Inógnita de amanhã
(Publicado no Semanário O DIABO em 15 de Janeiro de 2019)
Na mesma manhã surgiram-me três textos que me ajudam a reflectir sobre as preocupações quanto ao futuro da Humanidade, relacionadas com o mau uso das tecnologias que tem sido permitido nos anos mais recentes por governantes distraídos quer no ensino quer no jogo de interesses menos éticos. São: a entrevista dada pelo filósofo José Gil a jornalista do Diário de Notícias, a opinião de Gordon Brown acerca da encruzilhada em que se encontra a globalização, com reequilíbrios geoeconómicos e geopolíticos, e as palavras de Unamuno, reitor da universidade de Salamanca, em 12 de Outubro de 1936, com 77 anos, a uns agitadores franquistas: “Vencereis porque tendes, de sobra, a força bruta. Mas não convencereis. Para convencer há que persuadir. E para persuadir necessitaríeis de algo que vos falta: razão e direito na vossa luta”.
José Gil afirma que era tradicional um conjunto de valores e uma moral que suportavam um arsenal tradicional de categorias de direitos, de cidadania, de tolerância e de justiça. Mas esses valores, embora se tornassem universais, não foram eficazes, porque os humanos não somos capazes de nos transformar de modo a que a nossa sociedade, perante a história conflitual se modifique racionalmente. E também pode haver um falhanço teórico por alguns pensadores criticarem tais valores.
Todo o ser vivo é inteligente, mas a inteligência desenvolve-se em conformidade com o seu contexto natural e as suas necessidades vitais. A inteligência dos humanos “manifesta-se na técnica e na ciência e na articulação entre as duas”. A técnica é neutra e dá bons ou maus resultados conforme a sua utilização e tem sido usada ao máximo na exploração capitalista do planeta, pondo em risco a extinção da vida na sua superfície. A evolução da técnica tem uma vocação de não parar e tudo leva a temer “que estamos cada vez mais perto de um perigo iminente”.
Os anunciados desequilíbrios ecológicos podem originar desequilíbrios funcionais da espécie humana e não se vê um plano possível de inverter a sua evolução. Para isso seria indispensável acordo político para encarar os problemas, nas suas causas, mas os atritos constatados nas cimeiras para o clima, mostram a impossibilidade de ser encontrada a solução mais adequada. Isso faz prever, para breve, a extinção, a não ser que ocorra uma catástrofe ecológica que, sem provocar o desastre final, exija mais consciência ecológica mundial sobre os erros e omissões que têm ocorrido e origine uma benéfica convergência de esforços.
Torna-se urgente a adopção de medidas eficazes e aplicadas imediatamente. Há intenções e propostas para acabar com o aumento de mais de um grau e meio na temperatura média global, mas os políticos não as têm usado. Porque não são cumpridas? Eles esquecem que os tempos são outros e vivemos numa urgência de evitar uma morte iminente. As causas de tal negligência são múltiplas e têm de ser bem analisadas, para serem ultrapassadas sem demora. Todos os problemas sociais e políticos devem ser devidamente analisados nas suas causas a fim de os efeitos serem controlados de forma pacífica, benéfica e harmoniosa.
Segundo Gordon Brown, no ano passado, houve uma viragem na globalização, levando ao aparecimento de pequenos movimentos nacionalistas de que a China está a beneficiar com infiltrações em África, na Europa e na América do Sul, preparando um mundo de dois sistemas em vez da ordem internacional liderada, durante várias décadas, pelos EUA. Na última década marcou uma mudança notável no equilíbrio do poder económico. O centro de gravidade económico do Mundo mudou, o Grupo dos sete mudou, e originou o G24. O FMI irá mudar a sede, possivelmente dentro em pouco para a China. A estrutura mundial será alterada não apenas no aspecto económico mas também geopolítico. De unipolar, com os EUA no topo, passará para bipolar com a China a falar alto. E depois? ■
António João Soares
8 de Janeiro de 2019
A Decisão do TEDH (396)
Há 57 minutos
Sem comentários:
Enviar um comentário