sábado, 24 de abril de 2010

Escola na Finlândia

Este exemplo de referência recebido por e-mail, merece ser muito bem ponderado pelos responsáveis pela Educação Nacional, com vista a melhorar a eficácia da preparação dos futuros cidadãos portugueses.

Vejam só a diferença!!!!!
Por Fátima F., Professora de Inglês, da Escola Secundária Augusto Cabrita - Barreiro


"Em primeiro lugar quero esclarecer que esta visita correspondeu a mais uma mobilidade do Projecto - Eco-Sport, Eco-Culture and IT - integrado no Programa Comenius a que a minha escola (Sec. Augusto Cabrita - Barreiro) se candidatou e que neste momento já está próximo da sua conclusão, tendo sido iniciado no ano lectivo 2008/09. A iniciativa foi de professores de Informática que envolveram algumas das suas turmas de Cursos Profissionais. Eu integrei o projecto enquanto professora de Inglês de algumas dessas turmas. Neste Projecto estão envolvidas escolas de sete países: Portugal, Itália, República Checa, Polónia, Roménia, Suécia e Finlândia. Faremos 6 mobilidades e já recebemos na nossa escola as delegações dos outros 6 países em Outubro passado.

Basicamente o projecto obriga a trabalho nas áreas das novas tecnologias, desporto e ambiente. Para cada mobilidade são definidos temas de trabalho, modos de apresentação dos trabalhos de cada país com recurso a aplicações/programas informáticos. Há um número mínimo obrigatório de "mobilidades", isto é, alunos e professores que constituem as respectivas delegações. No entanto, em cada deslocação, viajam um máximo de 6 pessoas, entre alunos e professores. Os alunos são sempre acolhidos pelas famílias dos alunos envolvidos no projecto. Durante a semana em que permanecemos no país visitado cumprimos um programa de actividades previamente definido que passam por: contacto directo com a escola que visitamos, implicando assistência ( por vezes com participação mais ou menos activa) a aulas e actividades da escola, visita às instalações da escola, visitas de carácter cultural, participação em actividades desportivas, apresentação dos trabalhos que foram feitos entre mobilidades, também as respectivas reuniões de avaliação do cumprimento dos objectivos e definição do trabalho a desenvolver até ao encontro seguinte. No nosso caso este projecto envolve cerca de seis professores que foram rodando entre si as deslocações. No meu caso, tive oportunidade de em Maio passado ter ido à Suécia e agora à Finlândia.

Relativamente à Finlândia a escola com quem temos este intercâmbio situa-se na pequena localidade de Perniö, na região de Salo, a 2 horas de camioneta da capital Helsínquia. Perniö tem:

Uma Secondary School - frequentada por alunos dos 12/13 aos 15/16 anos - correspondente ao nosso 3º Ciclo - 234 alunos e 23 professores ; 3 ou 4 funcionárias (de limpeza) e a Directora.

Foto 1: Entrada da Escola com os trenós.
Foto 2: Hall de entrada. Casacos e calçado são tirados. Os alunos andam em meias por toda a escola. Conforto e limpeza!!!
Foto 3 e 4: Alunos em aula. Cadê os 28/30 alunos? Entre os 16 e os 20 alunos!

O refeitório: a comida vem de um serviço de catering. Há 1 funcionária que coloca a comida nas cubas, os alunos servem o seu próprio prato, limpam o prato e os talheres que arrumam num balcão, as mesas ficam sem uma migalha e suspendem as cadeiras nas mesas para que tudo fique arrumado e reduza o trabalho da funcionária. Os alunos não pagam a refeição.

Foto 5 e 6: Sala de Informática
Fotos 7 e 8: Laboratório de Línguas
Foto 8: Sala de Professores - pode ver-se um balcão onde os próprios professores preparam os seus lanches, fazem café ou chá ou aquecem alguns alimentos. Não há bares, nem de alunos nem de professores. Poupam-se assim funcionários!
Foto 9: Ao lado da sala de profs. - Reprografia sem funcionário. São os professores que preparam o seu material.

Existe também uma Upper Secondary School - alunos dos 16 aos 18/19 anos - correspondente ao nosso ensino secundário- 90 alunos e 10 professores; 2 funcionárias ( de limpeza) e a Directora. Esta última é a escola do intercâmbio.

(Nota: As dimensões não são comparáveis com a nossa realidade. No entanto, o poder central não fecha escolas, pois considera importante a manutenção dos jovens nas suas terras.)
A educação é da responsabilidade da " municipalidade" ( se me é permitida esta tradução), embora o sistema educativo seja regulado por um "Gabinete da Educação" central, logo comum a todo o país.

Foto 10: Recepção musical pelos alunos finlandeses.
Foto 11: Os sapatos à porta da sala!!!!
Foto 12: Não há toques de campainha. Alunos e professores entram e saem à hora certa.
Foto 13: Aula de Inglês
Foto 14: Aula de Ioga
Foto 15: Alunas do intercâmbio interagindo em actividade criativa sobre o tema "Common Europe"
Foto 16: Visita Cultural à cidade de Turku

Horários

- Professores- 36 horas semanais - aulas + actividades ( incluindo preparação de aulas)
- Alunos - começam às 8.00h terminam às 14.00h - depois das 14 horas, os alunos calendarizam actividades - música, teatro ou desporto. Podem pedir sessões de apoio aos professores.
Os professores entre as 14horas e as 16horas marcam com os alunos as várias actividades de acordo com as necessidades. Nada está definido à partida. Os professores estão disponíveis para o que forem solicitados.

- Turmas - de 16 a 20 alunos, contudo como se trata de uma Upper School, pode haver grupos maiores já que neste nível de ensino a progressão dos alunos faz-se por acumulação de créditos. Para poderem realizar os Exames Finais ( Nacionais) os alunos têm de ter um mínimo de 75 créditos. Há disciplinas obrigatórias consoante a vertente dominante da sua formação. Este sistema permite que um aluno que queira seguir uma área de Ciências possa escolher disciplinas da área de Humanidades desde que cumpra as disciplinas consideradas obrigatórias na sua área. Os alunos vão-se inscrevendo nas disciplinas para fazerem créditos e tendo em conta os horários em que as disciplinas funcionam logo, pode acontecer haver grupos maiores.

Nota: Este sistema de créditos é o sistema de todo o país.

- Disciplina/ Comportamento - os alunos cumprem as regras de disciplina da escola. Quando há problemas os pais são chamados à escola ou contactados por telefone. Quando os alunos não querem estudar ( já estão fora da escolaridade obrigatória) abandonam, mas são uma minoria. Os pais vão pouco à escola!! Só quando são chamados.

- Faltas - quando faltam os alunos apresentam justificação dos pais ou do médico. Não há limites. Cada situação é avaliada pelo professor da disciplina que terá a assiduidade do aluno em conta na avaliação. Se é um aluno com muitas faltas e nos testes não tem resultados positivos, é automaticamente assumido que isso significa reprovar, isto é, não acumula créditos. Não há recuperações, nada! O que conta é o número de créditos que cada um tem de conseguir para poder fazer os exames finais! Os alunos muito interessados em alargar as suas áreas de conhecimento fazem créditos a mais e enriquecem o seu currículo escolar.

- Avaliação dos Professores - são avaliados anualmente pela Directora da escola que se limita a observar o trabalho dos docentes durante o ano nas várias vertentes. Só têm aulas assistidas pela Directora quando surge algum problema relativo ao seu trabalho. Esse problema pode vir de queixa apresentada pelos alunos, pelos pais ou até mesmo por outros professores ( mais experientes) que podem detectar irregularidades ou dificuldades.

Algo que é bastante diferente do nosso sistema é o sistema de habilitações para leccionar as várias disciplinas. Nesta escola conhecemos professores que podem leccionar: Ed. Física e Matemática / Literatura e Geografia / Ciências e Física e Química , por exemplo.

A Informática é transversal. Todos os professores nas suas salas têm recursos informáticos que utilizam diariamente.

Cada professor tem a sua sala com todo o seu material. Até parte do trabalho administrativo, registo de progressões , é feito pelos próprios professores, tanto que a escola não tem Secretaria. Tem o gabinete da Directora que realiza o trabalho necessário.

Nota: A burocracia não deve ter nada a ver com a montanha horrível de papel que nós temos nas nossas escolas portuguesas.

É tudo simples e eficaz: as salas estão abertas, não há funcionários a tomar conta dos meninos porque vandalizam e roubam os equipamentos ou porque roubam os telemóveis uns aos outros, os pais não andam a correr para a escola a queixar-se da má relação que o prof. X tem com o filho, ou que a filha é vítima de bullying, ou que a comida no refeitório não presta, ou que o professor pôs o filho na rua, etc... A escola é respeitada. Enquanto os filhos estão na escola, têm de cumprir as regras da escola e "ponto final". Só como exemplo, sempre que nós entrávamos numa sala de aula, os alunos levantavam-se e cumprimentavam-nos " good morning".
Bem, não quero ser cansativa, portanto vou ficar por aqui.

Espero satisfazer alguma curiosidade, pois sei que outras questões ficaram por abordar e nem todas tivemos oportunidade de aprofundar nos quatro dias e meio que lá passámos.

Fátima F.

2 comentários:

Luis disse...

Caro JOão,
Óptimo post, que pena os nossos (des)governantes que tantos passeios fazem não aprenderem como fazer...A minha filha mais nova também esteve numa escola (modelo) onde se fazia também intercambios com escolas europeias. Tive alojado em minha casa um estudante alemão que durante o dia estava nessa escola em actividades que teinham sido preparadas para o efeito. A minha filha foi para a Alemanha em situação semelhante na escola desse alemão. Como calculas as experiências que essas professoras recebem depois não podem pôr em execução cá no "burgo" porque o ensino existente não contempla nada disso! Vamos ver como se deve fazer para depois ficar tudo no "tinteiro"!!!
Tristeza a nossa...
Um abraço amigo e parabéns pelo post.

A. João Soares disse...

Caro Luís,

Se a inovação e as invenções podem ser úteis se os seus efeitos forem conduzidos pata resultados positivos para bem das pessoas, são sempre bem vindas. Mas a prudência aconselha que não devemos viver obcecados por aventuras e saltos no desconhecido. Há muita coisa boa, já inventada, já comprovadamente eficaz que pode e deve ser aproveitada depois de devidamente adaptada às circunstâncias concretas de cada caso.
Os nossos governantes e candidatos a isso bem agiriam se procurassem conhecer seriamente o que há de melhor lá fora e trouxessem para cá as soluções mais eficazes para o nosso desenvolvimento humano, para uma vida mais perfeita das pessoas.
Mas parece que, nas visitas que fazem por conta do orçamento, se limitam a aumentar a lista dos países visitados, fazer turismo e umas corridinhas matinais para a TV gravar. Delas não tem resultado a importação das melhores ideias e soluções comprovadamente eficazes.
Temos muito que aprender e, principalmente não dar o nosso voto apenas com base no palavreado balofo, opado, sem a determinação de concretizar projectos convenientes para construir um futuro mais digno para os nossos descendentes.
A história não será elogiosa para os últimos 36 anos.

Um abraço
João
Do Miradouro