terça-feira, 4 de novembro de 2008

Governo mundial, utopia?

Não há modalidades de acção ou decisões absolutamente perfeitas, todas apresentando vantagens e inconvenientes, todas tendo defensores e contraditores. Já aqui, por diversas vezes foi aludido o Clube Bilderberg, pelos aspectos de autoridade totalitária com que é suposto querer dominar a humanidade. Agora, em ambiente de crise financeira global, aparece uma argumentação em seu apoio, pela boca do economista francês Jacques Atalli, fundador do Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento (BERD), ex-conselheiro de François Miterrand e actual conselheiro de Nicolas Sarkozy. Para conhecer o assunto, com mais profundidade, a acrescentar aos textos atrás referidos, transcreve-se o seguinte artigo do JN.

Economista Jacques Attali defende criação de «Governo mundial»

Évora, 04 Nov (Lusa) - O economista francês Jacques Attali defendeu hoje que é preciso criar "um Governo mundial" argumentando que o mercado globalizado só funcionará se houver também um Estado de direito globalizado.

Jacques Attali, que foi conselheiro do ex-Presidente francês François Mitterrand e é conselheiro do actual, Nicolas Sarkozy, discursou na segunda-feira através de videoconferência nas jornadas parlamentares do PSD, que decorrem em Évora.

No seu discurso, centrado na crise financeira, o economista referiu que "existe um mercado globalizado" e "um Estado de direito não globalizado" e que "a história mostra que os mercados não funcionam sem um Estado de direito".

"É necessário criar um Estado de direito mundial", defendeu Jacques Attali.

O fundador do Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento (BERD) argumentou que "é preciso um direito mundial", mas que "não faz sentido o direito sem Estado" porque "não tem meios para ser aplicado".

"É preciso não uma governação mundial, mas um Governo mundial", acrescentou.
Comparando a economia mundial a um avião, Jacques Attali disse que "não há um piloto no avião da economia mundial, mas também não há uma cabina de pilotagem: temos de construir uma cabine de pilotagem".

Neste contexto, o economista foi questionado pelo deputado do PSD Mota Amaral sobre a experiência da União Europeia.

Jacques Attali considerou pertinente questionar a possibilidade de se criar um Governo mundial "se a Europa não é capaz" e apontou um século como tempo provável de espera pela utopia do "Estado de direito planetário".

"Espero que não seja necessário uma guerra", observou.

Quanto à Europa, Attali defendeu que "é necessário criar condições para ter um verdadeiro Governo da União", dizendo que "é uma pena que o Tratado de Lisboa não esteja a funcionar".

IEL. Lusa/fim

5 comentários:

Anónimo disse...

Caro AJS,
economicamente existe uma guerra fria nesse aspecto. Será difícil conseguir um acordo político entre alguns países que não entram nessa. Mas quem sabe se a Rússia não entrará no futuro? Acho que Putin tem amições maiores, e teriam que lhe dar muitos previlégios económicos e políticos. A Rússia cresce como nunca. A China é o que sabemos: detentora de parte importante da dívida externa dos EUA.
Mas sinceramente acho que é difícil a construção visível dum governo Mundial, pelo menos no aspecto político. A Europa é exemplo disso. Nem estou a ver os americanos caírem nessa esparrela, abertamente.
Acredito sim, que as grandes empresas mundiais, diversas, tenham a capacidade de comprar e dispor mundialmente, sentando a uma mesa, ou numa casa de aleterne os líderes que quer subornar.
Não será hora de chegarem -de novo- as políticas protecionistas?
Veremos em breve!
Saudações

A. João Soares disse...

Tudo é possível, neste mundo de políticos loucos. Afinal não é apenas o Kim Jong.il que é louco. Cada um à sua maneira. A propósito de Putin, a Rússia desde o tempo dos Czares tem uma linha estratégica que nunca foi abandonada. Os governos e os regimes têm sido fiéis aos verdadeiros interesses nacionais. Não brincam cpom coisas sérias.
João

Anónimo disse...

Caro AJS,
a vitória de Obama será uma mudança da acção nacional -talvez- e a nível internacional? Que mudará? Lembrei-me duma frase portuguesa: "mudar tudo, para ficar tudo na mesma". Enquanto isso o Presidente da Rússia -que raio de nome, ainda não me habituei- diz coisas fantásticas sobre a nacionalização que ocorre um pouco pelo mundo ocidental:"A liberdade política dos cidadãos e a propriedade privada são intocáveis".Vindo de um dirigente político de um país que foi o baluarte do comunismo.
Deixo-lhe o texto integral do JN para que possa ser comentado.
Abraço


Presidente russo ataca Estados Unidos
JN

O Presidente russo, Dmitri Medvedev, começou hoje a sua mensagem à nação com fortes ataques à política dos Estados Unidos, culpando este país pela guerra no Cáucaso e a crise financeira mundial.

Segundo ele, "o ataque desferido pelas tropas georgianas contra a Ossétia do Sul (em Agosto) é uma consequência da política unilateral dos Estados Unidos".

"O conflito no Cáucaso foi utilizado como pretexto para o envio pela NATO de navios de guerra para o Mar Negro e, depois, para acelerar a imposição à Europa de sistemas de defesa antimíssil americanos, o que, claro está, provocará medidas de resposta por parte da Rússia", acrescentou.

"Nós não iremos recuar no Cáucaso. Iremos superar as consequências da crise económica mundial e sairemos dela ainda mais fortes", frisou.

"Não temos problemas com o povo americano. Espero que a nova administração enverede pela via da criação de relações completas com a Rússia", declarou, ao comentar os resultados das eleições presidenciais nos Estados Unidos.

Medvedev prometeu também desenvolver as relações com a União Europeia.

No campo interno, Dmitri Medvedev prometeu não recorrer à "nacionalização" do sistema financeiro para combater as consequências da crise mundial na Rússia.

"A liberdade política dos cidadãos e a propriedade privada são intocáveis", sublinhou.

O dirigente russo considerou que "a ingerência da burocracia em todas as esferas da sociedade impede o desenvolvimento da democracia, multiplica a corrupção e o niilismo jurídico".

Medvedev propôs todo um conjunto de medidas para "elevar o nível e a qualidade da representação popular no poder, capazes de garantir um maior envolvimento na vida política".

Por exemplo, defendeu que os pequenos partidos, que obtenham entre 05 e 07 por cento dos votos, devem também ter representação parlamentar.

Segundo a lei actual, só os partidos que superam a barreira dos 07 por cento é que podem eleger deputados para a Duma Estatal.

No lugar da nomeação dos governadores das regiões e repúblicas da Rússia por parte do Kremlin, norma imposta por Vladimir Putin quando era Presidente, Medvedev propõe que os candidatos a esse cargo sejam propostos ao presidente pelos partidos que vencerem as eleições regionais.

Além disso, defendeu que os poderes do Conselho da Federação, câmara alta do Parlamento russo, deverão ser alargados, nomeadamente no que respeita ao controlo das actividades do Governo.

O Presidente russo apelou também ao desenvolvimento mais activo da Internet e da televisão, considerando-as "a garantia da liberdade de expressão"

O dirigente do Kremlin propôs ainda alargar os mandatos do Presidente e da Duma Estatal, câmara baixa do Parlamento russo.

"Aumentar os mandatos do Presidente e da Duma Estatal para seis e cinco anos, respectivamente", defendeu.

Até agora, tanto o Presidente, como a Duma Estatal tinham mandatos de quatro anos.

A política de defesa esteve também no centro das atenções de Medvedev, tendo o dirigente russo anunciado toda uma série de medidas para neutralizar a instalação do sistema de defesa antimíssil norte-americano no Leste da Europa.

"A Rússia não se deixará envolver na corrida aos armamentos, mas a segurança dos seus cidadãos será bem garantida", sublinhou, anunciando várias medidas concretas para neutralizar o sistema de defesa antimíssil a instalar no Leste da Europa.

"Caso seja necessário para neutralizar o sistema de defesa antimíssil, iremos instalar na região de Kalininegrado o sistema de mísseis Iskander", frisou.

Esta parte do seu discurso recebeu fortes aplausos das mais de mil pessoas que assistiram ao discurso de Dmitri Medvedev no Kremlin.

A. João Soares disse...

MR,
Uma grande potência não o é por acaso, mas à custa de uma estratégia de muito longo prazo respeitada pelos sucessivos líderes. Ninguém ganha uma corrida se, a cada passo, hesitar se deve ir mais para a direita ou para a esquerda. E um País deve ser uma equipa que se não for muito coesa, deve pelo menos, evitar ter traidores que prejudiquem o desenvolvimento e o bem-estar das populações.

Por isso, não são de esperar muitas alterações na estratégia dos EUA. A estrutura do poder nos EUA está muito equilibrada e não permite loucuras exageradas, embora também não possa coartar alguma liberdade de decisão ao Presidente, que normalmente tem bons conselheiros. Os objectivos serão os mesmos, embora haverá, sem dúvida, visão diferente sobre a importância de certas tácticas. Por exemplo, a propósito da luta pelo petróleo e nas relações com o Médio Oriente, «a 29 de Agosto, na convenção onde foi nomeado candidato democrata por aclamação, Obama prometeu acabar em 10 anos com a dependência dos Estados Unidos face ao petróleo do Médio Oriente».

Não tenho dúvidas de que tudo fará para manter e alargar a grande potência, que pretende continuar a ser a primeira, apesar da concorrência latente noutras partes do Mundo. Oxalá faça menos asneiras do que Bush, mas com o seu feitio conciliador e dialogante, (parece que tem lido os meus blogues!) não se lançará às cegas e por capricho em guerras desnecessárias.

Com estas considerações quase que comentei o texto referente à Rússia, que demonstra muita lógica e bom senso, respeito pela história e boa aprendizagem das más experiências durante a maior parte do século passado. Eles, melhor do que ninguém, sabem quanto lhes custou uma aventura que sacrificou toda uma nação, por uma burocracia que entravou o desenvolvimento, a justiça social, o desenvolvimento de recursos e das pessoas, etc. De centralização e de nacionalizações já estão servidos e amplamente esclarecidos, pelo que nem querem pensar em voltar a esses erros recentes.

Quanto ao Cáucaso e aos países asiáticos da área do Golfo, é do tempo dos czares a ambição de os controlarem, fazendo deles aliados de confiança, para garantir o acesso às águas quentes do Indico. O acesso livre ao mar é um factor de importância estratégica que a Rússia não tem, porque ao Norte tem gelo quase todo o ano, o Báltico e o Mar Negro são altamente condicionados e o Pacífico não tem boa navegabilidade nas proximidades da costa.

O Ocidente, principalmente Países pequenos liderados por aprendizes de feiticeiro, como Portugal, devem meditar, tão a fundo quanto puderem, na seguinte frase de um conhecedor da experiência da URSS: "a ingerência da burocracia em todas as esferas da sociedade impede o desenvolvimento da democracia, multiplica a corrupção e o niilismo jurídico". O nosso governo, ao querer decidir por decreto nacionalizar empresas privadas para arranjar emprego para os «boys» que delas abusarão como se viu na Gebalis, e em tantos outros casos de que a Comunicação Social apenas deixa espreitar a ponta do rabo, ocasionalmente, não está a aproveitar a experiência de que Medvedev está a evidenciar profundo conhecimento e a tirar ilações para conduzir a Rússia a um lugar cimeiro. O nosso Governo não aprenderá muito de útil com Chávez ou Fidel, mas ser-lhe-ia muito útil pôr os olhos em Medvedev e em Putin.

Não me alongo mais, mas não deixarei de voltar a ler e reler este artigo do JN com palavras muito lúcidas do Presidente russo.

Obrigado por este tema de reflexão.
Cumprimentos
A. João Soares

Anónimo disse...

Obrigado caro João Soares pela sua longa e pertinente resposta.
Um abraço