quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Câmara de Alcobaça não tolera críticas

Transcrição de artigo do Jornal de Leiria

Câmara censura obra artística por motivos políticos

A maioria PSD na Câmara de Alcobaça impediu a participação do professor universitário António Delgado, na qualidade de escultor, na Apple Parade, uma das iniciativas do Mundo da Maçã que decorre até ao próximo domingo nas ruas do centro histórico.

A maioria PSD na Câmara de Alcobaça impediu a participação do professor universitário António Delgado, na qualidade de escultor, na Apple Parade, uma das iniciativas do Mundo da Maçã que decorre até ao próximo domingo nas ruas do centro histórico.

A Associação de Produtores da Maçã de Alcobaça escolheu vários artistas aos quais pediu que decorassem 20 maçãs gigantes. Já os artistas estavam a trabalhar quando a associação reuniu com a Câmara, que anunciou que se recusava a apoiar o evento se António Delgado se mantivesse na lista de artistas convidados. A obra do escultor vai, porém, incluir a Apple Parade noutros concelhos onde for apresentada.

A maioria PSD prefere não comentar o incidente, mas Pedro Maia, da Direcção dos Produtores da Maçã, disse que nessa reunião os membros do executivo terão dito que a autarquia “não faz parcerias com pessoas hostis à Câmara”. De resto, a exclusão de António Delgado terá sido condição única para a colaboração do município no Mundo da Maçã.

António Delgado contesta a posição agora tomada pelo executivo e, em comunicado à imprensa, refere que não hostiliza a Câmara “porque é uma instituição do Estado” que “merece o maior respeito.

“O mesmo não poderei dizer dos senhores que a governam actualmente, como fica demonstrado pela chantagem da minha exclusão imposta à Associação”, justifica o socialista.

O escultor, com obra pública em Turquel, na colecção do Hospital Bernardino Lopes de Oliveira e na própria Câmara de Alcobaça, diz ainda que escreve no seu blogue enquanto pessoa que exerce o seu direito de cidadania e de oposição democrática.

O professor universitário caracteriza a tomada de posição do executivo como “mesquinha e retrógrada”, sobretudo “quando um dos direitos políticos vulgares, consagrado nas leis do Estado é, precisamente, a não exclusão dos artistas por razões políticas como esta”.

Mal-estar

O mal-estar entre António Delgado e os elementos PSD do executivo não é de hoje. Há vários meses que o professor universitário e militante do PS faz duras críticas à maioria no seu blogue Ecos e Comentários, grande parte das quais em tom de chacota, com ironia e sentido provocatório.

Sobressaem as montagens que o docente faz a fotografias, como a de uma postagem de Abril deste ano, quando, para falar da compra de um terreno em Alfeizerão, Gonçalves Sapinho é colocado entre bandeiras do PSD e maços de notas de dinheiro. Noutra imagem, o visado é o vereador Hermínio Rodrigues, colocado com ar embriagado com uma garrafa de vinho junto às casas-de-banho públicas do Mosteiro.

A forma como os autarcas social-democratas são retratados nas apreciações de António Delgado fez o presidente da Câmara perder a paciência em Junho, quando aquele professor se deslocou, numa comitiva da recém-eleita Comissão Política Concelhia do Partido Socialista, a uma reunião pública do executivo, para apresentar cumprimentos. Nessa ocasião, Gonçalves Sapinho explodiu, tendo acusado o professor da Universidade da Beira Interior de estar “abaixo de um porteiro”, considerando que quem ocupa um lugar político, “não pode estar mentalmente desviado”.

Ana Ferraz Pereira, 2008-10-02

4 comentários:

Abrenúncio disse...

Cá está um exemplo de cultura anti-democrática num país dito democrático. Depois admiram-se que as pessoas cada vez mais se desassociem da política e dos políticos e cada vez menos se revejam nesta gente.
Saudações do Marreta.

A. João Soares disse...

Caro Marreta,
As suas palavras são correctíssimas, mas nem o actual PR nem o seu antecessor compreenderam esse fenómeno. Andaram pelo País a fazer propaganda do combate à antipolítica, de procurar atrair os jovens para a política, a evitar a indiferença da população, só que erraram o alvo. Essas lindas palavras deviam ser ditas aos políticos, para passarem a ter um comportamento que lhes dê credibilidade perante os cidadãos, que os prestigie. Só acreditamos neles quando forem sérios e coerentes com as palavras que dizem, quando puderem ser tomados como bons exemplos a seguir.
Ora, nada disso se vê, antes pelo contrário, mostram ser pessoas da pior espécie.
Para não ser vítima de atentado(!!!), tenho de recordar esses tipos que não há regra sem excepção, isto é, poderá haver, eventualmente, alguns que se distingam da maioria deles e sejam menos maus.
Um abraço
João

Amaral disse...

João
Infelizmente em Portugal está a tornanr-se moda. Seja qual for a cor política e como dizia um nosso conterrâneo (presidente da Câmara de Penalva) quem não é do governo não come.
Em Portugal quem for da oposição já não pode falar, já não tem mérito... e isto falando de qualquer cor política.
Bom fim-de-semana
Abraço

A. João Soares disse...

Amaral,
Muito se fala de democracia, mas é apenas fumaça para cegar os menos atentos. Em cada governante e autarca há um ditador prepotente. arrogante, que se considera senhor absoluto de toda a verdade, dono do quintal lusitano que explora em seu benefício e dos seus familiares e amigos. Com os abusos na administração do património de todos nós pagam favores já recebidos e justificam outros a receber. É uma modalidade de corrupção mais discreta do que a dádiva de cheques.
Os desgraçados que pagam impostos e que, embora carentes, não se relacionem com as pessoas do Poder, têm que assistir impávidos e serenos a este jogo.
Embora haja censura mais ou menos disfarçada, é preciso ter coragem para criticar e denunciar os atropelos à moralidade e à legalidade.
Não nos resignemos como disse Cavaco e manifestemos a nossa indignação como aconselhou Mário Soares.
Abraço
João