Marrocos e Frente Polisário. Um caso concreto de negociação para resolver conflitos e evitar a guerra (ver Jornal de Notícias de 19 e 21 do corrente)
Marrocos e a Frente Polisário iniciaram, no dia 18, em Manhasset, Long Island, nos Estados Unidos da América, uma nova ronda de negociações directas para resolver o seu litígio em torno do Sara Ocidental. Este passo diplomático foi promovido pelas Nações Unidas, que dá seguimento à resolução 1754 adoptada pelo Conselho de Segurança no passado dia 30 de Abril, que defende a negociação "sem condições prévias". Como é vulgar nas negociaões, as partes pretendem melhorar a sua posição e, assim o chefe da delegação saraui, o presidente do Parlamento saraui Mahafud Ali Beiba, disse: "Não estamos optimistas. Pensamos que a nova proposta marroquina não traz nada de novo".
Beiba, virtual "número dois" da Frente Polisário explicou, numa alusão à proposta de Marrocos de dotar a ex-colónia espanhola de um regime autonómico, que "Qualquer referendo no Sara deve incluir mais opções para além da autonomia",
Pelo seu lado, Khalid Henna Al Rachid, presidente do Conselho Real Marroquino para os Assuntos Sarauis, manifestou confiança no êxito do diálogo: "Vimos com grande fé e uma grande esperança em que se resolva o conflito do Sara".
Terminada a reunião, Marrocos e a Frente Polisário "chegaram a acordo sobre o facto de o processo de negociações dever prosseguir em Manhasset (arredores de Nova Iorque), na segunda semana de Agosto de 2007", como revelou, através de comunicado, Peter Van Walsum, enviado especial do secretário-geral da ONU para o Sara Ocidental.
Recorda-se que este país do Norte de África - limitado por Marrocos (norte), a Argélia (leste), a Mauritânia (leste e sul) e o Oceano Atlântico (oeste) - foi uma colónia que Espanha abandonou, em 1975, sem infra-estruturas e com uma população analfabeta e desprovida de tudo. O Sara Ocidental não é só deserto, tendo as minas de fosfatos mais ricas do Mundo, grandes reservas de petróleo e de gás natural, e mares abundantes em recursos piscatórios.
Há 32 anos, embora Espanha estivesse vinculada ao compromisso (a pedido da ONU) de iniciar o processo de descolonização do território (envolvendo a convocatória de um referendo), Marrocos e a Mauritânia invadiram o Sara Ocidental, que Marrocos anexou. O ditador espanhol Francisco Franco estava agonizante e, perante o abandono do Sara Ocidental, a Frente Polisário (FP), apoiada pela Argélia, reclamou a independência, em luta com os dois invasores. Em 1979, a Mauritânia fez as pazes com a FP e renunciou às suas pretensões sobre o território. Depois, sob os auspícios da ONU, Marrocos e a FP assinaram um cessar-fogo, que está em vigor desde 1991.
A ONU iniciou então o processo para promover o previsto referendo, que nunca se realizou, devido a desacordos entre Marrocos e a FP sobre o recenseamento da população, maioritariamente nómada. Para a ONU, o Sara Ocidental continua a ser um território a descolonizar e Marrocos nunca foi reconhecido como potência administradora. A invasão marroquina obrigou dezenas de milhares de sarauis a refugiar-se em território argelino. Mas a Argélia está tida actualmente pela Europa como uma ameaça, depois de ali se ter estabelecido a organização terrorista "al-Qaeda no Maghreb islâmico".
Encontra-se actualmente em Portugal a ex-prisioneira e activista saraui, Aminatou Ali Ahmed Haidar, para falar sobre o desrespeito pelos direitos humanos no Sara Ocidental,. É acompanhada do ministro delegado da FP para a Europa, Mohamed Sadati, que têm conferências agendadas no Porto e em Lisboa.
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Há 6 horas
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História do conflito do Sara
A frente Polisário, criada em 1973, foi baptizada com o nome de Polisário ou, ainda, frente de libertação de Essaquia Al Hamra e de Oued Eddahab; o seu ramo armado tem o nome de Exército de Libertação Popular Saraui (ALPS).
O grupo fundador da Polisário é composto de jovens marroquinos de origem saraui que prosseguiam os seus estudos na universidade Mohammed V em Rabat.
No entanto, as situações catastróficas sofridas pelos criadores da Polisário não podem ser ignoradas de ninguém, sobretudo daqueles que as viveram.
Não nos podemos esquecer que eles formavam um grupo de uma trintena de jovens universitários, todos os originários das províncias do Sul marroquinas, que tinham decidido um dia tomar as rédeas do seu próprio destino.
Foi nesse momento que eles aproveitaram a realização das festividades do Moussem de TanTan para manifestar nas vielas estreitas daquela cidade (que ainda não o era naquela altura) e, ao quebrar o equilíbrio estabelecido depois de uma dezena de anos, a resposta não se fez esperar.
O Caïd da zona ordenou, por conseguinte, o aprisionamento destes perturbadores de última hora, e como na altura não existia uma prisão propriamente dita, este improvisou uma, e amontoou-os numa rústica mansarda de uma dezena de metros quadrados, dotada apenas de uma pequena porta, sem janela, e debaixo de um calor sufocante.
Nenhum deles podia esquecer a dureza da vida e a coragem que os tinha levado a esta situação. Viviam, como os seus pais e mães, numa miséria inconcebível, degradante, desumana. Nesta aldeola, não existiam estradas alcatroadas, nem passeios, nem água corrente, nem saneamento, nem electricidade, nem investimentos, nem, certamente, trabalho, nada que permitisse dizer que esta região fazia efectivamente parte da pátria mãe.
Estas figuras ilustres, filhos de heróis, e eles próprios membros gloriosos do Exército de liberação nacional, que tinham vindo colher o fruto da sua vitória, encontraram-se, de um dia para o outro, compactados numa mansarda sem quaisquer condições, dormindo no chão, sem tapetes, nem mesmo uma esteira, debaixo de um tecto improvisado.
Viviam apenas da assistência nacional, graças à distribuição de sacos de farinha distribuídos a conta-gotas e, para cumulo da história, quanto mais delatavam o seu vizinho, mais bem vistos eles ficavam, ou mesmo, mais bem considerados eram, e menos sujeitos à fome ficavam. Adeus dignidade!!!
É neste estado de miséria absoluta que estes corajosos guerreiros e os seus descendentes e, para alguns, mesmo os seus ascendentes, vegetavam desde que a operação Ecouvillon os tinha lançado no caminho sem saída do êxodo.
Contava-se aos milhares o número de pessoas vindas em busca da liberdade, de felicidade e de paz na dignidade. Infelizmente, nada disso foi obtido, e foi neste mundo esquecido de todos: responsáveis locais e regionais, que esta trintena de universitários tentou fazer-se entender e gritar todo o mal que pensava da sua situação social, económica, cultural e política!
Não devia ter sido subestimado o despeito e o ódio que os responsáveis administrativos tinham contra estes jovens, vindos não sabemos de que planeta, e que nem eram nem submissos nem resignados, como os seus pais. Até eram acusados de se exprimirem e de manifestarem o desacordo com a ditadura do Caïd.
Como ousam eles desafiar o poder do governador invisível erigido num monumento sagrado?
Como pretendem eles ter a audácia de dizer em voz alta o que as suas famílias pensam em silêncio?
Como foi possível ganharem a temeridade do "desesperado" para levantar a cabeça e chegar aos calcanhares do califa do bairro?
Para resfriar estas "cabeças quentes", nada melhor do que os espancar, mas este trabalho não devia ser feito por qualquer pessoa, e muito menos por um guarda militar ou um polícia. Não, eles não mereciam este privilégio, mais valia suspende-los, fecha-los, privar-lhes de comida, deixá-los sufocar e sofrer o martírio enquanto não chegasse uma secção de Makhzen móvel, estacionada a mais de duzentos Km a norte (em Bouizakarne) para os fazer vir especialmente a fim de os torturar, humilhar e fazer-lhes provar as queimaduras das chamas ardentes da dor do "indefeso", espancados por aqueles que eram considerados os mais medíocres e desumanos entre os serviços de ordem.
Nem os jovens, nem os mais jovens, compreendiam o que se estava passar, porque o seu único delito, ou melhor, o seu único crime, tinha sido de um certo dia, terem aberto os olhos, mais do que os seus pais, e terem organizado uma marcha na véspera desta catástrofe, nas vielas estreitas desta pequena povoação de Tan Tan.
Eles manifestaram para que Marrocos recuperasse ou fizesse algo para recuperar o seu Sara, que seria a garantia da melhoria de uma situação ressentida como insuportável e profundamente desesperante.
É perante esta incompreensão, este tipo de cidadania, de terceiro nível, que a sua revolta foi destrutiva e devastadora, que a ira se incrustou nos corações e nos espíritos dos mais extremistas, por serem os menos pacientes e os mais afectados pelo soar das sirenes do progressismo, os mesmos que mais se agitavam e se uniam à ideologia em voga naquele momento no nosso país, isto é, uma ideologia que pretendia erradicar tudo e que preconizava a aceleração do ritmo de uma mudança brutal.
Para resumir, tratava-se daqueles que eram incapazes de separar o trigo do joio na desordem dos anos 70 em Marrocos, os que não tinham tempo para refletir e fazer a distinção entre o que compete, no exercício do poder, à pequena autoridade local, e o que incumbe ao Estado central.
Aqueles que estavam convencidos que seriam eternamente incompreendidos e que tinham decidido fazer-se entender pela força. Resumidamente, os mais idealistas que acreditavam na revolução mundial, no Cheguevarismo e no Castrismo, decidiram, então, romper com o seu passado e renegar as suas origens, bem como as dos seus antepassados.
Foi então dada ordem aos mais vulneráveis deste grupo para se dispersarem e desaparecerem, precisamente para escaparem às rusgas dos visitantes nocturnos, para se encontrarem noutros lugares, com certos líderes, para vingarem a honra perdida e fazer justiça, devolvendo ao carrasco os golpes que ele lhes tinha infligido de bom grado!! Depressa foi procurado o responsável deste cataclismo e averiguado o nível hierárquico ao qual este pertencia.
A resposta não dava aso a qualquer tipo de dúvida: não, o califa não tem poder, o Caïd tão pouco, o guarda militar ou polícia não são ninguém e ainda menos os pobres Mokhaznis. Quanto ao governador, é "intocável" e de qualquer modo ninguém ousaria afirmar que o viu ou o ouviu, para poder testemunhar a sua existência real, nenhum dos membros deste staff pode ser considerado responsável destas "desgraças humanas".
Não, o responsável, é quem permitiu a esta escumalha de responsáveis locais de se comportarem como leões neste deserto largado ao Deus dará. Esta responsabilidade só pode incumbir à própria Administração marroquina, e não pode ser assumida por qualquer membro da administração, qualquer responsável ou funcionário e, de um modo geral, por todos os que tinham o direito e a possibilidade de abrir a boca!
É necessário, por conseguinte, vingar deste Estado que não soube, ou não pôde ou, pior ainda, não quis proteger os cidadãos, considerados como os mais pobres, embora se possam orgulhar de terem sido os mais fiéis. A decisão ergueu-se como um ideal, melhor ainda, como um mito, que infelizmente, com o passar do tempo se transformou em quimera que gerou um pesadelo.
Certamente, no início dos anos 70, estes jovens universitários marroquinos de origem saraui tinham reivindicações legítimas, de ordem política, económica e social, mas tratava-se de reivindicações de carácter interno, que tiveram lugar num quadro exclusivamente marroquino.
Estas reivindicações surgiram num momento difícil da história de Marrocos, num momento em que o Estado estava submetido a fortes pressões externas e internas. Podemos afirmar, sem equívoco, que naquela altura, ou seja, durante os anos 70, Marrocos não dispunha de qualquer poder ou força política capaz de responder de maneira positiva e favorável a uma reivindicação de carácter regional, por muito legítima que esta fosse.
Nesta altura, Marrocos estava confrontado com desafios enormes de ordem interna e externa. As prioridades eram outras, dadas as circunstâncias da época, dado que a conjuntura estava marcada por um contexto muito hostil de guerra fria e de incessantes conflitos entre árabes.
É por isso que uma parte deste grupo de universitários marroquinos de origem saraui que prosseguiam os seus estudos em Rabat, sentiu a vontade de vingança, após a repressão da manifestação de Tan-Tan, dos aprisionamentos, dos maus tratos e das torturas que se seguiram.
Estes maus tratos levaram estes jovens universitários a aliarem-se a certos países, num contexto de guerra fria e de conflitos entre árabes e entre africanos. Naquela altura, este tipo de alianças era perfeitamente permitido.
Estes estudantes universitários manifestaram esta vingança contra o seu próprio país de origem, isto é, Marrocos, do qual são originários os seus antepassados, todos os seus antepassados. Os seus pais lutaram incansavelmente, no âmbito do Exército de libertação, para a libertação do país onde estes jovens sarauis prosseguiram os seus estudos.
Os seus pais defenderam com ardor o sultão Mohammed V e prestaram fidelidade ao seu falecido filho, o Rei Hassan II. Havia que ter um pouco mais de bom senso. Nunca haviam de se ter esquecido que as autoridades marroquinas que eram, aquando da manifestação de Tan Tan em 1972, responsáveis pelos maus tratos, torturas e perseguições destes jovens universitários, também tinham sido vitimas de duas tentativas fracassadas de golpes de Estado.
Eis o panorama das grandes contradições de Marrocos dos anos 70.No entanto, todos estes motins não influenciaram o decorrer normal da história, pela simples razão que a questão do Sara é uma questão de descolonização entre Marrocos e a Espanha.
Tendo estado sob o protectorado de duas potências coloniais, a França e a Espanha, Marrocos teve que recuperar, gradualmente e por etapas sucessivas, a parte do território que estava sob o protectorado espanhol, começando pela zona do norte e Tanger em 1956, Tarfaya e Tan Tan em 1958, Sidi Ifni em 1969 e o Sara em 1975. Está marcado na história.
Isto sempre se verificou com a nossa vizinha e amiga Espanha. Todos os conflitos com este país, relacionados com o fim do protectorado, foram resolvidos pela negociação e através de vias pacíficas. Ora, os adversários de Marrocos, que fomentaram o conflito do Sara e se opõem à conclusão da sua integridade territorial, financiando e ajudando o movimento da Polisário, prepararam antecipadamente as condições desta oposição a Marrocos.
Resultado: este movimento tinha sido acolhido pela Argélia no seu território em Tindouf, devido às divergências existentes naquela época entre Marrocos e a Argélia, no que se refere às fronteiras comuns, e na altura em que Marrocos tinha concluído um acordo com Espanha, em conformidade com as relações históricas que sempre existiram entre os dois países.
De resto, Marrocos recuperou o seu Sara, através da negociação e do consenso, de acordo com o procedimento habitual que sempre manteve com a Espanha.
Tendo Marrocos recuperado as suas províncias do Sul, a Polisário não encontrou melhor idéia do que levar uma parte da população saraui para campos instalados no território argelino, aos quais foi posto o nome de campos dos refugiados, ou ainda, designados sob denominações fictícias, tais como campo de Laâyoune, campo de Smara, campo de Aouserd, ou campo de Dakhla.
A Polisário mentiu e manipulou a população que foi conduzida a Tindouf, na Argélia. Todos os Sarauis sabem que nos meses de Novembro e Dezembro de 1975, a Polisário tinha pedido a muitas pessoas para assistirem a reuniões em Gueltat Zemmour e quando essas pessoas se apresentaram para as ditas reuniões, foi-lhes pedido para se apresentarem para uma outra reunião em Bir Lahlou. Em seguida foi-lhes pedido que se reunissem em Tindouf, como armadilha para nunca mais os deixar sair de Tindouf.
Infelizmente, por falta de meios de transporte, a maior parte destes sequestrados ficou retida em Tindouf até hoje. Mas muitos deles aperceberam-se da armadilha e utilizaram todos os meios para regressar às suas casas, em Smara, Laâyoune, Dakhla e Aouserd.
Este facto verídico é do conhecimento dos Sarauis, pelo menos dos que tinham mais de 15 anos naquela altura. A Polisário premeditou, planeou e executou a instalação dos campos no território argelino.
Por que motivo a Polisario criou estes campos e continua a mantê-los num território que não é o seu, tomando por reféns as populações desmunidas de documentos de identificação, confinadas nos campos e sem liberdade de circulação?
Estas populações são vigiadas dia e noite pela Polisário que alista os seus filhos nas escolas, ensinando-lhes exclusivamente o ódio e inculcando-lhes o desespero. Perguntamo-nos quais são as razões humanamente aceitáveis que permitem a um grupo de líderes da Polisário de reter contra a sua vontade, durante mais de trinta anos, estas populações em campos? Qual é realmente o objectivo? Será uma moeda de troca?
Podemos adivinhar facilmente que sem a existência destes campos, o movimento político-militar chamado Polisário nunca teria existido. A existência da Polisário está directamente ligada à existência destes campos. Mas, esta política não leva a nenhum lado, e só poderá conduzir ao caos da deriva.
A própria existência destes campos num território hostil e em condições desumanas durante um tão longo período é uma violação flagrante dos direitos do homem.
Com que direito se pode deixar as pessoas viverem em tendas mais de 30 anos? Com que direito se pode impedir as pessoas de circularem livremente? Com que direito se pode alistar os seus filhos e inculcar o ódio e o desespero? Com que direito se pode impedir as pessoas de viverem como as outras? Com que direito se pode dispor, à vontade, da vida de uma parte da população saraui nos campos? Com que direito se pode vender a miséria humana às organizações de caridade internacionais?
São estas as verdadeiras e mais importantes violações dos direitos do homem, porque elas afectam a própria essencia do ser humano e a sua liberdade de escolher e de dispor de si próprio e da sua família.
A Polisário tem violado, constante e deliberadamente, os direitos do homem mais elementares há mais de 30 anos. Reteve prisioneiros marroquinos durante mais de 25 anos, que estiveram separados das suas famílias e dos seus pais no sofrimento total.
Qual a razão para ter infligido tanto sofrimentos a estes prisioneiros, que são seres humanos para todos os efeitos? Porque motivo os retiveram durante mais de 25 anos em condições insuportáveis, com todas as torturas físicas, psicológicas e morais que isto implica?
As perguntas são imensas, sem que se encontre uma única resposta justificável. Finalmente, este movimento foi obrigado a liberta-los sem qualquer contrapartida política. A Polisário instalou em seguida o seu Estado-maior em Hassi Rabouni, em Tindouf, e apropriou-se desde 1976 dos nomes de certas pessoas, sem qualquer fundamento jurídico, histórico e legítimo e sem a mínima consulta às populações sarauis.
A Polisário é um movimento político-militar que instituiu um sistema semelhante ao que existia nos países antigamente totalitários, com partido único, uma instituição única, uma estrutura única e uma burocracia única. O conjunto reunido num pensamento único.
Instaurou um controlo armado das populações que ele detém ou que controla, utilizando a ajuda alimentar como um instrumento de chantagem permanente e gere a população dos campos através de um sistema de controlo físico, psicológico e moral rígido, tipo Comissário político para cada actividade e serviço.
A frente instaurou os métodos de delação como meio de controlo e o alistamento permanente, ou melhor, a lavagem de cérebro dos jovens, dos adultos, como a deturpação da história ou a manipulação dos acontecimentos e o ensino do ódio como regra geral.
A Polisário é um produto de uma outra época, antes do desmoronamento do sistema totalitário, já quando o mundo começou a sofrer grandes alterações em 1991, ela permaneceu à margem destas mudanças: sem eleições livres, sem democracia, sem pluralidade, sem liberdade de expressão, sem liberdade de opinião e sem sociedade civil.
Impôs um hermetismo total e absoluto e uma compartimentação completa das estruturas de modo a que elas perdurem. Todos os movimentos de carácter político ou politico-militar semelhantes à Polisário desapareceram desde a queda do muro de Berlim. Quer mudaram de nome ou se autodissolveram, ou criaram novas estruturas correspondentes ao novo mundo globalizado, livre e democrático.
A Polisário, que pretende ser uma entidade independente, criou uma certa República Árabe Saraui Democrática (RASD), dando, ao mesmo tempo, às terras libertadas por Marrocos, o nome de Sara Ocidental ou de territórios ocupados.
Esta "RASD" está em contradição flagrante com o pedido da Polisário de um referendo de autodeterminação.
Como se pode pedir um referendo de autodeterminação para todos os Sarauis e responder antecipadamente ao seu desejo e à sua vontade criando uma entidade que não tem nenhuma base moral, histórica ou democrática?
Estes são exactamente os métodos dos movimentos totalitários antidemocráticos. Trata-se de uma prática muito conhecida, de responder em nome do povo às perguntas que não lhe são directamente feitas. A proclamação unilateral, por parte da Polisário, da "RASD" é uma violação flagrante do direito internacional. Trata-se do desrespeito da vontade do povo, o desrespeito das regras da democracia e a vontade deliberada e premeditada de obter lucros políticos através da fraude e da mentira.
É precisamente por isso que a Polisário desacreditou o seu pedido de autodeterminação livre para o povo saraui, manipulando as respostas dadas antecipadamente. Não podemos presumir que ela respeite a decisão do sarauis, uma vez que responde, por eles, antecipadamente. Não podemos pretender ser honestos e responder pelos outros. Não podemos dizer que somos fracos e ao mesmo tempo ludibriar nos princípios.
Ninguém pode dizer que existe um direito de autodeterminação dos povos de decidir do seu futuro livremente, sem qualquer pressão de qualquer parte que seja, e desacreditar-se respondendo antecipadamente a uma questão que ainda não foi levantada.
Ninguém pode dizer que é honesto, tendo anteriormente enganado. A "RASD" não tem qualquer existência territorial, ela instalou-se em Tindouf, na Argélia, e não tem povo, porque a única população de que dispõe, compõe-se de retidos dos campos que detém e controla contra a sua vontade, não é o resultado de uma eleição. Ela não dispõe de qualquer atributo de soberania, só existe na Internet e nas instituições fictícias no território de um país estrangeiro.
A Polisário, que instaurou em Tindouf instituições fictícias, tais como o governo saraui, a cruz vermelha saraui (CRS), a união da mulher saraui, a união da juventude saraui, não faz quaisquer diligências para organizar no solo argelino festividades comemorativas, como por exemplo: o 27 de Fevereiro, o 10 de Maio, o 20 de Maio ou ainda o 12 de Outubro.
Desde a sua criação, a Polisário tinha nomeado o seu primeiro secretário-geral Chahid El Ouali que foi sucedido pelo denominado Mohamed Abdelaziz, nomeado em seguida presidente, secretário-geral da Polisário ou chefe da Polisário.
A frente também não deixou de criar os seus meios de comunicação social de propaganda para apoiar as suas teses separatistas, nomeadamente "a agência de imprensa saraui", (SPS), "Rádio Sahara" ou ainda "Rádio Polisário" lançando-se de corpo e alma numa quimera absoluta sobre a questão do Sara.
De facto, quando perdeu a guerra e após o fracasso do projecto do referendo, que de resto, é irrealizável visto que seria necessário alterar todas as fronteiras, a Polisário começou a afirmar, a quem a quisesse ouvir, que o Sara é um território ocupado por Marrocos e que esta região sofre todas as formas de repressão política e de violações dos direitos do homem.
A Polisário não está em posição de poder dar lições em matéria de direitos do homem a quem quer que seja. Todos sabem que as fronteiras na região do norte oeste africano, nomeadamente os confins maroco-algéro-mauritano-malianos, foram traçados com uma régua, no momento da divisão desta parte dos territórios africanos, entre a França e a Espanha.
As fronteiras actuais não obedecem a qualquer critério de ordem geográfica, humana ou de qualquer outro tipo. Pode-se dizer, com toda a certeza, que estas fronteiras foram traçadas arbitrariamente aquando da partilha. É a razão fundamental que deu origem ao fracasso do projecto do referendo.
Os sarauis não se encontram só em Marrocos. Toda a parte do sul ocidental da Argélia, de Bechar até à fronteira mauritano-maliana, é uma região de tribos sarauis, assim como toda a parte do noroeste do território da Mauritânia e o extremo norte do Mali entre Tombouctou e a fronteira argelina, passando por Taoudenni.
É por isso que, para ter um referendo de autodeterminação livre, democrática, justa, honesta e global que permita a todos os Sarauis, sem excepção, se pronunciarem sobre o seu futuro, como o desejava as Nações Unidas, no seu plano de resolução inicial, seria indispensável alterar as fronteiras dos quatro países em causa, nomeadamente de Marrocos, Argélia, Mauritânia e Mali, de modo a que fosse possível dispor ao mesmo tempo das populações sarauis e do seu espaço geográfico e histórico, antigo e actual.
Estas mudanças de fronteiras são obviamente impossíveis, ilógicas e desprovidas de qualquer carácter de responsabilidade. Por conseguinte, o referendo baseado na identificação é, também, impossível de se realizar. Qualquer insistência em organizá-lo é uma vontade deliberada de eternizar inutilmente o conflito e o sofrimento das populações. Na mesma ordem de ideias, a Polisário não hesitou em criar mais instituições, totalmente fabricadas, com a cumplicidade de certas pessoas anti-marroquinas, por diversas razões, como é o caso das associações de amizade com o povo saraui, as associações dos direitos do homem, as associações de solidariedade com o povo saraui, as associações de solidariedade com a RASD, as associações de ajudas humanitárias, a Associação Chahid El Ouali, a associação Oum Driga, a associação dos amigos do Sara ocidental, ou a associação dos amigos do povo saraui.
Embora a Organização das Nações Unidas (ONU) tenha concluído a impossibilidade de organizar um referendo para o Sara, sem a mudança das fronteiras, a Polisario não encontrou nada melhor do que inventar a questão da autodeterminação, argumentando que esta, através do referendo, só pode conduzir ao separatismo.
No entanto, a carta da ONU, que constitui a mais alta jurisprudência a nível internacional, estipula que a autodeterminação deve ter em conta a unidade e a integridade territorial do país e que a autonomia permanece uma das melhores fórmulas da autodeterminação.
Esta autonomia existe nos países ocidentais mais desenvolvidos do mundo. É por isso que, a comunidade internacional denunciou a Organização da União Africana (OAU), por ter violado deliberadamente o direito internacional reconhecendo a fantasmagórica "RASD", do mesmo modo que a instituição que a substituiu, a União Africana (UA), que desviou igualmente do direito internacional, reconhecendo uma entidade que foi declarada por um movimento politico-militar e não com base numa consulta referendária .
Em contrapartida, o resto das organizações internacionais, como a ONU, os países não alinhados, a Liga árabe, a Organização da Conferência Islâmica (OCI), a União Europeia (UE) e a União Asiática, recusaram categoricamente de negar o direito internacional e conformaram-se com as resoluções do Conselho de Segurança da ONU, ou seja, encontrar uma solução política e consensual para o conflito estéril do Sara, através da negociação e do diálogo.
Com efeito, este conflito impediu a construção da União do Magrebe árabe (UMA), obstruiu todos os acordos entre os países irmãos vizinhos, Marrocos e Argélia, e impediu as famílias sarauis de regressar às suas casas para viver com os seus familiares.
Criou igualmente uma fonte de tensão no noroeste de África e fomentou a proliferação do tráfico humano, nomeadamente a imigração clandestina, o tráfico de armas e de droga, o desvio de todos os tipos de mercadorias nos campos, bem como o aparecimento do terrorismo.
A ONU envia com frequência, a estes campos, delegações do Programa Alimentar Mundial (PMA) e do Alto Comissariado para os Refugiados (ACNUR) a fim de inquirir sobre a má gestão e sobre o desvio da ajuda humanitária procedente destas instâncias e da Direcção da ajuda humanitária europeia (ECHO), destinada, em princípio, aos retidos destes campos.
O desvio da ajuda humanitária foi confirmado por várias ONG internacionais, nomeadamente "US Committee for Refugees and Imigrantes (USCRI)", “La Fondation France-Libertés” e o “European Strategic Inteligency And Security Center” (ESISC).
Estas Organizações chamaram, várias vezes, a atenção da Comunidade internacional para este fenómeno de desvio e sobre o seu impacto na situação humanitária das populações retidas nos campos de Tindouf, na Argélia.
Apesar desta triste história, a Polisário pode ainda redimir-se e retornar à razão. É inútil de se obstinar e continuar no erro. A victória nunca pertenceu aos radicalistas. Hoje, a história dá a oportunidade à Polisário de concluir um acordo honroso e vantajoso para as nossas populações e as nossas famílias.
Hoje, a história oferece à Polisário a ocasião de abrir as portas da esperança, de fazer esquecer os sofrimentos, os erros e os incumprimentos morais. Hoje, a história oferece uma ocasião em ouro à Polisário para aceitar a única solução possível, a única realizável, a mais adequada, isto é, a autonomia política, sob a soberania do Reino de Marrocos.
Se a Polisário tem um mínimo de sentimentos ou um mínimo de respeito para com os Sarauis, deveria aproveitar esta oportunidade histórica.
A Polisário deve sair da armadilha onde se encontra e não deve servir os interesses de outrem, ou ser utilizada contra os interesses do Reino de Marrocos por uma questão de hegemonia política.
Querem saber algo mais sobre a Polisário? Olhem aqui:
http://www.dailymotion.com/video/xm65h_polisario-bande-de-terroristes_news
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