domingo, 30 de novembro de 2008

Auto-estradas, uma moda de afirmação política

Hoje, em notícia do DN, é salientado que «Portugal é dos países com mais auto-estradas na Europa».

Somos o País com maior número de km por habitante e por área e estamos entre os países que mais investiram desde 1990, enfim podemos «gabar-nos» de sermos campeões mundiais em extensão e crescimento da rede de auto-estradas. No entanto os dados da União Europeia e OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico) mostram que se investe pouco em manutenção.

Há poucos dias, em entrevista na SIC Notícias, o economista Manuel Jacinto Nunes advertia para a existência de auto-estradas sem um movimento que as justifique, podendo em seu lugar haver IC ou IP e chamava a atenção para os custos que em breve surgirão com a manutenção, para evitar profusão de buracos. Os custos dessa indispensável manutenção irão ser avultados e não deixarão de repetir-se com persistência.

Como refere a notícia, para José Manuel Viegas, especialista em transportes, é difícil explicar como é que um país com problemas em tantos sectores tem necessidade de construir tantas auto-estradas. Lembra que há outras soluções de mobilidade mais baratas como as adoptadas em Espanha, onde as autovias, com menores exigências em termos de construção e traçado, coexistem com as autopistas.

Dos dados constantes da notícia, e como realça Avelino de Jesus, pode concluir-se que Portugal, ao mesmo tempo que tem muitas auto-estradas, também tem estradas a menos e muito pouco investimentos na conservação das que temos,. Dados da OCDE mostram que em 2005 Portugal foi o quarto país que mais investiu em novas vias (1985 milhões de euros) mas, nos gastos com manutenção, caiu para 10.º lugar, com 177 milhões de euros.

A construção de auto-estradas, do TGV e do novo aeroporto de Lisboa, é uma moda de afirmação política, estimulada pelas grandes empresas de construção civil, à semelhança da recente moda de as autarquias construírem rotundas em cada cruzamento, mesmo que delas não adviesse qualquer utilidade, como já aqui foi referido no post «utilidade das rotundas» em 27 de Janeiro de 2007.

2 comentários:

Anónimo disse...

«...uma moda de afirmação política»

Caro João Soares

Para lá das ligações perigosas dos partidos com o lóbi do cimento, acredito que essa seja uma grande motivação.
Antigamente eram os Exércitos que desempenhavam esse papel...

A. João Soares disse...

Caro Vouga,
Os Exércitos, segundo julgo, guiavam-se por motivos de interesse nacional de defesa de pontos estratégicos, vitais para o País e cuja defesa obrigava a acessos fáceis e rápidos. Não havia interesse pessoal nem busca de lucros para empresas privadas.
Hoje o lóbi dos cimentos e das construtoras não olha a altos interesses nacionais, mas apenas aos lucros das empresas, pisando o ambiente, o orçamento dos dinheiros públicos, etc, etc.
Entre Lisboa e o Porto já há duas auto-estradas (uma com muito pouco movimento) e já se fala em outra. Esquecem-se que não estão a deixar espaço suficiente para campos de golf, tanto do gosto de capitalistas e detentores de «tachos dourados». Claro que além desses, há praticantes amadores que são gente séria!!!
Um abraço
João