Muito se tem dito a propósito do apetrechamento das escolas com computadores portáteis individuais, a favor e contra. Mas o mais importante que tive oportunidade de ler sobre o caso é que, em questão tão importante como a governação e a atenção a prestar ao ensino, condição básica para a evolução do País, não devemos limitar a observação à árvore sem procurar ver toda a floresta.
Um computador, tenha ou não componentes nacionais, só por si, não será capaz de fazer o milagre de criar génios da física e da matemática, cientistas ou gestores, se não for organizado o ensino por forma a deixar de haver maus alunos, más escolas e maus professores. Os óptimos alunos criam bons equipamentos, mas os melhores equipamentos não transformam maus alunos em futuros génios.
Muitas vezes parece faltar aos políticos uma noção básica de planeamento e programação, a partir de um estudo sério e realista de todos os factores definidores da situação actual e da sequência de acções coordenadas e orientadas para o objectivo previamente definido e aceite sem reservas até ser atingido. Não parece bom procedimento querer começar a construção da casa pelo telhado, sem antes conhecer o terreno em que vão ficar as fundações.
Estas reflexões suscitadas pelo artigo «O ‘Magalhães’» fazem me recordar um caso ocorrido em Viseu, há mais de 60 anos, na melhor papelaria da época, na Rua Formosa a poucos metros do Rossio.
Estava-se em plena II Guerra Mundial e na região explorava-se clandestinamente volfrâmio, um minério raro indispensável à indústria de armamento, sendo revolvidos os melhores terrenos agrícolas à procura do «minério», lavavam-se todas as pasadas de terra para obter o pó negro que era ensacado e oculto à espera de comprador. Quem não gostava disso eram as empresas mineiras que tinham explorações industriais em vários pontos da Beira.
Gente pobre viu-se, de repente, com muito dinheiro e ostentava uma riqueza a que não estava habituada nem sabia gerir. Havia quem acendesse o cigarro com uma tocha feita por uma nota enrolada, havia a Isaltina que disse na taberna que o homem só queria comer fiambre desde que foi ao Porto com o Almeida, etc. etc.
Mas estas linhas destinaram-se apenas para definir o ambiente de falta de visão gestionária que está na base do caso ocorrido na papelaria. O Manel entrou e disse que queria comprar uma caneta daquelas que não são de molhar no tinteiro, mas das outras. O vendedor, muito atencioso, foi-lhe mostrando as canetas de tinta permanente e dizendo o preço enquanto o Manel ia olhando sempre para as mais caras. A dada altura o empregado, defendendo o dinheiro do cliente, disse-lhe que «esta» é mais barata do que «essa» mas escreve muito bem, porque tem um aparo mais macio e a tinta é debitada de forma muito regular, sem borrar nem secar. Quer experimentar? O Manel, que não sabia escrever nem pegar na caneta, respondeu rápido: Não a quero para escrever, é só para pôr aqui (indicou o bolsinho do casaco junto à banda) para ir tirar o retrato.
Desculpe-me o ‘Magalhães’ de eu me ir recordar da caneta do Manel, mas as ideias associam-se de forma automática pouco controladamente, quando o disco rígido já tem muitos Gigas armazenados.
Os lagartos do Ídasse
Há 17 minutos
1 comentário:
Por lapso e por algum desconhecimento deste equipamento de férias, comentei esta postagem na anterior. Saudaçoes e até à próxima visita
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