Para Sair desta crise para melhor
(Public em O DIABO nº 2267 de 12-06-2020, pág 16 por A João Soares)
Depois de ter lido vários textos acerca de mudanças que surgirão na vida da humanidade, quer nas famílias e em meios restritos, quer em sociedades mais vastas, quer mesmo nas relações internacionais, recebi agora a posição papal, expressa em mensagem de vídeo em espanhol por altura da festa de Pentecostes em que, em vez de aconselhar, como seria tradição, a pedir o milagre de as mudanças serem para aspectos mais positivos, alertou para a realidade natural. E disse: “Das grandes provações da humanidade, entre estas a da pandemia, nós sairemos melhores ou piores. Não é a mesma coisa. Pergunto-vos: como querem sair disto? Melhor ou pior?”.
Realmente, quando sairmos desta pandemia, tudo será diferente e não poderemos continuar a fazer o que estávamos a fazer, e da forma como o estávamos a fazer. E será desejável que a vida da Humanidade seja melhor do que tem sido. O que depende dos governantes, mas não apenas deles, é principalmente de todos os cidadãos, que devem mostrar-se activos e conscientes ao ponto de impedirem qualquer fantasia de que não resulte benefício para a vida da população, principalmente daquela que tem sido mais explorada e tratada com menos justiça social.
Uma mudança grande será na parte tecnológica ligada à informática, que foi aproveitada como novidade por muita gente quer no ensino à distância quer no trabalho em casa por muitos empregados que, assim, reduziram o risco de ser infectados nos transportes e também durante o trabalho em áreas reduzidas com muito pessoal sem poder usar o distanciamento social. Mas também a saúde foi obrigada a rever todo o seu funcionamento e irá daí retirar lições que alterarão o sistema. E aí será notável o resultado de avanços na parte científica, de forma a reduzir hesitações e tentativas de solução que lavaram pessoas de dentro do sistema a afirmar que mais do que a pandemia do vírus, foi muito grave e dolorosa a pandemia do medo.
Mas, no caso de novas crises difíceis, embora as soluções tenham de ser precoces e imediatas, não devem ser precipitadas pelos políticos não especializados no assunto e que devem ter o bom senso de recorrer a opiniões bem fundamentadas, a fim de evitar criar pânico, por vezes mais nocivo do que o vírus. Para as decisões importantes as palavras, mesmo muito sonantes, pouco contam, sendo fundamental a orientação de decisões que produzam resultados benéficos e duradouros.
Mas palavras sensatas e pedagógicas, como as do Papa, devem começar a ser divulgadas, porque a nova sociedade deve ser estruturada pelos cidadãos que a constituem, de forma solidária, harmoniosa, em colaboração completa desde o trabalho mais elementar até ao topo da administração. E esta deve remunerar todos os trabalhos em função dos resultados obtidos. Por exemplo, muitas vezes em serviços públicos, no fim do ano o administrador recebe volumoso prémio, mesmo que o resultado anual da empresa ou do serviço tenha sido insignificante, o que causa mal-estar nos trabalhadores de cujo suor foram produzidos os resultados. Uma empresa deve funcionar como uma equipa por forma a todos os que nela trabalham, desde a base ao topo sentirem prazer e algum benefício nos resultados alcançados.
O facto de a pandemia ter atingido indiscriminadamente, ricos e pobres deve levar as pessoas a comportarem-se sem preconceitos de classe ou de nível de conta bancária. As pessoas devem ser respeitadas como seres humanos e avaliadas pelas suas obras e acções e não pelo fato e ornamentos que transportam. Cada coisa no seu lugar e no momento adequado. E a Justiça deve ser rápida e eficaz, com isenção e sem se sujeitar a pressões de políticos ou de financeiros poderosos.
Se o povo se comportar como vivendo em verdadeira democracia e rejeitando restrições aos seus direitos e liberdades e votando segundo um são conceito de defesa dos interesses nacionais, constantes da Constituição, poderá responder à pergunta do Papa: “Queremos sair disto para melhor”. ■
A Decisão do TEDH (400)
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