Recebi por e-mail do meu amigo, fundador do PS, gestor e perito em estratégia empresarial, esta sua crónica já publicada no Jornal de Negócios. Que aqui coloco para melhor esclarecimento deste caso tão polémico.
A Estratégia ainda não aterrou na Ota Por Manuel Pedroso Marques
Para quem ouviu dizer que a Ota era muito longe de Lisboa e, depois, tem de tolerar os defensores de Rio Frio invocar a maior proximidade de Badajós como factor preferencial, é duro! Que atraia uma comunidade de mais de um milhão de espanhóis…, quando Badajós tem 140 mil habitantes e é a maior cidade da Estremadura, é difícil porque, além do número exagerado, quem de lá vier a R. Frio, vem à Ota! Quando se vê na net os terrenos alagadiços da Ota, dando a impressão de que não servem para fazer mais nada em cima deles do que um aeroporto, preferir os terrenos planos de Rio Frio, de vocação agrícola, raros no país é raciocinar ao contrário!
Claro que a estratégia de defesa de Rio Frio tem outros argumentos: os de custo, indubitavelmente e os da exequibilidade, provavelmente.
Quem perguntar (e tem-se indagado) se a decisão sobre a localização de um aeroporto é técnica ou política desconhece os campos de actuação num processo decisório desta envergadura. Porque é as duas coisas. No âmbito técnico, os factores base das opções são essencialmente físicos. Parece que não deveria haver grande espaço de subjectividade na decisão, dado que esta se baseia em elementos objectivos, mensuráveis: distâncias, comprimentos, dimensões outras, dados meteorológicos, ambientais, geológicos, exequibilidades, custos, etc. Mas há! Há subjectividade logo que o processo de decisão começa a entrar no âmbito da avaliação social, ou seja, quando se introduzem as necessárias e diferentes ponderações de avaliação dos diversos elementos acima referidos, segundo concepções sociais, políticas e não apenas técnicas.
O estudo da consultora francesa (ver sítio da Naer.pt) que serviu para apoiar a opção da Ota atribuiu uma ponderação de 25% aos factores ambientais e 5% aos de custo da construção, além doutros. Ora, esta ponderação deveria ter sido adoptada segundo critérios políticos e não meramente técnicos. Critérios que, em matéria ambiental, já não pertencem só aos portugueses, pois, alguns parâmetros são impostos pela UE e outros órgãos internacionais. O que importa considerar é que, a partir deste momento, no percurso decisório, a subjectividade está instalada e as opiniões passam a ser muitas e não devem ofender ninguém. Pessoalmente, parece-me que andamos há muito tempo a pagar muito caro pelo ambiente, em Portugal. Candidatamo-nos à posição do país mais atrasado com melhor ambiente… no espaço europeu. Compreendo, contudo, que outros argumentem que se além de mais atrasado fosse o de pior ambiente, a situação seria muito mais grave…
O governo diz que está tudo estudado, com décadas de estudo (ou de estudos?) e que é altura de decidir. Se, se pretende com isto acabar com as discussões, temos má política… porque as questões sociais, por definição, não acabam por “decreto”. Se não se possuem argumentos para contrariar as opiniões opostas à Ota, estamos sem estratégia para defender a alternativa adoptada, o que é igualmente mau, senão pior.
“A ‘nossa’ estratégia só é pacífica depois da vitória”. O factor polemológico é ínsito a todas as decisões estratégicas, como é o caso do local do novo aeroporto de Lisboa (NAL). Há, portanto, que fornecer à opinião pública os argumentos que “contradigam as razões dos outros”, nomeadamente, das diversas opiniões políticas, esclarecendo os cidadãos. Fazer-se de uma alternativa estratégica uma opção indiscutível é negar a polémica, é desconhecer este pressuposto milenar da ideia estratégica. Sun Tzu, há 2800 anos, escrevia a palavra Estratégia com dois caracteres: um significava ‘ideia’ e o outro ‘guerra’. A Estratégia era a ideia da guerra, no caso, a ideia da localização do NAL. A ideia mais exacta, segundo a lógica probabilística da Estratégia, acrescente-se.
A Decisão do TEDH (396)
Há 1 hora
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