domingo, 7 de janeiro de 2007

A excepcionalidade dos médicos !!!



Do Diário de Notícias extrai-se este artigo que, pela sua oportunidade e pela forma brilhante como é apresentado, merece ser levado ao conhecimento de mais pessoas. Com esta posição dos médicos e de outros profissionais, privilegiados que colocam os seus interesses pessoais acima das finalidades sociais e públicas da sua profissão, não há reformas possíveis e o País não só não poderá sair da lama, como se afundará cada vez mais. Onde está o espírito de servir, de ser útil à sociedade?



Os dedos dos senhores doutores


João Miguel Tavares, jmtavares@dn.pt

A nebulosa demissão dos 19 directores de serviço no Hospital Pedro Hispano e as declarações do bastonário da Ordem dos Médicos sobre o novo sistema de controlo da assiduidade fizeram mais pelo desprestígio da classe médica do que uma dezena daquelas operações para retirar as amígdalas de onde se sai sem uma perna. Portugal tem excelentes médicos, até acima da qualidade média do país, mas a classe tem tiques de prima donna e uma queda incontrolável para o corporativismo mais primário. Ninguém, com dois pingos de bom senso, pode hoje em dia contestar medidas básicas de controlo dos horários de um trabalhador. Mas bom senso é tudo o que não tem havido nesta discussão. Numa altura de cortes radicais e mudanças profundas no Sistema Nacional de Saúde, os médicos continuam a reivindicar privilégios que nem no Burkina Faso já fazem sentido.

A argumentação que tem sido utilizada para contestar o novo sistema de controlo é das maiores manifestações de desonestidade intelectual a que tenho assistido nos últimos anos. Os médicos do Pedro Hispano chegaram a defender que encostar o dedo a um vidro faria diminuir a produtividade dos serviços (a sério) e declararam que teriam de interromper cirurgias para ir picar o ponto: "Ó senhora enfermeira, aperte com força esta artéria que vou só ali à máquina mostrar as minhas impressões digitais." Algum deles terá acreditado por um segundo no que estava a dizer? Quanto a Pedro Nunes, o bastonário, declarou em voz alta que o único patrão dos médicos é o doente. Donde se conclui que, para ser obedecido, bastará a Correia de Campos legislar constipado.

Nenhum médico que trabalhe a sério num hospital, e mais horas do que aquelas a que é obrigado por lei (e são muitos os que o fazem), pode estar minimamente preocupado com a introdução de um controlo efectivo da assiduidade. Bem pelo contrário. Só se preocupa quem não cumpre. A malta não é parva: a mão que foge ao controlo é a mesma que nos vai ao bolso. Esta gritaria sobre dedos apenas serve para proteger os anéis.

4 comentários:

Anónimo disse...

Efectivamente amigo João Soares,se cumprem porque terão receio do controle?

Estão habituados a serem donos daquilo,livres de fazer ounão,que não gostam de controlo.

Lembro que muitos militares não gostavam da continência,mas ela é um cumprimento (para lá da obrigação),sabemos que o superior tem que responder à palada,mas que quando isso não é feito é mau (até é obrigatório).

Recordo que à hora do almoço qd o cmdt da unidade se deslocava para o refeitório se cruzava com dezenas de cumprimentos ao qual respondia sempre!

Isto foi sempre apanágio na minha unidade.Para lá do cumprimento,tinha que se fazer bem feito,sempre!

Isto para dizer que não basta apregoar é preciso demonstrar!

Abraços
Mário Relvas

A. João Soares disse...

Amigo Mário Relvas,
Na sociedade democrática propriamente dita deve haver valores, e um deles é o respeito por si próprio e pelos outros.
É preciso que cada um respeite o seu cargo, a qualquer nível. No caso vertente, os médicos não podem considerar-se isentos dos seus direitos e dos seus deveres.
Já aqui tem sido escrito que um dos grandes males do nosso País é a falta de chefias; embora haja chefes a mais, faltam chefes que assumam os seus deveres. Há por todo o lado equipas de trabalhadores anárquicas e ineficientes por falta de chefes. Lá fora, como emigrantes, os nossos compatriotas são apreciados como trabalhadores competentes, mas cá não se vê o mesmo por falta de enquadramento, de chefes competentes que se assumam, que saibam liderar.
Os médicos pertencem a um nível social em que devem ter um comportamento exemplar, para merecerem a credibilidade necesária.
Um abraço
João

Anónimo disse...

É verdade que Portugal tem alguns excelentes médicos. Todavia, a falta de reconhecimento de qualificação da profissão e respectiva proibição de exercício independente a médicos formados nas universidades portuguesas em países avançados, deve ter a sua razão de ser. Não são só os médicos portugueses que assim são tratados. É evidente que as universidades não formam só médicos, os restantes cursos são também lá ensinados.

Também não se compreende que médicos portugueses se queiram pôr num plano superior aos desses países avançados em que os médicos são parte integrante do pessoal dos hospitais, inclusivamente no cumprimento dos horários, marcando o ponto como qualquer outro empregado. Que existem motivos fortíssimos pelos quais os médicos nacionais têm toda a razão em reclamar, não resta a mínima dúvida. Que transformem coisas estúpidas em razões é uma desonestidade que se engloba na desonestidade geral que hoje lavra no país de cima para baixo.
Ninguém com um mínimo de mioleira e de honestidade pode deixar de concordar com a sua opinião. Este problema faz parte do estado geral do país, tal como tenho escrito por todo o lado. Além disso, o presente caso demonstra que o avanço da bandalheira e da estupidez são tão grandes que, e exemplo dos políticos, esses médicos esperam também que as suas bestialidades passem e tenham bastantes probabilidades de ser aceites e reconhecidas como justas. A bom ponto chegámos pela mão de políticos corruptos, parasitas e malvados, traidores que se dedicam a destruir o país.

Tiago Soares Carneiro disse...

Realmente é ridículo o que estes Srs. Drs. fazem sem um pingo de vergonha na cara.

Pediram a demissão - BOA VIAGEM!
De maus profissionais estamos cheios.

É vergonhoso quando alguém no alto do seu poleiro se dá ao luxo de não admitir ser controlado pelas horas que trabalha!

Ridículo!

Abraço
Tiago
http://democraciaemportugal.blogspot.com