sábado, 8 de setembro de 2007

Matizes da Segurança

Depois dos últimos posts relacionados com a Segurança Interna, não podia deixar de reparar que o artigo «perigoso costume» do JN de 8Set termina com a afirmação «um país mais justo é um país mais seguro. O que é preciso é garantir que todos tenham oportunidade de viver uma vida normal.» Isto parece incontestável.

Porém, nos dias que vão passando, os factores causais da insegurança podem vir de longe, no aspecto geográfico, devido à TV e outros meios de comunicação. As entidades responsáveis são, por isso, obrigadas a estar atentas a tudo o que se passa em «áreas de interesse» cada vez mais alargadas. É frequente surgirem autores de crimes que pessoalmente nada têm a ver directamente com a situação do País, mas procuram suprir as carências que sentem nas suas terras.

Por outro lado, é preocupante a forma demagógica e pouco responsável com que alguns políticos se referem aos acontecimentos reais, esquecendo ou querendo fazer-nos esquecer que «contra factos não há argumentos». Perante os fracassos dos agentes policiais em evitar assaltos a gasolineiras, bancos, seguradoras, caixas de multibanco, culturas agrícolas e o atear de fogos florestais em plena noite, um ministro apontou a eficiência das forças policiais ao deter dois dos assaltantes a ourivesarias em Viana do Castelo. Como as inverdades dos governantes já não espantam ninguém, não houve admiração quando veio a público que nenhum assaltante fora detido.

Mas o caso de Viana do Castelo merece mais preocupação do que o roubo do ouro. É que o assalto às ourivesarias ocorreu numa data e que a cidade estava vigiada por várias centenas de agentes policiais com vista a garantir a segurança dos ministros dos estrangeiros da EU que ali se iam reunir em cimeira. Ora, se com tanta polícia as ourivesaria foram assaltadas por pessoas que se deslocaram à vontade na cidade, ficam sérias dúvidas se aqueles governantes estrangeiros estarão eficazmente seguros.

Faz lembrar os polícias que zelando pela ordem nos jogos de futebol não tiram os olhos da bola em vez de vigiarem o comportamento dos assistentes. Certamente, também em Viana não tiram os olhos de cima dos diplomatas, para verem quando e como caem se forem atingidos por balas de terroristas de uma janela de qualquer prédio próximo.

Com tanto sintoma negativo, não é fácil viver confiante e despreocupado.

9 comentários:

Isamar disse...

Resta-nos esperar que a aplica�o correcta da justi�a nos traga definitivamente mais seguran�a.
Beijinhos

Anónimo disse...

cada vez tenho menos vontade de ler jornais, ver noticias
Esta gente é estupida ou quer fazer os outros.
todos sabem onde está o mal. a cura é que não a encontram
saudações amigas

Mentiroso disse...

Caro Amigo,

As questões de «um país mais justo é um país mais seguro» e de «mais policies na rua» para resolver a criminalidade, que são, afinal, duas partes do mesmo problema, são tão velhas que há mais de meio século fizeram dos países sem «brandos costumes» (leia-se «em que os habitantes não são carneiros»), os verdadeiros países mais seguros. Só que o clima nesses países não se presta para férias balneares. Esta questão já foi quase tantas vezes exposta quantas a falsidade dos políticos nos vem dizer que a segurança aumenta com o número de polícias na rua. As últimas foram aqui, aqui e aqui. Para quê, se o problema não é esse?

O problema não está só nas vigarices e burlas do marketing da máfia política, mas ainda noutros dois factos. Os jornaleiros escondem as notícias e outras informações de interesse a fim de não desmentirem a banda mafiosa, com ela colaborando. A população é mantida numa ignorância total do que se passa pelo mundo e como casos semelhantes são resolvidos em países democráticos e o espírito de carneiro também não a ajuda à compreensão.

Se não se corre com esta pandilha de biltres oligárquicos mafiosos cada vez será pior. As doenças raramente se curam com medicamentos adequados a outras patologias, mesmo que se apregoe que se vai no bom caminho. Alguma vez ouvimos um desses pulhas dizer algo que pudesse pôr em causa as suas próprias bestialidades? Pelo caminho que se segue a situação só pode continuar a agravar-se.

Esperar o contrário é ser pior que inocente, é estar embrutecido pela demagogia a ponto de não se poder compreender outra situação: a economia do país, que levou tanto tempo a enterrar-se, não vai erguer-se em menos de duas décadas (ou três), nem o desemprego vai diminuir, como nos querem impingir. Alimento mental para lorpas votarem e consentirem no estado geral.

Com a justiça, que também se relaciona com a questão, não estamos melhor. O Eurostat mostra como os juízes portugueses são calões, não despachando senão metade dos casos dos seu colegas da UE, não obstante o descontentamento geral de como o fazem a e o significado da arrogância de quem se toma por órgão de soberania e faz greves como operários.

A. João Soares disse...

Caros Sophiamar, C. Valente e Mentiroso,
Agradeço os vossos comentários. Todos evidenciam o ambiente pouco salutar em que estamos a viver. Os mandatários do povo soberano não estão a corresponder aquilo que os mandantes esperam do seu desempenho.
A frase «arrogância de quem se toma por órgão de soberania e faz greves como operários» aqui aplicada aos juízes, define os comportamentos de todos os políticos. Repare-se o desprezo com que ignoram as leis quando elas lhes não favorecem as trafulhices: Caso da Somague, da Portucale, dos excessos de velocidade, das variadas situações desde a corrupção ao financiamento dos partidos, das contas das campanhas eleitorais, dos «pecados» generalizados nas autarquias, nos casos dos amigos - facturas falsas, apito dourado, etc, etc.
Quanto `solução, está na mão dos detentores do Poder, mas a sua imoralidade não lhes permite acabar com os próprios vícios e sanear o funcionamento da máquina do Estado e, quanto a ir a outros países buscar modelos, só escolhem o que mais contribui para aumentar os seus vícios, em vez de procurarem o melhor para o povo nacional.
Abraços

Anónimo disse...

Só com um plano nacional, só com uma reestruturação eficaz, só com cérebro e sentido operacional se evoluirá.

Só com uma articulação ágil entre todas as "demasiadas" polícias, se conseguirá planear e executar.

A operacionalidade da polícia está ultrapassada na vertente teórica e prática. É necessário formação, é necessário seriedade entre os seus elementos. É necessário criar a polícia de assuntos internos. Muito há a investigar, mas tem que o ser por agentes isentos ao meio local!

Por outro lado há que ter cuidado com declarações a quente, sem dados objectivos, por parte de "chefes" ou RP.

É preciso saber como ser RP nas polícias nos dias de hoje. Tem que ser um elemento operacional, que saiba como decorrem as coisas, antes de falar asneira!

Quando falha uma comunicação das polícias desmorona tudo. As funções de um RP são importantíssimas!!

cumprimentos

A. João Soares disse...

Caro Mário Relvas,
Sem dúvidas que os factores que aponta são muitíssimo importantes. Oxalá um dia apareça um Director Geral que saiba e queira reorganizar as polícias por forma a bem servirem os cidadãos e criarem um são ambiente, justo e seguro.
Mas duvido que os Poderes consintam na existência de uma polícia e de uma Justiça isentas, imparciais e eficientes.
Um abraço
AJS

GS disse...

Se assim fosse... não se cometeriam tantas atrocidades! E muitas vezes, a polícia anda bem perto!!

Já me aconteceu um problema de segurança citadina, fui perto de um agente que não andava muito longe e a/o incrível resposta/apoio foi: 'Não ando aqui nessa função de segurança pública'... 'terá que ligar para a central!??!!

Continua a haver muita insegurança na via pública dos 'naturais' transeuntes!

Bom domingo!

Anónimo disse...

Caro "fragmentos culturais", esse agente estaria de gratificado a um banco, ou como elemento do dispositivo de trânsito. Mas mesmo assim, deve comunicar a alguém a situação via rádio. Caso não o tivesse deveria indicar-lhe como o fazer. Presumo no entanto que a situação seria pouco grave, porque de contrário ele teria de actuar, sem contudo pôr em causa a sua missão, se demasiado específica!

saudações

A. João Soares disse...

Um dia depois de jantar, em Bruxelas, dava um pequeno passeio nos quarteirões próximos do hotel, hoje reconheço que era uma temeridade. Mas surpreendia-me não avistar um polícia até que ao fundo da rua dois indivíduos envolviam-se em zaragata e não demorou a aparecer polícia que tomou conta do caso. Ainda hoje penso na eficiente estrutura de informação e comunicação que tinham, já em 1982.
Por cá, tenho boas histórias com polícias mas outras foram menos positivas, sendo minha impressão que os agentes são mais atenciosos e não recebem a aproximação dos cidadãos como se estes fossem perigosos criminosos, como acontecia há pouco tempo.
Há que dignificar os agentes e aumentar a sua eficiência, dando-lhes uma formação adequada e valorizando o seu serviço, a montante das suas actuações, nos tribunais.
Abraço
AJS