Preparar o fim do “confinamento”
(Public em O DABO nº 2262 de 08-05-2020, pág 16, por A J Soares)
Chegam notícias de muitos países onde foi posta em prática a clausura das pessoas em casa, como medida de prevenção do Covid-19 e que cedo se aperceberam que tal cuidado foi exagerado e devia ter sido condicionado a alguns casos bem definidos; mas, agora, estão a normalizar cautelosamente tal condicionamento, para evitar as consequências em estabilidade mental das pessoas e na estagnação da economia e de outros aspectos sociais e religiosos. Psicólogos e psiquiatras apontam probabilidades de ocorrerem efeitos mais ou menos graves de frustração, ansiedade e medo, preocupação, angústia, incerteza, solidão, aborrecimento, tristeza, falta de esperança, etc. que acarretam riscos consideráveis para a saúde mental.
Entre nós, houve excepções à lei que obrigava à contenção em casa, como pessoas que tiveram de se deslocar para satisfazer serviços imprescindíveis, para passearem os cães domésticos e para efectuar a reunião na AR no dia 25 de Abril. Isto é, pessoas privilegiadas por quem a lei (que, como tal, devia ser geral) foi ignorada ou desrespeitada. Mas, tal como a conveniência assumida de os cães irem à rua, também seria positivo que as pessoas pudessem ou devessem, diariamente, dar pequenos passeios ao ar livre, cumprindo as regras de higiene e do distanciamento social, para exercício das pernas e para respirar ar puro, diferente daquele que, em recintos fechados, é respirado depois de ter sido expirado por outras pessoas.
O nosso Governo prometeu abrandar o rigor da “mumificação social colectiva”, movido mais pela consequência da paragem da economia do que por respeito às liberdades das pessoas. Os velhos (há quem prefira o termo idosos, cuja terminação é igual à de mentirosos, ranhosos, manhosos, etc), salvo raras excepções, são pessoas com muito saber acumulado quer pelo estudo quer pela experiência da vida, e que, em muitos casos, se encontram em perfeitas condições de autonomia, e de uso dos seus direitos (inclusive o direito a correr alguns riscos), não podem ser sonegados, embora pela sua saúde já debilitada fossem a maioria das vítimas do Covid-19. Por isso, não deviam ser colocados num mesmo conjunto e servir de pretexto para a contenção em restritos espaços fechados. Não foram beneficiados, mas sim, na maioria, desprezados sem poderem ver os familiares mais jovens.
Agora, há muitos países com tradições de avanço em civilidade e sensatez e com equipas governantes atentas às palavras de professores e pensadores, independentes de ideologias populistas, que reconheceram ser desumano o exagerado estado de emergência e preparam a abertura da economia de forma gradual e a libertação das pessoas para poderem usufruir as suas liberdades de viver em boas condições, mas usando de cuidados adequados de higiene pessoal e de distanciamento social que tornem mais segura a sua situação perante o malfadado vírus.
Perante esta situação, o progressivo abrandamento das condições desumanas da contenção deve ser orientado por objectivos estratégicos de grande prazo, para não se correrem riscos evitáveis e para se iniciar uma sociedade mais responsável defendendo a saúde de todos e preparando o país para uma recuperação da economia em moldes mais aceitáveis, de continuidade e rentabilidade. Há dias vi uns sinais de desenvolvimento da agricultura, actividade que, pela forma como ocorre ao ar livre, proporciona condições muito salutares e com boas imunidades. E a sua produtividade é essencial para a sobrevivência em casos de dificuldades de transporte para importação de produtos estrangeiros.
Também o turismo, que está muito afectado e com aspectos de difícil recuperação, pela perda de confiança no exterior, deve ser pensado de forma mais cultural, tornando-se mais enriquecedor do saber e da informação sobre o Mundo mais desejável que se pretende. Não basta mostrar monumentos a serem fotografados, mas ensinar as condições e as motivações da sua criação, enriquecendo, assim, a imagem que os turistas levam do nosso país.
E termino com palavras de apreço aos nossos profissionais da saúde que não olharam a esforço e risco para salvarem a saúde das pessoas. E também aos jovens artífices que iniciaram o fabrico de produtos variados, úteis aos que vivem mais em risco.
A Decisão do TEDH (396)
Há 1 hora
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