Os interesses de todos os portugueses devem ser defendidos pelos políticos eleitos democraticamente. Isto devia aplicar-se, com mais acuidade aos cidadãos mais desfavorecidos que carecem de poder de influência que lhes permita chamar a tenção para o seu estado de dificuldades. Mas os políticos, dada a forma da elaboração das listas em que se candidataram e dos motivos que os levaram a interessar-se pelo poder, não conhecem os problemas dos mais pobres e não encontram motivação para darem alguma prioridade à observação de tal situação. Na sua opinião, isso seria um investimento de tempo sem rentabilidade.
E desta forma, todas as decisões e todas as medidas ignoram a enorme fracção da população que é sempre desprezada e explorada em favor de uma minoria que absorve os recursos mais atraentes do País, e assim aumenta o fosso entre os mais ricos e os mais pobres, apesar de serem estes os mais numerosos.
Curiosamente, o líder do PSD mostrou prudência de, na véspera de audição com o PR sobre o OE para 2011, ouvir várias opiniões a fim de perceber qual a melhor solução para o Orçamento. Mas, como é característico da lógica dos nossos políticos, optou por ouvir os pareceres de notáveis economistas, ex-ministros e gestores com opiniões de teóricos, bem instalados na vida, totalmente afastados das pessoas mais sacrificadas e exploradas do país: classe média baixa, pobres, pedintes, famintos. Daí que qualquer solução que venha a ter vencimento irá beneficiar os mais bafejados pela fortuna material, da económica e financeira e reduzir a capacidade de sobrevivência aos «existencialistas»(os que, apesar de tudo, teimam em querer continuar a existir). Continuará assim a engordar-se o «Monstro», como lhe chamava Miguel Cadilhe.
Sobre este aspecto dis Manuel António Pina que «só num país de despudorados costumes é que ministros responsáveis, ao longo de décadas, pela engorda do Monstro, em vez de serem levados a tribunal como os seus colegas islandeses, aparecem a dar conselhos sobre a redução do défice a um boquiaberto líder da Oposição». E acrescenta que, citando «Pound, as opiniões são como os cheques: a sua validade depende da cobertura que tiverem. A crer na cobertura que dão às suas opiniões financeiras as passagens pelas Finanças de, por exemplo, Medina Carreira, Salgueiro ou Catroga, Passos Coelho ficou com muitos cheques carecas em mãos».
Querendo ouvir opiniões para obter uma visão mais completa do problema dos portugueses, admira que não tenha convocado Carvalho da Silva e João Proença, que são pessoas inteligentes, bem informadas, com uma experiência adquirida ao longo de décadas de funções em contacto com os problemas mais significativos da maioria dos portugueses e que poderiam fornecer elementos informativos muito esclarecedores e úteis para um político que queira conhecer as realidades das pessoas que mais necessitam de atenção e tomar as decisões mais sensatas e adequadas a uma boa justiça social.
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