segunda-feira, 11 de maio de 2009

Bela Vista exige ponderação

Os problemas sociais, ao contrário das questões com materiais, envolvem uma diversidade de factores que, pela sua complexidade, exigem uma análise muito cuidada, do género Pensar antes de decidir, a fim de se definir uma solução sensata, ponderada e coerente com todos os aspectos inerentes, e com o País em geral. Quanto à conveniência de olhar toda a complexidade do problema já houve o caso do Bairro da Fonte no concelho de Loures que deve servir de lição, embora os aspectos a considerar tivessem sido diferentes e mais simples do que os que condicionam o caso da Bela Vista.

O jornalista Ferreira Fernandes está consciente deste facto como se mostra no artigo que o DN hoje publica e se transcreve:

Da Bela Vista à Lapa
DN. 090511. por Ferreira Fernandes

Os rapazes da Bela Vista (bairro pobre de Setúbal) que homenageiam um assaltante de caixa de multibanco, que incendeiam carros de vizinhos e que disparam sobre uma esquadra da polícia são evidentemente "um caso social" como muito bem diz o secretário-geral do PCP. Na Lapa (bairro rico de Lisboa) também há rapazes que se armam em traficantes de cocaína e são evidentemente um caso social. Se os rapazes da Lapa forem apanhados, julgados e presos, livra-se os vizinhos das suas malfeitorias. É por isso que divirjo de Jerónimo de Sousa quando ele diz que os rapazes da Bela Vista não devem ser tratados como um caso de polícia. Deviam. Por respeito pela esmagadora maioria dos habitantes do bairro da Bela Vista, que valem tanto como os da Lapa. Sendo os rapazes da Bela Vista e os da Lapa devidamente tratados como casos de polícia, poderiam, então, estudar-se os respectivos casos sociais . Aposto que iríamos descobrir que às similitudes que há entre a gente boa da Bela Vista e da Lapa correspondem semelhanças entre as canalhas de ambas.

Porém, a clarividência do jornalista não é partilhada por Jerónimo de Sousa nem pelo Bispo Emérito D. Manuel Martins ao fixarem a sua atenção nos aspectos sociais, nem com Portas, José Sócrates e MAI ao darem ênfase à actuação policial. Cada um destes aspectos deve merecer muita atenção mas, só por si, pouco resolverá na complexidade das realidades em jogo, sendo necessário fazê-los interagir juntamente com outros factores não negligenciáveis.

Neste caso, há que ter presente a urbanização deficiente, as carências de várias ordens, tanto financeiras, como de emprego, de civismo, de escolaridade eficaz, juntamente o mau funcionamento da Justiça agravado pelas recentes alterações do Código do Processo Penal, etc.

E, para haver lógica e coerência em todo o País, não devem ser ali aplicadas medidas que o não possam ser noutros casos do território nacional, tendo em conta as especificidades próprias. «Cada caso é seu caso» mas há factores comuns e constantes a respeitar.

4 comentários:

Anónimo disse...

OS BANDOS DOMINAM NOS BAIRROS SOCIAIS

Os partidos de esquerda desculpam sistematicamente a criminalidade com o a pobreza e o desemprego. Parece terem receio de uma atitude mais enérgica na luta contra o crime. Será que ficaram traumatizados desde os tempos do fascismo? Esta postura está a desorientar o seu próprio eleitorado natural: os mais pobres que são também os mais desprotegidos face à criminalidade. Assim, os partidos de esquerda têm muita responsabilidade relativamente ao crescimento da extrema direita que tem um discurso bem mais sensato sobre o combate crime. Barack Obama – que se poderá considerar de esquerda – prometeu ser implacável no combate ao crime e defender ao mesmo tempo os mais desfavorecidos. Não me parece que isso seja incompatível.

Todos os dias vemos fechar Empresas jogando muita gente no desemprego e na pobreza. Frequentemente, ficam muitos meses de salários por pagar, levando essas pessoas a uma situação de desespero. Se fosse esse o motivo dos desacatos que se têm visto nos bairros sociais, então eles aconteceriam preferencialmente nas manifestações junto aos antigos locais de trabalho, onde se aglomeram muitas pessoas na mesma situação.
Não! o que se viu no Bairro da Bela Vista foi a homenagem a um criminoso abatido em flagrante pela polícia, numa atitude de desafio à própria polícia como que para testar a sua capacidade de reacção e para uma demonstração de força no bairro.

Há 50 anos a pobreza em Portugal não era menor que a de hoje e a criminalidade violenta era praticamente inexistente. Se mais pobreza implicasse mais criminalidade, então não teria sido assim. As estatísticas nem reflectem a nossa realidade porque muitas vítimas já nem se queixam porque sabem que os criminosos são rapidamente postos em liberdade, mesmo quando são capturados e depois ficam sujeitos a represálias. Mela mesma razão, vítimas e testemunhas escondem a face quando são entrevistadas pela televisão.

Já há algum tempo um Mayor de Nova Iorque decidiu que não se deveria menosprezar a pequena criminalidade nem os pequenos delitos, porque a sensação de impunidade se instala nos jovens delinquentes, estes vão facilmente progredindo para infracções cada vez mais graves até que a situação se torna incontrolável. Implementou então a célebre "Tolerância Zero" que, como se sabe, deu óptimos resultados, reduzindo num só ano a criminalidade em Nova Iorque em cerca de metade.

A actual política portuguesa de manter na rua os criminosos, mesmo depois de várias reincidências, faz (como dizia o Mayor ) crescer a sensação de impunidade: o criminoso continua com as suas actividades criminais, vai subindo o nível dos seus delitos e serve de exemplo para que outros delinquentes mais jovens sigam o mesmo caminho.

Mas existem muitas pessoas trabalhadoras e humildes nos bairros sociais que não levantam problemas e que só desejam que os deixem viver em paz, o que não acontece, porque estão reféns dos bandos de criminosos que dominam nesses bairros. Não se pode contar com essas pessoas para testemunharem qualquer acto criminoso a que assistam porque têm medo, medo de represálias porque não se sentem convenientemente protegidas pela polícia que também não pode estar sempre presente. Lembra as favelas brasileiras...só que no Brasil polícia e militares juntam esforços para combater o domínio dos bandos nas favelas e tem havido baixas parte a parte mas a polícia começa a chegar onde antes não se aventurava. Por cá, enquanto o crime cresce e toma posições de domínio, a polícia, apesar de vontade, nada pode fazer porque lhe falta a autoridade. Entretanto, Governo, Partidos, Bispos e outras organizações não compreendem o que se está a passar e fazem conjecturas absurdas sobre o motivo dos desacatos que é por demais evidente. Será que temos que cair no fundo?

Ah! esquecia-me de uma coisa: espero que os indivíduos filmados a fazer "cavalinho" com as motos sejam punidos pelo menos por CONDUÇÃO PERIGOSA. É imoral multar o pacato cidadão apenas porque ultrapassou 50 Km/hora e deixar impunes estes exemplos exibicionistas...

Zé da Burra o Alentejano

A. João Soares disse...

Caro Zé da Burra,
Concordo totalmente com os seus argumentos. Pessoas honestas e ordeiras, preferem morrer de fome do que lançarem-se na violência e no tráfico ilícito de drogas, de mulheres ou de outro produto contrafeito.
No entanto, isto não contraria a necessidade de medidas sociais contra as carências de todo o género.
Uma das causas da criminalidade é a actual legislação tal como consta no boletim do início de Setembro de 2008 do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público. A preocupação de mostrar estatísticas bonitas, poupar nos serviços prisionais, levou a descriminalizar os pequenos delitos, ao contrário das medidas do Mayor de Nova Iorque, como bem cita.
Admiro-me de os polícias carregarem com a pistola, que de nada lhes serve, e pode acarretar-lhes grandes dissabores porque se a utilizam são condenados por abuso de força, agressão e homicídio.
Com tal legislação e tais tribunais, os polícias têm de deixar uma vela acesa em casa, junto da imagem da Nª srª de Fátima, para que nada de mal lhes aconteça no serviço.
E, por este andamento, os próximos tempos serão muito graves, nem podemos imaginar onde isto irá parar.
Um abraço
João

Anónimo disse...

Os partidos de esquerda desculpam sistematicamente a criminalidade de mais baixo nível, a que chamo de "CRIMINALIDADE RANHOSA" com o pretexto da pobreza e do desemprego. Parece terem receio de uma atitude mais enérgica na luta contra o crime. Será que ficaram traumatizados desde os tempos do fascismo? Esta postura está a desorientar o seu próprio eleitorado natural: os mais pobres que são também os mais desprotegidos face à criminalidade. Assim, os partidos de esquerda têm muita responsabilidade relativamente ao crescimento da extrema direita que tem um discurso bem mais sensato sobre o combate crime, Mas o crime tem que ser TODO ELE combatido energicamente, seja o chamado "crime de colarinho branco" seja o "crime ranhoso", mas,infelizmente, este país está a afundar-se em ambos. NÃO SE DEVE DESCULPAR NEM UM NEM OUTRO. HÁ QUE COMBATER AMBOS, jÁ!!!

Um abraço
Zé da Burra o Alentejano

A. João Soares disse...

Caro Zé da Burra,
Concordo consigo quando diz que «o crime tem que ser TODO ELE combatido energicamente,». A lei devia ser igual para todos, é-o em teoria, mas na prática há os criminosos imunes e impunes. Com tal ausência de ética não se pode esperar um futuro brilhante para Portugal.
Abraço
João Soares