sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

MAIS UM CASO EXEMPLAR

Anteontem ao almoço estive com o amigo Manel PM acerca do que deixei aqui uma referência no texto «Realidades exemplares». Hoje tive outro encontro muito agradável com um homem que deve servir de exemplo a muita gente.

Por sugestão do amigo virtual e colega bloguista Mário Relvas, e amabilidade do Comando Armando Magno, tomei parte como convidado no convívio da Associação de Comandos, que constava fundamentalmente de uma palestra proferida pelo Sr. Professor Doutor João Carlos Espada, sob o tema «Winston Churchill, líder da defesa da Democracia Ocidental», seguida de uma almoço simples de um prato português típico da região de Viseu. A palestra foi muito interessante, mas agora quero focar outro aspecto.

Nas conversas antes da palestra e durante o almoço, o Sr. Neves (peço desculpa de não me lembrar do nome completo), estava acompanhado de vários colegas e era o centro das atenções, fazendo a maior despesa da conversa. Apesar de se desenvencilhar com agilidade, era bem visível a sua deficiência física: completamente cego, e com as duas mãos amputadas.
Foi vítima de uma mina e armadilha em África, mas não ficou destruído na sua força de vontade e estado de espírito. Era necessário continuar a viver, e rentabilizar as capacidades de que dispunha.

Apurou os restantes sentidos aprendeu informática, embora não possa digitar uma letra, mas o aparecimento do comando dos computadores por som, que ele ajudou a aperfeiçoar tornou-o exímio na preparação de artigos para o jornal dos Comandos e noutros assuntos das suas vastas actividades de apoio a indivíduos que ficaram deficientes e necessitam de uma ajuda credível para sobreviverem psicologicamente às dificuldades e lutarem para se sentirem e serem úteis. Estudou, aumentou a sua cultura, ao ponto de em qualquer dos temas abordados, emitir opinião e apresentar argumentos de alto nível e muito senso. Das perguntas feitas ao orador a dele foi talvez a melhor e melhor enquadrada com considerandos muito pertinentes.

A sorte e a felicidade não nos caiem no prato gratuitamente. É preciso aproveitar bem o presente, aquilo que se é e se tem, mesmo que pouco, e preparar um futuro melhor. Exemplos destes não devem ser ignorados. Por isso aqui deixo este rápido apontamento. Acho que uma pessoa, ao longo da vida, com o que estudou foi lendo e vendo, com as conversas que teve, com os prazeres e sofrimentos, êxitos e fracassos, vai acumulando montanhas de conhecimentos e experiências que, se as não transmite a outros, as leva para a cova sem serem úteis a ninguém. Pensando assim, agora, que se aproxima a meta final da vida, procuro transmitir algo daquilo que sei e daquilo que considero digno de apresentar como modelo a seguir, ao correr da pena, sem forçar os outros, sem violar as paciências.

5 comentários:

Anónimo disse...

Caro A. João Soares o Tenente Coronel CMD António Neves,formado em História e o presidente durante largos anos dos Paraolímpicos Portugueses é realmente um homem formidável, que eu tenho o previlégio de conhecer desde os tempos de sargento.

Nunca perdeu o sentido de HUMOR!
Para ele o meu abraço e para si caro João Soares aqui fica este pequeno comentário,dizendo-lhe que vou publicar este seu texto no Passa-Palavra!

Obrigado e

MAMA SUMÉ

A. João Soares disse...

Recebido por e-mail de Fernanda B Canelas

Meu caro amigo João Soares

De facto tem todos os motivos por se sentir honrado em ter conhecido o CMD António Neves, para nós o Tó Neves. Isto porque tenho o privilégio de sermos amigos de longa data. Acompanhei todo o seu percurso, assim como ele o meu.Fomos amigos e somos, nos bons e maus momentos, e afirmo-lhe que não há comentários suficientes para descrever este Homem. É um personagem com um QI de nível muito superior à média, e é um Homem com um enorme "H". Ele não fala por falar. Tudo o que diz e faz fá-lo, com clareza de espírito e honradez. Fizemos grandes farras familiares, e estivemos juntos em tragédias, mas posso afirmar-lhe que ele, jamais se rendeu. Ele não precisa dos olhos, porque vê muito para além de nós. Ele não precisa das mãos, porque executa tarefas que a maioria dos homens não é capaz. Ele tem um sentido de humor, que não nos permite estar tristes.Esse homem, que viu, acompanhou-me a mim e meu marido durante 19 dias de dia e noite, nas buscas para recuperação do corpo do meu filho mais velho perdido no fundo do mar de Sines. E foi ainda ele, que conseguiu que uma equipa de mergulhadores dos Comandos o resgatasse do mar.

Por tudo isto, e muito mais, penso que é sempre uma honra conhecê-lo.

Um abraço

Fernanda B Canelas

Anónimo disse...

Meu amigo

É deveras uma história de vida real digna de se dar a conhecer.

Quando conhecemos pessoas que passaram experiências traumáticas que embora pudessem ter sido destruídas, afinal ficaram com seu carácter mais enriquecido sabendo retirar dessas experiências, aquilo que serve para as engrandecer, então podemos ficar felizes por termos oportunidade para aprendermos com essas pessoas.

Quando oiço falar de pessoas que passaram coisas terríveis e que podem ensinar-nos tanto, fico sempre com uma pontinha de “inveja” de não poder ouvi-las e aprender também com elas.

Beijinho

Alexandra Caracol

Anónimo disse...

MAMA SUME CORONEL"









Por Carlos Matos
"Para a minha geração, ouvir falar de "Comandos" era estar perante uma força militar de elite constituída por militares voluntários sujeitos a uma formação específica, muito dura e exigente que tinha por missão efectuar operações difíceis e, para as quais, a generalidade dos militares não estava preparada. A ideia que se tinha é que se tratavam de pessoas sem princípios, desumanos e sem escrúpulos.
Nunca assim pensei e hoje, dia 5 de Janeiro de 2007, confirmei-o. Uma pessoa amiga, na circunstância Presidente da Delegação de Lisboa da Associação dos Comandos, convidou-me para ir ouvir uma palestra do Professor Adriano Moreira no almoço mensal que aquela Associação promove para os seus associados.
Ouvir o Professor Adriano Moreira é, pára mim, um enorme prazer porque é intelectualmente uma pessoa honestíssima, com vasta e diversificada cultura e, tendo sido Ministro do Professor Salazar em 1961, fez a ponte para o regime democrático saído do 25 de Abril com a mesma postura, com excepcional clarividência perante os problemas do mundo e, em particular, de Portugal. Além disso, e de muito mais que merecia relevo, usa uma linguagem acessível para quem fala e compreende a nossa língua e tem o dom de driblar o tempo ou seja, quando acaba de falar não damos conta de que já se passaram 45 ou 50 minutos tal é o prazer de o ouvir. E o Professor Adriano Moreira falou de episódios da nossa história e da história do mundo, como é que tem tudo evoluído, do problema das emigrações descontroladas, das religiões e das influências que criam, da criação da ONU, feita e organizada pelos "velhos" países a seguir à 2§ Guerra Mundial e a admissão maciça dos novos países saídos da descolonização, do desenvolvimento da velha Europa e do contraste com os outros continentes, do desmembrar da União Soviética como contrapoder ao Ocidente reunido na NATO, da emergência dos grandes colossos como a índia e a China, do terrorismo que mata sem critério e sem definir objectivos para e porque mata, da globalização, das multinacionais como fonte de poder, etc. Nisto tudo, e para se situar no momento presente, como um momento de grande insegurança e de incerteza, definiu duas grandes ausências: de valores e de ética e citou o Presidente americano Lincoln:"Em vez de pedir a Deus para estar ao lado da América era bom que os americanos tudo fizessem para que a América esteja ao lado de Deus". Sem valores de referência e sem éticas de comportamento, em que tudo é relativo e aceite porque já foi feito, é a lei da selva, acrescento eu.
Após a excepciona! palestra, seguiu-se o habitual almoço em que tive o enorme prazer e muita honra, de ter como companheiro de mesa um Oficial Superior do Exército Português, cujo nome omito por dever de consciência é de consideração, cego, amputado de um braço e de parte de outro, deficiências provenientes de uma operação militar. Este Homem, durante a nossa conversa, nunca teve uma palavra de rancor ou de ódio sobre o inimigo que lhe provocou aquelas mazelas irreparáveis; aquele Homem disse-me que a grande ambição de um Militar é estar preparado para a guerra para que ela nunca aconteça, aquele Homem disse-me que, no caso de guerra, ganha quem atira primeiro; aquele Homem disse-me que o adversário merece sempre todo o respeito; aquele Homem explicou-me com orgulho o que queria dizer" Mamma Sume", saudação Comando, com origem numa tribo do sul de Angola, e que significa pronto para o sacrifício; aquele Homem, sente-se ofendido quando comparam os "Comandos" aos rambos dos filmes; aquele Homem, ferido gravemente no seu corpo, mantém uma dignidade e uma atitude perante a vida que emociona. Aquele Homem tem valores e ética. Discretamente, ao lado daquele Homem, esteve sempre um camarada que o auxiliava se ele o pedisse e, ao mesmo tempo, abeiraram-se daquele Homem não sei quantos camaradas para lhe pedir auxílio e colaboração para projectos e programas para diversas finalidades porque aquele Homem, apesar das grandes limitações, domina a informática e é um repositório de arquivos e de memórias. A dureza da formação militar, a postura agressiva em combate inerente ás muitas operações que efectuaram, os inevitáveis danos que provocaram, ou de que foram vítimas, não retiraram aos "Comandos" uma fantástica capacidade de solidariedade e de companheirismo baseados em ética e valores que o tempo não destrói. E o meu companheiro de mesa deu-me um bom mote para começar este 2007: valores para cumprir, ética para se relacionar, dignidade para defender e objectivos para viver."
"Mama Sume Coronel"
In RegiãoBairadina
Carlos Matos

Anónimo disse...

Caro amigo.
Fui responsável pelo dia a dia do tenente NEVES depois de terminada a minha formação de COMANDO em 1985. Era o seu protector, eu tenho a maior admiração por ele. Quero voltar a estar perto dele. O meu nome militar 1º Cabo Comando RIBEIRO, e só o 1º lugar do curso tinha essa responsabilidade. Espero que ele ainda se recorde dos belos momentos que passámos, para mim vão ficar sempre na memoria. gostava de poder entrar em contacto com o meu Tenente NEVES de qualquer forma possivel. MAMA SUMÉ