A vida é como um campeonato
(Publicado em O DIABO nº 2216 de 21-06-2019, pág 16)
Agora que muita gente não fala senão de futebol, escolhi este título para o texto que esboço após mais uma leitura do livro de Hermann Hesse, “Siddhartha”, cuja personagem diz ter escolhido, como resumo dos seus interesses culturais e de vida, “saber pensar, saber esperar e saber jejuar”.
Na vida, como no futebol, vivemos a esperança de êxito, cada um segundo o seu conceito, mas, a cada momento, podem surgir percalços que podem constar de pequenas falhas ou acidentes maiores, e precisamos de esperar alcançar o melhor resultado, pensando e praticando as acções mais adequadas para regularizar as situações em função do objectivo desejado. Este não é garantido nem imutável e temos que pensar sem nos deixarmos iludir por escritos ou palavras, principalmente quando são intencionalmente apresentadas de forma aliciante, como promessas de dias melhores, de futuro risonho, de acerto no euromilhões. Promessas leva-as o vento e, em vez de palavras, mesmo muito bonitas, devemos preferir esperar pelos resultados de acções concretas.
O nosso diálogo permanente com a nossa consciência, com base na experiência já vivida, permite-nos pensar na melhor interpretação elaborada sobre as realidades que vêm ao nosso conhecimento e que devemos vivenciar de forma aberta para melhor as interpretarmos e inserirmos no nosso “guia prático”. Desta forma, nunca nos afastamos da parte positiva do jovem que fomos e nunca nos deixaremos envelhecer por um fracasso ocorrido. Qualquer derrota, como tudo na realidade, não é definitiva e os nossos valores mais significativos imporão ao espírito a esperança e a vontade de recuperar energias e as linhas estratégicas mais desejáveis e adequadas.
O símbolo mais citado no referido livro é o rio de água corrente e cristalina que procura o seu caminho, contornando obstáculos, sem parar a lamentar-se de derrota ou de dificuldade e não desiste de procurar alterar a via e persistir no objectivo de seguir sempre para a menor altitude, torneando o obstáculo, as pedras que surgem no percurso ou, no caso de barragem, para esperar, obter mais força para lhe passar por cima. O “cantar” da água do rio constitui um exemplo para o ser humano se sentir feliz quando consegue avançar na realização dos seus desejos positivos e contemplar os bons resultados da sua acção.
Apesar da variedade das margens, o rio e a sua água corrente mantêm persistência em relação à sua missão desde a nascente à foz, sempre com as mesmas características funcionais. As pessoas bem formadas e preparadas não param agarradas ao passado nem ficam obcecadas pelo futuro sonhado, que ainda não veio e é uma incógnita por desconhecermos todos os pormenores que o definirão. É ausência de respeito pelos direitos dos outros convencê-los de um futuro incerto mas explicado com demasiado pormenor como se fosse uma realidade confirmada, levando-os a investir energias sem garantia de rendibilidade.
O tempo não existe, pouco conta. O presente, o agora, deve ser aproveitado da forma mais racional, no apreço pela Natureza, pelos outros, com afeição e gratidão, para melhorarmos a colectividade na sua beleza e grandeza. Perder muito tempo a pensar no passado não dá felicidade: quando recordamos tempos difíceis recordamos as dificuldades de então e revivemos sofrimentos que já passaram; quando recordamos tempos que foram maravilhosos, sofremos porque as realidades actuais não são tão prazerosas. É preferível considerar que o tempo não existe e que se deve viver o presente da forma mais agradável com esperança em bons resultados e alterando pormenores que garantam melhoria e desenvolvimento. ■
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