quarta-feira, 17 de outubro de 2012

«Elite» política gerou a crise

Transcrição de artigo:

A culpa é do polvo
Correio da Manhã. 16 Outubro 2012. Por: Paulo Morais, Professor universitário

A ideia de que os portugueses são responsáveis pela crise, porque andaram a viver acima das suas possibilidades, é um enorme embuste. Esta mentira só é ultrapassada por uma outra. A de que não há alternativa à austeridade, apresentada como um castigo justo, face a hábitos de consumo exagerados. Colossais fraudes. Nem os portugueses merecem castigo, nem a austeridade é inevitável.

Quem viveu muito acima das suas possibilidades nas últimas décadas foi a classe política e os muitos que se alimentaram da enorme manjedoura que é o orçamento do estado. A administração central e local enxameou-se de milhares de "boys", criaram-se institutos inúteis, fundações fraudulentas e empresas municipais fantasma. A este regabofe juntou-se uma epidemia fatal que é a corrupção.

Os exemplos sucederam-se. A Expo 98 transformou uma zona degradada numa nova cidade, gerou mais-valias urbanísticas milionárias, mas no final deu prejuízo. Foi ainda o Euro 2004, e a compra dos submarinos, com pagamento de luvas e corrupção provada, mas só na Alemanha. E foram as vigarices de Isaltino Morais, que nunca mais é preso. A que se juntam os casos de Duarte Lima, do BPN e do BPP, as parcerias público-privadas e mais um rol interminável de crimes que depauperaram o erário público. Todos estes negócios e privilégios concedidos a um polvo que, com os seus tentáculos, se alimenta do dinheiro do povo têm responsáveis conhecidos. E têm como consequência os sacrifícios por que hoje passamos.

Enquanto isto, os portugueses têm vivido muito abaixo do nível médio do europeu, não acima das suas possibilidades. Não devemos pois, enquanto povo, ter remorsos pelo estado das contas públicas. Devemos antes sentir raiva e exigir a eliminação dos privilégios que nos arruínam. Há que renegociar as parcerias público--privadas, rever os juros da dívida pública, extinguir organismos... Restaure-se um mínimo de seriedade e poupar-se-ão milhões. Sem penalizar os cidadãos.

Não é, assim, culpando e castigando o povo pelos erros da sua classe política que se resolve a crise. Resolve-se combatendo as suas causas, o regabofe e a corrupção. Esta sim, é a única alternativa séria à austeridade a que nos querem condenar e ao assalto fiscal que se anuncia.

Imagem do CM

2 comentários:

Luis disse...

Caríssimo Amigo João,
Quanta verdade está aqui exposta! Mas não acredito que venham a castigar os responsáveis! Só julgando-os e responsabilizando-os se poderá vencer esta crise por eles criada!
Um abraço amigo e solidário.

A. João Soares disse...

Caro Amigo Luís,

«Só julgando-os e responsabilizando-os se poderá vencer esta crise por eles criada!»

Se esperas que a solução está na Justiça institucional, podes esperar sentado porque a demora será eterna!!!
O povo acabará por se compenetrar da realidade, de que é o «pião das nicas» de que uma máfia poderosa lhe suga as últimas energias e ele tem que tudo dar até à última batida do seu já débil coração.

O povo explorado não pode esquecer do que aconteceu à rã que estava a ser cozida em lume brando; quando quis sair do caldeiro já não conseguiu. Devia ter saído aos primeiros incómodos. Vale mais uma solução oportuna, mesmo que seja traumática e dolorosa do que deixar-se matar. Vale mais amputar um membro gangrenado do que se resignar a acabar por morrer de septicémia.

Se lutares, podes perder; se não lutares, estás perdido!

O que me preocupa não é o grito dos maus! É o silêncio dos bons.

Para o triunfo do mal basta que os bons não façam nada.
Edmund Burke (16-01-1729 – 09-07-1797)

Não nos faltam boas lições de célebres pensadores. Não as devemos des+prezar.

Abraço
João