Transcrição de artigo do Expresso:
Empresa? O que é isso?
Expresso. Sábado, 31-07-2010, Por João Duque
Dizem os livros que uma empresa é um conjunto de meios técnicos, humanos e financeiros, organizados com vista à concretização de um determinado fim económico, o qual passa pelo exercício de uma actividade orientada para a satisfação das necessidades dos seus vários stakeholders, nomeadamente: os seus clientes (pela oferta de bens ou serviços), os trabalhadores (através do emprego e da contraprestação salarial), os accionistas (pela realização do lucro que remunera o risco incorrido), os credores (pelo reembolso do capital e juros em prazo acordado), dos fornecedores (pela procura de bens ou serviços), o Estado (pelo cumprimento das obrigações fiscais e legais), etc.
Todos os que trabalham numa empresa privada sentem conhecer esta definição pela aprendizagem que fizeram e sofreram na pele o que cada uma destas palavras significa. Realidade bem diferente na administração pública... Vejamos as diferenças...
No dia 1 de Janeiro de cada ano, não se tem garantido o pagamento dos salários aos funcionários e ao longo de cada dia do ano se não conseguirem convencer o comprador dos seus bens ou serviços não poderão facturar para depois, com meiguice, cobrar. Coisa extraordinária na administração pública, onde bastam duas linhas para extorquir aos outros o que se decide, do modo que se entende e no tempo que se deseja, sem que tal seja considerado roubo, assalto ou crime.
Por exemplo, ter de pagar as contas a tempo e horas, porque se o não fizerem arriscam o fornecimento sem qualidade, a interrupção da actividade ou a penalização compensatória, coisa muitas vezes irrelevante para o Estado...
A disciplina e a ordem são a lei, e os maus colaboradores, mesmo com direitos, acabam fora das empresas.
A concorrência impõe-se e os direitos adquiridos são todos os dias postos em causa pela disputa do mercado e dos clientes, e apenas a orientação para os que se servem é a forma de manter a actividade e o emprego no longo prazo.
Procura gerar-se o lucro para continuar a incentivar os empresários e os accionistas, para assim pugnar pela manutenção da actividade que gera emprego, e que se deseja aumentado por via de mais investimento, coisa que para muitos é pecado ou maldade, pois só a palavra lucro desata a fúria ou o apetite do imposto voraz...
O Governo de Portugal é constituído por um primeiro-ministro e mais 16 ministros. Nem um só trabalhou alguma vez numa empresa, participou em órgãos sociais (ou disso se orgulha), a ler pelos seus 17 curricula vitae. Como serão as suas reuniões quando falam sobre empresas e sobre elas decidem tudo e mais alguma coisa? Será que para eles o lucro é mau como quando anunciam os furiosos e rancorosos impostos sobre empresas de alguns sectores como o financeiro?
Esta minha descoberta deixou-me assustado. Mas ao desabafá-la logo um amigo me descansou: "- Está descansado pá! Depois de saírem do Governo todos estarão enroscados nos respectivos lugares...".
Texto publicado na edição do Expresso de 24 de julho de 2010
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