quinta-feira, 5 de junho de 2008

Na crise é preciso optimismo

Julgo interessante deixar aqui alguns excertos da conferência do economista Daniel Bessa proferida nos «Encontros Millenium» em Castelo Branco, por estimularem as reflexões sobre a forma de sair da crise actual. O link permite aos mais interessados ler mis sobre o tema.

- «só há uma maneira de crescer: é exportar».
- «o pessimismo é o pior dos pontos de partida","não se pode gerir uma empresa com pessimismo».
- "Num país tão pequeno e aberto, temos que investir para exportar, exportar para criar emprego e assim permitir que as condições de vida melhorem. Foi isso que não fizemos durante anos»
- «Portugal poupa pouco, o Estado gasta muito, as famílias têm um nível de vida muito elevado, as empresas têm dificuldades em reter o cash-flow e os lucros»
- «Portugal vive acima das suas posses», tendo baseado durante anos o seu crescimento no consumo interno, uma «factura que estava ainda por pagar».
- A dívida da banca é um dos «grandes problemas» que afectam o país, «esses 30 milhões de euros que por dia saem da banca para pagar o excesso de importações sobre as exportações». Por isso, «o endurecimento das condições de crédito (que veio para ficar)», e que tanto afectam particulares como empresas, «é uma atitude prudente».
- «pela primeira vez, o nosso crescimento depende de nós». São «jóias da coroa» algumas médias empresas, «saídas do meio da tabela», que se têm destacado no contexto nacional, viradas para a exportação e que crescem entre 20% a 30% ao ano e que há poucos anos ainda não eram conhecidas.
- Estas, e outras empresas saídas do meio tecnológico e universitário, são «um sinal positivo e a via estreita para a recuperação» que, no entanto, «já é tarde, pois deveria ter começado há dez ou 15 anos», quando Portugal viveu uma época de euforia de 1985 até 2000. Hoje, «a situação é mais difícil do que nunca, mas não temos direito de nos rendermos».

2 comentários:

Luís Alves de Fraga disse...

Meu Caro Amigo,
Algumas das conclusões citadas no seu interessante texto são velhas de quase 400 anos. Realmente, já D. Luís de Menezes, conde da Ericeira e ministro de D. Pedro II, aconselhava e defendia entre nós a criação de manufacturas para acabar com as importações e, se possível, dar início a um ciclo de exportações. Vivia-se a época do colbertismo e não do livre câmbio. Mas, se na História recuarmos mais outros cem anos - ao final do século XVI - encontramos relatos da forma pobre e rude como se vestiam os Portugueses (ver de A. H. de Oliveira Marques, "Portugal Quinhentista") por determinação real para evitar as importações de tecidos caros e exóticos, defendendo assim o erário público.

Em Portugal, como em certas regiões onde imperam o latifúndio, ao invés de «fome de terra», impõe-se a «fome de consumo». Consumir tudo o que vem de fora numa demonstração bacoca de riqueza é uma característica secular dos Portugueses!
Não era Salazar quem mandou dizer que «beber vinho (produto de produção interna) era dar de comer a um milhão de Portugueses»?

Ora, o que é que se fez para remediar esta nossa característica estruturante? Integrou-se o país no maior mercado de consumo organizado políticamente que existe no Mundo! Integrou-se e subsidiou-se o consumo através da entrada de dinheiro às catadupas. Quer dizer, disse-se aos Portugueses: - Gastai, porque gastais o que não é vosso e, tal como no reinado de D. João V, esbanjou-se o ouro europeu de forma semelhante ao que se fez ao ouro brasileiro: enriquecimento privado - normalmente faustoso e economicamente inútil - esbanjamento em umas quantas obras públicas, quase sempre, também, não geradoras de riqueza permanente.
Na falta de qualquer mina de ouro que possa alimentar a fome de consumo, qual foi, afinal, a solução adoptada? Procurar o arrimo à mesa do Orçamento, seja ele erário real ou fruto da cobrança de impostos. Já no reinado de D. Manuel I o monarca, para saciar a fome da nobreza que lhe cobiçava os falidos cabedais, dava-lhe autorização para que fosse à Índia comerciar e trazer especiarias que lhe servisse de esteio ao gosto do gasto.

A presença berbére entre nós, com marcada influência arábica e egípcia, foi excessivamente longa - mais de 500 anos - e deixou-nos a matriz de origem que a miscigenação cultural obrigava: o gosto pelo consumo, pela "pequena" independência individual proveniente do minúsculo negócio familiar, a capacidade de sobrevivência em qualquer meio ambiente social e, acima de tudo, uma desmedida vaidade apoiada numa enorme inveja do vizinho.

Governar este Povo só é possível através de medidas muito seleccionadas no estrangeiro - daí o êxito (?) do marquês de Pombal - ou com o látego iluminista na mão para refrear-lhe as características centenárias e, aí, limitar as ambições de todos, a todos educando para a moderação iluminada da civilidade. E foi nesta segunda parte que Salazar falhou, pois não passava de um provinciano, apegado à tradição e incapaz de ver nas "Luzes" estrangeiras o "farol" orientador de um Povo que anda à míngua de rumo há muitos séculos!

Necessitamos de governantes que saibam muita História de Portugal e tenham bons rudimentos de Antropologia Cultural capazes de estabelecer sínteses históricas que orientem as decisões legislativas.

Desculpe-me a prolixidade da exposição, mas julgo que é necessário deixar claros os defeitos dos Portugueses - os nossos defeitos - para, depois, sabermos escolher da panóplia de remédios aqueles que mais nos convêm.
Um abraço

A. João Soares disse...

Caro Alves de Fraga,
Obrigado por este contributo para o aprofundamento do tema, com um conjunto de dados informativos muito interessantes que honram este espaço.
Não resisto a dar a este seu texto uma maior visibilidade, colocando-o em post para benefício dos leitores.
A. João Soares
Muito agradecido, Um abraço com desejo de bom fim-de-semana