Francisco Moita Flores traça um retrato dos portugueses, talvez real mas pouco favorável. Será que a crise nos irá melhorar? Ou será que continuaremos fieis à tradição expressa pela frase « somos isto há séculos»? Eis o artigo:
Carta a Merkel
Correio da Manhã. 11-11-2012. 1h00. Por: Francisco Moita Flores, Professor Universitário
Minha Estimada Senhora, Deixe que a cumprimente e deseje boas-vindas ao nosso país. Não vai aprender muito, pois a visita é curta, para conhecer melhor este Portugal pequenino mas belo, arruinado mas marialva.
Um país e um povo que adora a Alemanha. Se nos conhecesse pelos electrodomésticos, desde frigoríficos até à banal torradeira, saberia que talvez metade das nossas casas são alemãs. E não falo dos automóveis. Aí somos verdadeiramente alemães. Seja como for, saberá que para além dos cumprimentos formais, não vai ser calorosamente recebida.
A senhora é a culpada maior de todos os males que aconteceram a esta terra nos últimos anos. É recebida, como diz Louçã, como uma assaltante que nos rouba encabeçando uma conhecida quadrilha de especuladores. É a líder de um pacto de agressão contra o País, diz Jerónimo de Sousa, a chefe de uma quadrilha internacional que decidiu esmifrar o tutano das nossas miseráveis carteiras. Mas desde logo vai perceber a nossa natureza. Somos pedinchões e aprendemos historicamente que a culpa é sempre dos outros. O nosso maior partido da oposição já lhe pediu mais investimento, centenas de analistas sabem que são inocentes e a culpa é sua. Está no país onde para beber uma cerveja, a bebida que tão bem conhece, pedimos tremoços. À borla, claro.
O nosso Governo, certinho, bom aluno, dar-lhe-á esse encantamento: podemos morrer à fome mas pagamos. No fundo, não ligue muito ao arraial de submissões que vai receber nem à berraria que a vai ensurdecer. Somos isto há séculos. O nosso saber, democraticamente distribuído, não vai além da Cartilha Maternal de João de Deus, embora com um poderoso exército de rapazes, ainda que improdutivos, com centenas de discursos morais sobre si, os outros e o País. Temos, por tudo isto, uma boa experiência na preguiça, no ressabiamento e em declararmo-nos sempre inocentes.
Quando partir, logo se arranjará culpado mais à mão. Vá com Deus, minha senhora. E se quiser arrumar todas as catilinárias contra si, compre uns jogadores de futebol. Por uns milhões valentes. O nosso bem-estar é a alma da bola. E verá que, por aí, será ovacionada à partida. E nós voltaremos aos tremoços e à imperial, discutindo aquilo que não somos para depois, já bêbedos, chorarmos a sua partida ao som do faduncho da desgraçadinha.
Imagem do CM
Lápis L-Azuli
Há 17 minutos
2 comentários:
Caro AJ Soares,
Uma no cravo e outra na ferradura. Afinal porque não terminou o mandato autárquico em Santarém o Sr. Moita?
Vai candidatar-se a outra autarquia? Quanto a mim isso viola a actual lei. Mas, pior do que isso, mostra como as pessoas estão agarradas ao poder. Seja onde e como for. Tal como Filipe Menezes que no Porto se candidata depois de preencher os mandatos na autarquia vizinha que agora quer aglutinar.
Bem, são questões que acima das lei demonstram o carácter de cada um.
Cumprimentos
Caro Mário Relvas,
Esta sua reflexão vem ampliar o retrato que o artigo faz dos portugueses, concretamente dos «políticos». Estes, salvo eventuais excepções, mesmo quando não seguiram a carreira, não se movem por objectivos altruístas, generosos e patrióticos, dando o seu esforço para defender Portugal e o bem estar dos seus compatriotas. Os seus objectivos situam-se em vários aspectos de interesse pessoal, como o enriquecimento rápido por qualquer forma e com rapidez, a vaidade de se mostrar de receber aplausos, de utilizar um carro de alto preço de ter um gabinete com muitos parentes seus e de amigos, por receber uns presentes de robalos ou alheiras. Não preparam convenientemente as suas decisões porque não sabem e porque não pensam nem têm sensibilidade para os problemas das populações. O seu olhar está focado no próprio umbigo e os outros que se lixem, custe o que custar, doa a quem doer.
Humanamente, e do ponto de vista de serviço público, seria de esperar que um autarca fosse um residente ou natural da sua área geográfica, conhecedor das populações e dos problemas locais e dedicado à procura de soluções para melhorar a vida dos que ficam dependentes das suas decisões, do seu trabalho.
Mas isto é esquecido por eles pois na sua actividade rotineira, os valores éticos são ignorados e apenas eventualmente são referidos em discursos balofos sem verdade nem conteúdo.
Precisamos de verdade, sinceridade, respeito pelo outros, dedicação aos interesses nacionais.
Abraço
João
Enviar um comentário