uh! uh! uh! abaixo, abaixo a liberdade!
Ferreira Fernandes, DN, 070709
Estádio do Benfica, 7 de Julho de 2007, a multidão assobiou a Estátua da Liberdade. Não a assobiou por boas razões e havia uma: a estátua era a pior equipa no Campeonato das Maravilhas. Assobiou-se porque a multidão está agora para aí virada: o que vem da América é mau. A 6 de Junho de 1944 vieram dela uns barquitos com o mesmo nome da estátua, liberty boats, desembarcaram na Normandia e salvaram-nos, mas a multidão já esqueceu. O próprio da multidão é ter memória e vista curtas. Por exemplo, naquele dia, no estádio, a multidão não assobiou por não haver uma só maravilha ligada à sua história próxima - nem a Capela Sistina... A época é de pedir desculpas ao mundo. Mas porque perco eu tempo com os estados de alma da multidão?!
Estádio de Alvalade, 31 de Março de 1974, um Sporting-Benfica a três semanas do que sabemos. A multidão virou-se para a tribuna de honra e, de pé, ovacionou Marcelo Caetano. As multidões não assobiam nem aplaudem, marram.
NOTA: No seu estilo irónico, Ferreira Fernandes obriga-nos a pensar seriamente em assuntos de importância transcendente. As multidões são arrastadas por «ordens» subtis que mexem com sensações e sentimentos da moda, do momentaneamente correcto. Cada elemento de uma multidão levado a raciocinar serenamente, sem pressões exteriores, sem dúvida que recusaria as suas atitudes tomadas no anonimato da mole humana. O comportamento de uma multidão pode ser altamente explosivo, imprevisível, se for para isso conduzido por «palavras de ordem» adequadas. É uma realidade esta fraqueza do ser humano. Como se viu no caso citado no final do texto, a volubilidade das multidões é um facto indiscutível, dependendo apenas do «domador» do «pastor», porque como diz o autor, elas «não assobiam nem aplaudem, marram».
Que continue
Há 2 horas
6 comentários:
Caro João,
O Ferreira Fernandes, de quem sou leitora fiel, sabe bem dessa coisa terrível que é o poder das massas. Da manipulação incontrolável, quando conduzida por quem disso está habilitado a tirar partido.
Seja num estádio ou num comício... o indivídui perde a sua identidade e a sua vontade própria, entregando-se, inconscientemente, ao comportamento colectivo, por mais absurdo que seja.
Um abraço
João
Penso que por simpatia FF não quis referir a enorme "maravilha" que o nosso PM recebeu.
E mais não digo.
Cara Meg
Concordo com as suas considerações acerca do poder das multidões. O jornalista Ferreira Fernandes tem uma subtileza extraordinária e uma ironia rara na abordagem de temas difíceis.
Caro Amaral, acerca da «maravilha», considero que foi uma situação angustiante. Repugna-me a ideia de o Primeiro-ministro ser vaiado em sucessivas ocasiões em que aparece em público em situações festivas, que deviam ser de gala.
Mas, há trinta anos, que andamos a ouvir que o povo é quem mais ordena, em que Mário Soares disse que temos o direito a manifestar a nossa indignação, em que o actual PR disse para não nos resignarmos. É só isso que está a passar-se. É o povo a mostrar o seu descontentamento. E, face a isso, o primeiro-ministro, em vez de moralizar a governação, ponto por ponto, zanga-se, evita as explicações, e o diálogo e «solta os cães»; agora que não há pide, são estimulados os bufos, os delatores.
Há ministros que em público, em actos de governo dizem graçolas como o da Saúde, o da Economia, o das Obras Públicas, tendo este dito subtilmente que é «engenheiro formado pelo IST e inscrito na ordem»! Uma secretária de Estado teve a franqueza de, em acto público, referir-se à liberdade, dizendo que se pode dizer mal do governo dentro das nossas casas!!!
O Sr. PM tem boas intenções de desenvolver Portugal com reformas há muito necessárias, mas não se rodeou de uma equipa competente e capaz de «levar a carta a Garcia». E não tem tido coragem de a renovar, talvez por teimosia, por arrogância ou por estar pressionado por alguma força oculta.
Que Deus proteja o nosso País.
Abraços
Caro João Soares,
abaixo os corrutos, viva a liberdade contra a libertinagem!
Abraço
"Cilada apanha liquidatário em esquema de corrupção
alfredo cunha
Liquidatário detido propunha-se condicionar a atribuição do imóvel desde que recebesse 15 mil euros
António Soares
Um reputado liquidatário de massas falidas da cidade de Braga foi detido, n a passada sexta-feira, pela Polícia Judiciária, por suspeita de corrupção, depois de o homem ter exigido a um candidato à aquisição de um imóvel a quantia de 15 mil euros. A PJ entrou na jogada e, pouco depois de o homem ter recebido o dinheiro em notas marcadas, deteve-o no interior do seu próprio escritório.
A acção desenrolou-se por inteiro nas duas semanas que antecederam a detenção. Em causa estava a venda em hasta pública das instalações de uma indústria de serralharia da zona de Braga, da qual o suspeito, de 36 anos, era liquidatário oficial. O processo relativo à massa falida corria termos no tribunal cível de Braga, onde o liquidatário é, aliás, uma personagem sobejamente conhecida e conceituada.
O suspeito começou por fazer um primeiro contacto com um familiar da pessoa que viria a encetar o negócio. Nesta primeira abordagem, o liquidatário terá, apurou o JN, proposto condicionar a venda das instalações desde que recebesse 15 mil euros pela conclusão do "negócio".
Depois desta conversa exploratória, seguiram-se pelo menos mais dois contactos pessoais e vários efectuados por telefone, todos eles já monitorizados pelos inspectores da Polícia Judiciária que, entretanto, tinha sido posta ao corrente do caso. Toda a situação estava a ser acompanhada ao segundo e encaminhada para a conclusão do negócio, que teve lugar na passada sexta-feira, no escritório do liquidatário, na cidade de Braga.
Acertado o preço, o candidato a compra das instalações da serralharia apareceu à hora marcada no escritório com o dinheiro, em notas marcadas, para que depois fossem usadas como prova. Toda a entrega terá sido registada pelos elementos da Judiciária.
Pouco depois de concluído o negócio, os inspectores da PJ entraram no edifício e detiveram o liquidatário.
O suspeito foi já levado perante um juiz e libertado mediante o pagamento de uma caução de 25 mil euros. Em causa está o crime de corrupção passiva para acto lícito (todo o processo decorreu de forma regular e os valores pagos pelo imóvel seriam os correctos), que não admite a prisão preventiva como medida de coacção, nem a suspensão de funções como medida acessória. Por isso, o liquidatário terá apenas que se apresentar às autoridades periodicamente."
in JN
Um caso, provavelmente, como muitos outros. Felizmente foi detectado em tempo oportuno. A sua resolução é exemplo a seguir para situações semelhantes. Não de deixar levar em cantigas de bandidos, alertar a PJ para esta agir na hora.
Há que aprender com a experiência. Oxalá as pessoas e as autoridades aprendam com este caso.
Abraço
Em apoio da tese de Ferreira Fernandes, convém ler no JN o artigo de opinião de Paulo Pereira, de Almeida, Professor do ISCTE e investigador,
Ingratidão europeia
de que aqui se apresentam as primeiras linhas:
No passado sábado, aquando da eleição das "novas 7 maravilhas do Mundo", a estátua da Liberdade - uma das 20 maravilhas - foi objecto de uma vaia por parte do público que assistia - no Estádio da Luz, em Lisboa - ao espectáculo. Curiosa vaia esta, num momento em que a Europa procura respostas para a sua árdua construção.
Abraço
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