O “motor” da humanidade?
DIABO nº 2214 de 07-06-2019, pág 16. Por António João Soares
Embora, muito ocasionalmente, ainda se fale em valores éticos e sociais, a Humanidade degradou-se e parece movida apenas pelo dinheiro, traduzindo a sua actividade na ambição, na competição, na vil ganância, na aparência de prosperidade, no luxo. Em geral, o ser humano, em vez de se preocupar com o “ser” prende-se com o “ter”; em vez de dar prioridade à competência e à capacidade de realizar trabalho perfeito, excelente, limita-se a aparentar valor, com palavras sonantes e promessas balofas, muitas vezes imitando palhaços de circo. Até já desapareceu o desporto “por desporto”, tendo-se transformado em somas impressionantes de dinheiro, pago aos jogadores de futebol e pago aos clubes pelas vitórias nas altas competições.
Nas relações internacionais, o interesse económico é a mola real das posições assumidas pelas maiores potências, em que as vendas de armamento e de outro material militar estão em primeiro lugar. Para isso, fomentam-se guerras para consumir o armamento produzido pela sua indústria. Poucos grandes países se preocupam em evitar tais gastos desumanos e ajudar os mais pequenos, com problemas nacionais ou internacionais, a encontrar solução pacífica através do diálogo e da negociação, evitando mortes e destruições com a solução violenta.
Neste aspecto, ressalta o exemplo brilhante da Noruega, que recebe em Oslo representantes do governo de Nicolas Maduro e da oposição venezuelana, liderando o processo de mediação para encontrar uma solução negociada para a crise na Venezuela. Como referiu a chefe da diplomacia norueguesa, a Noruega “saúda as partes pelos esforços e valoriza a disposição” de procurarem uma saída para a crise que tanto tem lesado a população e a economia do país. Este país europeu, anfitrião do Nobel da Paz, tem uma longa tradição de mediação, tendo acolhido, por exemplo, a negociação dos acordos de paz israelo- -palestinianos.
Também a Rússia defende a necessidade de todas as partes interessadas respeitarem a soberania da Venezuela, a não interferência nos seus assuntos internos e o repúdio pelo uso da força, quer entre as partes quer por interferência de poderes exteriores.
Também o Irão, num contexto de guerras de palavras, sanções económicas e agravamento das tensões com os EUA, pretende que seja possível que o país realize um referendo sobre o programa nuclear, na sequência do anterior, para permitir o aproveitamento da tecnologia nuclear para produção de energia para fins pacíficos. Em paz, usando de bom relacionamento e diálogo será possível um bom entendimento, devidamente controlado, sem o perigo de desvios para fins violentos.
Mas os interesses económicos dificilmente se ausentam das relações internacionais. Por exemplo, foi noticiado que os EUA vão vender ao Japão 105 caças F-35 para apoiar os esforços do Japão na melhoria das suas capacidades de defesa, tendo-lhe, nos últimos meses, enviado uma grande quantidade de equipamentos militares. O Japão é o primeiro cliente internacional para este tipo de caças de quinta geração, tendo já, no final de 2011, comprado 42 caças F-35.
Mas de Angola chega uma notícia muito interessante do aproveitamento do lixo para dele se produzirem peças de escultura, roupa, pasta, fios, colares e muitas coisas. O jovem Manuel Francisco Fabiano Samuel, aos 18 anos, com o apelido artístico ‘Samuelarte’, está a conseguir um sustento mensal “relativamente desafogado” a partir do lixo, sobretudo ferro, que recicla. Está a aliciar uma quantidade de jovens que contribuem para a limpeza urbana e produzem utilidades muito apreciadas pelos compradores. Com movimentos como este, contribui-se para a ecologia, defesa do ambiente, e obtém-se recursos financeiros indispensáveis à vida. Oxalá seja um passo bem aproveitado para a recuperação dos valores da civilização. ■
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