terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

100 dias, quantas palavras mortas?

Transcrição de post com igual título

Um amigo (o Nico) envia-me por mail a seguinte reflexão:
"O que é que têm em comum Sócrates, sócrates e Stalin - para além dos Ss. O facto de considerarem que uma palavra vale por mil imagens, e a importância que dão ao diálogo. O meu camarada Stalin, um homem que que apenas tinha o defeito de "querer com muita força", dizia que a palavra é perigosa. Com palavras mata-se, logo... há que matá-las antes que elas nos matem".
Percebo agora onde foi o nosso "querido líder" buscar a inspiração para a sua arte governativa.
Entre a palavra morta por Stalin, e a revolução bolivariana, versão Chávez, José Sócrates, esse produto do New Deal em versão portuguesa, vai impunemente amordaçando quem ousa questionar a sua visão política, que o personagem certamente julga proveniente de transcendental revelação.
Como bem refere o meu amigo que aqui citei "Pouco a pouco sócrates vai tentando matar uma ou outra palavra".
Manuela Moura Guedes, José Eduardo Moniz, José Manuel Fernandes, Pedro Lomba, João Miguel Tavares, Marcelo Rebelo de Sousa, agora Mário Crespo.
Enquanto o País se vai distraindo a discutir o túnel da Luz, as agências de rating, os casamentos gay,.... a rede tentacular socrática vai abafando as vozes incómodas, vai esmagando quem se lhe atravessa no caminho, vai "tratando dos assuntos", como terá sido referido na tertúlia comensal que arquitecta estes silenciamentos selectivos.
Mas o foguetório continua.
Celebram-se os 100 dias do segundo ciclo do poder socrático, o centésimo aniversário da República, enquanto anda para aí um um 'homem que cultiva uma perspectiva "eólica" da política e procura respostas no vento que passa' (gostei Nico!!) a debitar uns disparates sobre umas eleições que se vão disputar daqui a um ano e que elegem uma figura destituída de poderes reais (gostaram do trocadilho?).
Entretanto, em anestesia colectiva, ninguém se interroga acerca dos erros de cálculo do Ministro das Finanças, que conduziram a números obscenos o défice das contas públicas, acerca do assustador número de 600 mil desempregados (oficialmente; quantos haverá que não são "oficiais"?), da mordaça que se coloca em quem é incómodo a um poder que tudo corrói, servido por figurinhas que despudoradamente se servem. Mas que, definitivamente, não servem.
Para mais, um poder sem oposição.
No "laranjal" procura-se o dono do pomar. Os "populares", quais hienas, riem baixinho enquanto vão sacando os despojos do "laranjal". Os "bloquistas" já "fracturaram" e agora estão em descanso até nova "fracturação" (adopção por casais gay?). Os "camaradas" são olhados apenas como umas figuras pitorescas, reminiscências dos tempos revolucionários. E o rolo compressor vai matando, livre e impunemente, "uma ou outra palavra". Cem dias depois, quantas palavras mortas? E quantas mais para matar?


Publicada por Pedro Coimbra em Devaneios a Oriente

2 comentários:

Fê blue bird disse...

Muito interessante e bem escrito!É esta verdade dita tão sabiamente que me faz perguntar?
-Até quando?
O que será mais preciso para nos unirmos e nos revoltarmos contar tanta prepotência!
-Talvez a resposta venha um dia tarde de mais...

A. João Soares disse...

Querida amiga Fê,

O autor é um jurista de muita classe e encontra-se em Macau, de onde acompanha o que se passa por cá, usando as potencialidades da Internet. Escreve bem e o seu amigo (Nico) também demonstra facilidade na utilização das ideias e das palavras.

O nosso Governo não é feito de patetas. Sabem muito bem puxar os cordelinhos de maneira a manter o poder e calar as vozes que os não elogiem, no estilo do Chávez, do Irão, da Coreia do Norte, da China (apesar de estar a democratizar-se), etc.

Mas, infelizmente, fazem muito mau uso da palavra que usam como o menos hábil vendedor de banha de cobra.

Diz o povo que o silêncio é de ouro. E há conselhos sábios de que antes de falar se deve ver se o que se vai dizer vale mais do que o silêncio. Nesse aspecto o PM não as pensa.

A mais recente é a do défice. Enquanto o ministro das Finanças metia os pés pelas mãos para justificar os seus sucessivos erros de previsão do défice, o PM disse que o aumento deste foi bem calculado e decidido para melhorar a situação das famílias e das empresas. Mas não referiu o aumento da dívida pública nem do desemprego nem parece ter compreendido as opiniões das agências de rating que tanto efeito vão ter nas relações económicas e financeiras internacionais. Já assim, se o PM tem razão, podemos contar com um aumento muito maior do défice para que todos sejamos muito mais felizes!!!

E que ideia têm das palavras os ídolos de Sócrates: Hugo Chávez e Fidel Castro? É importante sabermos, para podermos fazer ideia do que se vai seguir. E de escândalo em escândalo, os grandes problemas deixam de ser olhados e vamos escorregando para o abismo fatal.
Um abraço
João