A falta de 30 (trinta) deputados do PSD no hemi-círculo (duvido se deve dizer-se círculo ou circo!) do Parlamento resultou na não aprovação da suspensão da avaliação dos professores, o que desagradou à líder do partido que avisou a bancada de que a situação não pode tornar a repetir-se.
E, conforme a notícia Ministra da Educação foi "salva" por trinta faltosos do PSD, afirmou em entrevista emitida ontem pela RR que "Em qualquer circunstância não é nunca admissível que os deputados faltem àquilo que são as suas responsabilidades e, como considero isso inadmissível, quis saber exactamente o que se passou, quem são os deputados que se ausentaram quando não se poderiam ter ausentado". "Há deputados que estão fora, há deputados a quem foi concedida dispensa por parte do presidente do grupo parlamentar, há deputados que faltaram por qualquer outras razões e há deputados que, se calhar, foram lá, assinaram e se foram embora. Isto não é admissível em circunstância nenhuma na função de deputado".
Como cidadão em pleno uso dos direitos e liberdades constitucionais e, como um comentador aqui escreveu, ingénuo e romântico, não propriamente o facto de a votação não ter o resultado esperado, mas sim os motivos que a isso levaram, a ausência de deputados do local onde deviam encontrar-se e para o qual foram eleitos pelos cidadãos que confiaram na seriedade dos candidatos constantes da lista em que votaram.
Li há muito tempo que os partidos são agências de emprego e, na altura, achei exagero e maledicência, mas as realidades frequentemente demasiado notórias levam a concordar, com a agravante de que são agências de má qualidade que empregam pessoas sem as mínimas condições para desempenharem «as funções que lhes são confiadas».
Já aqui publiquei dois posts sobre o tema em 10 de Outubro, Disciplina de voto, deputados a mais?, e em 6 de Novembro, Presentes menos de 50 dos 230 deputados e já em 20 de Abril foi publicada uma carta no Público acerca de uma situação deveras escandalosa do género daquelas, que transcrevo:
Deputados a mais
(Publicada no Público em 20 de Abril de 2006, pág. 4)
Há vários anos se ouve falar que Portugal, tendo em conta a sua população e a sua área geográfica, tem deputados a mais. É uma opinião generalizada mas é inconsequente porque aqueles senhores, tendo a faca e o queijo na mão, não abdicam daqueles numerosos «postos de trabalho» ou, usando maior rigor, postos de recebimento.
Mas, neste momento, já não se trata apenas da opinião dos martirizados contribuintes. Mais de metade daqueles privilegiados demonstraram publicamente que a AR tem mais do dobro dos deputados que devia ter. Só assim se compreende que 119 deles tivesse concluído que a sua presença não era necessária no plenário de 12 de Abril. Só que o regulamento da AR exige pelo menos metade nos plenários, o que impediu que o mesmo funcionasse. Para o País, nada se perdeu, a não ser os vencimentos indevidamente recebidos pelos funcionários que nem sequer ao plenário comparecem. Mas os restantes colegas, embora menos de metade, viram gorada a virtude da sua assiduidade de funcionários responsáveis.
Isto faz recordar as palavras de Jorge Sampaio na vila de Sátão, num dos momentos menos herméticos do seu discurso, quando apelou à luta contra a campanha antipolítica. Comprovadamente, o então PR escolheu mal o local e a audiência daquelas palavras. Teria sido mais ajustado pronunciá-las no palácio de S. Bento onde tal campanha é alimentada com estímulos permanentes.
E só posso concluir perguntando quando, havendo logicamente deputados a mais, os poderosos decidem reduzi-los para o número indispensável, aliviando dessa forma os impostos e reduzindo o tão falado défice? Isto, para não falar do mau exemplo dado por estes senhores aos trabalhadores do País que lhes pagam os vencimentos e os inúmeros benefícios.
Um mês e muitos pesadelos depois
Há 58 minutos
2 comentários:
Caro João Soares
Aproveito para corrigir a sua correcção no seu comentário ao artigo anterior. O que eu queria dizer era "as coisas não são como são, mas como deveriam ser".
Voltando à vaca fria.
Este comportamento dos deputados não me surpreende. Porque, como todos os outros cidadãos, ditos comuns, estão lá a tratar da vidinha deles.
Mas não se poderá esperar muito dessa gente, dado que a política é a única "profissão" bem remunerada em que não se exige formação académica nenhuma. Basta o diploma do ensino obrigatório que, como se sabe, hoje é passado a qualquer analfabeto, já que ninguém chumba.
Penso até que esta técnica de não chumbar se destina objectivamente a formar os futuros quadros políticos...
Caro Vouga,
O que diz parece lógico, embora poucos tenham a coragem de aceitar claramente esta tese. Seria ingenuidade e romantismo utópico acreditar que os deputados procuram o bem do País, isto é, dos cidadãos. Olham apenas para o próprio umbigo e nem sequer pensam nos interesses do seu partido, como neste caso se vê. Nos textos linkados foram referidos outros casos muito parecidos. Também o caso há tempos falado das viagens fictícias, mostra que não se importam de mentir descaradamente para meterem no bolso mais uns euros. Mas isso não é exclusivo dos deputados mas de todos os políticos (salvas eventuais excepções) como se vê nos políticos em «tachos dourados» tipo BPN, ERSE, e outros que enfrentam os partidos para se candidatarem como independentes a autarquias, tipo, Oeiras, Gondomar, Felgueiras, Lisboa, etc. E nestes casos de eleições autárquicas, os eleitores evidenciaram claramente a sua falta de respeito, de consideração e de confiança nos partidos.
E é a partir dos deputados, tal como se vê que são, que sairão os governantes e os gestores de empresas públicas e de outras que têm negócios com o Estado, como a Morta-Engil e outras.
E nada acontece por acaso. Analisando bem os vários casos, encontra-se um fio condutor que mostra haver factores comuns, sempre do interesse pessoal dos políticos.
Gostei da síntese contida na frase «a política é a única "profissão" bem remunerada em que não se exige formação académica nenhuma.» Isto diz tudo!!!
Um abraço
João
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