(Public em DIABO nº 2408 de 24-02-2023. pág 16, por António João Soares)
A greve é um direito que não deve deixar de existir. Mas o Governo deve evitar que os trabalhadores tenham tantas necessidades delas para verem os seus interesses laborais respeitados, e terem situação de tratamento social justo em comparação com trabalhadores de outras profissões. E há actividades cuja paragem é de tal maneira lesiva de uma tal quantidade de cidadãos que exigem imenso cuidado no diálogo entre os trabalhadores e o Governo. É o caso da Educação, da Saúde e das Forças de Segurança, etc.
Se é certo que Portugal não pode imitar os vencimentos existentes em Estados com um nível económico mais elevado, também é lógico que não deve exagerar na diferença para não arriscar o aumento da emigração dos nossos técnicos para irem procurar emprego onde sejam mais bem pagos.
Por outro lado, o argumento de que não se dispõe de dinheiro para aumentar os salários não é muito convincente, porque ele tem permitido pagar subvenções vitalícias a boys e girls que, após pouco tempo de serviço público que foi bem remunerado, vão para casa com direito a essas altas remunerações sem qualquer justificação convincente. E, apesar das limitações de informação que têm sido instituídas, as pessoas acabam por ter conhecimento de tal desmando que nada tem de lógico nem de justo. E o povo acaba por não se conformar com tal injustiça. E a decisão das greves é muito influenciada por essas e outras decisões que deixam o Estado com o argumento de não ter disponibilidades para aumentar salários. Há realmente muitos a viverem à sombra de gabinetes de governantes e que não têm competência, preparação e experiência semelhante à de professores que estão em greve, para verem melhorada a sua remuneração.
E após o diálogo funcionar e estar aceite uma solução, devem os professores ser consciencializados para a melhor formação dos estudantes a fim de participarem de forma mais eficaz para a preparação do futuro de Portugal. Hoje os estudantes devem sair das escolas com uma preparação diferente daquela que era ensinada aos seus pais, porque o mundo em que vão viver não é igual ao desse tempo, as tecnologias são muito diferentes e exigem uma preparação mais avançada para as utilizar eficazmente. E as próprias tecnologias não são eternas. Hoje são diferentes do que eram há 20 anos, e daqui a 20, certamente, serão muito diferentes destas. Os actuais estudantes devem ficar preparados para encarar pela positiva as mudanças que lhes surgirão na sua vida prática.
Esta estratégia do futuro deve ser encarada inteligentemente em todos os sectores e, se aquilo que atrás disse foi mais esboçado no ensino em geral, também se aplica no sector da Saúde e na vida industrial. Nada na vida será igual a ontem e os jovens devem contar com novas condições que devem ser encaradas com prudência e sentido prático, mas tendo sempre presentes os conceitos práticos dos tempos recentes, a moralidade e a ética. A sensatez é aplicável e indispensável, eternamente.
Os representantes do Estado no contacto com trabalhadores devem ser sensatos, com sensibilidade, a fim de serem evitados motivos para greves, isto é, as dificuldades devem ser objecto de diálogo e as sugestões e propostas devem ser bem esclarecidas para não levarem a greves. A amizade, a compreensão e o bom entendimento são a melhor solução para evitar conflitos.
Embora não tivesse referido outras greves, não devo encerrar este texto sem referir a importância dos transportes rodoviários que também estão em greve e eles são indispensáveis para a vida de muitos cidadãos. A falta de capacidade de diálogo dos órgãos representantes do Estado mostram-se incapazes de dialogar e desrespeitados pelos trabalhadores, o que é muito grave.