terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

A VERDADE DE M.PINHO

A verdade de Pinho
Sérgio de Andrade, Jornalista, JN, 070206

Fui acordado pelo rádio-despertador e até julguei que continuava a dormir. Porque, entre atónito e revoltado, ouvi que o ministro da Economia se dirigira a uma assembleia de empreendedores chineses e os convidara a investir em Portugal, alegando que somos razoavelmente qualificados nisto e naquilo e ainda por cima baratinhos.
Usando a imaginação, vi Manuel Pinho a piscar o olho aos chineses e a frisar-lhes este pormenor muito longe de ser uma glória nacional - ou seja, que os nossos salários são mais baixos do que a média da União Europeia. E mais ainda que a pressão para a sua subida é muito menor do que, até, nos países de alargamento.

A minha imaginação continuou à desfilada. Vi os chineses olharem uns para os outros e comentarem "O homem deve estar maluco! Vem dizer-nos que os portugueses trabalham baratinho e não sabe que as multinacionais nos pagam uma média de 16 contos mensais por 70 horas de trabalho semanal?! Isto é o mesmo que tentar vender a areia da Caparica à Arábia Saudita ou o turismo às ilhas Seicheles" (mas aqui já estou a usar o comentário corrosivo de um deputado do CDS/PP...).

Sucede que, entretanto, a "gaffe" de o ministro da Economia ir para o estrangeiro lavar roupa suja nacional levantou semelhante onda de indignação em Portugal que neste momento me apetece mais defendê-lo do que atacá-lo. Piedosa intenção na qual sou aliás secundado pelo primeiro-ministro, que já veio a público acusar-nos de - fora ele, primeiro-ministro - ninguém ter percebido nada do que verdadeiramente o ministro quis dizer.

De resto, e calmamente, vejamos disse Manuel Pinho alguma mentira? Infelizmente, não disse, disse a verdade. Pena é que tenha ido assumir essa verdade para a China e, entre nós, não tenha a coragem (ele, ou qualquer outro governante) de, com frequência q. b., assumir que "Sois uns desgraçados, ganhais abaixo da média da União Europeia e ainda por cima pressionais menos a subida do vosso nível de vida do que a Lituânia ou a Roménia. Face a isso, o que mereceis, portugueses?".

Responderia eu que merecemos um ministro da Economia como Manuel Pinho, não tivesse vindo, felizmente, o eng.º Sócrates demonstrar que o problema não é dele, ministro, é nosso, pobres infelizes incapazes de descodificar discursos ministeriais.

Sérgio de Andrade escreve no JN, semanalmente, às terças-feiras.

NOTA: Será que o primeiro-ministro não tem ninguém mais capaz e sensato para colocar no lugar deste?

4 comentários:

Anónimo disse...

Falando mal e depressa, esse ministro que nem sequer respeita os limites de velocidade do código da estrada, pelo que diz e faz, não passa de uma besta quadrada.
Para a rua já!

Anónimo disse...

Caro A. João Soares houve um erro muito grande de "casting" ao formarem este governo....

Veja o anterior ministro das finanças que deu uma entrevista onde diz mal do governo e que as despesas crescem em vez de baixarem...

Tanta coisa para nada...retiraram algumas garantias que estavam em vigor e nada melhora.

Só a propaganda psicologica funciona,porque este povo está abananado e precisa de acordar.

Abraços
MR

Ah...deve ter estado com este amigo:

MAMA SUME CORONEL"









Por Carlos Matos
"Para a minha geração, ouvir falar de "Comandos" era estar perante uma força militar de elite constituída por militares voluntários sujeitos a uma formação específica, muito dura e exigente que tinha por missão efectuar operações difíceis e, para as quais, a generalidade dos militares não estava preparada. A ideia que se tinha é que se tratavam de pessoas sem princípios, desumanos e sem escrúpulos.
Nunca assim pensei e hoje, dia 5 de Janeiro de 2007, confirmei-o. Uma pessoa amiga, na circunstância Presidente da Delegação de Lisboa da Associação dos Comandos, convidou-me para ir ouvir uma palestra do Professor Adriano Moreira no almoço mensal que aquela Associação promove para os seus associados.
Ouvir o Professor Adriano Moreira é, pára mim, um enorme prazer porque é intelectualmente uma pessoa honestíssima, com vasta e diversificada cultura e, tendo sido Ministro do Professor Salazar em 1961, fez a ponte para o regime democrático saído do 25 de Abril com a mesma postura, com excepcional clarividência perante os problemas do mundo e, em particular, de Portugal. Além disso, e de muito mais que merecia relevo, usa uma linguagem acessível para quem fala e compreende a nossa língua e tem o dom de driblar o tempo ou seja, quando acaba de falar não damos conta de que já se passaram 45 ou 50 minutos tal é o prazer de o ouvir. E o Professor Adriano Moreira falou de episódios da nossa história e da história do mundo, como é que tem tudo evoluído, do problema das emigrações descontroladas, das religiões e das influências que criam, da criação da ONU, feita e organizada pelos "velhos" países a seguir à 2§ Guerra Mundial e a admissão maciça dos novos países saídos da descolonização, do desenvolvimento da velha Europa e do contraste com os outros continentes, do desmembrar da União Soviética como contrapoder ao Ocidente reunido na NATO, da emergência dos grandes colossos como a índia e a China, do terrorismo que mata sem critério e sem definir objectivos para e porque mata, da globalização, das multinacionais como fonte de poder, etc. Nisto tudo, e para se situar no momento presente, como um momento de grande insegurança e de incerteza, definiu duas grandes ausências: de valores e de ética e citou o Presidente americano Lincoln:"Em vez de pedir a Deus para estar ao lado da América era bom que os americanos tudo fizessem para que a América esteja ao lado de Deus". Sem valores de referência e sem éticas de comportamento, em que tudo é relativo e aceite porque já foi feito, é a lei da selva, acrescento eu.
Após a excepciona! palestra, seguiu-se o habitual almoço em que tive o enorme prazer e muita honra, de ter como companheiro de mesa um Oficial Superior do Exército Português, cujo nome omito por dever de consciência é de consideração, cego, amputado de um braço e de parte de outro, deficiências provenientes de uma operação militar. Este Homem, durante a nossa conversa, nunca teve uma palavra de rancor ou de ódio sobre o inimigo que lhe provocou aquelas mazelas irreparáveis; aquele Homem disse-me que a grande ambição de um Militar é estar preparado para a guerra para que ela nunca aconteça, aquele Homem disse-me que, no caso de guerra, ganha quem atira primeiro; aquele Homem disse-me que o adversário merece sempre todo o respeito; aquele Homem explicou-me com orgulho o que queria dizer" Mamma Sume", saudação Comando, com origem numa tribo do sul de Angola, e que significa pronto para o sacrifício; aquele Homem, sente-se ofendido quando comparam os "Comandos" aos rambos dos filmes; aquele Homem, ferido gravemente no seu corpo, mantém uma dignidade e uma atitude perante a vida que emociona. Aquele Homem tem valores e ética. Discretamente, ao lado daquele Homem, esteve sempre um camarada que o auxiliava se ele o pedisse e, ao mesmo tempo, abeiraram-se daquele Homem não sei quantos camaradas para lhe pedir auxílio e colaboração para projectos e programas para diversas finalidades porque aquele Homem, apesar das grandes limitações, domina a informática e é um repositório de arquivos e de memórias. A dureza da formação militar, a postura agressiva em combate inerente ás muitas operações que efectuaram, os inevitáveis danos que provocaram, ou de que foram vítimas, não retiraram aos "Comandos" uma fantástica capacidade de solidariedade e de companheirismo baseados em ética e valores que o tempo não destrói. E o meu companheiro de mesa deu-me um bom mote para começar este 2007: valores para cumprir, ética para se relacionar, dignidade para defender e objectivos para viver."
"Mama Sume Coronel"
In RegiãoBairadina
Carlos Matos

A. João Soares disse...

Amigo Deprofundis.
Concordo com a sua sentença. Haja quem a cumpra ou quem a faça cumprir!

Amigo M Relvas
Nem um génio mesmo genial (!) tinha a ideia de juntar num mesmo comentário a nódoa do M Pinho com o verdadeiro intelectual Adriano Moreira e o herói António Neves. Muito bem.
Não estou a identificar Carlos Matos, mas admiro as pormenorizadas referências à conferência, ao conferencista e os dados acerca do Comando António Neves. Do seu texto ressalta também que os Comandos, ao contrário do conceito errado que possa circular no povo, são pessoas que prezam o intelecto, a cultura, o conhecimento profundo do mundo em que vivemos, como fica provado pelo nível destas conferências.

Está a merecer ser preparada e publicada uma obra com dados biográficos de todos os militares que se distinguiram, além da sua actividade militar, por acções e obras na sociedade civil (literatura, arte, música , engenharia, medicina, etc). Não esquecer que os projectistas da reconstrução de Lisboa após o terramoto de 1755 foram militares. Dessa obra sairiam muitas surpresas para aqueles que pensam que os militares só sabem marcar passo!!!
Eles bem merecem que essa obra seja feita!
Abraços
A. João Soares

Mentiroso disse...

Artigo esclarecedor sobre a podridão e a miséria que reinam em tudo que as patas dos políticos contagiem.

Pergunta final do artigo:
«Será que o primeiro-ministro não tem ninguém mais capaz e sensato para colocar no lugar deste?»

A resposta é que já não parece ser tão evidente:
– Substituir só um quando são tantos os abortos?
– Não cumprirá ele impensadamente as ordens que lhe dão por obediência e que, com tanta discrepância da realidade, acaba por meter água por todos os lados?
– Não se costuma dizer que a culpa vem sempre de cima?
– E que outro lixo virá substituir este lixo?