Agradeço ao meu Amigo Manuel Pedroso Mrques a atenção de ter acedido ao meu pedido de autorização para aqui publicar este artigo muito bem elaborado sobre um tema que preocupa o mundo actual e que nem sempre é apreciado com clarividência e isenção.
Terror+ismo, o “Inimigo americano”
Por Manuel Pedroso Marques (*)
O terrorismo, pelo sufixo que a palavra contém, não devia constar dos dicionários. Não há doutrina, nem teoria, nem qualquer pensamento minimamente sistematizado que defina terrorismo para além do seu objecto, ou seja, o terror. O que existe é, portanto, o terror, não o terrorismo. E o terror constitui uma ‘modalidade de acção’, da acção violenta, militar ou civil, velha como o mundo mas que, em épocas mais recentes, é utilizada pelo contendor mais fraco, constituindo, também, a maneira mais barata de se fazer uma guerra.
Por Manuel Pedroso Marques (*)
O terrorismo, pelo sufixo que a palavra contém, não devia constar dos dicionários. Não há doutrina, nem teoria, nem qualquer pensamento minimamente sistematizado que defina terrorismo para além do seu objecto, ou seja, o terror. O que existe é, portanto, o terror, não o terrorismo. E o terror constitui uma ‘modalidade de acção’, da acção violenta, militar ou civil, velha como o mundo mas que, em épocas mais recentes, é utilizada pelo contendor mais fraco, constituindo, também, a maneira mais barata de se fazer uma guerra.
Depois do 11 de Setembro (2001) a palavra generalizou-se, mais do que já vinha acontecendo, para classificar acções terroristas e, para alguns, um tipificado modo de luta política, inaceitável, aliás. O que me parece que já representa implicações mais sérias é quando se deduz uma estratégia que identifica o terrorismo com o “inimigo”. Significa confundir o(s) inimigo(s) com aqueles que praticam aquela modalidade de acção (terrorista), condenada pelos nossos valores civilizacionais, actuais. Esta estratégia não só ressalta da letra dos Estudos Estratégicos de Segurança dos EUA (à livre consulta no site da Casa Branca) como das reacções políticas de Bush e Blair ao enforcamento de Saddam Hussein. As diversas posições de princípio de um e de outro em relação à pena de morte unem-se na condenação do terrorista e inimigo Saddam com o argumento, entre outros, de que a democracia está mais perto com a condenação do ex-ditador. Mais, aprovam a forma bárbara como a condenação foi executada, avalizando um modo terrorista que só difere do que dizem combater na medida em que foi selectivo…
Ora, acontece que Saddam nunca fez terrorismo do género que os EU dizem combater. Ele chacinou milhares de chiitas e curdos “para fazer aquela ditadura”, indagando-se, certamente, até ao fim da sua vida, “de quantos mais sunnitas e chiitas não se teriam de matar uns aos outros para fazer a democracia que Bush quer no Iraque”. Parece um raciocínio bizarro, este, mas que decorre da mais poderosa razão invocada, por último!, pela estratégia dos EU em relação à invasão do Iraque: a democracia (…).
Com esta estratégia de pés de barro, em dois dias houve necessidade de se demarcarem do espectáculo da execução, dizendo que quem condenou Saddam foi o Iraque… Será que passa pela cabeça de GWBush que o mundo acredita nisso?
Voltando ao texto do Estudo Estratégico de Segurança de 2002 até se percebe o desnorte da política externa de Bush. A caracterização do dito “Inimigo” não pode ser mais genérica. É o “mal” o “terrorismo”. Cinquenta páginas de um arrazoado que lateraliza as questões centrais, os objectivos políticos, económicos, sociais, internos e externos, nacionais e regionais, bem como áreas de interesse e de conflito (de quem, com quem, onde?). Nenhuma tentativa de encontrar qualquer enquadramento para os absurdos que, no caso, pode ser a adopção do terrorismo, nem esforços para separar, relacionar ou conjugar a actuação terrorista da e com a política.
Como é que isto é possível? Qualquer índice, resumo ou process chart de estudo estratégico elucida que aquele texto serve como uns “guide lines” de uso no patamar político presidencial mas, jamais, como ajuda à decisão no campo político-militar. Pode dizer-se que não se poderia colocar acessível ao público a estratégia militar dos EU. Mas pensar assim é cometer um enorme erro técnico do qual o Pentágono está, evidentemente, protegido. Ele sabe que a sua estratégia militar tem de ser conhecida de todos porque só assim ela se torna exequível. É assim para os países como para as empresas (que chegam a ter o conceito estratégico gravado numa lápide na entrada principal, como a Johnson&Johnson, a Caterpiler e outras). O segredo estratégico também não existe, porque o inimigo deduzi-lo-á, transformando-o numa questão de tempo. Ganha-se mais com o apoio generalizado às opções estratégicas publicamente anunciadas (com verdade!) do que mantê-las em segredo de polichinelo. Talvez por esta razão e/ou outras, uma sondagem recente revelou que uma percentagem considerável de soldados americanos estava convencida de que andava no Iraque a combater os autores dos atentados às torres do World Trade Center e à procura de Armas de Destruição Maciça.
Há um salto qualitativo do Estudo de 2002 para o de 2006. Este último é melhor trabalhado em termos da abordagem dos temas que têm ligação à actualidade e aos sinais de mudança, como a globalização e outros. Na apresentação de cada tópico faz-se uma análise da respectiva evolução a partir de 2002. O que nesta avaliação se diz em relação ao que aconteceu e acontece no Iraque é espantoso! Leva a considerar os autores do estudo como que… ‘tomados de infância’, tal o desfasamento entre a candura dos desejos realidade, trágica, à vista de todos, inclusive do relatório Baker-Hamilton.
Resta-nos ter esperança na grande democracia americana. Que retome a visão estratégica enunciada pelas seguintes palavras, proferidas por John F. Kennedy, em 16 de Novembro de 1961, na Universidade de Washington:
“temos de enfrentar problemas que não são passíveis de soluções fáceis ou rápidas ou permanentes. E temos de enfrentar o facto de que os Estados Unidos não são nem omnipotentes nem omnipresentes – de que somos apenas 6% da população mundial – de que não podemos impor a nossa vontade aos restantes 94% da humanidade – de que não podemos endireitar todos os males ou pôr fim a todas as adversidades – e de que, portanto, não pode haver uma solução americana para cada problema do mundo”.
(*) mpmarques@hotmail.com
3 comentários:
É de um cinismo atroz dizer-se que Saddam foi condenado e executado pelo Iraque. Porque, em boa verdade, o Iraque não existe. É apenas um território em estado caótico e ocupado por forças invasoras que, essas sim, impoem (e mal) a sua lei. Quem condenou e executou Saddam foi o Presidente dos EUA.
E é ele o único responsável pelo espectáculo bárbaro e repulsivo que foi a execução.
Quem condenou o déspota Saddam, foi outro em nada menos criminoso e terrorista que Saddam: Bush.
Parabéns.
Ora agora matas tu, ora agora mato eu!
Tenho pena dos militares e famílias norte-americanos que depois de lá estarem sentem a verdade do que é ser enganado!
Uma repetição a preto e branco do VIETNAME WAR!!Com muitos sofrimentos ainda por contar e o que ái virá com a projecção de mais 20.000 jovens para ali!!
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