O mundo evolui e as sociedades alteram os seus critérios de avaliação. No tempo da pedra lascada, a força física era o factor mais determinante para a avaliação do prestígio de cada um. Ainda hoje há resquícios dessas mentalidades, visíveis nalgumas actividades desportivas.
Mais tarde, nos regimes monárquicos, o que dava valor às pessoas era o nome, o apelido, que demonstrava ter a pessoa nascido num berço privilegiado. É certo que se dava valor aos artistas, aos alquimistas e mágicos, mas não passavam de contratados como simples servos com especialidades úteis aos nobres.
Depois, em pseudo-democracias, o prestígio obtém-se por pertencer à classe oligárquica, ou pela «corrupção» através da imagem televisiva em que se exercem pressões e obtêm favores através da ostentação de projecção social, o Jet-set. Medem-se as pessoas pela qualidade do carro, pela marca do traje, pelo que se mostra possuir, e não pelo valor intrínseco, pelo que se é. Chega a ser chocante lerem-se opiniões contra o bom aluno levantar o braço a indicar ao professor que sabe a resposta à pergunta que este fez à classe, em geral. É a defesa da mediocridade e a penalização do mérito. Nas cerimónias de condecorações nacionais, raramente se vêem pessoas que, com o seu valor, contribuam para os objectivos nacionais de desenvolvimento do País para dar melhores condições de vida à generalidade das pessoas, sendo dada prioridade às que apresentam maior visibilidade na comunicação social ou no mundo da política.
Porém, nada é imutável, e chegam-nos hoje duas notícias interessantes, neste campo, uma da Alemanha, outra de cá.
Nas universidades alemãs de Friburgo e de Constança, os estudantes sobredotados são dispensados de pagar propinas. Mas existe uma condição: ter 130, ou mais, de QI (Quociente de Inteligência) e prová-lo. Os primeiros testes foram organizados nas duas universidades em Abril para o último semestre. Em Friburgo, são avaliadas as faculdades linguísticas e de lógica dos candidatos com a caução da Associação Internacional Mensa, procurando aqueles que são capazes de resolver exercícios que estão para além do alcance de 98% das pessoas. Assim, apenas um pouco mais de 2% da população beneficiará da isenção de propinas.
Em Portugal, o Governo vai criar facilidades no crédito bancário para estudantes. Os alunos com notas acima do 16 terão direito a juros mais baixos, enquanto que os estudantes com notas entre os 14 e 16 farão parte de um escalão intermédio. O Governo prevê juros mais altos para os que tiverem menos de 14.
Para as licenciaturas, está previsto um tecto máximo de 25 mil euros de empréstimo, um tecto que poderá crescer se o estudante estiver a fazer um mestrado, doutoramento ou um projecto de investigação.
O pagamento começa a ser feito um ano após concluída a formação superior, sendo que neste período o estudante deve estar à procura de um emprego, devendo o empréstimo ser liquidado até ao tempo equivalente aos anos do curso.
Nota-se, com isto, uma preocupação de dar prioridade ao mérito, embora pareça sensato que dentro de cada nível de classificações se entre em linha de conta com as necessidades financeiras das famílias. Seria aliar a recompensa do mérito ao apoio social aos que sendo bons alunos e com capacidade de virem a ser mais úteis ao País, são mais necessitados.
Há os detractores de premiar o mérito, mas basta ver que no desporto são os mais capazes que sobem ao pódio para receber os prémios; são os melhores futebolistas a receber maiores ordenados. Já na bíblia, a parábola dos talentos (Mat. 25, 14-30; Luc. 19, 11-27) premiava o melhor desempenho.
quinta-feira, 23 de agosto de 2007
Premiar o mérito no Ensino
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2 comentários:
Creio que são medidas que farão com que sejam dispensados de propinas, no caso alemão, e aliviados de juros, cá, em 90% dos casos, filhos de gente com maiores posses e tradicionalmente oriundos da alta-burguesia das cidades.
Gostaria mais de ver esses benefícios serem aplicados apenas aos que, tendo uma média boa, fossem comprovadamente filhos de classes trabalhadoras com rendimentos médios.
Um abraço.
Concordo consigo. De entre os melhores alunos, escolher os mais carentes de recursos financeiros seria uma medida de prémio ao mérito e, ao mesmo tempo uma acção social para a fraternidade e a melhor distribuição de riqueza. As crianças criadas em famílias mais evoluídas têm mais condições de base para serem melhores estudantes do que as de famílias em que não há um livro, nem uma conversa compatível com a cultura.
Um abraço
A. J Soares
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