Idosos, mas não abandonados
(Publicado em DIABO nº 2226 de 30-08-2019. Pág 16. Por António João Soares
Um artigo recente baseado num estudo profundo sobre a problemática dos idosos, defendia a necessidade de os centros de dia reverem a política de apoio aos idosos, não só com vista à sua situação de fragilidade, mas devendo focar problemas de isolamento e de ocupação do espírito a fim de terem um envelhecimento mais lento e agradável. Os centros de dia já são procurados mais pela necessidade de convívio social do que pela fragilidade financeira.
O tema não me é estranho e fez-me recordar dois artigos que publiquei n’O DIABO em 21 de Março de 2017 e em 13 de Junho de 2017, nos quais salientava que “os idosos não precisam apenas de comer e dormir”, mas também de apoio para continuarem a possível actividade física e a intelectual, psíquica, emotiva e social. Referia num desses textos que na Holanda há um apoio regular de jovens estudantes a lares de idosos, ao ponto de alguns destes lhes darem alojamento para lhes facilitar a acção de conversar e distrair os idosos internados. Está assente que a continuação da ocupação mental e a realização de trabalhos, de arte, de cultura, agradáveis e com utilidade para o próprio e para terceiros, prolonga a vida e adia a chegada de doenças próprias da idade ou mesmo evita-as, como o Alzheimar que hoje aflige tanta gente.
Estes cuidados com os idosos devem ser aplicados, dentro das possibilidades existentes, com mais ou menos engenho, não apenas nos lares mas também em família, na vizinhança e em grupos de amigos. Acerca disto, o Papa Francisco disse que a vida não pára com a reforma e, com o envelhecimento, aumenta-se o saber armazenado, dando mais valor a coisas essenciais pois “a felicidade interna não vem das coisas materiais do mundo… Quando se tem amigos e irmãos, com quem falar, rir e cantar, isso é felicidade verdadeira”.
Algum tempo antes de entrar no lar onde estou há mais de dois anos, vivia só, num pequeno apartamento, e precisei de substituir a lâmpada do tecto da cozinha. Peguei no escadote e coloquei-o de maneira a tirar a lâmpada a fim de ir comprar uma com rosca igual. Quando ia a colocar o pé no primeiro degrau, pensei que podia cair e depois ficar no chão com fracturas que me impedissem de pedir o socorro conveniente. Desisti de subir e pedi a um amigo para me ir segurar o escadote. Esse amigo foi lá acima retirar a lâmpada e eu é que amparei o escadote. Fomos comprar a lâmpada e ele voltou a subir o escadote e a colocá-la.
O idoso não deve viver sem um apoio que actue em qualquer emergência, como quando não possa ligar o telefone. Convém que as autoridades pensem em formas de apoio social de convívio, de conversa, etc. Certamente, com tal apoio eficiente evitavam-se muitas mortes dramáticas com demoradas agonias e, talvez, suicídios que servem de fuga à dor física e moral. Há já alguns anos, em Rio de Mouro, uma senhora solteira, que vivia só, deixou de aparecer. Deixou de pagar o imposto do apartamento, as Finanças depois de passados uns anos apoderaram-se da casa, sem lá irem, e venderam-na em leilão. A senhora que a comprou, ao entrar e dar dois passos, deparou com o cadáver. Quanto sofrimento teria tido, sem apoio, antes de falecer?
Aqui, estou bem apoiado e, com a minha filosofia de actividade até ao fim, não tenho falhado com o meu artigo em todos os números do jornal. E também não tenho faltado a um convívio semanal com um grupo de bons amigos.
Além de lares e de centros de dia, as autoridades devem procurar manter activo o lado espiritual, psíquico, das pessoas, fomentando a ocupação cultural, a curiosidade pelo que se passa, a transmissão do seu saber acumulado durante a vida e fazer algo de útil, em trabalhos de lavores, de pinturas, de artesanato, de bricolage, de arte musical, etc. ■
A Decisão do TEDH (397)
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