terça-feira, 22 de abril de 2008

Polícias sem os direitos dos funcionários públicos

O actual governo, quando iniciou as funções, cheio de «fúria» matinal, atacou em todas as direcções, contra juízes, médicos, enfermeiros, farmacêuticos, professores, militares, polícias, etc e insistiu na igualdade de direitos de todos os servidores do Estado, excepto os políticos, chamando-os funcionários públicos. Na sua pressa, não reparou que nem todos os servidores do Estado são iguais em deveres e nos direitos correspondentes.

Agora, quando se completam 19 anos sobre a carga dos secos contra os molhados no Terreiro do Paço, é levantada novamente a revindicação do direito à greve, por parte dos polícias. E, logicamente, para haver coerência nas posições governamentais, não há razão para ainda não terem esse direito, à semelhança dos outros funcionários públicos como juízes, médicos, professores, etc.

Se os governantes lhes retiraram, com muito regozijo sádico, todos os direitos que os distinguiam dos vulgares funcionários públicos, e se estes têm direito a sindicato e a greve, como acontece também com os meritíssimos juízes, que até se consideram órgão de soberania, porque não os polícias poderem usufruir desse direito? Qual a razão de os polícias estarem privados dessa forma democrática de luta permitida aos outros funcionários públicos? Algo está errado nesta falta de lógica, nesta incoerência e contradição que actua como um pau de dois bicos.

Pessoalmente, não quero imaginar o que serão as grandes cidades num dia de greve da PSP. Nesse dia os prevaricadores agem impunemente, a qualquer hora, em qualquer local, sem qualquer receio. Realmente, não posso aceitar que a PSP faça greve, mas o Governo tem o dever de compensar os agentes dos sacrifícios que lhes exige, com risco e disponibilidade diferente de qualquer funcionário. Não é fácil imaginar o sofrimento de agentes que se vêm igualados aos «mangas de alpaca», mas a quem em dado momento tudo é exigido. A sua prontidão permite, em caso grave, contar com a sua presença a qualquer hora, em qualquer dia, enfrentando riscos que por vezes vão até à perda da vida, o que não acontece a um vulgar funcionário público. Se o Governo não os prestigiar, se os tribunais não derem seguimento ao seu trabalho de fiscalização e repressão da criminalidade, a segurança dos cidadãos é gravemente lesada.

Agora, esquecendo as anteriores posições do Governo, os dois principais partidos políticos «afirmam-se contra direito à greve dos polícias». Estranho!!! Então eles são ou não são funcionário públicos semelhantes aos funcionários das Finanças e outros? Se lhes são feitas exigências especiais, quais as compensações inerentes?

Parece que os responsáveis estão neste caso a usar a mesma lógica do Estado Novo, esquecendo que têm sido tomadas medidas diferentes e que nada têm a ver com os raciocínios e as prioridades dessa época. Há um conjunto de factores interligados que devem se apreciados em conjunto, para que exista coerência dentro de uma estratégia adequada.

Este tema, de forma mais ou menos directa já aqui foi referido nos seguintes textos:

- Polícias diferentes de simples funcionários públicos
- Forças de Segurança e seus sindicalistas
- Polícias querem direito à greve

7 comentários:

Amaral disse...

João
Infelizmente não são só os polícias. Muitas são as carreiras que perderam as regalias. Com este governo as "regalias/direitos" adquiridos aos longo dos anos foram sendo saqueados. Tudo por um único objectivo: números.
Abraço

A. João Soares disse...

Amaral,
Mas para que chamam a isto democracia?
Não governam para as pessoas para o bem estar e felicidade dos cidadãos. Governam para e pelos números dos quais só beneficiam os que pertencem ao clã, ou estão perto deles, e contra as pessoas.
Continuam a exigir de certas profissões e retiram-lhes aquilo que lhes tinha sido dado em compensação dos sacrifícios exigidos.
Nada melhora a não ser para eles.
Abraço
A. João Soares

Carla disse...

as exigências aumentam, as regalias diminuem...este tem sido o critério usado por este governo. Infelizmente já há algumas décadas que não se via um retrocesso tão grande no que concerne ao direito dos trabalhadores

A. João Soares disse...

Carla.
Quando eu era pequenino, há muitas décadas, ouvia dizer: «Adeus mundo, cada vez pior».
Pensava que era pessimismo dos mais velhos, mas agora vejo que não. Os velhos, com o seu muito saber, raramente se enganam, porque sabem interpretar os sintomas.
Como viverão os nossos netos?
Cumprimentos
A. João Soares

Anónimo disse...

A produtividade da Polícia Municipal


Em qualquer organização os funcionários têm que ser avaliados pela sua produtividade, ainda para mais nos dias que correm em que este chavão está normalmente associado aos atrasos do nosso País face aos seus congéneres internacionais.Percebe-se, pois, que também os funcionários públicos e, em particular, os agentes da Polícia Municipal tenham indicadores de produtividade na sua lista de objectivos (que, por sua vez, condicionam também a sua avaliação de desempenho).

O que não seria de supor é que a medida da produtividade (?!) dos agentes deste organismo da Autarquia fosse indexada ao número de autuações obtidas por cada agente.
A saber, um agente só atinge os seus objectivos e obterá uma nota positiva neste critério se conseguir um número de autuações igual ou superior a 80% da média dos agentes da PM.
Só para referência, e segundo me constou, o agente que obteve mais autuações terá ultrapassado as 1500, pelo que a média nunca será muito baixa.

Apela-se, pois, à tolerância dos bracarenses para com os agentes da PM se os virem a tentar realizar autuações a qualquer custo, negligenciando o seu papel pedagógico perante as situações de infracção e outras funções que lhes cabe exercer.
Afinal, eles só estarão a tentar cumprir os objectivos que lhes foram impostos pelos responsáveis do Pelouro e, por essa via, a aumentar a sua "produtividade"...
Publicada por Ricardo Rio em 14:50 12 comentários Hiperligações para esta mensagem
Etiquetas: Gestão Recursos Humanos, Polícia Municipal
IN blog: Braga 2009

A. João Soares disse...

Kaos,
Este caso parece incrível, mas tem uma lógica que evidencia o atraso mental de muitos responsáveis por serviço públicos. Dotados de um sadismo estúpido deturpam as finalidades dos serviços e abusam do poder de que são investidos, em prejuízo dos cidadãos a quem deviam dedicar toda a atenção em benefício das suas condições de vida.
Os agentes, se fossem dotados de um civismo esclarecido, deviam recusar colaborar em tais métodos de avaliação, mas num País como este, isso não pode ser esperado de quem procura manter a família e sabe que o dinheiro é a mola de todos os comportamentos numa sociedade em que os verdadeiros valores são geralmente desprezados.
E, dados os factores acima referidos, não há muito a esperar do Poder, para rectificar estes desvios éticos, infelizmente.
Abraço
A. João Soares

A. João Soares disse...

Coloco aqui um comentário que Kaos, provavelmente por lapso, deixou num post que nada tem a ver com isto:

Aqui fica um excerto de uma notícia lá de cima, em Braga:

Corrupção Autárquica

"A Polícia Municipal de Braga está sob investigação há ano e meio devido a irregularidades na gestão de dinheiros relativos a contra-ordenações e à suspeita de tráfico de influência e favorecimentos ilícitos.

A Polícia Judiciária está a ouvir os agentes e tem efectuado visitas regulares aos serviços municipais."

"Presidente da Câmara Municipal de Braga desde 1976, Mesquita Machado é um dos autarcas mais acossados por suspeitas e acusações de corrupção e tráfico de influências, envolvendo sobretudo negócios no sector imobiliário."

in Correio da Manhã de 13 de Abril de 2008