quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Serei eu o louco?

Pareceu-me ouvir que os carros vão deixar de poder circular nas localidades a mais de 30 quilómetros por hora. E digo «pareceu-me» porque me custa a acreditar que seja verdade e talvez não passe de mais uma «promessa», embora não estejamos em campanha eleitoral. Será possível que pessoas inteligentes como é suposto serem os nossos governantes, caiam numa dessas? Mas se se trata de uma decisão, então fico com a certeza de que o louco não sou eu!

Mas, para iniciar a explicação da minha estupefacção, esboço a definição de dois conceitos que poderão aparecer nas frases seguintes. Excesso de velocidade existe quando se circula a uma velocidade superior à fixada por diploma legal e traduzida pelos sinais colocados na via. Velocidade excessiva é a que não permite ao automobilista controlar eficientemente a viatura de forma a evitar insegurança para esta, para ele próprio, os seus passageiros ou terceiros utentes da estrada.

A velocidade máxima imposta pela autoridade é sempre exageradamente inferior ao limiar mínimo da velocidade excessiva, até porque esta varia com as condições da estrada, com as condições de segurança da viatura e com a capacidade de condução do automobilista, a qual, por sua vez, depende da sua competência, experiência, do seu estado de saúde, de medicamentos que tenha tomado e de alimentos ou bebidas que tenha ingerido, assim como do seu estado psíquico (preocupações, tristeza, alegria, etc.).

Mas a observação da sinalização rodoviária ao, longo de ruas e estradas, evidencia que as restrições da velocidade raramente são efeito de vontade esclarecida de criar segurança, antes são a tradução de abusos repressivos, autoritários e de sadismo (doença do foro psicológico). Parece que o pensamento que precede a implantação de sinais não anda longe do seguinte. Se numa via em que era permitido circular a 90, houve acidentes provocados por carros a circular a mais de 100, os «inteligentes» colocam ali um sinal de 60, como se houvesse perigo em circular entre 60 e 90.

Em Lisboa, junto ao Terreiro do Paço, uma jovem senhora, no início da manhã, atropelou mortalmente peões numa zebra que na altura tinha o sinal verde para os peões. Ia a mais de 100, talvez perturbada pela noite mal dormida, ou distraída e com os reflexos adormecidos. Esse acidente, racionalmente, não seria motivo para que ali se reduzisse a velocidade máxima permitida. O que deveria ser tentado era evitar a repetição de outros abusos homicidas semelhantes aquele.

Com base neste acidente e outros parecidos, os «inteligentes» concluíram que para obter mais segurança a solução é obrigar a circulação a não passar dos 30! Ora, seria interessante saber quantos acidentes graves e com que frequência houve a menos de 40 ou a menos de 50. Não parece lógico que, se a limitação a 40 não impede acidentes a 100, se espere que esse resultado se obtenha com a limitação a 30 ou a 20 ou a menos!!!

Mas há outro aspecto que coloca em dúvida a tal «inteligência» e a atenção às preocupações actuais com a poluição. Circulando a 30, para percorrer uma dada distância, um carro demora um pouco mais do dobro do tempo do que se fosse a 60. E, como a transmissão tem de utilizar uma relação de caixa mais baixa, o motor nesse percurso terá de dar cerca de quatro vezes mais rotações, consumindo uma quantidade de combustível proporcional, do que se conclui que a cidade passa a ter o ar mais poluído, com mais do quádruplo de CO2. Isto é grave numa data em que tanto se fala em defesa do ambiente, da qualidade do ar, e que até se proíbe fumar para proteger a nossa saúde.

Por outro lado, se as ruas já estão tão congestionadas com tanto carro, agora que cada percurso demorará o dobro do tempo, será muito maior a quantidade de carros em movimento, cerca do dobro, passando as ruas a ficar intransitáveis com filas em pára-arranca, situação em que a criação de poluição é mais potenciada. E depois? O que acontece quando não se puder circular? Para onde vão as actividades económicas?

Então as pessoas acabarão por concluir que a solução é irem para o «deserto» da margem Sul do Tejo ou para o interior que alguns ministros têm vindo sistematicamente a procurar despovoar, onde por enquanto o ar é mais puro. Então, lá terá o ministro da saúde de reabrir maternidades, SAPs, urgências, centros de saúde, e outros apoios, para apoiar a multidão fugida das grandes metrópoles!

Onde está o discernimento destes «altos» funcionários? O que pensam realmente do ambiente e da qualidade do ar? O que pensam seja do que for?… Nem as pensam!!!

6 comentários:

Amaral disse...

João
Também ouvia a notícia dessa ideia peregrina e miraculosa que, ao que parece, ainda está em estudo.
Há coisas que não lembram ao diabo, mas lembram a certas pessoas. Bem já agora é melhor colocar o tgv a 40km/h e por aí fora.
Há coisas que, de tão ridículas, até enjoam.
Que se faça cumprir a lei que existe e que se mentalizem que não é só por causa da velocidade que os acidentes acontecem.
Abraço

A. João Soares disse...

Espero que este erro irracional não vá para a frente.
Não lembra a um macaco dos mais estúpidos. Basta pensar no problema em toda a sua magnitude, para ver que a solução não é aquela.
Se não conseguem fazer cumprir o limite dos 40 muito menos o conseguirão dos 30.
Um abraço
João

Pena disse...

Talentoso e Estimado Amigo João:
Vim só agradecer as palavras sensíveis e lindas expressas no meu blog e encontro o seu surpreendente, magnífico, maravilhoso e deslumbrante "cantinho" de escrita.
Sabe, penso que o problema rodoviário deveria começar na educação e na formação escolares. A escola deveria transmitir aos jovens e crianças a verdadeira e autêntica Cidadania de estar nas estradas e o seu comportamento adequado e vivificado para o civismo e conduta exemplar nelas.
Teríamos um futuro mais promissor, menos mortes inconsciente e irresponsavelmente acontecidos nesta desenfreada velocidade que ultrapassa o normal "desempenho " de elementar civismo a que assistimos.
Já perdi amigos e amigas, vítimas de irresponsabilidade e "guerra" assumida por condutores que não sei se pensam, existem ou amam!!!!
A verdadeira atitude cívica deve ser norteada pelo respeito por famílias que pacatamente passeam ou trabalham e necessitam das estradas que energúmenos violetam e cometem atrocidades desvairadas do foro psíquico. É a única explicação que tenho para isto suceder.
Percorri com o "rato" do computador o seu blog e vi: sensatez, talento, actualidade, política (que confesso estar desencantado com ela ao mais elevado nível do pensamento e do sentir) e beleza.
Se não se importar levo na minha companhia o seu Link.
Parabéns sentidos e verdadeiros por este espaço lindo e obrigado por existir.

Abraço forte de estima e amizade.

Com respeito e imensa consideração

pena
Se disse alguma aberração ou despropósito desculpe-me!

A. João Soares disse...

Amigo Pena,
Com tal despesa em palavras simpáticas, fico em desequilíbrio. Muito obrigado.
As suas palavras são sensatas ao colocar a solução sustentada para a segurança nas estradas na educação no civismo. Esta é a solução universal que serve para tudo e que se resume no respeito pelos outros. Havendo esse respeito, assumido na íntegra, tudo na vida será mais simples, fácil e agradável. Mas, infelizmente, o civismo não existe e demorará muitos anos a criar-se. Os bloguistas temos uma tarefa a desempenhar que é incentivar o bom relacionamento entre as pessoas, com respeito mútuo e com a melhoria das condições de vida em sociedade.
Tenhamos esperança que o Mundo melhorará, mas demorará alguns anos.
Entretanto, há que fazer cumprir as leis existentes, e evitar fazer outras incompreensíveis e que só criam péssima imagem dos políticos que estiveram na sua génese.
Vou retribuir colocando aqui o seu link
Abraço de amizade

Leonor C.. disse...

É brincadeira! Somos um país de gente divertida, basta olharmos uns para os outros! Ou talvez, quem sabe, o dia das mentiras tenha mudado. Tudo é possível! O novo modelo de carro vai ser o "Caracol".
Obrigada pela tua amável visita.

Um abraço e bom ano mas que não seja a passo de caracol!

HOJE E AMANHÃ

A. João Soares disse...

Só de cabeças «iluminadas» podem sair ideias tão fulgurantes! Poderão não ir para a frente, mas só o facto de serem pensadas tem um grande significado.
Se com uma velocidade permitida de 40Km/h o Estado recebe tantos milhões em multas e coimas, está mesmo a ver-se que se o limite máximo baixar para 30, essas receitas serão multiplicadas por um número «ene» muito elevado. Grande ideia para endireitar as finanças do Estado! E não foi por acaso que semearam radares e câmaras de vídeo por todas as esquinas das cidades.
Abraço