quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Submarinos, economia e Alemanha

Transcrição de artigo

“Submarinos vêm mais por questões económicas do que militares”
Económico.11/08/10 07:55. Entrevista por Miguel Costa Nunes

O general Loureiro dos Santos diz que a crise está a condicionar as grandes opções militares.

Ex-chefe do Estado Maior do Exército e ex-ministro da Defesa, Loureiro dos Santos, diz que Portugal está nas mãos dos alemães.

A chegada a Lisboa do submarino Tridente e as respectivas capacidades, corresponderam às suas expectativas? Em que sentidos defraudaram o que esperava?

As expectativas que tinha não foram defraudadas. Parece um excelente equipamento. Contudo, apenas poderá ser utilizado no máximo das suas possibilidades, se tiver lugar uma alteração estratégica radical no espaço marítimo de interesse estratégico nacional, o que não é previsível tanto a médio como a longo prazo.

O processo de aquisição dos submarinos até à entrega do primeiro decorreu da forma mais adequada?

Havia uma série de testes a fazer com este equipamento e o Governo esgotou todos os prazos absolutamente necessários para o efeito. E já verificámos que quando isso não é cumprido escrupulosamente tomamos conta de equipamentos que nos dão problemas, por vezes, por longos períodos de tempo.

Disse há dias que a Autoeuropa também condicionou as negociações e a compra dos submarinos à Ferrostaal, por serem duas empresas alemãs. Quer explicar como?

A questão de comprar os submarinos já não se coloca, porque a decisão contra a qual me coloquei em devido tempo já não pode voltar atrás. E de resto a crise e o progressivo endividamento de Portugal coloca-nos ainda mais nas mãos dos alemães. O que faz com que a recepção dos submarinos aconteça mais por questões de segurança económica do que por segurança militar. A situação actual desenvolve-se num ambiente económico que, por via da crise, restringe a nossa acção ao ponto de não podermos fazer o que queremos. E porque há esta e outras empresas portuguesas que poderiam ser prejudicadas ou os seus trabalhadores poderiam ver a respectiva continuação em Portugal ser posta em causa, causando um dano económico e financeiro elevado. Estes investimentos têm hoje um peso estratégico e económico maior do que há dez anos, por causa da crise.

Os cortes motivados também pela crise económica serão prejudiciais para as forças armadas e a defesa nacional? A que ponto?

São prejudiciais especialmente porque atrasam ainda mais a renovação das forças armadas, como se verifica no caso concreto das espingardas e outros. Estava realmente a ser feito um esforço, embora de uma forma pouco efectiva. Mas não é a primeira vez que isto acontece na defesa: no ano passado foram cativadas 35% das verbas e este ano 40%, o que nem representa uma grande diferença. Por outro lado, o Governo tem agido para que os programas em curso não parem, o que é importante porque há problemas concretos.

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