Transcrição de artigo de Alberto Pinto Nogueira, Procurador Geral-Adjunto;
A gargalhada do poder
Público. 09/03/2014 - 14:55 Por Alberto Pinto Nogueira
Na edição de 23 de Fevereiro, o PÚBLICO exibia uma foto enternecedora. Comovente. Altas figuras do Estado riam à gargalhada. Não tenho nada contra as gargalhadas dos políticos e do poder. Antes ao contrário. A gargalhada é sinal de alegria, relação bem disposta e equilibrada com a vida. Se os políticos e governantes soltam gargalhadas, estão bem. Felizes e contentes da vida privada e pública. Se eles estão, também o Povo está.
Haveria uma relação causa/efeito entre a gargalhada política e a gargalhada popular. Mas não é assim. Felizes estavam os políticos e séquito do Coliseu dos Recreios, no congresso do PSD. Só eles têm, politicamente, vontade de rir. Os detentores do poder, grande poder, médio poder, pequeno poder. Os que já o têm e os que o vão ter. Sem cortes nas reformas, com benesses e sempre garantido, a seu tempo, um lugar muito bem pago na Europa que é de todos. Ou deles?
Tanto riram à gargalhada que não tiveram espaço para discutir fosse o que fosse de relevante. Nada disseram ao País que está bem, nem ao Povo que está mal.
Discutiram ressentimentos, choraminguices, bajularam-se uns aos outros, distribuíram lugares, a colher nas eleições e fora delas.
Há o palco mediático para os cargos de eleição. O grande poder. Há os corredores e os bares do Coliseu para lugarzinhos “mal” pagos. Médio e pequeno poder. Recados para aqui e para ali Recuperaram proscritos do dia de ontem.
Ficámos a saber o que sabíamos. Os lugares em Estrasburgo, na Gomes Teixeira, em Belém.
Sem a gargalhada, a distribuição de lugares e o perdão ao aluno da Lusófona, seriam um vazio. Nada. Um deserto.
O som das gargalhadas ofuscou e calou a sagrada Reforma do Estado. Esta são as três centenas de milhares de emigrantes em dois anos. Os 800 mil desempregados. Os dois milhões e tal de portugueses que vivem no limiar da pobreza. Os que ficam sem casa por não terem capacidade financeira para pagar as prestações aos bancos que as vendem, com “sucesso”, à razão de 30 por dia.
Vivemos “acima das nossas possibilidades”. Com salários, reformas e pensões sempre mais rapados. E mais impostos.
O povo português não tem alma, nem ideias, sentimentos, projectos, ambições, direitos e deveres, futuro. Tem de viver em tormento. É uma cobaia enjaulada nos quadradinhos das folhas de Excel.
O Estado não tem nada a ver com isso. Está melhor. E ri. Os bancos também, à gargalhada. Quando têm lucros, são deles. Os prejuízos, nossos. O Estado, que está bem, mete lá uns milhões e ficam todos melhor. Como o Banif, onde o Estado tem 99% do capital mas quem lá manda é o banco. Só que o dinheiro do Estado é nosso que lho confiamos em impostos para gerir a coisa pública. Não para o enterrar nos bancos falidos.
Pagamos, eles mandam e gastam. Riem à gargalhada.
A Caixa Geral de Depósitos tem prejuízos de muitos milhões desde 2011. O Senhor Presidente brinca, ri: “ A caixa dará lucros quando o Benfica for campeão”. A CGD é o banco do Estado, o administrador ri com os prejuízos. Ninguém pede e presta contas. O Governo despede funcionários competentes. Mantém administradores e gestores incompetentes.
O País, que somos nós, sofre o terrorismo da austeridade, suporta uma carga fiscal obscena. Os poderes político e financeiro riem de nós. Às gargalhadas!
Imagem de arquivo
sábado, 29 de março de 2014
PAÍS DE GARGALHADA, ENQUANTO SE PUDER RESPIRAR
Posted by A. João Soares at 09:59
Labels: dignidade, gargalhada, responsabilidade, sentido de Estado
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2 comentários:
É tudo verdade e faço minhas as palavras do articulista Alberto Pinto Nogueira mas só falamos, falamos (e já é muito porque há quem tenha medo de falar e por vezes chego a pensar que aos que me rodeiam não lhes toca a crise) mas nada fazemos para derrubar este governo de corruptos. O que importava era correr com estes desgovernantes insensatos sem vergonha, sem escrúpulos e nem moral!
E, tristemente, estou a adivinhar que muitos não vão votar e irão eles, os do Governo (desgoverno) e os do outro que já se juntou a eles mas estão calados e ganhará a coligação dos três para dar continuidade à ditadura que já dura há 40 anos. A mim o Salazar nunca me roubou nada e estes são uma cambada de gatunos! Votem neles, nestes que estiveram no Poder e que destruíram o País e nos destoem a nós! Votem que não há mais partidos e depois continuarão a falar até que lhes doa a voz!
Cara Amiga Zélia Chamusca,
Compreendo a sua indignação que é a da maior parte dos portugueses, mas poucos têm a coragem de falar francamente e desabafar a sua preocupação. O mal está de tal forma enraizado e disseminado que isto, o País, só recupera a dignidade, depois de um tratamento eficaz de desratização, desinfecção desparasitação.
As palavras são necessárias para esclarecer e preparar a acção, mas esta está bloqueada por falta de coragem.Essa coragem tem que surgir em pessoas com 40-50 anos que raciocinem no seu futuro, pois estão a meio da idade activa e já possuem experiência da vida.
Não lhes basta lamentar as loucuras das últimas décadas nem pensar muito no nosso passado, mas precisam de olhar criticamente para os bons exemplos que podem encontrar em países modernos e florescentes.
Há que moralizar Portugal para depois se reconstruir num rumo de desenvolvimento. Há que acabar com a ditadura dos «donos do país»,com os abusos do tipo dos referidos na notícia EDP paga milhares a ex-governantes.
E há muitos outros casos parecidos, na banca e em todas as empresas que têm capital do Estado, em Fundações e ouras instituições que apenas servem para dar dinheiro a cúmplices e coniventes com o Poder,além de tachos para «boys» em gabinetes onde nada fazem de indispensável.
Por exmplo, acabe-se com as centenas de técnicos altamente pagos na CMLisboa onde não fazem nada de útil.
Beijo
João Soares
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