sábado, 29 de novembro de 2008

Ex-combatente deficiente em greve de fome

João Gonçalves era um jovem válido, escorreito, com perspectivas de organizar uma actividade produtiva para garantir uma vida digna á sua família, mas o Governo decidiu mobilizá-lo para a guerra e veio de lá deficiente. Seria de esperar que o Estado, como pessoa de bem que ele julgava que fosse, lhe garantisse, no mínimo, os tratamentos médicos e medicamentosos e uma pensão que lhe permitisse ir sobrevivendo. Mas, como ele, há muitos e alguns em piores circunstâncias dada a gravidade da deficiência.

Com a generosidade com que arriscou a vida pela Pátria em África, não hesitou em agora aceitar ser presidente da delegação de Viseu da Associação de Deficientes das Forças Armadas (ADFA), o que muito o tem traumatizado ao enfrentar o sofrimento dos seus camaradas e perante a insensibilidade dos políticos e a desonestidade governamental com que os deficientes estão a ser tratados desde há poucos anos.

Para os 800 militares deficientes do distrito de Viseu que combateram em África, Timor e Índia e que têm visto reduzidos os seus direitos ao apoio estatal, da sua entidade patronal quando foram acidentados, a situação agravou-se com o encerramento do Hospital Militar de Coimbra, o que obriga os deficientes a recorrerem às unidades de saúde militar de Lisboa e do Porto, com o respectivo agravamento de custos.

O João Gonçalves anda "há anos a lutar pelos direitos dos militares que serviram a Pátria e que hoje têm uma mão cheia de nada". O ex-combatente está "indignado com as últimas leis aprovadas pelo Governo que nos retirou os poucos direitos que tínhamos". Chegou a uma situação de desespero que o levou a iniciar ontem uma greve de fome que promete ir até "às últimas consequências. Se for preciso morrer, que seja, mas não aguento mais tanto sofrimento. Todos os dias vêm aqui ex-militares pedir ajuda que não podemos dar". Para quem arriscou a vida na guerra colonial, esta decisão é para levar a sério. E é de esperar que outros decidam juntar-se a ele. Quanto maior for o número de mártires assumidos, maior será a probabilidade de a Comunicação Social interna e externa fazer eco das injustiças de que estão a ser vítimas e de os governantes sentirem a gravidae desta situação.

Eles já não acreditam no lema «HONRAI A PÁTRIA QUE A PÁTRIA VOS CONTEMPLA» com que lhes encheram, os ouvidos na sua preparação para a guerra. Eles sentem na pele que as recentes alterações introduzidas na lei que regulamenta a assistência na saúde aos militares das Forças Armadas fizeram com que os militares deixem de ser assistidos nos hospitais civis. "Antes, os ex-combatentes e antigos militares podiam ir ao hospital da sua área de residência porque eram abrangidos pela assistência de saúde a que os militares têm direito. Neste momento, só temos direito a essa assistência nos hospitais militares de Porto e Lisboa porque entretanto encerrou o de Coimbra". O monetarismo do actual Governo esqueceu compromissos perante aqueles que tudo arriscaram por Portugal. É uma questão de HONRA que está longe de ser compreendida pelos governantes.

Outra reivindicação prende-se com a actualização das pensões dos deficientes das Forças Armadas que "deixou de ser igual ao salário mínimo para passar a ser idêntico ao indexante de apoio social". Na prática "a pensão baixou-nos de 426 para 407 euros" revela o presidente. Como é possível compreender esta ingratidão e insensibilidade dos representantes do Estado?

João Gonçalves promete "ficar na delegação de Viseu da ADFA até morrer ou até que nos encontrem uma solução justa para o nosso problema", afirma. E será lógico que os seus camaradas não o deixem sozinho nesta prova de humanidade e de solidariedade e se juntem a ele numa manifestação de camaradagem, dignidade e sensibilidade, pondo à prova as qualidades que evidenciaram durante a guerra a que o Governo os obrigou.

Ver notícia aqui.

4 comentários:

Mentiroso disse...

«É uma questão de HONRA que está longe de ser compreendida pelos governantes.»
De espantar que alguém ainda possa crer que um bando de corruptos, canalhas, vigaristas, usurpadores, ladrões do estado e outros comportamentos ainda mais condenáveis possa ter dentro de si algum sentimento de honra ou semelhante.

A. João Soares disse...

Caro Amigo,
Realmente, honra e outras virtudes éticas, não fazem parte do glossário dos políticos. Só pensam em dinheiro, considerando pouco todo o que lhes enche o bolso e demasiados os poucos cêntimos que distribuem aos mais necessitados. O que interessa é que os «tachos dourados» estejam disponíveis para eles e os seus amigos a quem não são regateadas as pensões milionárias acumuladas.
O PPR cai-lhes do céu, em retribuição dos favores que fazem aos donos dos bancos e outros, traduzidos num cargo em que apenas vão assinar papeis sem fazerem ideia do seu conteúdo, como declarou Dias Loureiro.
Abraço
João

Sei que existes disse...

"HONRAI A PÁTRIA QUE A PÁTRIA VOS CONTEMPLA"?!?! Lá honrar a pátria, alguna até o fazem, mas a pátria contemplar quem o faz?nunca vi isso acontecer!...
Beijocas grandes

A. João Soares disse...

Cara Maria João,
Não exagere! Nas cerimónias de 10 de Junho, e recentemente do 25 de Abril, a Pátria, teoricamente contempla aqueles que fizeram algo por ela. Mas digo teoricamente porque os contemplados acabam por encontrar as razões do prémio na amizade que têm com políticos influentes, ou melhor nos favores que com eles trocaram, a não ser aqueles que se distinguiram em actividades menores como o futebol e a canção ligeira.
Portanto, falando com rigor e justiça poderá dizer-se que a Pátria explora os seus mais humildes servidores mas beneficia os detentores do Poder e quem vive à sua beira e lhes presta carícias.
Beijos
João