sábado, 10 de setembro de 2011

Política coerente precisa-se

Um tema que tem sido debatido com certo calor tem sido o da retirada de apoio à obtenção da pílula e um dos argumentos é que isso contraria a liberdade e o direito das mulheres, adquirido à custa de uma luta feminista muito acirrada. Mas o mesmo argumento surgirá, por papel químico ou fotocópia, se for colocada a questão de os abortos voluntários deixarem de ser feitos nos hospitais públicos e deixarem de ter apoio estatal.

São dois apoios com o dinheiro dos contribuintes, concedidos por estadistas sem um mínimo de inteligência e de coerência com um eventual objectivo que tivessem procurado atingir. Ora se o Estado dá apoio para a não procriação, pretenderá reduzir a população nacional e desenvolver a libertinagem das mulheres que poderão passar a entregar-se aos prazeres de momento, em amores de uma noite de discoteca, pagando do dinheiro público para esse fomento. A tais desejos de «liberdade», o Estado nada deve obstar desde que daí não resulte prejuízo para a colectividade ou para terceiros, mas não deve ir ao ponto de malbaratar o dinheiro dos contribuintes sem censo nem lógica.

Se o interesse não era fomentar tal libertinagem e houvesse sensatez e coerência, bastaria permitir que cada uma usasse os meios anticoncepcionais que desejasse, apoiando apenas os casos de necessidade clínica e perante carência de poder de compra da paciente.

Mas o mais grave no tocante à aparente falta de inteligência e de lógica política, é o fomento da irresponsabilidade, pois após passar a ser apoiada a aquisição de anticoncepcionais, só engravida a mulher que o deseja ou que for desmazelada ou IRRESPONSÁVEL, ou que por motivo de amores arrependidos pretende abortar. Mas essa, se é uma pessoa responsável e idónea, terá logicamente de arcar com as consequências da sua decisão. Logo o Estado, pelo facto de apoiar a aquisição de meios preventivos, não deve considerar-se obrigado a suportar o apoio à «interrupção voluntária da gravidez» e já fez muito em a permitir, para «liberdade da mulher».

Como seria honroso para os nossos políticos mostrarem um pouco de inteligência, coerência, lógica, sentido de responsabilidade, olhando para as pessoas e estimulando-as a serem responsáveis, cumpridoras das leis e saberem aproveitar os apoios que têm sem exigirem a sua substituição no ónus dos seus próprios erros. Antes de decidir reduzir as despesas, convém ver qual dos pontos - ou os anticoncepcionais ou o apoio ao aborto voluntário - deve deixar de ser apoiado. Parece que deve ser mais humano cortar o apoio aos abortos voluntários que deixam de ser necessários, se as mulheres forem responsáveis e souberem usar os anticoncepcionais que são apoiados pelo Estado.

Haja políticas coerentes!

Imagem do Google

2 comentários:

Iris Restolho disse...

Nem sei se deveria comentar tanta barbaridade.

Não é uma questão de libertinagem da mulher mas sim de igualdade de valores, como tal defende.

As mulheres e os homens têm iguais direitos perante a sociedade e esta tem de lhes dar as formas para que estes direitos possam ser vividos.

No entanto, a pílula continua a ser grátis nos centros de saúde e está disponível a todos os comuns portugueses que se dêem ao trabalho de marcar uma consulta de planeamento familiar, assim como os preservativos.

A distribuição dos meios anticoncepcionais não deve ser vista como um incentivo à libertinagem de HOMENS e MULHERES, mas sim como um meio de combate a doenças graves e sexualmente transmitidas. Para além do mais que a pílula, serve ainda, (no caso de adolescentes que começaram a ter recentemente as suas menstruações) para regularizar o organismo, provando assim ser mais do que um instrumento para a libertinagem da mulheres (mas que forma mais grosseira e tão pouco próxima da verdade, para além de mostrar uma dualidade de padrões arrepiante,de se dizer as coisas).

Não concordo nem nunca concordei que a interrupção voluntária da gravidez, fosse uma solução anticoncepcional, por isso por aí nem vou entrar.

A. João Soares disse...

Cara Iris,

Agradeço o seu interessante comentário e admiro-me de não terem ainda aparecido outros.
O tema fundamental do post é a sobreposição de despesas do dinheiro do contribuinte, apoiando a prevenção e a reparação de erros da responsabilidade da mulher. Se souber e quiser usar os meios preventivos que a Iris defende, e muito bem, não aparece uma gravidez indesejada. Portanto se esta aparece é da única responsabilidade dela e não dos contribuintes pelo que a sua interrupção voluntária não deve ser suportada pelo erário. O referendo foi apensa para que tal interrupção não seja crime.
O que tem estado a passar-se é como usar suspensórios e cinto, por excesso de precaução. Ora o País não é suficientemente rico para ter dois sistemas, sendo o segundo resultante apenas de desleixo ou irresponsabilidade da mulher que não usou os métodos preventivos que o Estado colocou ao seu dispor.
É essa incoerência, essa irracionalidade, nas despesas do estado que o post foca.
Abordar tal falta de lógica não deve ser interpretada como barbaridade!!!

Cumprimentos
João