O Presidente da República afirmou hoje, como já o tinha feito tempos antes, que escreveu com sete anos de antecedência aquilo que agora está acontecer em Portugal no domínio da economia, tendo então alertado para a importância das apostas na competitividade e aumento de produção. Publicou um texto intitulado ‘Dores de cabeça’ e dois pares de anos mais tarde, publicou outro chamado ‘A ideia base’. Defendia a necessidade de competitividade e aumento de produção.
Como profeta ou oráculo, não está mal de todo. Mas falta-lhe explicar a razão porque não usou a sua influência didáctica, de político, de professor universitário de Finanças e, posteriormente, a de Presidente da República para evitar, minorar a gravidade da crise e a resolver logo que apareceu. Afinal, com tanto saber, poder e capacidade de previsão, teve uma actuação que não foi além da de um vulgar blogueiro ou passador de e-mails. De qualquer um destes saem, com frequência, ideias tão «sensatas» como estas.
Segundo o artigo de Rui Moreira no JN de hoje, os mercados têm amplas razões para acreditar que o Estado não será capaz de resolver os problemas estruturais da sua economia. Pior do que isso, sabem que a execução orçamental tem sido péssima, sabem que tem havido períodos de descontrolo em que os jogos políticos levaram a que se tomassem medidas irracionais, temem que esse cenário se repita, e não têm dúvidas de que temos escondido a realidade e iludido os mercados por razões de ordem eleitoral e porque algumas das nossas instituições, que deveriam ser independentes, foram instrumentos dessa lógica perversa, como foi o caso do Banco de Portugal na "era Constâncio".
(…) somos o país da Europa com maiores problemas estruturais porque temos um défice persistente, que se arrasta desde há quase 20 anos, e que não conseguimos debelar. Esse défice nada tem a ver com a crise internacional, já que resulta do facto da nossa poupança não ser suficiente para cobrir o investimento público e privado, e de este investimento não se ter reproduzido, não tendo induzido o crescimento económico que era expectável e que permitiria fazer face ao endividamento. Os investidores internacionais farão certamente uma avaliação tanto ou mais severa da nossa situação.
O problema é que os que nos governam são os mesmos que tardaram em tomar medidas de emergência, que não garantiram a execução orçamental e que tentaram enganar os mercados. Duvido que uma remodelação resolva o problema de credibilidade do país. No fundo, como podem os estrangeiros acreditar em nós, se temos um Governo que mente e, pior do que isso, somos um povo que se acomoda, que deixa andar, e que se descredibiliza dia a dia ao acreditar em todas estas mentiras?
Não aparecem anunciadas medidas com credibilidade de eficácia para fazer face aos factores enunciados:
- Resolver os problemas estruturais;
- Evitar medidas irracionais;
- Acabar com a manipulação de instituições que deviam ser independentes;
- Pôr fim ao défice persistente que dura há quase 20 anos;
- Enfrentar o problema de os governantes para a solução serem os mesmos do agravamento do problema;
- Haver pouca esperança em milagres de uma remodelação;
- Acabar com a acomodação do povo.
Em «conversa» com um companheiro de almoço, hoje, senti que acha que deve haver uma grande mudança, mas vota na continuidade, porque as sondagens apontam o vencedor, porque considera arriscado votar num menos conhecido, e porque tem grande esperança de que, após as eleições, o PR tome a grande decisão que se impõe, apesar de não se ter mostrado arrojado nas decisões e de se esconder atrás de tabus ou de pedaços de pão de ló.
É pena que as pessoas votem na pista das sondagens, em vez de individualmente, compararem os candidatos com base no seu passado, nas suas reais qualidades, frente às necessidades do Portugal do futuro próximo e a médio prazo e, com base nessa análise, façam a sua escolha. Pode a decisão não ser diferente da apontada pelas sondagens, mas será mais racional, mais explicável, mais segura.
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sábado, 4 de dezembro de 2010
Adivinhou mas não evitou ou minorou a crise
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2 comentários:
Caro João Soares
Trocando por miúdos: a criatura sabia resolver o problema mas não quis colocar em risco o segundo mandato. Preferiu continuar nas meias-tintas martelando alternadamente no cravo e na ferradura.
Ora um Presidente que mereça esse nome, tem de estar disposto a correr todos os riscos para salvar a Pátria. Ou isso será apenas para os militares?
Caro Vouga,
Bem visto. É um politiqueiro vulgar que coloca os seus interesses acima dos interesses da Pátria.
Foi militar na Marinha, mas não saiu do gabinete da contabilidade, pelo que não sentiu o que é arriscar a vida pela Pátria, nem se arrisca pelo Algarve ou por Boliqueime. O seu lema é não se arriscar seja pelo que for, prudente em exagero. Lembrei-me dele ao ler esta tarde a frase de Sir Winston Churchill «Um contemporizador é aquele que alimenta o crocodilo, na esperança de que ele o coma em último lugar».
Um abraço
João
Do Miradouro
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