Governar não deve ser um exercício de permanente propaganda com promessas incumpríveis, com fantasias arrogantes e ataques aos que apresentam sugestões práticas e viáveis para o crescimento de Portugal e a melhoria das condições de vida das pessoas.
Como diz Marques Mendes o governo está a cair na demagogia e a pensar nas próximas eleições.. Passados quase três anos de actuação, devia, pelo contrário, orientar a sua propaganda mostrando os resultados conseguidos para a melhoria das condições de vida das pessoas, principalmente das mais carenciadas, como os reformados, os idosos, os doentes, os desempregados, etc.
A explicação verdadeira, sem sofismas, com palavras compreensíveis pelos portugueses mais simples, seria a melhor «propaganda». Falar de «determinação» no prosseguimento do mesmo rumo nada beneficia, pois nem sequer se conhece o rumo, se é que algum dia foi definido. O que as pessoas sentem é a pobreza gerada por cortes sobre cortes, havendo um justificado descontentamento. Até o próprio ministro Miguel Poiares Maduro diz que compreende que as pessoas se sintam zangadas com o Governo. Os governantes não se devem considerar donos do País.
No seu tom habitual, Marco António Costa diz que o PSD pretende "um país diferente, com esperança, que acredite que é possível haver um novo tempo e que o construa assente em bases sólidas no plano económico e social, com contas públicas saudáveis e uma organização financeira do Estado bem estruturada". Estas frases doutorais podiam ser datadas de 2011, agora não passam de arrogância gratuita e falaciosa sem o mínimo senso e que não convencem ninguém. Se durante quase três anos, essas santas intenções, apenas se traduziram em cortes sobre cortes, aumentando o número de pobres e tornando mais pobres aqueles que já o eram, que solução concreta nos dá, com verdade em palavras compreensíveis e credíveis, para acreditarmos, para termos esperança num novo tempo com bases sólidas no plano social.
Marco António Costa, que, quando na oposição, era um bom argumentador, parece querer manter o mesmo estilo neste ataque ao líder da oposição. Mas este falou de medidas práticas, de realidades e isso não se combate com conceitos expressos por palavras eruditas que nada dizem de concreto aos portugueses mais carentes. O refúgio nesses termos constitui fuga ao diálogo construtivo e esclarecedor e neste não deve ser baralhado o nível da argumentação. Um «diálogo» não pode ser conduzido com respostas teóricas e irreais a sugestões práticas e viáveis. Para nos convencer, coloquem-se no mesmo patamar e falem em linguagem compreensível por nós, simples cidadãos.
Esta manutenção do estilo usado há mais de três anos, na oposição, dá razão a Bagão Félix ao dizer que "Governo gosta de insistir no erro e mudar apenas o papel de embrulho". Exagero ? Talvez não.
A provar a falácia de tais palavras vagas e aéreas os reformados e pensionistas nada melhoraram desde 2011, antes pelo contrário. Os pobres estão mais pobres e a classe média entrou de escantilhão na pobreza e muitos, procurando ocultar a fome envergonhada, passam momentos de muito sofrimento. Das generalidades teóricas do PSD não retiramos nenhum conforto para gerarmos esperança no amanhã. Nem diz nada de concreto que possamos comentar construtivamente.
Pelo contrário, a vítima das suas palavras, António José Seguro, não fica pelas ideias mas desce a casos concretos e, se estes são polémicos, como tudo na vida, têm a vantagem de poder ser escalpelizados, analisados e dar oportunidade para ter consciência dos prós e dos contras e ajudar a encontrar a melhor solução viável.
Ninguém ocupa algum tempo a pensar com lógica e pragmatismo no futuro dos portugueses e Marques Mendes tem a franqueza de dizer que «a questão é que já está tudo a pensar em eleições". E sugere: «mas se os deputados pensarem mais nas pessoas que na banca, poderá surgir uma lei justa e adaptada à realidade".
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A Decisão do TEDH (397)
Há 2 horas
4 comentários:
Caro João Soares
Portugal é um país curioso. Dos 10.530.000, 10.529.928 sabem muito bem como se governa o país. Para nossa desgraça, os 72restantes estão todos no governo ou trabalham directamente para ele.
Caro Fernando Vouga,
As suas palavras traçam um quadro simples mais muito elucidativo. Algo está errado porque esses 72 são eleitos pelos outros. O que se passa para serem esses os escolhidos? Esse é um ponto a precisar de profunda reforma.
Não são escolhidos os melhores mas os que fazem parte de um bando de malfeitores que se candidatam em listas ignoradas pelos eleitores. E, por isso, o nosso Estado, o nosso dinheiro, está mal gerido e, quando muda, passa sempre para piores mãos. Enquanto este regime não for profundamente reformado, cairemos, de socalco em socalco, até ao abismo final.
Só um cataclismo definitivo ou uma bomba nuclear bastante potente pode acabar com tanto vício e imoralidade.
Abraço
João Soares
Caro João Soares
Totalmente de acordo!
Um grande abraço
Sócrates, o caranguejo de Hamlet
"If I could only travel backward like a crab"
"Hamlet", William Shakespeare
Lembrei-me desta citação quando vi como José Sócrates reagiu à notícia do Expresso de que o processo de venda dos quadros de Miró tinha começado no Governo anterior. É uma frase do Hamlet mas que abre um grande livro, "Caranguejo", do Ruben A. Um livro que vai do fim para o princípio, exatamente como os comentários de Sócrates, que vão sempre da atualidade para os anos em que o mundo mudou.
O que disse Sócrates no Domingo? Primeiro, que "é falso" que o seu governo tenha dado início ao processo de venda, segundo, que "o governo nunca deu carta branca" à administração do BPN nacionalizado para executar essa venda. Acontece que o Expresso não disse nada disso. Disse - e fundamentou com documentos - que o processo de venda, de consulta a leiloeiros, de avaliação das obras e de marcação do leilão foi iniciada no Governo anterior. Facto que não tem nada de estranho, como aliás explicou Teixeira dos Santos ao Expresso, porque a administração do banco (ou do buraco) nacionalizado tinha como missão vender ativos que ajudassem a diminuir a fatura dos contribuintes.
Ninguém pode afirmar o que teria acontecido se o Governo não tivesse caído em 2011, interrompendo as negociações com a Christie's para um leilão que, nessa altura, deveria decorrer em Nova Iorque. Como ninguém pode dizer que o Governo, nomeadamente a então ministra da Cultura, não impediriam essa venda caso o tema chegasse a Conselho de Ministros. Mas é falso dizer que a administração do banco falido não se preparava para vender os Miró, no exato processo que agora o atual Governo resolveu terminar de forma atabalhoada e com uma incrível ilegalidade (a saída das obras do país sem qualquer autorização!).
No seu raciocínio de caranguejo, em que os recuos só servem para recordar as maravilhas de então, José Sócrates esquece o que disse recentemente sobre o BPN, sobre o desconhecimento absoluto que o Executivo tinha do banco quando o nacionalizou, o pânico que foi perceber a dimensão do desastre e a dificuldade em lidar com ativos que ou não valiam quase nada ou nem sequer existiam. E esquece o drama que vivia na época, numa corrida contra o tempo e o resgate, com um Conselho de Ministros cada vez menos coeso e Luís Amado e Teixeira do Santos em clara dissonância com o primeiro-ministro.
Os flashbacks de Sócrates recordam o que dá jeito e apagam o que não interessa. Nada de grave, é próprio da natureza humana e muito próprio da política (Passos Coelho sofre do mesmo mal e, por exemplo, resolveu esquecer-se de que Sócrates o sondou para vice-primeiro ministro, apesar de haver testemunhas).
Citar o relatório e contas da Parvalorem a dizer que a venda dos Miró teve inicio em 2013 é o mesmo que citar um relatório da TAP a dizer que a sua privatização teve inicio com este Governo, quando ela começou a ser tratada no Governo anterior e esteve prevista (num formato diferente) no Orçamento de Estado de 2011. Cada um arranja a narrativa que lhe dá jeito, se não for num relatório e contas, há de ser nas páginas amarelas.
EXPRESSO
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