Em complemento e apoio da NOTA incluída no post que versava a referência de um jurista às palavras do CEMFA, transcreve-se o artigo seguinte:
PGR diz que corrupção não é punida pelo povo
Paula Carmo, DN, 070225
O procurador-geral da República, Fernando Pinto Monteiro, colocou ontem, mais uma vez, a tónica no combate à corrupção em Portugal, uma vez que entende haver "determinados tipos de ilícitos que não são punidos pela consciência moral do povo".
Ao intervir, em Coimbra, numa aula do 10.º curso de pós-graduação em Direito Penal Económico - precisamente na sala onde se licenciou na faculdade de Direito coimbrã -, Pinto Monteiro recordou as suas raízes beirãs para exemplificar o problema da corrupção: "Quem, como eu, nasceu perto da raia, sabe que o crime de contrabando não era censurado por ninguém. O contrabandista era um homem simpático, agradável, a quem toda a gente pedia favores."
Durante a conferência intitulada "Comunicação Social e Ministério Público", o procurador-geral da República (PGR) atribuiu um papel preponderante aos jornalistas na denúncia pública dos casos mais gritantes. Contudo, admitiu que tal aumenta a pressão sobre os magistrados do Ministério Público. E exemplificou com a actual investigação à Câmara de Lisboa: "Se a câmara cair, cria-se uma pressão política sobre o Ministério Público. Se nas eleições seguintes ganhar outro partido, ir-se-á especular que a Procuradoria está a beneficiar determinada força política."
Reportando-se à relação entre a comunicação social e a vida judiciária, Pinto Monteiro não esqueceu os conflitos que daí surgem: "A liberdade de imprensa é um direito fundamental. O problema que se põe é o das suas limitações, a colisão entre o valor que é a liberdade de imprensa e os valores jurídico-penais pessoais (honra, dignidade, direito à privacidade). Tudo isto gera uma conflitualidade que hoje está na moda." Sobre a eventual contratação de assessores de imprensa nos tribunais portugueses, Pinto Monteiro colocou o acento tónico na poupança: "Não haveria dinheiro para ter mais de mil assessores espalhados pelo país."
Perante uma audiência onde abundavam professores de Direito, o PGR não se furtou a abordar os "problemas complicadíssimos" do segredo de justiça. "O Direito não acompanha facilmente a vida. O tempo dos tribunais e os das notícias é completamente diferente", alertou, embora rejeitando o aumento das penas para quem o viole. O magistrado defendeu, isso sim, a diminuição do número de processos abrangidos pelo segredo de justiça, para evitar que continue a ser "violado de forma impune".
Pinto Monteiro não deixou de notar, ainda, que os tribunais não estão preparados para os holofotes da mediatização. "A imprensa influencia muitas vezes a sentença dos tribunais. Não deveria ser assim, mas a justiça não é uma ciência exacta. O direito a informar é sagrado mas até onde vai? Eu próprio não tenho a certeza", disse.
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Há 36 minutos
3 comentários:
A.J.Soares
Infelizmente, é uma realidade.
A corrupção, em certos casos, é aceite benignamente pela sociedade,o que vem dificultar o combate a este flagelo.
Só com uma mudança de mentalidades e da tal "consciência moral do povo" é que pode haver alguma evolução e eficácia neste combate.
Obrigado pela sua presença no Palavra Entre Palavras, que seja o início de uma óptima relação, mesmo que seja virtual.
Um grande abraço e uma boa semana!
Meu caro João Soares,
Sinceramente não vejo o que esta notícia tenha a ver com o CEMFA!
Já agora, talvez um pouco tarde, deixei no post anterior referente a essa entidade, o meu comentário...
Um abraço,
C.Camoesas
Caro Camoesas,
Esta sua observação devera ficar esclarecida depois de ler o meu comentário no outro post. Tal como o amigo viu a questão, principalmente do ponto de vista da relação entre o general e os sargentos, não parece realmente lógico o enlace entre os dois posts. Mas se olhar mais para a situação da justiça referida nos dois posts encontrará relações e sinais de que a Justiça está a deparar com dificuldades graves oriundas da população e dos próprios juízes. A sua credilidade está sendo prejudicada.
Obrigado pela sua visita e pelos comentários. Com a ajuda de todos ficaremos mais alertados para as reflexões sobre temas tão ricos.
Abraços
A. João Soares
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