quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Mais polícia na rua

A demagogia dos políticos leva a dizer números inconcebíveis sem qualquer fundamento credível. Partem da hipótese de que todos os cidadãos são estúpidos. Pelo menos seria de esperar que os governantes não o fossem.

Segundo notícia no Destak de 10 de Setembro, o ministro da Administração Interna reconheceu ontem que há um atraso no processo de transferência de policias em funções administrativas para o terreno, mas garantiu que até ao final do ano, entre 2 mil e 3 mil agentes vão deixar as secretária e passar ao serviço operacional».

É chocante esta estimativa de 2 mil ou mais 50% (3 mil), o que prova que a operação está a ser pensada sem um estudo bem feito que, inclusivamente, exige uma revisão da burocracia a que a lei obriga e uma definição das tarefas essenciais para o cumprimento da missão da instituição, e a sua distribuição por funcionários ou por grupos (secções, repartições, serviços, etc.). É com base em estudos e reorganizações deste tipo que empresas civis, que procuram periodicamente aumentar a produtividade, se baseiam para tirar o melhor proveito do seu pessoal. Pelos vistos na polícia nada disso está a ser feito, mas apesar da ausência dessa metodologia, o ministro garante, com base num sexto sentido de que já deu provas, que até ao fim do ano vai transferir para a rua entre 2 e 3 milhares de agentes.

Até pode acontecer que, após um estudo consciencioso das tarefas, muita coisa deixe de ser feita, por desnecessária, e que outras sejam abreviadas sem percorrerem percursos tão longos nos gabinetes e que, com isso e as adequadas alterações em legislação e regulamentos, possa ser dispensado o dobro dos números apontados. Mas mesmo que tudo seja feito com muito voluntarismo, as alterações não serão rápidas, porque exigem a entrega das pastas, e a posterior reciclagem para as novas funções.

Neste assunto, merece mais credibilidade a Associação Sindical dos Profissionais de Polícia (ASPP/PSP) que diz que «é um número impossível. É difícil colocar dois mil elementos da PSP no serviço operacional». «Há elementos que estão há muitos anos nos serviços administrativos, elementos com idades avançadas. Não faz sentido colocar estes homens nos serviços de rua, porque não ia aumentar a segurança». E, com base num levantamento no Comando do Porto, concluiu que «se fossem transferidos 20 a 25 elementos já seria um grande passo». Aqui, se o estudo atrás referido e a adequação da legislação e dois regulamentos tivessem lugar talvez este número fosse muito superior.

Mas, além da estrutura pouco lógica, há outros factores que encarecem o sistema policial e impedem uma boa produtividade como a duplicação de forças especiais, a falta de equipamento e armamento (ver o caso do esquecimento da aquisição e coldres para as novas pistolas!), a atitude desprestigiante dos tribunais em relação às detenções, etc. Para estas coisas, como muitas outras no País, funcionarem bem, é indispensável saber suficiente para estudar bem os problemas antes de decidir. A preparação da decisão e, depois, o controle e ajustamentos adequados da actividade resultante, são aspectos de grande importância, mas que ultrapassam a ignorância de muitos responsáveis, como vemos no dia-a-dia. Pensam que a inspiração divina que os leva a improvisos desajustados é solução.

Oxalá o ministro não teime numa solução inspirada e, embora com um pouco de mais demora, adopte uma atitude racional e faça uma reestruturação das polícias que as torne mais económicas e eficazes, com mais rentabilidade dos meios humanos e materiais em benefício da segurança dos portugueses.

4 comentários:

Magno disse...

Não é a colocar mais policias na rua que se resove o problema da insegurança.
Claro que ver a policia na rua transmite um clima de maior segurança entre os cidadãos.
No entanto,como refere o meu amigo, e bem, a própria estrutura da policia, não se encontra adaptada para esta promessa do ministro.
A meu ver mais policia nas ruas sim, mas com maior incidência em zonas onde ela é realmente necessaria, não a fazerem de seguranças das casas de ministros, e ex - primeiros ministros, como se observa pelas zonas nobres de Lisboa.
Abraço,
Magno.

Amaral disse...

João
A ser verdade no fim do ano pode ser tarde. Os polícias são precisos na rua agora. Esta mania de aparecer a prometer, a propagandear e a nada fazer está a levar o caminho para um beco.
Abraço

Anónimo disse...

É tão simples. Mas não o vou explicar. Os carolas não sabem?
Deixo apenas uma pergunta: porque querem baixar o valor dos gratificados em eventos públicos? Não há guita? Claro, todos sabemos. E como vai o MAI colocar os tais milhares de polícias nas ruas -até me faz rir- e pagar-lhes mais cerca de 240€ mensais a cada um? Façam as contas e divirtam-se!!!
Vão diminuir os subsídios, ou acabar com eles? Há quem diga que os polícias se devem dar por satisfeitos em receberem o ordenado ao fim do mês, na continha... E se lhes mexerem ainda mais nos ordenados? O que acontecerá?
A somar a isto, caso entrem mais civis para as polícias, os vencimentos a usufruir por estes terão que ser pagos pelo MAI. E guita? Já nem falo na formação deles e na bandalhice que se tornaria aquilo...
Divirtam-se a pensar!

A. João Soares disse...

Magno e Amaral,
Como muito bem dizem, os problemas, principalmente quando são complexos como este da insegurança e da criminalidade violenta, não ficam resolvidos só com o enunciado de intenções e de promessas balofas. Como nasceram de múltiplas causas todas muito complicadas, é indispensável fazer um perfeito estudo da situação e decidir pela melhor modalidade de acção de entre as que surgirem nesse estudo. Como o problema vem de longe, não se pode esperar solução rápida. Há que reorganizar, podar as excrescências das burocracias desnecessárias e que só atrapalham a realização das tarefas essenciais e reequipar e formar as pessoas para a sua verdadeira missão. Não é coisa que apareça resolvida apenas porque se quer.
O maior mal foi tudo ter vindo a ser conduzido com amadorismo bacoco, fazendo ajustamentos ocasionais que só servem para tornar a engrenagem menos produtiva, mais emperrada.
Tais reformas exigem muita força de vontade, competência e perseverança para implantar o novo sistema e tempo para se consolidar. Mas as resistências serão inúmeras.
Não é fácil levar tal solução em frente, a sério, num «sítio» de brandos costumes como é este rectângulo.
Abraços
A. João Soares