sábado, 30 de dezembro de 2006

Saddam Morreu. E depois?

Saddam, como ditador, foi genial. Logo após a subida ao poder em16 de Julho de 1979 em substituição do Presidente Hassan al-Bakr que renunciou alegadamente por motivos de saúde, organizou o Estado de forma a não ser traído, rodeou-se de amigos e companheiros da sua região e deu à sua tribo, embora minoritária o máximo de poderes, Não conhecia escrúpulos e teve a falta de pudor de atrair dois genros que se tinham refugiado na Jordânia e de logo após a sua chegada os matar.

Tentou uma fusão com a Síria num único Estado e, em 1980, aproveitando a instabilidade do Irão na sequência da queda do Xá Reza Pahlevi, invadiu território nas margens do Canal Chat al-Arab, a juzante da confluência dos rios Tigre e Eufrates, iniciando uma guerra de perto de dez anos.

Em relação ao seu povo, são referidos como mais significativos os seguintes crimes contra a humanidade, os direitos humanos:
1982 - 399 pessoas foram detidas e torturadas. Destas, 148 seriam executadas, na sequência do atentado contra Sadam Hussein. As vítimas são todas da terra ou da família do organizador do atentado;
1988 - 5 000 curdos são mortos em ataque químico contra Halabja;Década de 1980 - 180 000 mortos curdos na sequência da sua deslocação forçada do Norte para o Sul do Iraque. A morte por inanição era frequente.
Década de 1990 - Repressão sangrenta da revolta no Sul (Xiita) após a expulsão das tropas iraquianas do Kuwait.

Como diz o poeta V.C. é curioso que muita gente do nosso País, hoje chore a morte de um INDECENTE, e amanhã irá votar no referendo pela morte de muitos INOCENTES. É uma das ambiguidades da mentalidade da nossa sociedade.Mas, o que merece mais reflexão é procurar saber que benefício tira a humanidade da execução por enforcamento de Saddam Hussein. O que de bom ou de mau resulta daí? Cometeu crimes hediondos, é certo, mas a punição poderia ser outra que não a morte.

Em Portugal acabou-se com a pena de morte mas estamos no lado oposto, com penas leves, prisões que servem de escolas de aperfeiçoamento nas técnicas do crime, movimentos de apoio aos criminosos condenados a prisão, esquecendo o merecido apoio às vítimas. A sociedade, em geral, cá e no mundo, está desumanizada, perdeu os valores que lhe davam rumo. E um rumo é indispensável, mesmo que não seja totalmente correcto, porque permite correcções e ajustamentos. E o que não existe não pode ser corrigido!

Nesta reflexão não pode ignorar-se o papel de Bush no problema do Médio Oriente e, mais pontualmente no Iraque. Embora Bush se ufane do seu cristianismo, fica bem enfatizado que ele é um mau cristão. Ou não sabe ou já se esqueceu que Cristo aconselhou «Amai-vos como eu vos amo». Ama os outros como a ti próprio. E quando se fala dos outros, não se referem os nosso amigos e parentes, os que pensam como nós, etc. Os outros são os diferentes na cor, na língua, na religião, na filosofia de vida. E para fomentar e manter a cooperação entre os diferentes, há a diplomacia, os sistemas de pressão do âmbito da economia, da cultura do espectáculo, etc, não sendo necessárias as mais modernas armas Há muitas maneiras de contribuir para a Paz no mundo sem utilizar a força destas nem a pena de morte. A desejada Paz continuada, sustentada não se consegue com as armas. Estas deixam rancores e desejos de vingança. Saddam vai, provavelmente, ser utilizado como bandeira contra o Ocidente, o terrorismo de elevada intensidade irá ser incrementado contra os principais países ocidentais. O futuro fica mais negro. E Bush só não será julgado e condenado pelas mortes que tem causado em várias partes do mundo, por o Poder da América o colocar a salvo de tribunais internacionais.
O mundo está a parecer um hospício, por todo o lado.Oxalá 2007 nos traga novos rumos de Paz, concórdia, tolerância e cooperação para a felicidade da espécie humana.
A condenação à morte não valeu a pena, antes pelo contrário.

3 comentários:

Anónimo disse...

Venho agradecer-lhe e retribuir-lhe os votos de bom ano.

Folgo de ver que fez bom uso da minha recolha dos crimes de Saddam...

Discordo de si quando classifica a ditadura de Saddam como genial. As ditaduras - quaisquer que elas sejam - não são geniais, são perversas porque atentatórias da dignidade humana e, por isso, deveriam repugnar aos cristãos mais do que a quaisquer outros seres, porque os cristãos sabem que foram criados para serem livres.

Não acredito que haja muitas pessoas a transformarem Saddam num mártir. Muitas aproveitar-se-ão, mas a grande maioria, acredito, tal como eu, o que recusa é o acto da execução, porque contrária aos valores humanos. Isso aplica-se a Saddam como aos inúmeros residentes nos corredores da morte das prisões do mundo inteiro.

Portugal não tem penas leves: Portugal está no bom caminho. A prisão, que continua a ser entendida como local de punição em vez de local de educação, nunca serviu para reerguer ninguém. Pense comigo: se as prisões são "escolas de crime", quanto mais tempo alguém estiver lá mais alto será o grau dessa academia com que sairá encartado! Fiz-me entender?

Um abraço

A. João Soares disse...

Obrigado mps.

Compreendo muito bem o seu raciocínio com o qual concordo.

Não posso deixar de esclarecer um ponto, para que não fiquem dúvidas a quem ainda não me conhece bem.
Quando me referi à genialidade do ditador, fui irónico (coisa que me sai muitas vezes quase sem dar por isso). Claro que qualquer ditadura é perversa, como os crimes mais hediondos. Mas alguns criminosos são desajeitados na sua arte enquanto outros são especialistas, deixando a polícia às aranhas à procura do autor. Saddam usou de todos os meios para dominar o Médio Oriente, desde a aliança com a Síria, à guerra com o Irão que não ganhou devido às ajudas complexas da América, à ocupação do Koweit que originou a primeira grande intervenlção da América no tempo de Bush I.
Mas, embora concorde consigo na generalidade, receio que os sunitas, a Al-Qaeda outros grupos anti-ocidente o usem como bandeira, depois de o elevarem a mártir por Alá. O terrorismo utiliza todos os meios que tenham um pouquinho de lógica a que se agarrar. Não propriamente por amor ao ex-ditador, mas por ódio ao Ocidente que esteve por trás do tipo chocante e antiquado da morte.
Oxalá me engane e os ditadores passem a repensar o seu comportamento, com medo de uma execução semelhante.
Bom Ano
U abraço

Anónimo disse...

Saddam Hussein enforcado



Esta madrugada Saddaim Hussein,antigo ditador e líder do Iraque foi enforcado.
Este homem cometeu muitos crimes contra a humanidade.Autênticos massacres contra etnias específicas do seu país.Executou muitos cidadãos do seu país,que não concordavam com a sua política de governação do Iraque.
Não há dúvida alguma sobre estes factos.
No entanto poderá o homem "matar" outro em nome da justiça, feita por outros homens?
Esta interrogação persegue-me na medida em que outros ditadores continuam maltratando os seus povos de uma ou de outra maneira.São conhecidos.
Uns aplaudem a sua morte,outros irão elegê-lo como o mártire a seguir,causando mais mortes e destruição para a humanidade.
Volto a questionar a pena de morte!Em minha opinião sincera,depois de uma ocupação daquele país,por uma causa injustificada (armas de destruição maciça que não existiam),por países que se dizem democráticos,não seria mais justo a sua detenção perpétua?O problema que se punha era onde,em que local?No Iraque?Poderia amanhâ mudar o regime e Saddam voltar ao poder.Nos EUA?Com que direito?
Enfim,bom ano de 2007 para todos,mas reflictam nas incoerências do Homem.