Transcrevo aqui este texto de Paulo Sempre do blog Filhos de um deus menor, porque o acho muito interessante merecedor de divulgação. Como se fala por aí em plágios, creio que este meu acto de transcrever textos devidamente identificados quanto a autor e origem nada tem de menos honesto e até me parece positivo por levar mais longe ideias disso merecedoras.
"SELECÇÃO DOS GOVERNANTES...."
O processo de selecção dos governantes depende, em larga medida, dos regimes políticos. Estes condicionam mesmo esses processos. Mas, ao mesmo tempo, os regimes políticos têm sido adoptados em função das exigências de selecção dos governantes. Assim, ao entendimento para a qual a formação dos governantes deverá ser tão longa que se inicie na infância, corresponderão argumentos favoráveis aos regimes monárquicos. Ou aos regimes aristocráticos que não se mostrem alheios às condições de nascimento. Não obstante, em todos os regimes se têm assinalado faltas graves no que respeita à formação educativa dos governantes, e à sua ulterior selecção. Há monarquias que não têm cuidado da formação dos seus príncipes. E há aristocracias que, confiadas na continuidade dos próprios privilégios e supremacia, descuraram a formação aristocrática dos seus membros. Em compensação, conhecem-se exemplos de regimes democráticos em que, sendo limitada em múmero de membros a respectiva comunidade política, como aconteceu nas cidades gregas, todos os membros dessas comunidades receberam a preparação indispensável para participarem das responsabilidades do poder. Mas também há regimes democráticos, de comunidades muitos amplas, em que o facto da maioria dos seus membros não ser analfabeta já é uma conquista . É certo que os regimes qualificados como democráticos geralmente têm-se limitado a conceder a todos - incluindo analfabetos - uma participação política em certos actos eleitorais, ou a reservá-la aos que dispõem de uma preparação cultural mínima. Mas, de direito ou de facto, esses eleitores não são, normalmente elegíveis. De tal modo que o poder acaba por ser confiado a uma aristocracia, ou falsa aristocracia, em muitos casos, que se recruta nas estruturas partidárias, nas estruturas autárquicas nas fileiras militares, em sociedades secretas....
Com tais processos de selecção dos governantes, receia-se que se tenham instalado no poder, por interpostas pessoas, grupos económicos dominantes, alheios a qualquer ideia de prossecução do bem comum.
Em países socialistas relativamente aos quais os próprios adversários dos regimes respectivos frquentemente criticavam os fins prosseguidos e os métodos adoptados, sem porem em causa a fidelidade dos dirigentes àqueles fins, haverá agora motivos para pôr em dúvida se a selecção desses dirigentes terá acautelado os povos quanto a aspectos de corrupção cuja maior gravidade provirá do facto de serem radicalmente incompatíveis com os sistemas e as estruturas que tais governantes foram chamados a servir.
É natural, por isso, que, entre as inovações e surpresas dos anos próximos, algumas respeitem a profundas revisões dos processos de selecção daqueles a quem se confiam os delicados mecanismos do exercício do poder.
Parece indiscutível que um técnico poderá achar-se habilitado a desempenhar funções governativas. Ao melhor nível de competência e de dignidade. Mas não será a qualidade de técnico que para tanto o habilita.
«Vauban», engenheiro militar, - presumo que inscrito na ordem dos engenheiros - especializado na construção de fortalezas, era um técnico. Mas concorriam nele qualidades alheias à sua técnica, que o acreditaram como homem de cultura e que o levaram ao poder. De outro modo, sem essas outras qualidades, melhor seria que tivesse continuado a fortificar as fronteiras da França...
Paulo
"Cancelamentos culturais" na América (10)
Há 2 horas
1 comentário:
No original coloquei um comentário parecido com o seguinte:
É real a necessidade de formação dos governantes e dos políticos em geral, mas não me parece que um jovem estudante deva escolher uma carreira académica específica de político, porém, antes de iniciar funções de «gestor» público, independentemente da sua preparação académica, deve fazer um curso pós-graduação de curta duração para melhor poder desempenhar as suas funções. No texto é citado Vauban e podia também citar-se Napoleão Bonaparte a quem a França ficou a dever um modelar conjunto de códigos e um período de muita eficiência das decisões.
Um governante precisa de ter noções de planeamento estratégico de médio e longo prazo e conhecer e saber aplicar um método científico de análise de uma situação e de preparação da decisão para resolver qualquer tipo de problemas e, depois, controlar a execução das suas directivas, por forma a verificar se os objectivos estão a ser alcançados ou se precisa de introduzir pequenas alterações nos pormenores de execução. Precisa de ter um conhecimento geral que lhe permita dialogar com os técnicos que o apoiam nas suas funções, por forma a poder obter deles a melhor colaboração com vista às suas finalidades, em benefício do interesse geral do País, e saber escolher os melhores colaboradores a fim de obter a melhor eficácia do desempenho da sua equipa.
A minha experiência, permite-me indicar matérias ministradas em três cursos de pós-graduação muito úteis para um gestor público do mais elevado grau de responsabilidade, alguns dos quais se realizavam em anos já recuados: «Curso Superior de Management» do INII (Instituto de Investigação Industrial), Cursos Geral e Complementar de Estado Maior do IAEM ( antigo Instituto de Alto Estudos Militares) e Curso de Defesa Nacional do IDN (antigo Instituto de Defesa Nacional). Outros cursos com idênticos currículos existirão pelo mundo. Das matérias ali ministradas, podia ser feita uma selecção compacta das mais directamente aplicáveis à função governativa. Mas, com este suporte formativo ou com outro semelhante, sem dúvida que o País beneficiaria muito quanto a decisões mais ajustadas, economia de recursos, principalmente de tempo, e consequentemente um desenvolvimento mais rápido e ajustado às reais necessidades da população em geral.
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