domingo, 3 de maio de 2020

PARA QUÊ A ONU?

Para quê a ONU?
(Public em O DIABO nº 2260 de 24-04-2020, pág 16, por António João Soares)

A ONU pouco ou nada tem feito, praticamente, em favor da paz mundial, da segurança ou da qualidade de vida da humanidade. À custa dos Estados-membros, tem dado emprego a muita gente que gosta de “tacho” e de imagem, mas os cinco ditadores permanentes do Conselho de Segurança da ONU não chegam a acordo em assuntos de interesse global, usando do poder de veto que lhes é atribuído.

O caso da desnuclearização tem sido muito notado. Sendo indubitavelmente um assunto de interesse geral, nunca foi encarada frontalmente a sua aplicação de forma exemplar, pelo facto de qualquer desses cinco “donos do mundo” possuir armas de alta destruição e não mostrar interesse em se desfazer delas e, por outro lado, não a ONU, mas a América, tem procurado impor tal regra ao Irão e à Coreia do Norte, com sanções económicas. E fica-se a duvidar do papel real deste órgão, pretensamente poderoso, mas sujeito à vontade colectiva (raramente concretizada, devido aos interesses de cada um) dos cinco membros com direito a veto.

Perante as guerras que têm causado milhares de perdas de vidas no Médio Oriente, em alguns países como o Iraque, a Síria, o Afeganistão, etc. não se viu qualquer resultado da influência da ONU para restabelecer a paz e a segurança, para bem das pessoas.

Agora, perante a pandemia do Covid-19 que tem matado tanta gente, os membros do Conselho de Segurança nada têm feito porque, segundo eles, a perda das vidas de tantos milhares de pessoas não afecta a paz e a segurança. Porém a opinião de muitos pensadores mostra receio de que este fenómeno possa ser aproveitado para desencadear uma guerra entre os EUA e a China. E quem é o responsável pelas atitudes, ou falta delas, da ONU? António Guterres, que está limitado a “chefe de secretaria” e cercado de muitos burocratas que carecem de preparação e de regulamentação para agir em proporção da sua remuneração?

E quanto à China, ela pode não sair tão vencedora como parece, porque o fenómeno que originou a sua evolução muito eficaz em meados do século XVI pode agora acontecer a favor do Ocidente, que seja levado a meditar no fenómeno do Covid-19 e despertar da sua modorra de cinco séculos e definir novos rumos para a vida sócio-política e económica. Esta referência ao século XVI já aqui foi referida em artigo publicado em 1 de Novembro de 2019, citando o comentador político Kishore Mahbubaini. E nesse artigo era transcrita a frase de Napoleão Bonaparte “Deixem dormir a China, porque quando ela acordar, vai abalar o mundo”. Mas ela acordou e está já em competição com o Ocidente. Entretanto, o Ocidente adormeceu à sombra do sucesso antigo e, em vez de assumir e desenvolver a sua superioridade dos velhos tempos, procurou impor a superioridade militar, como acontece com os EUA que, ao menor pretexto, enviam tropas para pequenos países do terceiro mundo. Nisso, o Conselho de Segurança talvez devesse fomentar a estratégia dos 3M recordada no referido artigo – minimalista, multilateral e maquiavélica (com o significado de promover a virtude e evitar o mal).

Agora, com a crise gerada pela actual pandemia, o CS/ONU tem uma oportunidade de promover comportamentos de ética, sensatez e valorizando a virtude e evitando o mal, a fim de evitar que a China consiga abalar o mundo, com o seu sistema pacífico e insinuante que usa meios suaves de desenvolver a sua economia e sobrepondo os seus interesses económicos à generalidade dos países. É notória a preponderância do fornecimento de medicamentos e a produção de outros equipamentos de saúde além de muitos outros materiais de comunicação, de transporte, etc.

Embora estejamos em época com indícios de redução da globalização, parece imperioso que surjam estruturas de preparação de um futuro mais racional, solidário, respeitador das pessoas e da natureza, sem corrupção e sem apego doentio ao dinheiro. Governar deve ser pensar em melhorar a qualidade de vida da sociedade. A ONU devia ser uma escola de felicidade equilibrada entre todos os graus das sociedades. ■

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