terça-feira, 21 de novembro de 2006

Medicina preventiva ou certidão de óbito

Do Mirante oferece aos seus amigos esta carta que foca um tema de actualidade que merece a maior atenção.

Medicina preventiva ou certidão de óbito?
(Publicada no jornal Expresso como «carta da semana» em 18 de Novembro de 2006, pág. 42)

Segundo notícias dos diários, as consultas passam a ser marcadas segundo a sua urgência. «O novo sistema obrigará os hospitais a terem um médico responsável pela triagem dos casos que chegam dos centros de saúde, dando prioridade aos mais urgentes... No novo modelo, os atendimentos serão feitos de acordo com a urgência do tratamento. Os médicos do centro de saúde definem a prioridade e transmitem-na ao hospital». À primeira vista, é uma medida lógica, pois entre um doente grave e um ligeiro, aquele deverá ser atendido em primeiro lugar.

Mas, com este critério, o menos grave terá de esperar que o seu caso se agrave, talvez até se tornar irremediável e mesmo venha a ser chamado depois de ter falecido. Para onde vai a medicina preventiva e as campanhas de sensibilização? Tenho ouvido dos médicos que vale mais prevenir do que remediar, que uma doença detectada no início é facilmente curável, mas se só for tratada em estado adiantado, pode ser fatal. Enfim, conceitos que temos de esquecer, no Serviço Nacional de Saúde. Mais uma contradição do sistema que nos rege!

Com este critério, apenas os ricos podem recorrer a médicos e clínicas privadas para a medicina preventiva, para fazerem exames de despiste de cancros e outras doenças que devem ser tratadas quando recentes, evitando que se tornem graves e incuráveis. Os pobres, que têm como único recurso o Serviço Nacional, não podem ser tratados enquanto não estiverem em estado grave e sujeitam-se a que as famílias sejam avisadas da ida à consulta ou à cirurgia, uns meses ou anos depois do óbito.

Parece incrível, mas isto vem confirmar que há uma estratégia oculta para combater o envelhecimento da população que, como alguém dizia, poderá passar pela eutanásia e chegar ao genocídio dos reformados doentes para chegar ao holocausto de todos os reformados. Isso, realmente constituiria um alívio para as finanças do Estado que parece ser a maior preocupação da acção governativa.
A. João Soares

2 comentários:

Anónimo disse...

Caro amigo A. João Soares,

já tinha tido a opurtunidade de comentar este seu texto na vozdopovo.Para além disso tive o grato prazer de ao desfolhar o Expresso dar com esta sua missiva de novo.

Um texto bem explícito da realidade actaul...em que de triagem em triagem ainda paramos todos na triagem da porta do cemitério...

Abraços
Mário Relvas

A. João Soares disse...

Caro Mário Relvas
Muito agradeço as suas visitas.
Este tema é preocupante. Em vez de as pessoas serem estimuladas a tratarem-se logo que sintam o início do mal, são pressionadas a deizar andar até ser grave, talvez já incurável. Concordo com a prioridade dada a quem está pior, mas que todos sejam atendidos e ninguém seja devolvido ao domicilio sem ser consultado.
Se for mandado embora sem ser visto, acabará por ter de ir acompanhado por um «gato pingado» para ser considerado muito grave!
Um abraço
A João Soares