Prevenção, como?
(Publicado no semanário O DIABO em 29-05-2018)
Estamos quase a entrar em nova época de fogos florestais, segundo o calendário da Protecção Civil. O PM já deu a sua directiva: não precisa de mais estímulos do PR e a solução reside na prevenção. Embora esta “directiva” não seja perfeita, porque no caso de a prevenção falhar, mesmo que pontualmente, é indispensável preparar sistema de combate a incêndios que, “eventualmente”, ocorram, por forma a não se repetirem as tragédias do ano passado.
E desta directiva tão “brilhante”, o que resulta? Como responsável por uma máquina administrativa, executiva, com uma hierarquia escalonada em diversos degraus, esperará que, em cada degrau, se repita “prevenção”, como tem sido bom estilo dos papagaios da política! Mas o desejável seria a especificação de medidas eficazes conducentes ao objectivo desejado, sucessivamente pormenorizadas e traduzidas em actos práticos e com capacidade de eficiência para evitar os fogos. Evitar deve ser o resultado da prevenção.
Para isso, a máquina executiva terá de esperar eficácia, nas áreas da Administração Interna, da Agricultura, do Ambiente, da Educação, das Finanças, etc. A Administração Interna já evidenciou ausência de conhecimento real do problema ao emitir uma ordem indicando um prazo que teve de ser anulado, por impossibilidade de ser cumprido. A limpeza das matas não pode constar do corte de toda a vegetação, em que se incluem pequenas árvores que viriam a substituir as árvores de hoje, dando natural continuidade à vegetação útil. Sem tal cuidado produz-se a desertificação.
Há que agilizar os vários degraus do poder, chegando até aos guardas florestais, guarda-rios e cantoneiros, passando pelas autarquias, regedores, etc., para consciencializar a população rural sobre os cuidados a ter para evitar os fogos. Não deve ser desprezada a análise dos diversos interesses nos fogos para aplicar uma Justiça rápida e rigorosa, dissuasora de incendiários e seus eventuais financiadores.
Para que o Sr. PM não venha a ser acusado pelos seus actuais colaboradores de ser “vergonhoso e desonroso”, como foi dito do seu antecessor, deve escolher para responsáveis por funções importantes nos diferentes graus da hierarquia pública, pessoas tecnicamente capazes, conhecedoras dos problemas a resolver e experientes na sua prática, a fim de ajudar a preparar as melhores directivas, a colocá-las em execução e a controlar os resultados, passo a passo, a fim de conseguir prevenção eficaz e o mais adequado combate a fogos que ocorram devido a eventuais falhas.
Nessa escolha convém evitar amigos, corruptos e opiniões interesseiras de “colaboradores” mais interessados nos seus próprios interesses e ambições do que na defesa dos interesses nacionais e na melhoria da qualidade de vida das pessoas que o Governo deve ter sempre em primeira prioridade.
A preocupação principal deve ser a resolução dos problemas actuais com soluções que contribuam para um futuro melhor com objectivos a longo prazo, bem definidos e convincentes que consigam convergência de esforços.
Para isso tem que haver ousadia de mudança, sem hesitações, mas também sem precipitações aventureiras que apenas produzam esperanças falhadas e sem bons resultados compensadores do esforço. A preparação da decisão deve seguir a metodologia referida no texto publicado n’O DIABO em 27-09-2016. Feita a escolha, deve seguir-se a execução, com planeamento, organização e programação, de forma muito realista, para ser obtido o melhor êxito, evitando falhas. E, após iniciada a acção, deve accionar-se um sistema de controlo para pôr em acção eventuais ajustamentos mais convenientes.
António João Soares
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