Transcreve-se este texto que é um fiel retrato do Portugal de hoje, de todos os motivos de preocupação quanto ao futuro. A pergunta do título fica sem resposta. Esta depende de todos nós e dos políticos que elegermos para conduzirem a nau a bom porto.
Teremos ainda Portugal por muito tempo?
D. António Marcelino Bispo de Aveiro
In Correio do Vouga
O título tem um tom provocatório, mas eu vou justificar. Não digo que esteja para breve o nosso fim de país independente e livre. Mas, pelo andar da carruagem, traduzido em factos e sintomas, a doença é grave e pode levar a uma morte evitável. Aliás, já por aí não falta gente a lamentar a restauração de 1640 e a dizer que é um erro teimarmos numa península ibérica dividida. De igual modo, falar-se de identidade nacional e de valores tradicionais faz rir intelectuais da última hora e políticos de ocasião. O espaço nacional parece tornar-se mais lugar de interesses, que de ideais e compromissos.
Há notícias publicadas a que devemos prestar atenção. Por exemplo:
um terço das empresas portuguesas já é pertença de estrangeiros;
60% dos casais do país têm apenas um filho;
vão fechar mais cerca de mil escolas ou de mil e trezentas, como dizem outras fontes;
nas provas de língua portuguesa dos alunos do básico, os erros de ortografia não contam;
o ensino da história pouco interessa, porque o importante é olhar para a frente e não perder tempo com o passado;
a natalidade continua a descer e, por este andar, depressa baterá no fundo;
não há nem apoios nem estímulos do Estado para quem quer gerar novas vidas, mas não faltam para quem quiser matar vidas já geradas;
a família consistente está de passagem e filhos e pais idosos já não são preocupação a ter em conta, porque mais interessa o sucesso profissional;
normas e critérios para fazer novas leis têm de vir da Europa caduca, porque dela vem a luz;
a emigração continua, porque a vida cá dentro para quem trabalha é cada vez mais difícil;
os que estão fora negam-se a mandar divisas, por não acreditarem na segurança das mesmas; os investigadores mais jovens e de mérito reconhecido saem do país e não reentram, porque não vêem futuro aqui;
a classe média vai desaparecer, dizem os técnicos da economia e da sociologia, uma vez que o inevitável é haver só ricos cada vez mais ricos e pobres cada vez mais pobres;
os políticos ocupam-se e divertem-se com coisas de somenos;
e já se diz, à boca cheia, que o tempo dos partidos passou, porque, devido às suas contradições, ninguém os toma a sério;
a participação cívica do povo é cada vez mais reduzida e mais se manifesta em formas de protesto, porque os seus procuradores oficiais se arvoram, com frequência, em seus donos e donos do país e fazedores de verdades dúbias;
programa-se um açaime dourado para os meios de comunicação social;
isolam-se as pessoas corajosas e livres, entra-se numa linguagem duvidosa, surgem mais clubes de influência, antecipam-se medidas de satisfação e de benefício pessoal…
Não é assim, porventura, que se acelera a morte do país, quer por asfixia consciente, quer por limitação de horizontes de vida?
É verdade que muitos destes problemas e de outros existentes, podem dispor de várias leituras a cruzar-se na sua apreciação e solução. Mais uma razão para não serem lidos e equacionados apenas por alguns iluminados, mas que se sujeitem ao diálogo das razões e dos sentimentos, porque tudo isto conta na sua apreciação e procura de resposta.
Há muitos cidadãos normais, famílias normais, jovens normais. Muita gente viva e não contaminada por este ambiente pouco favorável à esperança. Mas terão todos ainda força para resistir e contrariar um processo doentio, de que não se vê remédio nem controle?
Preocupa-me ver gente válida, mas desiludida, a cruzar os braços; povo simples a fechar a boca, quando se lhe dá por favor o que lhes pertence por justiça; jovens à deriva e alienados por interesses e emoções de momento, que lhes cortam as asas de um futuro desejável; o anedótico dos cafés e das tertúlias vazias, a sobrepor-se ao tempo da reflexão e da partilha, necessário e urgente, para salvar o essencial e romper caminhos novos indispensáveis. Se o difícil cede o lugar ao impossível e os braços caiem, só ficam favorecidos aqueles a quem interessa um povo alienado ao qual basta pão e futebol…
Mas não é o compromisso de todos e a esperança activa que dão alma a um povo?
D. António Marcelino, Bispo de Aveiro
O «inconseguimento» de Montenegro
Há 44 minutos
4 comentários:
Sou dos que embarca nessa onda de pessimismo:basta-me olhar à minha volta para concluir por essa negritude.
E o pior de tudo é que pressinto-basta olhar para o retrato que a blogosfera dá-que se vai continuar a persistir neste caminho sem saída aparente.
É preciso fazer esforço para ser optimista preocupado. Não podemos deixar que o pessimismo nos imobilize. Repare que nos meus textos procuro deixar uma nesga de esperança por onde se vislumbra uma solução, assim os responsáveis queiram avançar. O mal está em eles raramente quererem perder regalias em favor do comum dos cidadãos. Esse egoísmo e ambição é qu nos está a perder, mas talvez eles venham a tornar-se gente séria!!!
Um abraço e bom fim de semana
Caro João Soares,
o Bispo denuncia num artigo mais recente no Correio do Vouga que o PS anda de mão dada com a Maçonaria...
Mereceu destaque no DN de ontem se não estou em erro!!
Portugal está numa encruzilhada...
Veremos quem serão os condecorados de amanhã dia de PORTUGAL, de Camões e das comunidades...Estas estão insatisfeitas e cancelam eventos propostos pelo Secretário de Estado das comunidades António Braga, que é um homem "muito trabalhador", por isso entre outras coisas, acumula o fardo de ser também Presidente da Assembleia Municipal de... Braga, é claro. Não vá o diabo tecê-las e enviá-lo para o olho da rua no governo (já o ,merecia há muito) e assim tem o seu tachinho lá na sua cidade onde com Mesquita Machado fazem uma panelinha de várias décadas ao "serviço do povo e dos cidadãos de BRAGA"!
Poderodependentes... e não se tratam, estão viciados!!
Já viu o poema aos combatentes no aromas??
Coloquei-o agora porque estamos amanhã é o dia dos COMBATENTES.. TAMBÉM!!!!
Abraço
MR
Caro Mário Relvas,
Já tinha visto o poema. Quis colocar um comentário mas havia dificuldades traduzidas em muitos segundos de espera entre cada letra. Tive que desistir.
São precisos mais homens como o bispo de Aveiro. Há muita coisa mal. Não é só a Ota, e tal como nesta é preciso que percam o medo de falar. Já viu que contra a Ota já vários socialistas bem conhecidos como, por exemplo, Augusto Mateus e António Vitorino.
Um abraço
A J S
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