quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Poder dos sindicatos

O meu amigo JR Coelho, conhecido por «o intelectual» nos tempos de estudante, contou há dias que em tempos numa aula de inglês para gente crescida, o professor, inglês, depois de ter explicado a estrutura política inglesa, perguntou «quem tem o verdadeiro poder no Reino Unido?». Houve várias respostas, e o professor considerou todas erradas, dizendo que o verdadeiro poder está nos sindicatos.

Recordei agora esta conversa ao ler os títulos aparentemente irreverentes «Fenprof acusa ministério de “incompetência” no concurso de professores» e «Fenprof denuncia erros informáticos no concurso de professores».

E veio-me à memória uma curta passagem do livro já aqui citado «Tempos Difíceis», do amigo MP Marques, onde diz: «Vamos no 28º Ministro da Educação nos anos da democracia e em duas ou três lideranças sindicais nesta área. Como a estabilidade confere poder e, este, liberdade de acção, é evidente que o poder de gerir estatutos profissionais e condições remuneratórias tem estado do lado da corporação dos professores e não do lado do poder político» (pág 17, linhas 12-18).

Esta passagem de um livro, que é um manual valioso para se compreender melhor o que se passa na envolvente dos factos sócio-políticos, coloca a tónica na continuidade. Porém, mais importante do que a continuidade das pessoas deve ser a elaboração de decisões bem preparadas e destinadas a vigorarem por largos anos, estabelecendo estratégias e normas de gestão que serão válidas por vários anos, não por mero conservadorismo, mas pela sua validade por terem sido baseadas em estudos em que se contou com evoluções previsíveis. Mas, infelizmente, as equipas do ministério, formadas por pessoas sem a devida maturidade, deslumbradas pelo conforto dos gabinetes e da sensação de poder que dai resulta, por efeito de «deslumbramento», ousam tomar as mais disparatadas decisões, que não lembram ao Diabo, e que têm de ser anuladas como foi por exemplo a célebre TLEBS.

Pelo contrário, o sindicato, formado por professores experientes e intérpretes do pensamento dos colegas, cuidaram de estabelecer estratégias que foram aperfeiçoando e deduziram delas os argumentos mais adequados aos objectivos e sempre apoiados por valores éticos, sem se deixarem arrastar pelas falácias dos governantes e foram vencendo, passo a passo, as suas lutas intermédias, com a vista focada no objectivo final.

Voltando mais uma vez ao livro «Se, a título de exemplo, olharmos para o conflito à volta do processo de avaliação dos professores, verificamos que os professores ‘nunca lutaram contra a avaliação’. Opunham-se e opõem-se à ‘maneira como é feita’. Porque é que declaradamente lutam? Lutam ‘pela dignificação da carreira docente’, dizem.» Pág. 16-17). Esta estratégia inatacável burilada ao longo de anos, sem haver zigue-zagues, sem hesitações nem recuos, devia servir de modelo aos políticos para não andarem, qual cata-vento, a mudar de rumo diariamente.

Com as actuais inconstâncias dos governantes, não seria possível construir uns Jerónimos ou um Mosteiro da Batalha, como não o foi a barragem de Foz Côa ou o aeroporto da OTA.

Imagem da Net.

2 comentários:

sessentaequatro disse...

Estou atónito com a declaração de utilidade pública do Sindicato dos Professores como salvadores do que de bom ainda reste na Educaçâo.(Como quanto ao "recheio" do Ministério).
Será de facto obediente às orientações que vem recebendo ao longo do tempo,e aí aceito que haja coerência.
É útil reler o MPM mais alargadamente nas suas judiciosas considerações .
Se há autores fácticos do estado em que estão a educação e a Justiça são os respectivos sindicato e organizações para-sindicais, que têm ultrapassado largamente na sua prática o que seria a tipificada razão de ser de um sindicato,ficando prevalecente face à tibieza ou oportunismo das respostas dos níveis políticos de governação e oposição
Um abraço

A. João Soares disse...

Apareça mais vezes e traga as suas considerações que constituem um estímulo para larga reflexão.
Os profissionais de uma área importante para o País, como é a da Educação, representados por organismos eleitos, podem e devem ter um papel importante na modernização da sua actividade tornando-a mais eficaz e útil para a colectividade nacional. Devem ser ouvidos para que as reformas sejam mais eficientes para os interesses nacionais. Porém, não podem suprir as deficiências dos políticos e estes, infelizmente têm sido muito deficientes e inábeis para o desempenho das tarefas que deles se esperam. Por isso as culpas do estado em que se encontra o ensino não é apenas dos sindicatos, mas principalmente dos ministros e suas equipas de «boys». A reforma que fora prometida pelo governo anterior, começou mal em vários sectores, porque em vez de aproveitar as capacidades dos professores, começou por lhes declarar guerra, e na guerra, cada parte procura obter o melhor efeito, destruindo o adversário. E neste caso o adversário menos preparado era o Governo.

Volte sempre com os seus estímulos à meditação sobre os principais sectores do Estado. Muito obrigado.

Abraço
João
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