Como vai o Mundo!
(Publicado no semanário O DIABO em 14 de Agosto de 2018)
Há muito que venho criando a convicção de que a maior parte das palavras proferidas por políticos são para esquecer, pelo menos quando fazem propaganda que pretende iludir os ouvintes com promessas que asseguram, que garantem, que vão ser cumpridas mas que, na realidade, eles esquecem de imediato. Pretendem criar esperança e optimismo que não passa de ilusão. Com isso, esperam melhorar os resultados de sondagens e colher mais votos em eleições posteriores.
Mas agora aparece o conceito de “jogo de loucos” que, a princípio, considerei uma invenção desrespeitosa, mas que aparece demonstrada para ex-Presidentes americanos e com continuidade no presente. Trata-se de ameaças altamente belicosas feitas com divulgação pública, destinadas a amedrontar o rival, por forma a ele se dispor a aceitar negociação em condições que lhe sejam pouco convenientes.
Isso está sendo visível na situação actual entre EUA e Irão, com fanfarronices de ambos os lados. A pequena Coreia do Norte levou o jogo ao ponto de ameaçar com arma nuclear o gigante EUA e Trump prontificou-se a sentar-se à mesa com Kim Jong-un para o levar a desistir de tal acto insensato. Não desistiu de tomar a sua parte no jogo e, poucas horas antes da hora marcada, disse que a reunião não teria lugar. Mas não demorou a parar o jogo e a sentar-se à mesa.
Com o Irão, o jogo deve ser muito ponderado, para evitar que a guerra que foi iniciada no Iraque por um jogo mal jogado gerando uma guerra que ainda fere o Médio Oriente, não vá agora alargar-se ao centro da Ásia ou a todo o mundo. Outra partida deste jogo foi o lançamento da bomba “mãe de todas as bombas” (MOAB), em 12-04-2017 no Afeganistão, com a finalidade de calar o Estado Islâmico, mas que não resultou, pois os ataques e outros atentados terroristas continuaram.
Mas se o jogo de loucos pode gerar um conflito mundial, como Trump referiu a propósito de Montenegro, há o jogo nacional de procurar controlar a afectividade das pessoas através de promessas de projectos desejáveis e ilusórios impossíveis de realizar dadas as carências financeiras do Estado. É o caso, entre outros, da notícia acerca de obras de intervenções na rede ferroviária “Ministério anuncia 58 quilómetros de obra quando na verdade são apenas 16”, apenas 27% do prometido, e mesmo isso pode falhar. Mas há casos em que o prometido tem sido muito superior a 3,6 vezes do realizado. E assim, vemos o Ensino em carência, o Serviço Nacional de Saúde com muitas dificuldades, a Justiça sem condições para parar a epidemia da corrupção generalizada em todos os sectores, as forças de Defesa e de Segurança a perderem credibilidade e sem capacidade de obterem a eficiência que merecem e de que precisam com urgência.
E, perante estes jogos “habilidosos” praticados por políticos, das potências mundiais e dos Estados de qualquer dimensão, seria bom que os que se consideram líderes de regimes democráticos, reflitam serena e profundamente sobre a moralidade dos seus actos, em respeito pelos seus cidadãos, e revejam os valores éticos a que devem obedecer. Só com uma maior honestidade perante os que dependem das suas decisões, o Mundo em que vivemos será mais civilizado.
Mas, infelizmente, no nosso caso, as condições estão a ser melhores para imigrantes do que para quem trabalha seriamente, como se vê nas notícias “Mais de 14 mil enfermeiros pediram para emigrar nos últimos sete anos” e “Mais de 17 mil médicos e enfermeiros emigraram nos últimos oito anos”. “Emergências. Central 112 com menos de metade do número ideal de operadores”.
E o ensino deve ser melhorado por forma a deixar de haver razão para notícias como “gente que trabalha bem: uma espécie em extinção” em que é defendida a afirmação de que “vivemos na era do pacto da mediocridade”.
António João Soares
7 de Agosto de 2018
Sexta-feira na Rua do Benformoso em Lisboa
Há 2 horas
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