Transcrição de texto de um médico, recebido por e-mail, por ser merecedor de atenção
Despesa anual com o receituário em vigor dos medicamentos
Em 1960, quando nos licenciámos em Portugal, Coimbra, como é lógico ensinaram-nos a receitar medicamentos e assim prosseguimos até 1966, data em que emigrámos para um País anglo-saxónico depois de cumprir 36 meses no norte de Angola nas Forças Armadas.
Quando nessa data começámos a trabalhar quer em hospitais quer em clínica privada, tivemos que alterar inúmeras facetas do exercício da medicina, pois a língua latina era a base da nomenclatura e nós aprendemos com base no francês.
Naquela data, repito 1966, quando receitávamos, quer nos hospitais quer em clínica privada, os medicamentos eram referidos às farmácias em mono-doses e assim prosseguimos durante mais de 20 anos. Quando regressámos a Portugal ficámos admirados e intrigados pelo receituário ainda ser como era quando nos licenciámos em 1960.
Depois de investigarem o assunto, e se se alterasse o sistema para mono-doses, chegaram à conclusão que o Estado poupava cerca de 180 milhões de euros por ano!!!
A razão é muito simples: o custo de embalar é caro e os medicamentos que acabam em nossa casa a mais e passam o prazo de validades são inúmeros.
De facto um quinto dos medicamentos receitados não é utilizado porque os doentes não os tomaram, e em metade destes casos, isso ficou a dever-se à inadequação de dimensão das embalagens.
Mas será assim tão complicado mudar-se o sistema? Claro que não. Os laboratórios recebem os medicamentos dos Países de origem em macro embalagens e estes deveriam ser enviados às farmácias ou hospitais devidamente selados. As farmácias, consoante as receitas, colocariam as doses prescritas em frascos de plásticos ou vidro e seriam entregues aos doentes, depois de rotulados, com a indicação de como se deviam tomar.
O processo é simples. As farmácias disporiam de uma máquina automática de colocar dentro de um frasco de vidro ou plástico a quantia exacta. Aqui há um pormenor importante a realçar: a receita escrita pelo médico é diferente de Portugal. Dou um exemplo: se eu quiser receitar Voltaren em comprimidos, escrevo o número total destes, mas a receita vai em termos técnicos latinos. Exemplifico: se o doente tomar 3 comprimidos por dia durante 7 dias escrevo I TDSx21. Se quiser que o doente tome 2 comprimidos por dia durante 7 dias escrevo I BDx14. Se quiser que tome 4 vezes por dia escrevo I QIDx28. O farmacêutico está a par deste código que é em latim e dá a receita sem erros, o que muitas vezes não se passa aqui em Portugal, quando a letra do médico é ilegível. Estes termos em latim são muito antigos e vem da idade média onde o latim era a linguagem certa e correcta.
Assim tem sido nos Países anglo-saxónicos, africanos, etc. onde milhares e milhares de médicos receitam e os doentes levantam nas farmácias sem qualquer problema. Aliás eu concordo com este sistema. O doente recebe o medicamento sem qualquer literatura, não dando margem a ser levados em erro ou auto medicarem-se se são hipocondríacos e julgam que tem as doenças que ali vêm descritas.
Por experiência própria, nunca tive problemas nos mais de 20 anos em que exerci naqueles Países nem tomei conhecimento de anomalia ali verificada, com outros médicos, hospitais, etc. Não me estou a ver a receitar em Portugal com os termos acima indicados. O farmacêutico como não sabe latim julgava que eu estava senil...
Por me ter sido solicitado ao longo dos últimos anos em Portugal e em diferentes serviços de saúde de vários Governos, às vezes de viva voz, fui dando conhecimento da minha experiência pessoal, mas nada foi alterado. Simplesmente prescreveu... De tempos a tempos surgem na comunicação social notícias sobre este assunto, mas desaparecem rapidamente... com 40 anos de atraso. Estão em experiências!!
Para juntar aos custos atrás referidos há o factor da reciclagem ou incineração. Os medicamentos que passam o prazo de validade têm de ser separados das embalagens, plásticos ou vidros, etc., etc. A triagem é pois demorada e muito complexa. Tudo isto se vai reflectir no custo dessa operação. Entretanto foi criado no Algarve um centro de queima e reciclagem de medicamentos usados ou fora da validade. Para ali foram enviadas várias toneladas. Quando tudo estava para acontecer a APA (Agência portuguesa do Ambiente), ordenou a suspensão de todos os envios de resíduos para queima na incineradora em Fevereiro deste ano de 2009. Razão. Não tinha sido criada uma unidade de triagem para separar os comprimidos, cápsulas, etc. das embalagens de vidro, plástico ou cartão. Estes resíduos foram armazenados até que seja criada uma unidade de triagem! O custo por tonelada da reciclagem fica em 40 euros e o da incineração oscila entre 60 a 150 euros segundo a QUERQUS. Mas Portugal está atrasado em relação a isto tudo. A UE tem chamado a atenção a Portugal, pelo despejo por todo o País de resíduos tóxicos.
Como é possível falar em política de contenção dos gastos públicos com a saúde e da sua sustentabilidade se se persiste em não alterar por exemplo o que atrás foi por nós referido? Os custos financeiros e sociais são elevadíssimos e irreversíveis e como se pode calcular a despesa com medicamentos por habitante tem que ser das mais altas da Europa. O Tribunal de Contas tem concluído que o desperdício dos recursos financeiros do S.N.S atinge os 25% do material afecto à saúde.
Como importamos mais de 90% dos medicamentos, é fácil entender que sendo a nossa dívida externa de 2 milhões por hora, se fosse feita a alteração para mono-doses, a economia traduzir-se-ia em cerca de 180 milhões de euros por ano, 500 mil euros por dia, a que acresce a poupança com a desnecessidade de destruição de medicamentos e embalagens não utilizados. Como a APA ordenou o armazenamento de tais produtos, quantos milhões irá isto custar? E a saúde pública será ou não afectada com tal concentração de produtos? Como se vai fazer a segurança desses armazéns? Há 15 anos que Portugal é confrontado com o despejo de produtos tóxicos de norte a sul. E ainda chamam de pessimista ao Senhor Dr. Medina Carreira?
Bendita Pátria que tais governantes pariu.
Artur Santos Dias
Um mês e muitos pesadelos depois
Há 30 minutos
6 comentários:
Caro João Soares
Penso que este médico não tem razão. Este Governo está a transformar Portugal com medidas de fundo de grande alcance.
Neste particular, em vez de enveredar pelo tortuoso caminho de reduzir a despesa com os medicamentos (mera cosmética), prefere acabar com a origem do mal, que é o doente. O que há a fazer é obrigar à eutanásia ao mais leve sintoma. Mata-se o doente e está o problema resolvido! Por outro lado, vão ser decerto criadas medidas tendentes a dificultar e, mais tarde proibir, o casamento heterosexual, que é o que produz futuros consumidores de medicamentos.
Assim, com estas medidas, acaba-se com os portugueses, que são quem atrapalha tudo. Com o dinheiro poupado, fazem-se obras e mais obras, para que os espanhóis possam viver condignamente neste cantinho à beira-mar.
Lá diz o ditado socretino "Espanha, Espanha, Espanha".
Genial, não?
Caro Vouga
Tentando sintonizar-me com o tom do seu comentário, diria que, se fosse um Nostradamus ou outro vidente célebre, diria que não tardarão os tempos em que o economicismo, se continuar pelo caminho que leva, conduzirá à eutanásia forçada pelo Poder políticos: Quando um reformado, depois de deixar a vida activa, for pela primeira vez ao médico, mesmo que tenha uma doença grave, ouvirá do médico dizer: leve esta aspirina e tome com um copinho de água, e se não passar volte cá. Claro que isso não o cura e ele volta e, então, o médico diz: Não esteja preocupado, antes de se deitar tome este comprimido com um pouco de água tépida e vai ver que amanhã estará bom e nada lhe doerá. E ele no dia seguinte não sente mais dores nem nada! Está no Paraíso.
O Estado poupa, na pensão de reforma, nos serviços de saúde e noutros eventuais apoios a dar a idosos.
Os médicos hoje não colaborariam nisto mas os estatutos de ética da ordem virão a ser actualizados e os funcionários do Estado têm que cumprir as ordens superiores.
Acha que sou duro? Mas talvez seja um profeta a prever um futuro próximo!
Aos políticos não se pode comprar um carro usado, não merecem a mínima confiança.
Um abraço
João Soares
Meu caro AJoãoSoares,
sábio!
Esta experiência de vida que inteligentemente carregais, permite-nos olhar e ver muito mais além!
Se todos olhássemos para o excesso de pilulas que cada caixa de medicamentos tráz, perceberíamos que algo podería ser feito.
Mas, não há interesse em ver, pois os laboratórios farmaceuticos vivem também do desperdício.
Lamento!
No entanto, p melhor é não mudar nada pois no estado em que está opaís, a maior parte do portugueses vão precisar dos comprimidos que têm e se calhar de comprarem caixas maiores...
Esperemos para ver...
Caro João Soares
Falta ainda acrescentar que o dinheiro poupado em medicamentos e fraldas de bebé dará também para fornecer "Magalhãnzes" os poucos portugueses que sobrevivam ao "genocídio biológico". Depois, esrupidificados por tão nefasta maquineta, os futuros ocupantes espanhóis terão quem trabalhe barato a servir à mesa, a limpar as latrinas e executar outras tarefas servis.
Cara Luísa,
Se procurarmos simplificar a descrição da actual situação, verificamos que as empresas, grandes ou pequenas vivem da ganância do lucro sacrificando todos os clientes, consumidores. E estes são incitados à loucura do desperdício consumista pelos bancos com oferta de créditos para tudo, inclusive as férias: Vá de férias e pague depois.
Os medicamentos encaixam neste esquema, e as pessoas nem dão conta que estão a ser levadas para a desgraça, porque a preparação fornecida na escola não lhe serve para gerir os seus interesses pessoais. Ignorância quase total!
Os governantes comungam dessa ausência de saber mas há da parte deles muito egoísmo, porque não estão interessados em combater estes abusos para não prejudicarem os seus planos ambiciosos de riqueza pessoal, como se viu nos gestores do BPN, BCP, BPP e muitas outras empresas, algumas com dinheiros públicos, onde eles se encaixam.
Abraço
João Soares
Caro Vouga,
Obrigado pelo interesse em acompanhar este modesto blog.
O meu optimismo não abafa as preocupações com o futuro do País, e vejo as suas «profecias» com muita apreensão. Receio muito pelos nossos descendentes. Felizmente, os meus quatro netos têm nacionalidade estrangeira. Mas gostaria de tê-los aqui e terem boas perspectivas de terem uma vida pacata num estado com um bom PIB!!!, mas não vejo que Portugal venha a ser isso.
Um abraço
João Soares
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