, nenhum dos articulistas se ocupa de previsão e acções no sentido de enfrentar a crise financeira com que o globalismo se depara e que está a preocupar seriamente todo o mundo. Esta ausência torna vazio de conteúdo de interesse todo o exercício intelectual derramado nas páginas da publicação. Estava-se a poucos meses da erupção do acontecimento, que já devia ter sido objecto de análises com propostas de medidas para o evitar. Estamos perante a «falência das análises».

Um outro aspecto que justifica o título deste post assenta no artigo do Dr. Mário Soares que considera que a última reunião do G20, foi uma cimeira sem resultados? Com efeito, os responsáveis nela participantes e os «intelectuais» que os apoiam, não conseguiram, em devido tempo, rever o sistema financeiro mundial, não se aperceberam dos seus pontos fracos ou, se os notaram, não quiseram ou não conseguirem remediá-los antes da eclosão da crise global e, depois de esta ter alastrado por todo o Planeta, não se mostram com capacidade de definir as melhores medidas para reestruturar o sistema financeiro global e restabelecer a confiança dos agentes económicos a todos os níveis. E destas incapacidades resultou não haver resultados práticos da cimeira que, com a deslocação de altas entidades de muitos países, a cimeira ficou cara aos contribuintes, agravando-lhes os efeitos nocivos da crise.

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segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Utilidade da crise!!!

Ao lado dos graves e variados inconvenientes da crise financeira global que está a preocupar toda a gente, ela tem a utilidade de oferecer uma oportunidade rara de rever sistemas e tornar mais correctas as finanças internacionais, estatais e privadas.

São sempre os momentos críticos que despertam as pessoas da letargia a que foram conduzidas por rotinas que, tendo sido lógicas e coerentes à nascença, se tornaram desajustadas perante a evolução e o progresso das sociedades e das tecnologias. Esse despertar obriga a rever profundamente o sistema e a substituí-lo por um novo, mais adequado ao presente e ao futuro previsível e devidamente inspeccionado afim de evitar desvios perversos que possam criar mais crises. Este aspecto está focado na notícia do DN que refere que da cimeira do G20 saiu um acordo de princípio que rompe impasse de muitos anos.

A nível dos Estados, deverá ser definida a sua interferência na denominada «economia de mercado» e o esquema de inspecção permanente que detecte, com oportunidade, desvios ocasionais e os corrija antes de explodirem em catástrofes. Também, quanto à economia dos Estados (ou da UE) e às reformas internas, o DN traz hoje um outro artigo que diz que Capoula Santos tenta fazer aprovar revolução da PAC.

Ao nível privado, das pessoas e das famílias, já são visíveis efeitos de medidas correctivas para fazer face à situação actual e previsível. Está a notar-se a revisão das prioridades de gastos, definindo o que é realmente necessário e o que é supérfluo e pode ter prioridades remotas.
A substituição do carro pelos transportes públicos é notada pela Brisa que vê reduzidas a receitas das portagens e pela menor intensidade do trânsito nas estradas suburbanas. As gasolineiras afirmam que, apesar da baixa dos combustíveis, a queda das vendas não é travada.

Também os restaurantes e as lojas estão a facturar menos, estando já em curso promoções com boas reduções de preços, para atenuar a redução de vendas na época de Natal que se afigura preocupante.

As pessoas já concluíram que não é sensato continuar a viver acima das posses, que não é racional gastar tanto com despesas supérfluas, nem serem arrastadas pelo consumismo e pela ostentação. Estão a notar-se sinais de bom senso na gestão das economias domésticas, sinais de que as pessoas estão a raciocinar e a fazer contas.

Porém, estas precauções das pessoas criarão, sem dúvida, dificuldades às empresas, principalmente aquelas que prestam serviços dispensáveis ou menos prioritários. O desemprego poderá aumentar, o que não é desejável. Mas não há nada que não tenha vantagens e inconvenientes.

Tenhamos esperança que os economistas, que não conseguiram prever e evitar a crise, saibam agora reduzir os seus inconvenientes e preparar um futuro mais seguro, menos arriscado, com mais segurança social, melhor e mais justa distribuição de benefícios e de riscos.

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domingo, 16 de novembro de 2008

Viver completamente

Eu preferiria ser um honesto falido que um corrupto de sucesso.

Antes de falar, escute. Antes de escrever, pense. Antes de gastar, ganhe.
Antes de julgar, espere. Antes de rezar, perdoe. Antes de desistir, tente.

Na busca por mim, descobri a verdade. Na busca pela verdade, descobri o amor.
Na busca pelo amor, descobri Deus. E em Deus, tenho encontrado tudo.

Enquanto navega pela vida, não evite tempestades e águas bravias.
Apenas deixe-as passar.
Apenas navegue.
Lembre-se sempre: mares calmos não fazem bons marinheiros.

O mais importante em qualquer jogo não é vencer, mas participar.
Da mesma forma, o mais importante na vida não é o triunfo, mas o empenho.
O essencial não é ter vencido, mas ter lutado bem.

Quando cometer um erro, não olhe para trás por muito tempo.
Analise as coisas e então olhe para diante.
Erros são lições de sabedoria. O passado não pode ser mudado.

O futuro ainda está em seu poder.
As pessoas esquecerão o que você disse.
As pessoas esquecerão o que você fez.
Mas elas nunca esquecerão como você as fez sentir.

A partir de hoje, trate todos que encontrar como se fossem estar mortos à meia-noite.
Ofereça-lhes toda a atenção, gentileza e compreensão de que você for capaz, e faça isso sem pensar em qualquer retribuição.

A sua vida nunca mais será a mesma novamente.
Hoje é um novo dia!
Muitos vão aproveitar este dia.
Muitos viverão completamente.
Por que não você?

De autor desconhecido. Retirado de um anexo em .pps recebido por e-mail.

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Caso exemplar na prisão de Tires

Procuro que este espaço não seja um esconderijo de má língua e crítica negativa, mas sim um palco de alertas para o que pode estar melhor, com sugestões de pistas, sempre que possível, e de ênfase para o que de mais positivo for sendo notado na nossa sociedade. Se há muito de mal, também há algo de bom que merece ser salientado e apontado como exemplo a seguir.

Hoje o DN dá a notícia de que «Reclusas de Tires aprendem 'design'» o que fez recordar as seguintes frases que deixei escritas, em 17 de Outubro, no post «17 anos para duplo homicídio»:

«A prisão, além do efeito de dissuasão do crime, deveria ser realmente um período de reabilitação efectiva para a vida em sociedade, através da aprendizagem de comportamentos sociais, seguindo regras, e a obtenção de conhecimentos que permitissem exercer uma profissão que garantisse independência e vida própria. A gestão da vida privada, não sendo difícil, exige aprendizagem de regras indispensáveis, em cuja base estão valores morais e sociais bem condimentados pelo bom senso e respeito pelos outros, pelas suas vidas e os seus haveres.»

Estas palavras e o caso hoje noticiado inserem-se também no post há pouco publicado com o título «o círculo do ódio».

Oito reclusas do Estabelecimento Prisional de Tires passam os dias numa das oficinas da prisão a produzir peças de 'design', o que ajuda a ocupar o tempo livre, mas acima de tudo fá-las sentirem-se valorizadas e úteis, recuperando a sua auto-estima e futura inserção no mercado de trabalho.

Pelas palavras de uma delas, vê-se que basta um pouco de compreensão, tolerância e amor para as levantar e recuperá-las para a reentrada na sociedade."A confiança que nos dão é muito boa. Estou aqui por um crime que pratiquei, mas sou uma pessoa válida como outra qualquer. E é bom que acreditem em nós. Porque às vezes estamos caídas e é preciso tão pouco, é só darem-nos a mão para nos levantarmos".

Há mais casos semelhantes noutras prisões e é bom que estas iniciativas se expandam por todos os estabelecimentos prisionais, pelo bom efeito que produzem.

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sábado, 15 de novembro de 2008

Sucesso de jovem cientista português

Mais um português a distinguir-se na senda da excelência, da procura do mérito, mostra-nos que na nossa juventude algo se distingue da mediocridade com que nos preocupamos. Há quem diga que são poucos, são excepções. Mas Roma e Pavia não se fizeram num dia. E estas excepções mostram que existem boas sementes para se poder ter esperança numa floresta de pessoas com muito valor, talvez génios, que não fiquem atrás dos cientistas que apoiaram os descobrimentos da época gloriosa de 500

Já aqui foram referidos vários. Agora não podia deixar de dar espaço ao jovem investigador Luís Gargaté, do Instituto Superior Técnico, de 27 anos, a preparar o doutoramento e que, em contacto com instituições científicas estrangeiras, inventou um escudo magnético para naves espaciais, segundo notícia do DN de hoje. Já testou a hipótese de utilizar um campo magnético e um plasma para produzir um escudo protector para naves espaciais que já é possível fazer em laboratório. A descoberta foi publicada na Plasma Physics and Controled Fusion.

Luís Gargaté já conseguiu mostrar a viabilidade do conceito, juntamente com colegas do Rutherford Appleton Laboratory, em Inglaterra. Neste laboratório foram feitas experiências à escala laboratorial, coroadas de sucesso. A equipa chama-lhes mini-magnestosferas, e funcionam.

Os corpos no espaço estão expostos ao embate de partículas altamente energéticas do vento solar e das estrelas, que podem ser mortais. Aqui, na superfície do nosso planeta, como explica Luís Gargaté, estamos protegidos desse perigo pela magnetosfera da Terra, que as repele para o espaço. As únicas missões espaciais tripuladas que até hoje foram além da magnetosfera terrestre foram as Apolo, que rumaram à Lua. "Foram missões curtas e sabe-se hoje que os astronautas tiveram muita sorte porque nunca houve episódios de radiação mais intensa a coincidir com as missões", conta o investigador do IST. Mas numa viagem tripulada a Marte, muito mais prolongada, o problema vai colocar-se de forma grave.

A apetência deste cientista por estes assuntos vem do último ano da licenciatura em Engenharia Física e Tecnológica, quando começou a trabalhar em plasmas, no Grupo de Lasers e Plasmas do Instituto Superior Técnico. Nessa altura, Gargaté explorou a ideia de utilizar este estado da matéria como fonte de energia para lançar satélites o que já se tornou possível. Agora, a acabar o doutoramento, o investigador olha para os plasmas de outra maneira. Estava-se em 2006 e um dia, em conversa com Robert Bingham, professor em Rutherford, surgiu a ideia. Porque não utilizar os plasmas, juntamente com um campo magnético, como escudo protector de satélites ou naves, como acontece com a própria Terra?

Torna-se assim realidade a ficção apresentada na série Star Trek, em que quando os raios cósmicos apertavam, o seráfico Spock activava o escudo protector da Entreprise e os tripulantes ficavam seguros.

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Ensino. Só duas perguntas

Transcrevo este texto recebido da amiga Maria João, por me suscitar dúvidas para as quais não encontro resposta. Se alguém as tiver poderá deixá-las aqui no espaço de comentários.

1ª - Se os alunos que estão a Manifestar-se nestes dias são instrumentalizados - segundo diz a tutela, o Ministério da Educação, e segundo diz a CONFAP - são estúpidos, não é ? Só se deixa instrumentalizar quem é tanso...
Então como é que temos tão elevada diferença na taxa de sucesso nos resultados escolares do ano passado para este ???
Não sei se é parvo da minha parte... mas será que são os Professores que são MESMO BONS? Conseguir tirar algo de uma massa acrítica que se deixa instrumentalizar merece EXCELENTE...! Acabou! Já estão os Profs todos avaliados! (Os da Madeira vão emigrar para o Continente porque lá só têm Bom...).

2ª - Onde estava aquele senhor que aparece na TV sempre a representar a CONFAP (não me lembro do nome, juro que é verdade!... não me lembro mesmo...), que aparenta a minha idade (tenho 52), antes do 25 de Abril??? Ainda não teria nascido??? Será, afinal, muito mais novo que eu??? Estaria debaixo das saias da mãe??? É que eu ouvi-o hoje na TV a amedrontar (instrumentalizar, seria?) os estudantes dizendo que as Manifestações eram ilegais e que os jovens com mais de 16 anos nelas presentes poderiam vir a ter graves problemas legais...
É QUE TODAS AS MANIFESTAÇÕES (e da parte dos estudantes houve muita contestação ao regime de então, embora, claro, houvesse sempre os bufos e os fura greves...) ERAM, ENTÃO, ILEGAIS E APRESENTAVAM, SIM, GRAVES AMEAÇAS A QUEM NELAS PARTICIPAVA...

Alguém pode esclarecer-me ?
Obrigada.
Mª João

Cara Maria João. A primeira pergunta contém a resposta. Os governantes perdem o tempo a falar e não lhes restam uns minutos para pensar naquilo que dizem. Se pensassem, não cairiam, certamente, nas incoerências e contradições com que nos brindam.
A segunda pergunta é o eterno problema do abuso do poder por parte de políticos que têm no seu íntimo os genes de ditadores. Agora, como no Estado Novo, o que acaba por imperar nos sentimentos desses tipos é «quero, posso e mando». Aguardemos que surjam comentários de quem não tenha medo de ameaças como as que referiu da parte do tal da CONFAP.

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sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Pela minha saúde...!

Os últimos dois dias, por via das notícias dos jornais e televisões, foram vividos em constante perplexidade. A actividade da ministra da saúde tinha-me deixado indiferente, até agora, e não fora o ar sorridente com que enfrenta as câmaras, feito da convicção, que tem, coitada, de que os jornalistas fazem perguntas disparatadas às quais só um sorriso divertido e trocista responde, não gastaria o meu tempo a ouvi-la e, muito menos, a vê-la.

Só que a discussão do orçamento tem-me colocado mais vezes à frente das televisões e quis o acaso que tivesse tropeçado - passe a imagem - na inefável senhora e no seu ainda mais inefável secretário de Estado. E então, pasmei!

O quadro era, na comissão parlamentar respectiva, a discussão na especialidade daquele documento (cuja entrega no Parlamento se rodeou de episódios ridículos!) e a curiosidade dos deputados ia para o conhecimento, que se achava determinante, das dívidas do Serviço Nacional de Saúde... Coisa simples, já que os senhores deputados também gostam de saber coisas!

Pois bem, a ministra, com o ar paternalista, bem humorado (à vista, pelo menos!), que usa com os jornalistas (eu se fosse deputado era capaz de afinar!) e que, se calhar, lhe ficou do exercício da sua especialidade de pediatra, disse: “Não sei." E disse ainda: "O sr. secretário de Estado poderá responder melhor do que eu, porque tem estado a acompanhar de perto."

Mereceu toda a minha compreensão a senhora ministra! Isto de fazer contas é tarefa subalterna e a sua especialidade é o estetoscópio!

E o secretário de Estado, que acompanha o assunto de perto (palavra de ministra!), adiantou, agora com ar sério (sorri a ministra e chega!) que a dívida dos hospitais é de mil milhões e quanto ao restante “... bom, é só fazer as contas", parafraseando uma célebre frase, como frisou! (acho que até os srs deputados perceberam a quem ele ... parafraseava!)

Note-se outra vez: discutia-se o orçamento do Estado! Pois bem, de uma das suas rubricas importantes, as dívidas do SNS, a ministra nada sabia – isso era com o secretário de Estado! -, que mandou os deputados fazerem as contas! E estes não gostam que lhe mandem fazer coisas!

E ficaram os eleitos na ignorância! E os eleitores? Bem, estes apenas servem para contribuir para o despesismo do Estado e para garantir o lugarzinho do seu eleito! Não chega?

Pois bem! Ainda não tinha recuperado da minha perplexidade, e eis que “tropeço” outra vez com a ministra da saúde, já fora do hemiciclo e rodeada de jornalistas, uns teimosos!

Ainda lá dentro, uma deputada quis ouvir explicações sobre o INEM e Saúde24 e atreveu-se a perguntar-lhe se “dorme descansada”. Não apanhei, por inteiro, as respostas, mas ficou-me, isso sim, a garantia de que as “chamadas não atendidas no INEM estão próximas dos 5% tidos como seguros”.

Os jornalistas insistem, impertinentes!

A ministra debita outra vez, com o tal sorriso, a estatística!

Isto é, 5 desgraçados, em 100, mesmo não atendidos pelo INEM, são tidos “como seguros” e, portanto, se forem “desta p’ra melhor”, apenas são um número estatístico!

Ministra disse!
Ferreira Pinto

NOTA: Recebido do autor, por e-mail. Admiro o estilo queirosiano, a ironia bem domesticada, o estilo gramaticalmente correcto, os verbos a condizer com o resto da frase, evidenciando que pertence a uma geração em que nas escolas se aprendia, além do mais, português. Mas, para lá do estilo literário, há a perspicácia da observação, a tónica colocada no lugar certo. Registo o «sorriso divertido e trocista» e terei presente essa alta qualidade para o momento de votar na «lady Europa» ou «lady mundo». Como os portugueses se devem sentir felizes por terem carinhas bonitas deste género no Governo. Que Deus lhes proteja a beleza!

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